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História Ignore. - A saudade e as coisas.


Escrita por: mxmxmxxn

Notas do Autor


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Capítulo 24 - A saudade e as coisas.


Eu tô com uma puta saudade.
É sério, de verdade mesmo.
Tô com saudade de você, do seu caos, e das coisas.
De muitas coisas.
Eu nunca fui tanta saudade como sou agora.
Merdas aconteceram, e nem é porque você botou ponto final no nosso conto. Nem é. Mas é claro que isso também é uma merda. 
Aconteceram coisas ruins, horríveis, nojentas, coisas inacreditáveis. Coisas que eu nunca, nunquinha pensei que aconteceriam comigo.
Algo quebrou em mim.
Algo grande.
Porra, eu tento ser forte, ver o lado bom das coisas, todas elas. Meus amigos sempre me dizem "você é a luz, é a garota que entra pela porta, é gentil com a professora estressada e diz bom dia até pra quem te odeia, e não importa se tu tá na merda, você ainda é a luz de todo mundo". Eu me sinto feliz pra caralho quando escuto isso, e muito grata. Só que o problema é que "você salva todo mundo, mas quem salva você?". Ninguém à não ser eu mesma. E é isso que eu faço todos os dias, eu me salvo, sozinha. Sozinha. E pra mim está tudo bem. Nunca fiz questão de Ser cuidada.
Mas depois de tudo que aconteceu, eu preciso de ajuda.
Não sei quem vai me dar essa ajuda, mas provavelmente é alguém que vai me passar "pílulas da felicidade" de três à duas vezes ao dia.
E eu não estou nem aí, antes eu pensava "nem fodendo eu vou me encher de drogas pra fingir que sou feliz" e hoje eu penso que essa felicidade ilusória não é tão ruim assim. Tantas coisas ilusórias não são tão ruins assim...
É que, tava tudo bem, era uma tarde normal e feliz, eu estava empolgada com o meu seriado, e não estava dando à mínima pra tu me ignorando. Na verdade estava sim, mas resolvi te dar um tempo, e tava tudo bem.
Eu estava deitada e... Eu não vou contar o resto, sinto que tenho a necessidade de escrever sobre isso, mas não consigo, é estranho. É ruim. É nojento e acima de tudo mau.
Só de lembrar... O cheiro da bebida, a sensação de desespero, de não poder fazer nada.
Foi a pior coisa que já me aconteceu. Já confiou em alguém tanto, por toda a sua vida, literalmente, e aí esse alguém te ferra do nada, de uma maneira que tu nunca pensou ter acontecido? Já? É péssimo.
Eu aprendi que, não se pode confiar nas pessoas, em ninguém. Todo mundo aprende isso um dia, eu acho. É uma coisa dura de se aprender, mas é necessário.
No mesmo dia que essa tal coisa ruim aconteceu, eu pensei em te chamar, e lançar a tal "preciso falar contigo amanhã", e eu mandei outra mensagem, e mais outra, mesmo você tendo ignorado algumas. Eu ia mesmo te contar, e nem sei porque, talvez porque você fosse minha lembrança de que era real, que eu podia fazer algo melhor apesar do que tinha ocorrido. E eu precisava contar pra alguém, qualquer pessoa. Você provavelmente não saberia o que fazer, e provavelmente se sentiria pressionado a me aguentar, mais do que já aguentava. Mas eu ia te contar mesmo assim, só pra que você me abraçasse depois e falasse que ia ficar tudo bem, mesmo que fosse forçado. Eu só precisava de alguma coisa pra me prender, não ficar tão fora de órbita.
Acontece que, também era tudo ilusório com você, quase tudo acho, não sei, talvez no começo não, mas depois passou à ser, e você me disse. Não vou dizer que meu mundo acabou naquela hora, porque estaria mentindo. É possível um coração se calejar? Porque acho que o meu está calejado.
Eu não senti nada, não consigo sentir mais nada depois daquele dia zicado, ou talvez eu esteja sentindo tanto e de uma vez, que acabe dando a impressão de que estou num liquidificador, sem nunca parar, mas sem sentir as arestas me cortando em pedaços.
Eu só perdi algo, mais alguma coisa, além de mim, uma vida toda que eu construí, uma esperança, uma força, além disso, perdi você, de novo.
Já vão fazer duas semanas que estou na casa do meu pai... Sempre te disse que as coisas eram complicadas com ele. Pelo menos isso está dando certo, estamos ficando melhores, juntos. E eu vou morar com ele, minha casa que era o lugar mais seguro que eu conhecia, agora é o lugar que eu mais tenho medo de ficar.
Tudo vai mudar, entende?
Tudo.
Incluindo eu.
Sabe, minha madrasta disse coisas pra mim, depois que soube o que aconteceu (ela é a única que sabe). Eu disse à ela que eu nunca contava o que eu sentia pra ninguém, nem pra minha melhor amiga, porque eu não gostava de me vitimizar. A última vez que tentei contar, metade, da metade, da metade do pouco que eu sinto, minha mãe ignorou completamente e disse "Para de se vitimizar, já disse que esse papel não combina com você", é mãezinha, eu também acho que não combina comigo. Por isso desde então eu parei de contar o que eu sentia.
Eu só era forte, e por vezes quando eu explodia, ninguém entendia porque eu era tão rebelde, tão louca, tão imprudente e idiota nessas explosões.
Sim, eu nem sempre sou a garota compassiva e paciente que todo mundo conhece.
No fim, eu contei tudo pra minha madrasta, eu sei que eu disse que não se deve confiar nas pessoas, mas eu precisava desesperadamente que alguém, qualquer pessoa, soubesse o quanto eu sou frágil e o quanto preciso de ajuda.
Eu contei tudo, e ela ouviu, pacientemente os dois últimos anos da minha vida, ela disse no final "eu sinto muito por não ter visto nos seus olhos o que se passa aí dentro, e sinto muito por não ver seu esforço de ficar bem... Eu nunca pensei que isso pudesse ter acontecido com você, estou tão baquiada agora... Não posso imaginar o que você está sentindo. M., você é uma das pessoas mais fortes que eu já conheci, olhando pra sua vida daqui pra trás não teria problema algum você se vitimizar, porque não foi fácil, e eu te admiro, porque a maioria das pessoas já teria se matado. Mas você é diferente, M., de todas as adolescentes que já conheci, você é diferente. E agora eu vejo o que eu nunca percebi, o quanto você é madura pra sua idade, e o quanto eu acho isso triste, porque por mais que essas coisas tenham acontecido, você tem que ser uma adolescente, M. Caramba... Você é tão forte."
É, tia... Eu sou. E não vai ser agora que vou deixar de ser, mas preciso de ajuda. Odeio admitir, mas preciso de ajuda.
Aquela sensação de fora de órbita agora está constantemente me afetando, não parecem que as coisas aconteceram comigo. Sei que aconteceram, e que tudo na minha vida vai mudar, mas mesmo assim... Bato palmas pra ouvir o eco e ter a certeza que não estou no meio de um poço de lama.
Teve dois dias que eu chorei antes de dormir, fazia tempo que eu não chorava, mas agora meus olhos estão secos, e meu peito também. Tenho saudades de antes, de quando eu sabia sentir uma coisa de cada vez, de quando eu podia comigo mesma, de quando as coisas não se complicavam tanto, e sinto saudades de você, de como era simples e fácil ficar em silêncio com você.

