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História Igual Que Ayer - Nós não precisamos dele


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 6 - Nós não precisamos dele


QUIEN TE DIJO ESO? - LUIS FONSI

 


¿Quién te dijo que yo me olvide de ti,
Que me duermo tranquilo y jamás sueño contigo?
Que pasé de todo, ¿quién te dijo eso?

 

 

               Era um dia como qualquer outro na Conceitos. Letícia como sempre estava animada para o fim de semana, e contava as horas para terminar o seu turno. O motivo especial era simples: Decidir os detalhes do casamento. É claro, ainda era muito cedo, e eles não esperavam casar às pressas, mesmo que Fernando demonstrasse que era o que mais queria. Mas, Letícia estava empolgada, e queria organizar tudo com tranqüilidade. E nada melhor do que um jantar romântico com Fernando para decidirem os primeiros detalhes. Ela não tinha motivo algum para estar desanimada ou cansada, pelo contrário. Amava o seu trabalho, amava as pessoas que estavam à sua volta, e amava o seu futuro marido (e amava muito). Tudo estava como deveria estar, até o momento.

- Lety! – Sara a chamou quando ela passava pelo hall.

- Sim?

- Seu Fernando pediu para você buscar alguns papéis na sala de reuniões. Ele disse que era para te entregar antes que saíssem com o Senhor Omar, mas ele se esqueceu.

- Ah, é claro! – Letícia sorriu. – Vou buscá-los agora.

               A reunião com os funcionários havia acabado de terminar. Fernando havia saído com Omar para resolver algo importante com um cliente, e Letícia só queria terminar todos os trabalhos no prazo para que tivesse um fim de semana tranqüilo ao lado do seu amado. Quando ela se aproximou da porta da sala de reuniões, percebeu que ela estava entreaberta e que havia alguém conversando ali dentro. Ela logo reconheceu a voz como sendo a de Terezinha. Ela conversava a sós com Henrique, seu filho mais velho. Letícia jamais teve o costume de ouvir conversas alheias atrás da porta, mas ao ouvir o seu nome na conversa, sentiu-se curiosa para saber o que diziam. Vindo de Terezinha, é claro que não  poderia ser nada bom..

- Ele ainda não tirou essa idéia da cabeça! E eu não sei mais o que fazer! – Terezinha dizia em alto e bom tom. – Ele é muito jovem para se casar tão rápido!

- Mamãe, se acalme! – Henrique disse. – A Senhora está usando uma desculpa, apenas. Sempre insiste para Fernando se casar com Márcia, e não diz que ele está jovem demais para isso.

               Aquilo não espantava Lety nem um pouco. Fernando já havia sido sincero sobre o desejo de sua mãe de que a família Vilarroel fizesse parte da família Mendiola.

- Isso é diferente! – Disse Terezinha.

- Ele não é mais uma criança, mamãe. Além do mais, Lety é uma ótima pessoa, e já está bem claro o que sentem pelo outro. Por que simplesmente não consegue concordar com isso?

- Isso é um absurdo, Henrique! É claro que eles não se gostam tanto assim! Seu irmão só está enfeitiçado. Não posso negar, ela é uma mulher muito bonita. E foi apenas isso o que ele viu nela.

               Terezinha não aprovar sua relação com Fernando também não era novidade para Letícia, mas ouvi-la dizer tantas coisas ruins à seu respeito a deixaram mal. Embora soubesse que ela jamais fez questão alguma de tratá-la bem, Terezinha conseguia se segurar todas as vezes que Fernando e Lety faziam visitas à casa dela.

- Esse casamento vai acabar com nossa família! E se isso acontecer, eu me recuso a voltar a falar com seu irmão. Tudo o que seu pai construiu para vocês será obviamente jogado fora, e eu não posso aceitar isso.

- A Senhora sabe que isso não é verdade, e que é um exagero.

- Nossa família jamais será a mesma, Henrique. Jamais.

               Letícia já não suportava mais ouvir aquilo. Ela amava Fernando mais do que tudo no mundo, e tinha certeza que queria passar o resto da vida ao lado dele. Mas a desaprovação de sua mãe não a deixava feliz, e embora ela não precisasse disso para dizer “aceito” no altar, ela não queria que a relação de Fernando com sua família se acabasse por causa dela. Letícia não desistiria de Fernando, mas precisava falar com ele sobre o que ouviu. Ele sempre tinha as palavras certas para tranqüilizá-la. Mas, enquanto ele não chegava, ela resolveu voltar para sua sala e tentar se concentrar no trabalho, mesmo que fosse impossível depois do que ouviu.

               Assim que Letícia foi para sua sala, Fernando saiu do elevador acompanhado de Omar.

- Precisamos fazer a despedida de solteiro! – Omar disse.

- Você só pensa nisso, Omar? Já falou disso umas três vezes. E como eu disse, ainda vai demorar um pouco para isso.

- Não por você, não é? Vocês se casariam amanhã se dependesse de você.

               Fernando riu. Omar tinha razão.

- A Senhora precisa se acalmar, mamãe. Vá para casa e relaxe um pouco. – Henrique disse quando ele e Terezinha saíram da sala de reuniões.

