1. Spirit Fanfics >
  2. Igual Que Ayer >
  3. Feliz Natal

História Igual Que Ayer - Feliz Natal


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 2 - Feliz Natal


Fanfic / Fanfiction Igual Que Ayer - Feliz Natal

 

25 DE DEZEMBRO

 

 

A forte tempestade que caía naquele dia já indicava que algo não estava certo. Enquanto outras pessoas se preocupavam com o que comprariam de natal para os seus entes queridos, Fernando só se preocupava com uma coisa: Desde cedo Lety estava tratando-o com frieza, e por mais que ele perguntasse, ela não dizia o por que. Ele estava com ela a tempo suficiente para saber que mulheres tinham dias como aqueles, e que nada melhor que uma demonstração de carinho para melhorá-la. Mas, assim que chegou em casa, pronto para conversar com sua noiva, foi surpreendido com uma mala no meio da sala, e Lety esperando-o no sofá com o seu casaco. "Aonde você vai nessa chuva?" Perguntou curioso. Ele preferia não ter escutado a resposta que ela deu em seguida. “Estou indo embora”. Respondeu ela, como se fosse algo natural à se dizer. “Embora para onde? Você ficou louca?” Foi a única coisa que ele conseguiu dizer. “Não posso fazer mais isso, Fernando.” Embora ele tentasse se recordar do que havia feito de errado naquele dia para ela tomar tal decisão absurda, ele não se lembrava de absolutamente nada. Estavam tão bem no dia anterior, planejando as festas de natal e ano novo, e de repente tudo parecia ter desmoronado. “Diz que está brincando, Lety. Por favor.” Ele implorou. Mas, para a sua decepção, Lety não estava brincando. “Não vá atrás de mim, Fernando. Por favor.” Embora ela parecesse fria em suas palavras, as lágrimas que não paravam de rolar em seu rosto mostravam que estava sendo tão difícil para ela quanto para ele.

Sem mais delongas, ela pegou sua mala no chão e tentou passar por ele, mas obviamente ele a impediu, implorando que ela dissesse que aquilo era uma brincadeira. “Não, não é uma brincadeira.” Ela respondeu. Era impossível para Fernando acreditar que de repente, um amor tão forte quanto o deles parecia ter chegado ao fim. “Você não me ama mais, é isso?” Fernando sabia que a resposta não seria positiva, mas o silencio que ela fez em seguida o deixou tenso. “Eu só vou deixá-la ir se me disser que não me ama mais.” Embora fosse duro para ele dizer aquilo, era a única maneira dele saber que aquela idéia absurda de Lety não fazia nenhum sentido. Ele sabia que ela o amava tanto quanto ele, e ela deixou isso bem claro na noite anterior quando passaram a noite juntos. Mesmo com o coração partido e a cabeça à mil, ele precisava ouvir de sua boca que ela não o amava mais. Para o seu desapontamento, Lety já estava preparada para aquele momento, e disse a frase que ele jamais imaginou que sairia de sua boca: “Eu não te amo mais, Fernando.” Ele não teve mais forças para implorar, estava abismado demais para isso. Mesmo com a forte chuva que caía, Lety passou por ele e enfim saiu, para nunca mais voltar. Fernando ainda não acreditava no que havia acontecido e no que acabara de ouvir, e a única reação que teve foi continuar parado onde estava. Lety havia dito que não o amava mais, mas não disse isso olhando em seus olhos. Ela não poderia.

 

 

---------------------------------------

 

 

Acordei com o toque do meu celular me incomodando. Sonolento, abri os olhos e olhei as horas no relógio. Nove e quinze da manhã. Quem é a pessoa que liga para alguém em um feriado como aquele às nove e quinze da manhã? Mas, eu já deveria saber a resposta. Peguei o celular e suspirei olhando o nome que apareceu à tela. Pensei em não atender, mas sabia que aquilo acarretaria em ligações de cinco em cinco minutos, e de qualquer maneira eu perderia o meu sono.

- Oi mamãe. – Coloquei o celular no viva voz.

- Que história é essa que você não virá para o natal?

               Revirei os olhos e me mexi à cama.

- Não estou no clima.

- Fernando Mendiola, você não se atreva a faltar em uma data tão importante! Até mesmo o seu irmão virá, e você vai fazer essa desfeita?

- Mamãe, Henrique vai todos os anos de qualquer maneira, porque sabe que a Senhora ficaria um ano sem falar com ele se ele não fosse.

- E é a mesma coisa que acontecerá com você se você não vier!

- Mamãe, pelo menos uma vez na minha vida, me deixe tomar minhas decisões...

- Não é questão de decisão! Natal é para ser passado em família, e você não tem que ficar trancado nessa caverna que você chama de apartamento.

               Era comum ouvir minha mãe reclamar tanto do fato de eu preferir ficar no meu apartamento a me socializar. Natal era o dia em que minha mãe extrapolava nos preparativos, e além de ter que suportar familiares que eu não via o restante do ano, tinha que suportar os amigos dos meus pais, que na verdade eram amigos por puro interesse. Henrique, meu irmão, também não se sentia bem, mas como sempre ele fazia de tudo para agradar nossos pais. Eu era o filho “ingrato” que tentava recusar todos os convites de festas e eventos especiais, mas no fim eu sabia que acabaria me rendendo às insistências de minha mãe, principalmente por saber qual era a conseqüência de recusar algo assim. A ultima vez que recusei comparecer à um evento especial, minha mãe passou um mês sem conversar comigo, apenas me mandando indiretas quando ia à empresa.