Acho que agora, depois desse tempo que estamos sem nos falar, eu não te contaria o que aconteceu. Nem se você voltasse, sei que não vai. E tudo bem. Mas não contaria.
É claro, talvez você vá ler isso, e talvez você entre aqui por um mês ou menos, e depois você vai enjoar, e vai parar de entrar aqui pra ler os meus textos, e eu ainda vou entrar no seu perfil pra ler tuas histórias, porque eu gosto do jeito como você escreve, e de como a ilusão parece tão verdadeira e fictícia ao mesmo tempo nos teus parágrafos. Bem, se você ler ou não, não faz diferença.
Ainda vou escrever sobre você, porque aprendi com o que passamos que, sim, pessoas são boas histórias, e talvez o seu lado sádico e egoísta tenha despertado o meu lado sádico e egoísta que eu não conhecia.
Eu poderia colocar "terminado" neste conto, assim como você fez no seu, porque na real, terminou. Eu, nós, as coisas como eu conheço. Terminou. Mas não vou fazer isso porque mesmo que quase tudo aqui escrito seja sobre você, não é sobre você, é sobre minha vida. E ela continua.
Fico por aqui com esse texto, precisava escrever ele, é o começo de algo. Pode ser que eu passe por isso bem, ou não. Mas juro que vou me esforçar, como sempre fiz. Nunca fui dessas que quer ficar na merda, a vida é mais que isso e eu sei.
Bem... Espero que você esteja bem, e espero te ver logo, de longe mesmo, com aquele aperto na garganta de quando alguém que a gente gosta se vai, espero que esteja curtindo sua solidão e espero que tenha aprendido qualquer coisa comigo, assim como aprendi com você.
Agora eu vou deitar, e ouvir música, Engenheiros, porque descobri que tem tudo a ver com a vida e com as pessoas e comigo, eu vou pular 3x4 porque é a única que eu acho que não tem nada a ver com nada, sabe como é né.
Eu já fui muito só, e depois não fui, agora estou sendo de novo, pior do que antes, des acostumei à me sentir sozinha, espero me habituar de novo logo. Mas as coisas são assim, não era pra ser, mas são.
Você escreveu que as escolhas nos fazem crescer. Por mais que a escolha não tenha sido minha, eu estou sendo obrigada à crescer.
Eu tô fodida pra caralho agora, nem acredito, e talvez eu fique louca, mas enfim.
A gente supera.


Notas Finais


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