História Ignore. - As lâmpadas.

Oi, eu tô aqui em cima de novo, Pietro. Já reparou como as luzes da cidade parecem chorar? Todas juntas, focando e desfocando, incessantes, como olhos marejados. Não sei se elas choram por mim, ou por nós, ou pelo mundo. De certa forma acho que por tudo. Quantos beijos de amor verdadeiro elas já viram? Quantas despedidas? Quantas brigas? Quantos assassinatos? Quantas transas? Quantos estupros? Quantos sorrisos? Quantas brincadeiras? É, Pietro... Não deve ser fácil. Todas elas, uma unida à outra, repassando o que aconteceu em tal lugar, chorando juntas a dor ou emoção de alguns. Eu sei, isso tudo é fruto da minha imaginação. Lâmpadas são só lâmpadas, são objetos. Que um dia quebram e se apagam, umas pra sempre, outras não. Algumas apenas quebram, outras são bombardeadas com pedras por baderneiros de rua. De certa forma, Pietro, elas me lembram a gente. De pele e osso. A gente que presencia as coisas da vida, as boas e ruins. A gente que compartilha com os outros e chora em conjunto. A gente que às vezes apaga, pra sempre ou não. Por apagar, ou por baderneiros. Baderneiros sem corações. A gente que ilumina. A gente que parece chorar, mas na verdade não chora.