- Fernando, até quando você pretende ficar com essa mulher na cabeça?

               Droga. Ela disse de novo. Mamãe sabia que eu odiava quando ela se referia à Letícia como “essa mulher”. Ela estava fazendo aquilo para me provocar, e eu sabia disso. Mamãe nunca aprovou cem por cento o meu relacionamento com Letícia, apenas pelo fato dela pensar que eu deixaria de me importar com as coisas da empresa. A empresa era o tesouro da família, mas nem mesmo meu pai exagerava tanto quanto minha mãe quando o assunto era “negócios da família”. Minha mãe era obcecada por aparências, e a empresa era seu degrau para levar uma vida da qual ela julgava ser a melhor de todas. Ela nunca havia tratado mal à Letícia. Eu também não permitiria. Ela sabia o quando nosso relacionamento era importante para mim, e que se ela fosse grosseira ou indelicada com Lety ao menos uma vez, nossa relação de mãe e filho jamais seria igual. Mas, desde que Lety se foi, a única coisa que minha mãe tem feito é dizer o quanto eu fui um bobo por ter me apaixonado tão jovem. Eu tinha que suportar ela dizer todas as vezes que Letícia jamais soube me dar o devido valor que eu merecia. Eu sabia que isso não era verdade, mas depois de tantas vezes me cansei de debater sobre isso com minha mãe.

- Mamãe, não comece com isso, por favor.

- Eu só estou dizendo que estou cansada de todos os anos implorar para você comparecer à uma festa de família, principalmente no natal. Quer saber? Faça o que quiser! Eu não vou insistir mais. Já chamei os Villarroel e com certeza Márcia virá. Talvez ela consiga colocar algum juízo na sua cabeça.

               Mamãe sempre quis que Márcia e eu tivéssemos um relacionamento, e se possível, que casássemos. É claro, ela pouco se importava se Márcia e eu combinávamos ou ao menos gostávamos um do outro dessa maneira (o que obviamente não aconteceu), mas ela só se importava em juntar as forças das empresas para que o lucro fosse maior. Essa obcessão de mamãe virou motivo de piadas internas entre Márcia e eu, e mais do que eu, ela achava um absurdo minha mãe pensar que poderíamos ter alguma coisa algum dia. Márcia e eu sempre fomos como irmãos, e jamais cogitamos a idéia de ficarmos juntos. Isso chegava a ser estranho e fazia o meu estomago embrulhar quando eu pensava tal coisa. Márcia é uma mulher muito bonita, e bastante atraente. Qualquer homem teria sorte de tê-la ao seu lado. Mas, seria o mesmo do que me imaginar casado com minha irmã, e isso era impensável.

- Eu prometo que pensarei com carinho, está bem?

- Como eu disse, faça o que quiser! Preciso ir. Tchau.

               Sem esperar uma resposta, ela desligou na minha cara. Típico da minha mãe fazer isso. Ela diz que não vai se importar mais, mas obviamente me deixava com a consciência pesada caso eu recusasse. Eu não estava nem um pouco a fim de ir à uma festa de natal em minha casa, e não estava nem um pouco afim de comemorar aquela data. Há seis anos, o natal para mim era um dia como qualquer outro.

               Me virei à cama, sem o mínimo de disposição para me levantar. O barulho da chuva batendo contra a minha janela diminuía ainda mais a vontade de enfrentar aquele dia. Eu só queria passar o feriado deitado em minha cama, encarando o teto e respirando. Apenas isso. Não seria pedir demais, seria? Para mim, sim. Eu era agradecido por ter tantas pessoas que se preocupam comigo, mas na maioria das vezes eu me sentia sufocado. Desde que tudo aconteceu, tudo o que as pessoas em minha volta têm feito é me dizer que eu preciso viver, que eu preciso sair mais, que eu preciso fazer isso, que eu preciso fazer aquilo. Eu não preciso de nada! Eu preciso ficar sozinho e em paz, apenas isso.

               Mais uma vez o meu celular tocou, mas não era uma ligação, e sim uma mensagem. Pensei que talvez seria mais uma maneira de minha mãe me convencer, mas para a minha surpresa não era minha mãe. Era Isabela. Depois da noite da festa, Márcia insistiu para que eu lhe mandasse uma mensagem, e fez questão de adicionar o número dela em minha agenda. É claro, eu não pretendia mandar. Mas, por algum motivo, quando cheguei em casa no dia seguinte, eu resolvi mandar um “oi”. Acabou que um simples “oi” rendeu em uma longa conversa, e quando dei por mim, estávamos trocando mensagens há três dias.

*Isabela: Bom dia! Não está um lindo dia? HAHA. Estou sendo irônica. Aqui está uma chuva daquelas.

               Sorri ao ler sua mensagem. Não tinha o costume de responder mensagens na hora, mas por algum motivo me despertou uma vontade de conversar.

*Fernando: Bom dia! É mesmo? Aqui está um lindo sol! Os passarinhos estão cantando na minha janela, inclusive.

*Isabela: É sério?