- Ah, oi. – Fernando sorriu olhando para os dois. – Não sabia que ainda estavam aqui.

               Os dois se olharam.

- Estávamos... Conversando. – Henrique disse.

- Sobre o que? Algum problema?

               Henrique abriu a boca para responder, mas Terezinha o interrompeu.

- Nada de grave. Estou preocupada com algumas coisas minhas, mas nada para se preocuparem. – Ela sorriu.

- Tem certeza?

- Sim! – Terezinha se aproximou do filho, se despedindo com um beijo no rosto. – Nos vemos depois, querido.

- Tudo bem.

- Henrique, você também vem? – Ela olhou para o filho mais velho.

- Não. Vou ficar um pouco mais.

- Tudo bem.

               Terezinha virou-se e seguiu em direção ao elevador.

- Então... – Fernando bateu no ombro do irmão. – Que bom que esta aqui! Achei que não visitaria mais a família.

- É... Mamãe precisava de alguém com quem reclamasse.

               Fernando riu.

- Quando volta?

- Eu mal cheguei e você já está perguntando quando eu volto? Que falta de consideração!

- Não foi isso que eu quis dizer.

               Henrique riu.

- Eu estou brincando.

               Os três seguiram para a sala da Presidência e entraram juntos.

- Que bom que você está aqui. – Omar disse escorando a porta. – Precisa me ajudar com o planejamento da despedida de solteiro.

- Mas já? – Henrique olhou para Fernando. – Fiquei tanto tempo fora assim?

- Omar é muito ansioso. – Fernando disse.

- Mas eu vou adorar ajudar no planejamento. Já tenho algumas dançarinas que...

- Não! Nada de dançarinas! – Fernando o interrompeu e Omar e Henrique riram.

- Tudo bem. Nada de dançarinas.

               O clima estava animado e tranqüilo, mas o sorriso de Henrique logo diminuiu quando se lembrou da conversa com sua mãe. Não era justo que ela dissesse todas aquelas coisas pelas costas do seu irmão, mesmo que Fernando já soubesse de algumas delas. 

- Que cara é essa? – Fernando perguntou. – Não sabia que as dançarinas eram tão importantes.

- Não, não é nada disso. – Henrique sorriu sem jeito. – Fernando... Mamãe já disse à você o que acha desse casamento?

               O sorriso de Fernando também diminuiu, e ele sentou-se pesadamente em sua cadeira.

- Sim. – Respondeu. – Ela já disse.

- E você não se irrita com isso?

- Não. Eu não me importo com o que ela diz sobre a Letícia ou sobre nosso relacionamento. Eu a amo e ela me ama, e é só isso que me importa.

- Mas como você não se importa com as coisas que ela diz? – Henrique perguntou indignado. – Você sabia que ela está achando que isso irá destruir nossa família?

- O que? – Fernando se inclinou sobre a mesa. – Ela disse isso?

- E isso não foi o pior.

               Fernando suspirou impaciente e escorou a testa em uma das mãos.

- Você precisa conversar com ela.

- Não adianta, Henrique. Ela nunca me escuta. Acha que eu já não tentei?

- Talvez comigo aqui as coisas fiquem mais fáceis.

- Não sei. Talvez fiquem piores. Ela vai jogar na minha cara que você não faria algo do tipo.

               Henrique não respondeu, porque sabia que Fernando tinha razão. Terezinha costumava usá-lo como exemplo quando queria brigar com Fernando, pelo simples fato dele sempre fazer tudo o que seus pais queriam. Morar em Nova Iorque e se dedicar totalmente aos negócios da família. Mas, por mais que ele se sentisse feliz por seus pais se orgulharem dele, a relação que ele tinha com Fernando era mais forte do que isso, e ele não permitiria que Terezinha desejasse tanto o seu mal apenas por ele se casar com a mulher que ama.

- Precisamos conversar. – Henrique disse puxando a cadeira e sentando-se.

 

 

•••

 

LETÍCIA

 

3 DE FEVEREIRO

 

               Assim que descemos do táxi, olhei ao meu redor. Era um bairro novo, mas ainda assim eu conseguia relembrar de toda a minha vida. Voltar a capital me trouxe uma sensação antiga, que eu ainda não sabia distinguir se era boa ou ruim. Estava feliz por voltar à minha cidade depois de tantos anos, e principalmente de rever meus pais. Eles costumavam nos visitar no litoral, mas pelo menos duas vezes ao ano. A saudade que eu sentia deles era grande, e saber que pelo menos por um tempo eu voltaria a morar com eles, me animava.

- Ah! Finalmente! – Meu pai exclamou assim que abriu o portão.

- Vovô! – Julia exclamou correndo em sua direção.

- Como você cresceu! – Ele disse ao pegá-la no colo e recebê-la com um abraço. – Julieta, vem ver como essa menina cresceu! Não acredito!

               Logo minha mãe saiu no portão e meu pai colocou Julia no chão para que ela pudesse cumprimentá-la. O taxista terminou de colocar nossas malas no chão e Guilhermo saiu detrás do carro, pagando o taxista e andando em nossa direção.

