História Ignore. - Me incomoda.

Me incomoda saber que um dia você vai passar. Não porque vai ter um fim - já estou acostumada -, mas me incomoda saber que todos os textos, palavras, sorrisos e metáforas não vão valer de nada, assim que discutirmos, você sair pela porta, eu sentar no sofá e a ficha cair que tudo passa, menos tudo. Porque assim como as centésimas almas que eu rasguei e me rasgaram, a sua vai embora. O que vai sobrar são as juras, as flores secas que eu guardo em garrafas empoeiradas e o reflexo no espelho que vai ganhar mais um par de olhos pra olhar. Porque eu vou saber sua dor, só não vou saber como tira-la. Vou sentir suas lágrimas quentes e as minhas. Sejam de raiva ou dor. Elas vão rolar. E eu escreverei sobre isso. Vou guardá-las com todas as outras que já guardei. Me incomoda saber que algum dia eu vou escrever sobre o sorriso de outra pessoa, e se eu virar algumas páginas antes vou ler sobre o seu sorriso e vou ler sobre o fim dele também. E vou ler como as coisas são finitas e como eu estou feliz de novo. Eu tenho um arquivo enorme de coisas acabadas. E não é porquê eu sou a gravidade dos enormes corações por aí. É porquê eu não achei ainda quem vai ser aquela estrela simpática no meio do céu escuro e nublado. Me incomoda que eu vou ler sobre você, e é provável que eu não me lembre do seu nome. Não porquê eu sou um ser humano horrível - não, também, que eu não seja -, mas é que temos tão pouca idade, que ainda virão tantas mais, e tantos nomes se vão, querido. E tantas palavras em vão. Não que não sejam puras e invencíveis agora. A gente sabe que não é pra sempre. E isso só cresce. Um dia vou ter tantos textos sobre tantas pessoas que vou me esquecer de quem eu fui, ou era. Porque eu mudo tanto. Porque todas elas trazem algo, levam algo. E eu nem lembro seus nomes. Me incomoda.