*Fernando: Não. Estou brincando. Aqui também está chovendo! – Preguiça de me levantar. –

*Isabela: HAHA engraçadinho. Deixe de preguiça e levante já dessa cama...

*Isabela2: Ah, e por falar nisso: Feliz Natal! >.<

*Isabela3: Eu sei que você disse que não gosta... Mas enfim. Não custa nada desejar um feliz natal, não é?

*Fernando: Obrigado! Feliz Natal para você também. Eu não sou fã, mas isso não quer dizer que eu participe de alguma seita anti papai Noel.

*Isabela: hahahahaahah isso foi engraçado.

               Me peguei rindo em minha cama. O desanimo que estava me dominando minuto antes parecia não estar mais ali, embora a vontade de comparecer à festa de natal ainda fosse 0.

*Fernando: O que irá fazer hoje? Festa com a família?

*Isabela: Não. Na verdade, a minha programação é assistir à um filme de natal, comer biscoitos e ficar debaixo das cobertas.

*Fernando: Como assim???? O que aconteceu com “Eu adoro o natal, é minha época favorita”?

*Isabela: Ainda adoro o natal, e ainda é minha época favorita. Menos quando meus pais viajam à trabalho e me deixam sem opção.

*Isabela2: Eu poderia ir para a casa dos meus tios, mas não estou afim de enfrentar o aeroporto com esse tempo.

*Isabela3: Triste!! ://

*Fernando: Ah, isso é realmente uma pena!

*Fernando2: Eu sinto muito.

*Isabela: Está tudo bem! Eu me contento com os filmes.

               Eu não sei o que me deu para que eu tivesse tal idéia, mas pensei que talvez não fosse tão ruim enfrentar uma festa com minha família se Isabela me acompanhasse. Afinal, pelo tempo que conversamos eu já havia notado que ela tinha um ótimo humor, e que gostava de fazer piadas com tudo. Seria uma ótima maneira de me distrair. Melhor do que ouvir minha mãe falando para todos os convidados como eu era um ótimo Presidente para a Conceitos.

*Fernando: Aceitaria um convite para hoje?

*Isabela: Depende. Você não vai querer destruir os enfeites de natal das ruas, não é?

*Fernando: Tentador, mas não.

*Isabela: Então talvez eu pense no assunto.

*Fernando: Minha mãe faz uma festa de natal todo ano com a família e alguns amigos. Você gostaria de me acompanhar?

*Isabela: Você? Em uma festa de natal? Tem certeza?

*Fernando: Bom, eu não tenho outra escolha. Mas gostaria que me acompanhasse. Márcia estará lá.

               Provavelmente eu estava sendo rápido demais. Não nos conhecíamos o suficiente para que eu a levasse à casa dos meus pais, principalmente por conhecer minha mãe muito bem. Ela logo pensaria que tínhamos alguma coisa, e eu não estava com paciência de me explicar à ela. Talvez tenha sido uma péssima idéia, e ela recuse. Olhei apreensivo para a tela do celular até senti-lo vibrar em minhas mãos.

*Isabela: Eu adoraria.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

               Escolher uma roupa não era tão difícil, já que eu pretendia nem estar indo à essa festa. Mas confesso que depois que Isabela aceitou o meu convite, o meu animo aumentou trinta por cento. Não que estar na presença dela fosse ruim a ponto de eu não me animar ao menos noventa por cento. Mas, eu sabia que não seria fácil encarar minha mãe, e aquilo ainda me desanimava. Enquanto escolhia a minha roupa, a campainha tocou. Achei estranho, não estava esperando por ninguém. Quando andei até a porta, praguejei mentalmente por não ter colocado um chinelo, o piso estava congelando. Olhei através do olho mágico quem seria a visita inesperada, e sorri divertido quando a vi do outro lado da porta. Assim que a abri, Márcia apontou para uma sacola que estava em suas mãos e sorriu.

- Trouxe almoço! – Disse entrando no meu apartamento.

- Mas eu não pedi nada hoje. – Brinquei e ela me olhou com raiva.

- Não seja mal agradecido. Aposto que você passou o dia inteiro deitado na cama olhando para o...

-... Não. Eu não fiquei olhando para o teto.

- Para o chão, então. Ou janela. Para algum ponto fixo! – Ela colocou as sacolas sobre a mesa. – Imagino que esteja faminto.

- Bom... Não posso mentir. Você me conhece.

- E como!

               Márcia tirou a comida chinesa de dentro da sacola e a preparou sobre a mesa. Ela já sentia-se em casa, e de fato estava em casa. Sorri me sentando à mesa enquanto ela ia até a cozinha buscar os talheres e os pratos. Assim que voltou, a encarei com os olhos semicerrados, e ela percebeu o meu olhar de desconfiança.

- O que foi? – Perguntou me olhando.

- Minha mãe mandou você.

- É claro que não!

- Você pisca quando está mentindo!

- É mentira!

- Piscou outra vez!

- Argh! Está bem! – Ela jogou o talher sobre a mesa. – Ela só pediu para que eu me certificasse de que estava tudo bem.

- Mentiu, de novo.

- Mas que droga! – Exclamou colocando os óculos de sol. – Pronto. Assim está melhor! Mas, de certa maneira foi o que ela realmente pediu. Só que ela me implorou para que eu o convencesse de ir à festa hoje à noite.