- Oi, papai! – Me aproximei e ele abriu os braços, me convidando para um abraço.

- Quanto tempo, filha! – Disse quando eu o abracei forte.

- Eu senti saudades.

- Nós também!

               Ficamos alguns segundos abraçados, enquanto eu tentava controlar a emoção e felicidade de revê-los. Assim que nos separamos do abraço, olhei para minha mãe e sorrimos emotivas uma para a outra. Enquanto isso, meu pai cumprimentava Guilhermo.

- Mamãe!

- Oi meu amor!

               E enfim nos abraçamos. Minha mãe e eu sempre tivemos uma relação muito próxima, e ela foi a primeira pessoa a me dar total apoio quando decidi ir para o litoral.

- Vocês estão lindas! – Ela disse quando nos separamos. – E como Julia cresceu! Não parece que tem apenas cinco meses que não a vemos! E Guilhermo... – Minha mãe tocou no rosto dele e sorriu. – Como sempre, lindo!

- É bom te ver,  Dona Julieta. – Ele sorriu e os dois se abraçaram.

- Tenho tanta coisa para contar... – Falei animada.

- E tem mesmo! – Minha mãe me olhou divertida. – Mas, vamos entrar! Eu acabei de preparar um lanche do jeito que vocês gostam. Estão com fome?

- Muita! – Julia disse e nós rimos.

- Então vamos, vamos logo.

- Eu levo as malas. – Meu pai disse.

- Eu te ajudo, Seu Erasmo. – Disse Guilhermo.

               Assim que passamos pelo portão, olhei em volta admirada. Na entrada da casa havia um enorme jardim, do jeito que minha mãe gostava. A casa era visivelmente grande, embora fosse apenas para os dois. Mas, o espaço do lado de fora com certeza era a parte preferida dos dois. Desde que se mudaram para aquela casa depois que eu passei alguns anos enviando dinheiro para ajudá-los, eu nunca tinha a conhecido.

- O que achou? – Minha mãe perguntou me olhando.

- É linda! – Exclamei sincera. – Vocês realmente escolheram muito bem.

- O jardim foi por conta de sua mãe. – Meu pai disse terminando de colocar as malas para dentro do portão.

- Ficou lindo. – Sorri.

- Eu pedi tanto para que viessem. – Ela disse emocionada. – E agora estão mesmo aqui.

- Sem choros, mamãe. Sabe que eu choro também. – Sorri divertida e ela riu.

- Tem razão. Sem choros! Vamos apenas aproveitar!

- Eu já tenho um quarto para mim, vovó? – Julia perguntou.

- É claro que sim! Arrumamos tudo para vocês duas!

- Eu posso vê-lo?

- É claro!

               Sorri olhando para as duas andando em direção à casa. Guilhermo a acompanhou carregando duas malas e meu pai parou ao meu lado, colocando a outra mala no chão.

- É bom estar de volta? – Ele perguntou me olhando.

- Sim. – Respondi sincera. – É muito bom estar de volta.

 

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               Depois de um tempo a sós, tentando se concentrar no restante do trabalho, Letícia conseguiu se acalmar um pouco. A única coisa que queria era conversar com Fernando, e dizer à ele que não estava disposta a desistir dele e nem do seu futuro ao seu lado por causa de Terezinha. E que se ele concordasse com isso, diriam isso à ela no dia seguinte. Juntos.

- Fernando já chegou? – Ela perguntou às meninas quando passava por elas.

- Sim! – Respondeu Lola. – Está na sala da Presidência.

- Obrigada!

               Letícia parou diante da porta que estava entreaberta como a outra, e mais uma vez ouviu seu nome. Mas, dessa vez, quem falava sobre ela era Henrique. Antes de bater ela parou ao lado da porta, esperando ouvir o que diziam sobre ela.

- Precisa dar um jeito nisso, irmão! – Henrique parecia alterado.

- Eu vou dar um jeito nisso, Henrique! – Disse Fernando, também alterado. – Eu não agüento mais isso! Mas como eu vou dizer isso a ela?

               Letícia pensou se ele se referia à ela.

- Primeiramente você precisa ser sincero, ou então as coisas só irão piorar.

- Eu sei. Mas... Eu não quero magoá-la.

- Eu sei... Mas mesmo que você a ame muito, precisa ser sincero. Mesmo que isso a magoe.

               Ficaram um tempo em silencio, e Lety pensou em entrar e perguntar se estavam mesmo falando dela. Mas, antes que pudesse, Fernando voltou a falar.

- Vai ser melhor para nós dois. Eu sei que vai.

- É claro que vai! – Henrique concordou.

- Eu vou falar com ela mais tarde, então. Não vou deixar que ela destrua minha família. Não mesmo!

- É assim que se fala! – Henrique disse.

