História Ignore. - Demônios arrogantes.

Eu sei que parecemos uns casos perdidos, vagabundos, sem nomes. Sem identidade, sem sentimentos. Eu sei que você olha nos nossos olhos e vê um bando de almas vazias, se é que vê almas. Sei que nosso hálito ácido bota pra dormir qualquer alcoólatra, que nossas carnes machucadas, nossos olhos roxos e sujeira de baixo das unhas te fazem querer correr. Geração que transa e não toca. Não de verdade. Eu sei que a intensidade é muita, que a ventania assusta. Que as luzes e os barulhos e o suor não são seu tipo. Eu sei que os selvagens corações da noite não são repletos de amor, e sim, dor. Ódio. Tequila, whysky, maconha e fingimento. A atuação não é pra qualquer um. Eu quero te dizer, que esse bando de gente sem futuro, esse bando de idiota burro que você diz não saber sobre a vida, essas pessoas, elas tem sentimentos. É frenética a forma como as coisas acontecem no centro da cidade a noite. No centro do nosso peito quando beijamos um estranho. Você não pode destruir alguém se mantê-lo longe da realidade. Nunca olhe muito nos olhos de alguém se não for pra fazer isso todos os dias. Ninguém aqui merece sua intensidade, né? É porque somos grandes demais pra caber nessa rotina. Você diz que somos vazios, mas o que não vê é que por baixo das pulseiras, cabelos picotados e por baixo da tinta na pele, dos olhos vermelhos, por baixo da sujeira humana, há uma pessoa. Uma pessoa que de tanto sentir, explode. Somos jovens demais, imprudentes demais. E estamos felizes com isso. Ou não, mas nada que umas porradas não resolvam. Os dias não são divertidos, porque de manhã, os traços ficam reconhecíveis. A noite ninguém sabe quem você é. A noite somos só nós, os entorpecentes, as luzes e toda essa solidão compartilhada. Que se funde, explode, dança e ri em conjunto. Somos demônios sem sentimentos, é o que você pensa. Continue assim, ninguém pode saber que somos vulneráveis.