- Eu sabia! – Exclamei. – Vocês duas não tem jeito mesmo!

- Você sabe que na maioria das vezes não concordo com sua mãe, mas Fernando... É natal! Todos os anos temos que ficar implorando para você ir às festas. Por que dessa vez você não vai de bom grado?

- Por que vocês duas não conseguem respeitar a minha decisão de querer ficar em casa?

- Porque isso não faz bem para você! Ficar trancado aqui o dia inteiro, enquanto as pessoas normais estão comemorando com a família. Quer saber? Você deveria ser agradecido por ter uma família! Uma mãe completamente louca, de fato. Um irmão com o ego enorme, isso também é fato, mas é a sua família! Por que não pensa no seu pai nessas horas? Seu pai nunca opina sobre nada, sempre tem que agüentar sua mãe falando em sua cabeça. Já imaginou que se é ruim para você é ainda pior para ele?

- Não, eu nunca tinha pensado nisso.

- Então, não quero desculpas esse ano! Você vai à essa festa.

- Eu já havia decidido. Eu vou.

- Fernando você precisa... – Ela parou de falar. – O que?

- Eu vou!

- Você... Vai? E quando decidiu isso?

- Mais cedo, depois de...

- Depois de que?

- Nada.

- Fernando!

- Nada! Vamos comer!

               Márcia continuou me encarando, até que o meu celular vibrou sobre a mesa. Antes que eu pudesse pegá-lo, ela foi mais rápida do que eu, e se afastou antes que eu pudesse segurar sua mão.

- Márcia! Me dê isso!

- Ahh... Então quer dizer que estão trocando mensagens? – Ela sorriu olhando para o celular.

- Pode me devolver o celular, por favor?

- Estão conversando desde aquele dia?

- Não é da sua conta.

- Mas que bonitinho! – Ela devolveu o meu celular. – Então quer dizer que ela o convenceu de ir à festa?

- Não exatamente.

- Então o que foi que o fez mudar de idéia?

               Não respondi. Coloquei o meu celular no bolso e voltei a me sentar à mesa, voltando minha atenção para a comida.

- Eu não acredito! – Márcia se aproximou. – Você a convidou?

               Mais uma vez não respondi.

- Fernando! Você a convidou!

- Quer parar de ser tão chata? Vamos comer!

- Eu estou tão orgulhosa de você! – Ela me abraçou.

- Não exagere, Márcia. Eu só convidei porque os pais dela estão viajando e ela iria ficar sozinha em casa. Não achei que seria legal deixá-la passar o Natal assim.

- E por que você se importa tanto? Você nem gosta do Natal.

- Eu não, mas ela sim!

- Fernandinho, você está me surpreendendo! – Ela sorriu. – Quer saber? Dou total apoio! Isabela é maravilhosa e...

- Não termine a frase, Márcia. Eu a conheço ha três dias. Além do mais, não tenho interesse amoroso nela.

- É claro que não. Mas, não custaria nada tentar...

               Achei melhor não respondê-la. Dei um longo suspiro e finalmente Márcia se calou, sentando-se à mesa e servindo-se com a comida. Ficamos em silencio por alguns instantes, e eu sabia exatamente que quando Márcia ficava em silencio por tanto tempo, só significava uma coisa.

- Eu também gostava dela, Fernando...

               Pronto! Mais uma vez voltamos nesse assunto...

- Você sabe que eu gostava. Éramos amigas. Você pode não acreditar, mas eu senti tanto quanto você. Por muito tempo. Ainda sinto, na verdade, mas... – Ela suspirou encarando sua comida. – Temos que seguir. Foi o que ela fez, e é o que temos que fazer. Eu sei que o pior de tudo é não sabermos o motivo para ela ter feito isso, mas... Infelizmente já se passaram muitos anos. Se ela tivesse que voltar, já teria voltado.

               Eu odiava falar sobre esse assunto com Márcia porque suas palavras verdadeiras me machucavam. Tudo o que ela dizia era verdade, mas eu não queria ouvir. Eu sabia que as duas se tornaram grandes amigas desde quando Lety e eu começamos a namorar, e Márcia foi a primeira pessoa a dar total apoio ao nosso relacionamento, e principalmente ao nosso casamento. Foi ela quem me ajudou a comprar a aliança, foi ela que me ajudou a preparar o jantar surpresa para fazer o pedido. Márcia foi a primeira pessoa que pensamos para ser madrinha do nosso casamento, e ela sabia disso. Eu entendia que ela também sentia sua falta, e que principalmente sentia todas as minhas dores, além de sentir as dela.

- Eu digo isso para o seu bem. – Ela segurou minha mão. – Porque eu quero que você fique bem. Você não sabe o quanto eu sonho que você volte a ser o Fernando de antes, que fazia piada com tudo, que sorria para Deus e o mundo, que adorava o Natal... – Ela sorriu triste e eu apertei sua mão. – E você sabe que eu farei o possível para que esse Fernando volte, não é?

- Eu sei. – Sorri, beijando sua mão. – E eu agradeço por isso.

               Os olhos de Márcia encheram-se de lágrimas, até ela passar a mão em seu rosto.

- Eu odeio momentos sentimentais! – Falou suspirando. – Vamos voltar ao normal.

- Vamos. – Sorri divertido.

- Então... O que você comprou para os seus pais?