               Lety sentiu como se sua vida estivesse desmoronando. Não queria mais ouvir aquela conversa, e sem saber mais o que fazer, correu de volta para sua sala enquanto as lágrimas escorriam em seu rosto. Era inacreditável que depois de tudo o que Fernando prometeu à ela, ele finalmente deu ouvidos à sua mãe. Era óbvio que ele faria isso, afinal, Terezinha sempre conseguiu tudo o que quis de Fernando, fazendo todo o seu drama. Tirá-lo de Lety não seria diferente. Fernando se rendeu aos dramas de sua mãe, e preferia terminar tudo com Lety a ter que enfrentar sua mãe. E para ela, aquilo era uma prova de que ele não a amava o suficiente. Embora doesse mais do que qualquer outra coisa, e embora seu coração estivesse destroçado, Letícia teria que se afastar. Não teria coragem de ouvir Fernando falar tudo aquilo para ela, e temia que não suportasse ser rejeitada pelo amor de sua vida. Ela precisava tomar a decisão de se afastar dele, mesmo que aquilo fosse matá-la por dentro.

 

 

•••

 


¿Quién te dijo que yo ya no pienso en ti,
Que es historia pasada el amor que me dabas?
Que pasé de todo, ¿quien te dijo eso?

 

 

- E então? – Mamãe perguntou olhando para Julia.

- Está... Muito bom! – Respondeu com a boca cheia de bolo.

- Falando de boca cheia? Deve estar mesmo. – Brinquei.

- Desculpe.

               Nós rimos.

- Vovó, o seu bolo é o mais gostoso do mundo! – Ela disse após engolir o enorme pedaço de bolo que mastigava.

- Eu preciso concordar! – Guilhermo sorriu.

- Ah, obrigada!

- É bom saber... – Falei fingindo estar decepcionada.

- Mas o seu também é muito bom, mamãe.

- Também concordo. – Guilhermo riu e eu sorri para os dois.

- Sabe... Fernando também gosta de bolo como eu. Você poderia fazer um dia para ele, mamãe.

               Os três me olharam e eu forcei um sorriso.

- Quem sabe?

               Ela pareceu satisfeita, mas o clima pesou à mesa. Meus pais já sabiam o motivo de voltarmos para a capital, mas ainda não tínhamos conversado sobre isso desde que chegamos. Provavelmente meu pai percebeu isso, e se levantou logo depois.

- Julia, não quer ir lá no jardim para eu te mostrar uma coisa?

- Eu posso, mamãe?

- É claro!

- Eu os acompanho. – Guilhermo se levantou. – Dona Julieta, o bolo estava delicioso. Obrigado.

- Imagina, querido. – Minha mãe sorriu. – Que bom que gostou.

               Julia pulou da cadeira e acompanhou os dois. Assim que saíram da sala de jantar, minha mãe se escorou à mesa e me olhou.

- A casa é realmente bonita. – Falei.

- Que bom que gostou. Quisemos uma espaçosa para nossos netos. – Ela sorriu divertida.

- Acho que a Senhora aumentou um pouco a quantidade. – Brinquei rindo. – A não ser que eu tenha um irmão ou uma irmã perdidos por aí.

               Minha mãe riu.

- Não, mas nós esperamos que tenhamos mais netos.

- Isso vai ser um pouco difícil. – Sorri.

               Minha mãe me olhou sorridente.

- Como está sua relação com Guilhermo?

- Está bem. Nós somos bons amigos, apenas. – Falei quando ela sorriu satisfeita.

- Vocês não parecem apenas amigos. E eu já disse isso das vezes que nós fomos ao litoral. Eu acho ele um ótimo rapaz, e acho que ele merecia uma chance.

- Mamãe... – Balancei a cabeça rindo. – Ele é um homem maravilhoso, e eu sou muito grata à ele por tudo o que fez e ainda faz por nós. Mas eu não consigo pensar nele como algo mais do que um ótimo amigo.

- E por que não?

               Não respondi por minha mãe já saber a resposta.

- Então... – Ela disse. – Falou com ele quando chegou?

- Mandei uma mensagem. – Respondi desanimada, sem querer tocar naquele assunto com ela. Ao menos, não naquele momento.

- E o que ele disse?

- Nada. Apenas que... Queria ver a Julia, e que quando pudesse era para eu avisar.

               Minha mãe deu um longo suspiro.

- O que você pensa sobre isso, Lety?

- Sobre o que exatamente?

- Sabe que agora Fernando vai voltar a fazer parte da sua vida, quer você queira ou não.

- Eu sei disso.

- E você está preparada para isso?

               Respirei fundo e a olhei.

- Mamãe, passei seis anos longe de Fernando. Acho que foram suficientes para superar tudo.

- Tem certeza?

               Não. É claro que não tenho.

- Lety, nós duas sabemos o quanto você sofreu com tudo o que aconteceu. E sabemos principalmente o que sofreu quando descobriu que estava grávida. Ainda acho que Fernando não é uma pessoa ruim, mas você não pode se esquecer que ele não estava ao seu lado quando você mais precisou.

- Eu sei... – Respondi desanimada. – Eu não me esqueço disso nunca.

- Só quero te lembrar que as vezes o coração é traiçoeiro. E mesmo que você negue quantas vezes for preciso, eu sei que você ainda sente algo por ele. Só espero que esse “algo” que você sente, não volte a ser aquele amor intenso que sentia por ele.