- Como assim?

- Oras, para o natal.

- Nada, é obvio. A minha vontade era nem de comparecer à festa.

- Mas que insensível! Então depois que terminarmos de comer, vamos sair para comprar os presentes.

- Nessa chuva? Ficou louca?

- Você é de açúcar por acaso?

- Não, mas...

- Então não tem desculpa. Afinal, você também tem que comprar um presente para Isabela. – Ela sorriu divertida.

- Eu não pretendia comprar um presente para ela.

- É claro que não. É por isso que eu estou aqui.

               A olhei rindo.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

- Lety! Lety, onde você está?

- Estou aqui, meu amor!

               Fernando entrou na cozinha e a olhou admirado.

- O que foi? – Ela sorriu para ele. – Eu estou morrendo de fome! Espero que não se importe que esteja mexendo nas suas coisas...

- Nossas coisas. – Ele se aproximou, abraçando-a por trás.

- Você ainda não me pediu oficialmente, então são suas coisas. – Ela brincou.

- Ainda.

- Mas, por que estava gritando?

- Estava te procurando para te dar isso. – Ele entregou um pequeno embrulho para ela.

- Mas... Já? – Ela o olhou. – Oh, não! Eu nem mesmo comprei o seu ainda!

- Eu não me preocupo com isso.

- Está um dia adiantado. – Ela sorriu. – Mas eu amei! Obrigada! – Ela se esticou para beijá-lo.

- Você ainda nem abriu...

- Mas eu já sei que vou adorar!

               Lety imediatamente soltou a colher na panela e se apressou em abrir o embrulho. Logo percebeu que era uma caixa de veludos, e imaginou que seria um colar. Mas, o que ela não esperava, é que aquele fosse o colar mais lindo e delicado que ela já havia visto.

- Meu amor... É... Lindo! – Ela olhou para o singelo pingente em forma de coração.

- Você gostou?

- Se eu gostei? Eu amei! – Ela o olhou animada. – Pode colocá-lo, por favor?

- É claro!

               Lety virou-se e Fernando colocou o colar em seu pescoço, beijando-o logo depois, fazendo com que ela se arrepiasse.

- Não vou tirá-lo nunca mais. – Disse virando-se para ele. – Vou usá-lo para sempre me lembrar de você.

- Assim espero. – Ele sorriu, puxando-a para um beijo.

- Amor... – Lety sussurrou enquanto ele intensificou os beijos, passando-os para seu pescoço.

- Hum? – Respondeu sem parar de beijá-la.

- A panela... – Lety fechou os olhos, sorrindo.

- Não estou com fome agora. – Fernando desligou rapidamente o fogo e tomou Letícia em seus braços, carregando-a. Ela gargalhou enquanto ele a levava em direção ao quarto, onde costumavam ter seus momentos mais íntimos e intensos. Momentos que se tornariam inesquecíveis.

 

------------------------------------

 

- Fernando! – Márcia chamou minha atenção.

- Sim? – A olhei.

- Por que você parou aqui?

               Só então percebi que estava parado diante de uma vitrine, olhando para um colar. Um colar parecido com o que eu havia dado Lety, e o mesmo que eu ainda guardava comigo, como uma lembrança.

- Nada. – Forcei um sorriso. – Quais presentes faltam?

- Falta o do seu irmão...

- Fácil. Uma carteira.

- Nossa, mas... Assim? Na lata?

- Henrique gosta de carteiras.

- Tudo bem. Então... Uma carteira. Do outro lado da rua tem uma ótima loja. Mas... Precisa decidir o que irá comprar para Isabela.

- Você que é mulher pode me ajudar melhor com isso.

- Mas que machismo!

- Mas eu só...

- Tudo bem. Eu penso em algo no caminho. Ah! – Ela olhou para a vitrine. – Por que não compra um colar e...

- Não! – Respondi no mesmo instante e ela me olhou assustada. – Não acho que ela gostaria de ganhar um colar.

- É, tem razão. Ela não costuma usar. Bom... Então vamos continuar. Faltam só mais dois presentes.

               Márcia continuou andando e eu dei uma ultima olhada para a vitrine. Parecia que quanto mais eu tentava esquecê-la, mais ela ocupava minha mente.

 

              

                                                                          •••

 

 

               Letícia saiu do banho e deu de cara com Fernando, ajeitando a gola de sua camisa no espelho. Ela escorou-se à porta, sorridente, enquanto o admirava.

- Essa porcaria não fica pra baixo! – Exclamou irritado.

- Deixe-me ver... – Ela se aproximou, ajeitando a gola da sua maneira. Enquanto o fazia, Fernando a olhou e sorriu. – Por que está sorrindo?

- Adoro quando você acaba de sair do banho.

               Lety riu e continuou ajeitando a gola.

- Acho que está amassada. Melhor trocar a camisa.

- Pode fazer isso para mim?

- Escolher outra?

- Não, trocá-la.

- Meu amor... – Lety sorriu quando ele a envolveu pela cintura. – Sua mãe irá se zangar se nos atrasarmos.

- Eu não ligo. – Respondeu depositando um beijo em seu rosto.

- Mas eu ligo. Sabe que ela vai colocar a culpa em mim se nos atrasarmos.

- Você não deveria ligar também. Aliás, por mim, nós passaríamos essa noite aqui, apenas nós dois.

- E por mim também, meu amor. Mas nós prometemos. Você prometeu.

- Não posso descumprir a promessa apenas uma vez?

- Não... Se descumprir essa, vou achar que também irá descumprir todas as nossas outras promessas.

- Não diga isso...

- O Senhor quem sabe. – Sorriu vitoriosa.

- E se eu jurar?

- Jurar que vai à festa? Se eu fosse você não faria isso... – Ela riu.

- Não. – Respondeu sorrindo. – Jurar que jamais vou deixar de amá-la.

               Lety sorriu e tocou carinhosamente em seu rosto.

- Eu acreditarei.

- Então pode acreditar.

- Posso jurar também?

- Jurar o que?

- Que jamais vou deixá-lo.

- Você jura mesmo?

- Com todo o meu coração.

               Fernando apertou-a ainda mais contra seu corpo.

- Então eu também acredito.

- Que bom. – Lentamente ela desabotoou a camisa dele, fazendo-a escorregar pelos braços dele até cair ao chão. – Ops...

- Não estávamos atrasados?

- O que são mais dez minutos de atraso?

               Fernando sorriu satisfeito e guiou Lety até a cama.

 

 

------------------------------------

 

 

               O celular vibrou em meu bolso, me despertando. Era uma mensagem de Márcia.

*Márcia: Já está atrasado. Sua mãe está furiosa.

*Fernando: Diga para ela se acalmar, e que eu já estou chegando.

*Márcia: Você ao menos já saiu de casa?

*Fernando: Sim.

*Márcia: E a Isa?

               A porta da frente se abriu, e Isabela sorriu ao me ver. Não pude deixar de notar que estava deslumbrante, usando um vestido longo e vermelho.

- Desculpe o atraso. – Ela disse ao se aproximar. – Eu não sabia o que vestir.

- Escolheu muito bem. – Sorri e ela me cumprimentou com um beijo no rosto, me pegando de surpresa.

- Acha mesmo?

- Sim!

               Eu já não tinha mais jeito para elogiar alguém, mas foi o melhor que consegui, e pelo visto ela ficou satisfeita com aquele comentário.

- Podemos?

- Claro!

               Abri a porta do carro para que ela entrasse, e aproveitei para responder a mensagem de Márcia enquanto caminhava para o meu lado do carro.

*Fernando: Estamos a caminho.

               Entrei no carro e notei que Isabela cruzou os braços, provavelmente sentindo frio.

- Quer que eu ligue o aquecedor?

- Ah... Por favor! Eu não sei o que deu em mim para sair sem um casaco com esse tempo chuvoso.

- Quer voltar para pegar um?

- Ah não! Não se preocupe! Márcia disse que sua mãe não gosta de atrasos. Não quero ter que levar um sermão na primeira vez que a conhecer. – Ela riu.

- Márcia exagerou. – Sorri, ligando o carro. – Minha mãe vai gostar de você.

               E de fato gostou. Assim que cheguei à festa acompanhado de Isabela, fomos bombardeados com as perguntas de minha mãe. Por sorte ela não perguntou nada vergonhoso, mas não demoraria para isso acontecer. A apresentei ao meu pai, à Henrique, e não demorou muito para que Márcia e seus pais chegassem. Mesmo com Márcia por perto, minha mãe continuou dando sua total atenção à Isabela, o que deu um pouco de descanso para Márcia.

- Estou feliz por não ser a bombardeada da noite ao menos uma vez. – Márcia sussurrou.

- Não se anime muito.

- Não me animar? Acha mesmo que sua mãe vai perguntar quando serei sua esposa com Isabela aqui?

- Não duvide disso.

- É melhor eu beber mais, então. – Disse pegando uma taça de champanhe na bandeja do garçom.

               Balancei a cabeça rindo e olhei para minha mãe e Isabela, que conversavam ao nosso lado. Isabela parecia à vontade ao conversar com minha mãe, e minha mãe parecia ter gostado dela. Talvez mais pelo fato dela saber que os pais de Isabela eram donos de uma fábrica de tecidos, mas ainda assim, fiquei satisfeito por elas terem se dado tão bem.

- Então... Presidente! – Henrique bateu em meu ombro.

               Forcei um sorriso para ele, tentando não demonstrar o quanto eu odiava que ele me chamasse daquela maneira. Henrique tinha a personalidade idêntica à de minha mãe, e mais do que qualquer coisa, ele se preocupava com a empresa. Talvez mais do que meu pai e eu juntos. E por isso, logo quando se formou na faculdade, meu pai o colocou como Presidente da filial em Nova Iorque, já que ele não se importava em largar tudo e se mudar para lá. Eu ainda estava cursando a faculdade quando isso aconteceu, e restou para mim ser o Presidente da empresa oficial. Eu já havia sido preparado para isso, e de fato gostava. A única coisa que me incomodava era o fato de não poder tomar minhas próprias decisões, que era o que um Presidente deveria fazer.

- Muito bonita ela, hein? – Henrique se referiu à Isabela.

- Sim, muito bonita.

- Finalmente você decidiu tocar em frente.

- Somos apenas amigos.

- Sei. – Ele sorriu. – De qualquer maneira, fico feliz por você estar se esforçando.

- Obrigado.

- Márcia, estão te procurando lá fora.