- Não vai. – Falei rapidamente. – Não se preocupe.

               Minha mãe mal sabia que aquele amor intenso que eu sentia por Fernando jamais se acabou, apenas ficou adormecido. E assim como ela, o que eu mais temia é que agora que nos encontraríamos com freqüência, esse amor acordasse. Eu não me permitiria sofrer ainda mais por ele. Não me permitiria fingir que nada aconteceu, quando eu ainda guardava mágoas dele e de sua família. E aquilo não seria tão fácil de mudar.

 

 

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               Havia apenas uma semana que Letícia estava no litoral, e ainda assim a ausência de Fernando a perturbava. Todos os dias sua vontade era de se esquecer de tudo o que ouviu na empresa e voltar para os braços dele, se desculpando por te-lo deixado sem nenhuma explicação. Mas, ela estava sendo forte, e precisava de um tempo para pensar. Durante uma caminhada pela praia, pensativa, ela esbarrou em alguém e o homem a segurou para que ela não caísse.

- Meu Deus, me desculpe! – Ela disse rapidamente. – Eu estava distraída e...

- Não, tudo bem. – Ele sorriu. – Eu também estava distraído. Me desculpe.

- Tudo bem. – Ela sorriu e não pôde deixar de notar como ele era bonito.

               Era alto com um porte atlético, cabelos longos que quase chegavam aos ombros, e os olhos verde água que pareciam hipnotizar.

- Está tudo bem? – Ele perguntou divertido.

- Sim! Desculpe! – Ela desviou o olhar.

- Espero que não tenha atrapalhado o seu passeio.

- Na verdade, não. – Ela riu. – Eu só estava caminhando.

- Está passando as férias aqui?

               Ela o olhou divertida.

- Desculpe, não era para perguntar isso. Não é da minha conta. – Disse envergonhado.

- Está tudo bem. Digamos que ainda vou ficar aqui por um tempo. Até... Minha vida se resolver.

- Entendo. – Ele sorriu. – Bom... Preciso dizer que não há nada melhor do que passar horas de frente para esse mar. Garanto que qualquer problema se vai.

- Queria que isso fosse verdade.

               O homem a olhou pensativo e ela sentiu-se envergonhada.

- Eu preciso ir... – Lety tirou os fios de cabelo que voavam em seu rosto.

- Eu sei que pode parecer estranho, mas você parece precisar desabafar.

- Está tão evidente assim? – Ela sorriu sem jeito.

- Bom... Costumam dizer que sou ótimo para ouvir problemas. E conheço um lugar perfeito para isso.

               Letícia não costumava aceitar convites de estranhos, principalmente em um lugar que ela mal conhecia. Só havia ido ao litoral na sua adolescência, acompanhada de seus pais. Era óbvio que ela ainda não conhecia ninguém dali. Mas, julgando pela sua vontade desesperada de desabafar sobre seus problemas e aflições, ela achou que não seria tão ruim desabafar sobre sua vida amorosa com um completo estranho.

- Melhor eu me apresentar antes de fazer um convite assim, não é? – Ele riu esticando sua mão. – Me chamo Guilhermo. Guilhermo Zanetti.

- É...?

- Sim. É italiano. – Ele riu. – Mas... Vou te contar um segredo. Eu não gosto que as pessoas percebam isso.

- Não dá nem para notar. – Ela brincou e os dois riram. – Meu nome é Letícia Padilha. Mas, prefiro que me chamem de Lety. – Ela apertou sua mão.

- Lety. – Ele sorriu segurando a mão dela. – Gostei.

               Ela sorriu sem jeito.

- Então... Acho que isso quer dizer que você aceita o meu convite, não é? – Perguntou animado. – Não se preocupe. Como eu disse antes, eu conheço muitas pessoas por aqui. Não precisa ter medo.

- Não estou com medo. – Ela riu. – Quer dizer, não muito.

               Ele também riu.

- Então... Podemos ir para o momento desabafo?

               Letícia não conseguia rir desde que tudo aconteceu. Talvez não fosse tão ruim ter um novo amigo para que ela pudesse contar os seus problemas. Ela costumava ter algumas impressões das pessoas quando as conhecia, e as de Guilhermo com certeza eram ótimas.

 

 

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- E foi isso que aconteceu. – Letícia suspirou após o seu longo desabafo. – Agora estou aqui, tentando espairecer um pouco e pensar sobre tudo o que aconteceu. E pensar principalmente no que vale a pena.

               Guilhermo a ouvia com atenção enquanto mexia sua xícara de café.

- Parece complicado, não é? – Letícia riu. – Mas para falar a verdade, é muito complicado.

- Eu entendo. – Ele disse. – E entendo principalmente porque você quis se afastar assim. Imagino que seja menos doloroso para você estar tão longe dele, não é?

- Sim. – Ela o olhou triste. – Temi que se continuasse na capital, ele viria atrás de mim e eu não seria forte suficiente para fazer o que fiz. Mas... Foi preciso. Se eu não tivesse tomado essa decisão, ele tomaria.