- Quem? – Ela o olhou confusa.

- O palhaço do circo. Ele pediu a roupa dele de volta.

- Você é um idiota!

               Henrique gargalhou enquanto Márcia o olhou emburrada. Tentei ao máximo prender o riso, principalmente porque sobraria para mim a fúria dela, mas desde criança era um tipo de diversão ver Márcia e Henrique se alfinetando à todo o tempo.

- Bom... Vou cumprimentar alguns amigos da mamãe. Sugiro você fazer o mesmo. – Ele disse, batendo em meu ombro.

- Eu vou daqui a pouco. – Menti.

- Eu odeio o seu irmão. – Márcia bufou ao meu lado.

- Não odeia nada. – Falei rindo. – Ele parece animado hoje, não acha?

- É claro! Olha pra esse tanto de empresário! Mais lucro para ele.

- Eu sou um péssimo Presidente por não estar pensando assim?

- Pelo contrário. Quer dizer que é um ótimo Presidente.

- Obrigado.

- Cobrarei depois.

               A empurrei com meu ombro e ela riu.

- Ah, pelo amor de Deus, Fernando! Tire ela dali! – Ela disse de repente.

- Mas elas estão apenas conversando.

- Sua mãe nunca “conversa” apenas. Deve estar investigando a vida dela toda!

               De fato, Isabela me olhava a cada dois minutos, e talvez aquele olhar fosse um pedido de socorro.

- Eu não sei o que dizer para tirá-la dali. Ela vai acabar me envergonhando.

- Deixa comigo.

               Márcia deu dois passos à frente, postando-se ao lado delas.

- Terezinha, você soube que a filha dos Casagrande está grávida?

- O que? – Minha mãe perguntou abismada. – Isso é sério!

- Seríssimo!

               Fiz sinal para que Isabela saísse de perto, e lentamente ela caminhou em minha direção. Saímos as pressas em direção à área da piscina e quando finalmente estávamos a sós, Isabela riu.

- Obrigada por isso. Eu já não sabia mais o que responder à ela.

- Agora entende porque eu não queria vim. – Sorri divertido.

- Ah, não seja exagerado. Sua família é encantadora.

- Me diz isso depois de passar uma semana com eles.

               Ela riu e olhou em volta.

- Aqui é tão lindo.

- É... Sempre gostei dessa casa.

- E por que se mudou?

- Quis ser independente. Você sabe... Princípios.

- Entendo. – Ela sorriu.

               Fez-se um silencio de repente, e eu estranhei que Isabela não tivesse tantos assuntos como parecia ter nas mensagens que trocávamos.

- Algum problema? – Perguntei tentando não parecer tão indelicado.

- Não. – Ela sorriu tensa. – Ah... Me desculpe! – Exclamou passando a mão no rosto. – Eu sou péssima em disfarçar.

- Como assim?

               Ela me olhou envergonhada.

- Márcia me contou.

- Contou o que?

- Sobre você e sua... Ex.

               Droga! Eu mato a Márcia!

- Ah...

- Não foi a intenção dela. Estávamos conversando mais cedo e eu quis saber se seria uma boa idéia acompanhá-lo, já que nos conhecemos apenas há três dias. Por fim ela me contou o que aconteceu, e disse que minha presença seria importante para você.

               Não sabia o que responder. Márcia definitivamente teria que me ouvir tanto, que as conversas com minha mãe se tornariam interessantes depois disso.

- Não era para ela ter te contado. – Falei sem olhá-la.

- Como eu disse, ela não fez por mal. Ela só quer... O seu bem.

- Eu sei. Todos querem. – Respondi com certa frieza.

               Mais uma vez fez-se silencio.

- Você quer... Falar sobre isso?

- Não. Eu... Não gosto de tocar nesse assunto.

- Tudo bem...

               De fato eu não queria mesmo tocar naquele assunto. A idéia de convidar Isabela para ir até a minha casa foi justamente para que eu pudesse me distrair, e não sentisse tanto a ausência de Lety. Mas, estava sendo impossível, e ainda pior depois que tocamos nesse assunto. Porém, eu tinha que pensar que Isabela não tinha culpa de nada, e que ela não merecia ser tratada como um “estepe”. Ela não precisaria saber de toda a história naquele momento... Mas apenas o necessário para entender porque eu havia me tornado um homem tão fechado.

- Nós estávamos noivos. – Falei encarando a piscina em nossa frente. – Estávamos planejando o casamento para o próximo ano. Queríamos fazer isso o mais rápido possível. – Sorri triste, colocando as mãos no bolso. – Eu já imaginava o meu futuro com ela... Com... Nossos filhos. Dois, na verdade.

               A dor que senti naquele momento era inexplicável. Há tempos eu não era tão sincero com alguém sobre os meus sentimentos por Lety, até porque todos já sabiam exatamente o que eu ainda sentia por ela. Mas, pela primeira vez eu estava contando a história (resumidamente) para alguém que eu acabei de conhecer, e talvez a dor fosse ainda maior ao fazer isso.

- Não sei o que aconteceu. Ela simplesmente... Disse que não queria mais. E foi embora. Me deixou sem nenhuma explicação. – Suspirei e senti um nó em minha garganta. – Eu passei tanto tempo esperando que ela voltasse e dissesse que estava em um momento de fraqueza. Pensei tanto em uma maneira de procurá-la e de ir atrás para ao menos entender o que havia acontecido. Mas, os anos se passaram, e eu não recebi nenhuma notícia. Nenhuma explicação. Isso foi há seis anos.