- E acha que ele teria coragem de dizer tudo para você?

- Não sei se coragem é a palavra. Mas Fernando sempre fez a vontade dos seus pais, principalmente de sua mãe. Imagino que dessa vez não seria diferente.

- E você pretende voltar logo?

- Não sei. – Respondeu sincera. – Não sei, por que ao mesmo tempo em que acho que preciso de um tempo longe dele, preciso ficar perto dele. O que eu sinto por ele é muito intenso, e chega a me dominar.

               Guilhermo balançou a cabeça concordando.

- Ah, me desculpe! Acho que esse detalhe você não precisava saber. – Ela sorriu envergonhada.

- Não, está tudo bem. – Ele também sorriu. – Isso faz parte do desabafo, certo? E já deu para perceber que o amor que você tem por ele é realmente muito forte. Por isso admiro sua coragem de ter deixado tudo para trás e ter vindo para cá.

- Sim. Foi o único lugar que consegui pensar. Não imagino nada que possa me acalmar mais do que o mar. Foi como você disse.

- Tenho que concordar.

- E você já vive aqui há muito tempo?

- Para dizer a verdade, desde os meus dezoito anos. E acredite, já faz um tempinho.

               Ela riu.

- E não tem vontade de voltar para a Itália?

- Eu sinto falta... Mas aqui eu me descobri. Nunca tive uma família unida, meus pais são separados, quando se encontravam apenas brigavam. Eu me cansei disso, e foi por isso que vim para cá. Aqui eu me sinto bem, e não consigo me imaginar vivendo em outro lugar.

- Entendo. – Lety sorriu.

- Bom... Se quer um conselho de um total desconhecido... Acho que você precisa pensar um pouco mais. Sem pressa. Sem tomar decisões precipitadas. Talvez passar esse tempo longe seja doloroso, mas também a ajude a pensar. Se for o caso, você volta para a capital e diz tudo isso para ele. Talvez consigam se resolver.

- É... Talvez.

- Mas, se fizer isso agora, pode tomar decisões precipitadas, e pode se arrepender depois.

- Então acha que eu devo ficar aqui por mais tempo?

- E por que não?

- Bom... Eu também larguei o meu emprego. – Ela riu. – Eu não posso ficar aqui.

- Se é esse o problema, eu posso conseguir um emprego para você.

               Ela ergueu as sobrancelhas.

- Não estamos aqui para falar sobre mim, mas... Eu tenho um restaurante, não é muito longe daqui. Se você quiser, pode me ajudar no restaurante e eu te ajudo com o que precisar. Inclusive posso arrumar um lugar para você ficar.

- Eu acho que não estou pensando tão alto assim. – Ela riu. – É muita gentileza sua, mas preciso pensar antes de decidir isso. Eu larguei minha família, meu emprego e minha vida na capital. Não sei se devo criar raízes aqui assim tão rapido.

- Você quem sabe... – Ele sorriu divertido. – Mas, saiba que a proposta está em aberto.

               Não era a intenção de Letícia ficar no litoral por muito tempo. Ela só precisava de um tempo para pensar, e assim voltar para sua casa para conversar com Fernando sobre isso. Desde que o deixou ela se arrependeu amargamente por não ter lhe dado explicações, mas antes de fazer isso, ela precisava colocar as coisas no lugar. E talvez passar um tempinho no litoral não fosse tão ruim assim. Ela já tinha feito um amigo, poderia se adaptar muito bem ali, e ficar o tempo que precisasse.

 

 

•••

 


¿Quién te dijo eso?
No les creas que ya no te quiero
¡Ay cuánto, cuánto te mintieron!
¿Quién te dijo eso?

 

 

 

               Entrei no quarto que meus pais haviam preparado especialmente para Julia. As paredes pintadas de um bege claro e a roupa de cama com várias flores espalhadas por ela deixavam claro que eles se preocuparam em agradá-la. Sorri escorada à porta e imaginei que seria bom morarmos ali até que eu conseguisse resolver a minha vida. Julia se dava muito bem com meus pais, e teria uma vida feliz ali. Talvez tão feliz quanto no litoral.

               Adentrei o quarto e andei até a janela, ouvindo as gargalhadas de Julia. Era a primeira vez que ela saía do litoral, e embora eu temesse que ela não conseguisse se adaptar à um novo lugar tão rápido, ela estava me surpreendendo. Guilhermo rolava na grama com ela e meus pais riam enquanto os assistia. Talvez Julia sentisse a ausência de Guilhermo quando ele voltasse para o litoral, mas eu sabia que a empolgação de estar perto de Fernando era grande, e isso ela deixou claro durante toda a viagem. Ela finalmente teria o pai por perto, e era impossível não me sentir extremamente feliz por isso.

 

 

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¿Quién te dijo que yo no luché por ti,
Que bajé los brazos dejando entrar al fracaso?
Que pasé de todo, ¿quién te dijo eso?

 

 

               Letícia estava sentada do lado de fora do restaurante. A brisa do fim de tarde era sempre agradável, mas naquele momento ela desejava que ela carregasse seus medos para longe. Enquanto refletia, Lety ouviu alguém se aproximar, e sentiu-se aliviada por ser Guilhermo.

- Aqui... – Ele lhe entregou um copo de suco. – É de maracujá. Vai te fazer bem.

- Obrigada. – Ela sorriu triste, pegando o copo.

               Guilhermo sentou-se ao seu lado no banco e olhou para a mesma direção que ela.

- O que eu vou fazer agora? – Lety perguntou.

- É algo a se pensar. – Ele respondeu sem olhá-la. – Você está aqui há quase um mês.

- É... – Ela o olhou. – E eu estava começando a me acostumar com essa vida.

- Fico feliz. – Ele virou-se para ela, sorrindo. – Mas agora precisa decidir o que vai fazer de agora em diante.

               Letícia abaixou a cabeça.

- Eu também não sei. Alguma dica?

- Bom... O pai dessa criança precisa saber de tudo, primeiramente.

               Letícia o olhou e suspirou.

- Mas eu não esperava voltar tão rápido. Principalmente agora que você me ajudou com um lugar para ficar, com o emprego...

- Mas isso é o de menos, Lety. Eu também queria que você ficasse, muito. Mas, nessas condições... O melhor a se fazer é você voltar. Para ter a ajuda dos seus pais... E do Fernando.

- Você acha?

- Acho sim.

               Letícia novamente abaixou a cabeça.

- É claro que eu vou dizer à ele. Só não sei se quero dizer pessoalmente. Principalmente por eu ter me isolado todos esses dias, sem dar notícias. Como vou reaparecer e dizer para ele: “ah, e por falar nisso, estou esperando um filho seu!”

- Não precisa ser assim. – Guilhermo riu.

- Eu acho que prefiro dizer à ele por telefone. Eu me sentiria melhor.

- Acha que ele vai querer ouvir isso por telefone?

               Letícia não respondeu. É claro que nenhum homem quer ouvir por telefone que ele será pai. Principalmente depois de tudo o que aconteceu.

- Não.

- Então, por que você não liga para ele, diga que precisa conversar com ele sobre algo importante, e pergunta se ele está disposto à ouvi-la? Ele terá um susto quando receber uma ligação sua depois desse tempo todo, é claro, mas dessa maneira você pode ir mais tranqüila.

- É... Acho que tem razão. Mas... E se ele me rejeitar? Precisamos pensar que ele iria terminar comigo quando eu fui embora. E se ele estiver bem sem mim? E se tiver seguido a vida? Ele não vai querer pensar em ter um filho...

- Eu tenho certeza que ele não fará isso. Nenhum homem que se preze faria isso.

               Letícia o olhou pensativa.

- Quer saber? Eu tive uma idéia. – Guilhermo sorriu empolgado. – Por que não manda uma carta? Assim além dele saber onde você esteve todo esse tempo, não vai ficar tão assustado como ficaria em uma ligação. Você diz que precisam conversar, e peça para ele te responder. Diz que está disposta a falar sobre tudo com ele, e que precisa contar uma coisa importante.

               Lety sorriu animada.

- É uma ótima idéia!

- Ótimo! – Ele se levantou e lhe deu a mão para que ela também se levantasse. – Tudo vai se resolver, Lety. Você vai ver.

- Assim espero. – Letícia suspirou sorrindo. – Assim espero.

 

 

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               Letícia estava tão certa de que Fernando responderia sua carta, e principalmente, que ele ficaria feliz de saber onde ela estava, que passou o restante da semana ansiosa para saber qual seria sua resposta. Todas as vezes que ela falava com sua mãe, ela dizia que Fernando a procurava e ligava perguntando por ela. Letícia estava certa de que as coisas se resolveriam, e quando Fernando soubesse que ele seria pai, talvez ele se arrependesse de ter apoiado sua mãe e voltasse atrás. Fernando sempre deixou claro que queria formar uma família com Lety, e que o maior sonho de sua vida seria ser pai. Ela estava certa de que ele se emocionaria e eles enfim pudessem conversar sobre o dia que Lety o deixou.

               Mas, não foi o que aconteceu. Duas semanas se passaram e Letícia não recebeu uma resposta. Ela começava a se preocupar e a ansiedade aumentava ainda mais, e isso começava a prejudicá-la no dia a dia.

- Você precisa comer. – Guilhermo disse colocando um prato de torradas em sua frente. – Não tomou café da manhã e eu sei que não comeu nada ontem a noite.

- Eu estou sem fome. – Ela respondeu batendo os dedos contra a mesa. – E logo é o meu turno e eu preciso ajudar a arrumar as mesas.

- Não seja boba, Lety. Está falando como se eu fosse aquele chefe insuportável que fica cobrando o horário dos funcionários. Não sou assim com ninguém, principalmente com você.

- Eu sei. Mas eu assumi um compromisso, e vou cumpri-lo.

- Tudo bem. Então, se não quer comer por você, coma por ele. – Ele apontou para sua barriga. – A medica disse claramente para você se alimentar direito, mas não é isso que está fazendo.