               Isabela deu um passo à frente, ficando ao meu lado.

- Tentei os seus pais, mas eles disseram que também não sabem para onde ela foi. As vezes eu penso... Se eu tivesse sido mais perseverante. Se eu tivesse insistido mais para encontrá-la... Acho que desisti muito cedo. Agora já não adianta mais. Depois de tantos anos, ela não deve nem mesmo se lembrar de mim.

- Isso não é verdade. – Isabela tocou em meu braço. – É claro que ela se lembra de você.

- Se lembrasse não teria passado todos esses anos sem dar uma notícia. Eu nem mesmo sei onde ela está, como está, com quem está. As vezes me parte o coração em pensar que... – Não consegui terminar a frase.

               Não foi uma ou duas vezes que passou em minha cabeça que alguma tragédia poderia ter acontecido à ela. Mas, eu me negava pensar naquilo. Porque pior do que a dor de não tê-la por perto, era a dor de imaginar que nunca mais a veria.

- Você não tentou contatar os pais dela mais? É claro que eles tem alguma notícia dela depois de todos esses anos.

- A ultima vez que tive contato com eles foi há três anos. Sua mãe que sempre foi tão gentil comigo me tratou com muita frieza, e apenas pediu para que eu não ligasse mais. Depois de um tempo tentei ligar novamente, mas o numero não existia mais. Fui até a casa deles, e ela havia sido vendida. É como se ela tivesse apagado todos os rastros que poderiam me levar até ela.

               Isabela me olhou com pena. Era exatamente por isso que eu não queria que ela soubesse sobre Lety.

- Márcia e Omar acham que é fácil “tocar minha vida”. Assim como meus pais e meu irmão. Mas, não é tão simples assim.

- Você ainda a ama.

               Olhei para Isabela e sorri triste.

- Muito.

- Eu entendo... Não posso imaginar como você se sente, mas tenho uma breve idéia. Tive uma briga com um ex namorado enquanto ainda morava em Nova Iorque, e eu pedi para ele nunca mais me procurar.

- E ele não procurou?

               Ela balançou a cabeça negativamente.

- Também não tive mais notícias dele. Ele mudou de numero, mudou de endereço, e seus pais não moravam lá. Eu não tinha o contato de ninguém.

- Eu sinto muito.

- Muitas vezes sinto falta dele, e sei que ainda sinto algo por ele. Mas... Eu simplesmente percebi que não adianta ficar trancada no meu apartamento chorando e tomando um pote inteiro de sorvete.

               Nós rimos.

- E simplesmente me esforcei para conseguir seguir em frente. Eu sei que não é fácil, principalmente porque o seu caso é muito mais difícil do que o meu. Afinal, vocês começariam uma vida juntos.

- É...

- O que eu quero dizer é que nós sabemos que não é fácil, mas não podemos nos entregar assim. Há seis anos você não tem notícias dela, e pretende passar mais seis anos trancado no seu apartamento se isolando de todos que querem o seu bem?

               Por mais que Márcia e Omar já tivessem me dito a mesma coisa várias vezes, ouvir isso saindo da boca de Isabela pareceu ter um efeito maior. Ela mal me conhecia, mas sabia exatamente como eu estava me sentindo e o que era melhor para mim. Ela não precisava se importar, mas se importava.

- Eu... Quero mudar isso. Eu quero voltar a ser o Fernando que eu costumava ser. Mas, parece que quando finalmente volto a viver, uma voz em minha cabeça diz “ei, o que pensa que está fazendo? Lety foi embora, e você está aí sorrindo?”.

- Então mande essa voz calar a boca!

               A olhei assustado.

- É sério! Vai ficar dando atenção para uma voz que o proíbe de ser feliz?

- Nunca havia parado para pensar assim...

- Você precisa se permitir mais, Fernando! Se arriscar mais!

               Sorri para ela.

- É, você tem razão.

- Quer saber? Vou te fazer um convite! E mesmo que eu saiba que precisarei insistir muito para que você aceite, farei do mesmo jeito.

- Qual convite?

- Vou viajar para o litoral nesse fim de semana. Coisas do trabalho. Quero que você venha comigo.

- Para o litoral?

- Sim!

- Mas... Assim? Do nada?

- Como do nada? Estou te avisando com antecedência. Você tem dois dias para aceitar e arrumar suas coisas. – Ela sorriu. – E além do mais, tem lugar melhor para se passar o ano novo do que de frente para o mar?

               A animação dela era realmente contagiante, e de certo modo parecia mesmo que tudo era fácil. Por mais que eu conhecesse Isabela apenas há dois dias, eu já a via da mesma maneira que via Márcia. Sendo assim, por que não começar a minha “mudança” aceitando essa viagem?

- Vamos... Por favor... – Ela insistiu, juntando as próprias mãos.

- Está bem. – Sorri.

- É mesmo? Quero dizer... Está falando sério?

- Sim! Por que não?

- Oh meu Deus! – Ela me surpreendeu, me dando um abraço. – Estou tão feliz que tenha aceitado!

- Eu também. – Sorri, retribuindo o abraço.

              

 

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...