               Letícia suspirou e encarou o prato em sua frente, sem animo.

- Quer saber? Não agüento mais isso. – Guilhermo andou até o balcão e pegou o telefone, levando-o até Letícia e o colocando sobre a mesa.

- O que é isso? – Ela perguntou confusa.

- Está aflita há duas semanas. Por que não liga para ele?

- E vou dizer o que?

- Pergunte se ele recebeu a carta, e exija uma resposta.

- Eu não posso fazer isso.

- Então vai ficar sem se alimentar até quando? Vai arriscar a vida do bebê por isso?

               Letícia encarou o telefone em sua frente e o pegou rapidamente.

- E se ele estiver bravo?

- Ele não tem motivos para isso.

               Letícia suspirou e discou o numero que ainda sabia de cor. Mas, para o seu desapontamento, a ligação cai na caixa postal.

- Caixa postal. – Disse desanimada.

- Então ligue para a casa dos pais dele.

- Ficou louco? A mãe dele não vai querer me atender.

- Você não vai falar com ela, vai falar com ele.

               Letícia balançou a cabeça e voltou a discar um numero no telefone, que tambem sabia de cor. Fernando costumava passar muito tempo na casa dos seus pais, e talvez ela desse a sorte de encontrá-lo por lá. A cada chamada seu coração disparava, e a única coisa que a aliviava naquele momento era roer suas unhas, mesmo que já não tivesse mais nada para roer.

- “Alô?” – Uma voz masculina atendeu a ligação e Lety pulou da cadeira. Mas, logo reconheceu que não era de Fernando.

- Henrique.

- “Quem fala?”

               Letícia suspirou tensa.

- Aqui é a Letícia.

               Fez-se alguns segundos de silencio.

- “Lety! Como você está? Onde você está? Você...”

- Henrique, me desculpe, mas eu estou com pressa. Seu irmão está por aí?

- “Não, ele acabou de sair daqui.”

               Ela suspirou desanimada.

- “Mas você quer deixar algum recado?”

- Eu preciso... Saber se ele recebeu uma carta minha. Você pode pedir para ele me ligar quando conseguir falar com ele?

- “É claro.”

               Letícia passou o numero do restaurante e Henrique pareceu anotar. Ela estava aliviada apenas por não ter sido Terezinha à atender ao telefone. Henrique jamais a tratou mal e sempre pareceu apoiar a relação dos dois. Talvez ele a ajudasse.

- “Eu digo para ele ligar para você assim que possível.”

- Obrigada. Tchau.

               Sem esperar uma resposta, ela desligou o telefone com as mãos tremulas. Guilhermo a olhou e aproximou o prato de torradas dela.

- Enquanto espera a ligação... Precisa comer.

               Letícia balançou a cabeça concordando e abocanhou a primeira torrada.

 

 

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               No fim da tarde, o toque do telefone despertou Letícia. Ela ajudava os outros funcionários a arrumar as mesas para servirem o jantar, mas nada mais importava para ela. Ela correu até o balcão e todos a olharam preocupados, inclusive Guilhermo. Assim que pegou o telefone ela respirou fundo e fechou os olhos, pronta para ouvir a voz do seu amado depois de tanto tempo.

- Alo? – Seu coração estava disparado.

- “Lety?”

               Mas, mais uma vez não era a voz de Fernando.

- Sim?

- “Sou eu, Henrique.”

- Oi.

- “Lety, eu queria me desculpar pelo meu irmão, mas...”

               Suas pernas começaram a bambear.

- O que foi?

- “Ele não quer falar com você.”

               Toda a ansiedade e nervosismo que ela sentia se transformaram em raiva.

- Como assim não quer falar comigo? Ele leu a carta?

- “Não. Ele se negou a abri-la. Ele não quis lê-la e disse que não queria saber de nada relacionado à você.”

               Letícia apertou o telefone em suas mãos, sendo tomada pelo ódio.

- “E depois de dizer isso, ele rasgou sua carta.”

               Ela não consegue respondê-lo. Um misto de raiva e decepção a dominou por completo.

- “Eu sinto muito, Lety. Mas... Eu posso ajudar em alguma coisa?”

- Não. – Ela respondeu rapidamente. – Aliás, pode sim. Pode dar um recado à Fernando. Diga para ele nunca mais me procurar!

               Com raiva, ela desligou o telefone e o jogou sobre o balcão. Os funcionários do restaurante ainda a olhavam curiosos, mas Guilhermo se aproximou e tocou em seu ombro.

- Eu não preciso dele. – Ela disse amargurada. – Nós não precisamos dele. Eu vou cuidar do meu filho sozinha, e não quero nunca mais voltar para aquele lugar! Meu lugar é aqui, nosso lugar é aqui!

               Guilhermo a puxou para um abraço e ela desabafou, chorando em seu peito.

- Você não vai criá-lo sozinha. Eu estou do seu lado, para o que precisar. E se essa criança precisar de uma figura paterna em sua vida, eu ficarei feliz em fazer esse papel.

               Letícia soluçou ainda abraçada à ele.

 

 

 


Notas Finais


E aí? hahaha


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