Já são duas horas.
Abro a porta. Não há nada além do deserto branco, da caixa de correio torta, da passagem recoberta pela neve.
Tiro a neve do caminho. Fecho a porta.
Já são quatro horas.
Abro a porta. Agora há apenas a luz do poste piscando até que queime de vez, o sol nascendo no horizonte, a água gelada da neve derretida que torna o caminho escorregadio.
Tiro o excesso de água. Fecho a porta.
Já são seis horas.
Abro a porta. Há minha animação incontida, tornando-se opaca para dar luz ao dia; folhas tímidas se revelando no gramado e o carteiro deixando mais contas na caixa.
Não pego nenhuma das cartas. Fecho a porta.
Já são oito horas.
Abro a porta. Talvez exista uma fagulha de esperança a qual não consigo extinguir ou então pode haver meu orgulho polido misturado à expectativa do perdão; quem sabe o destino que os gritos de ontem à noite fizeram Sehun seguir.
A visão da neve revira meu estômago e sei que estou preocupado quando não deveria. Fecho a porta.
Já são doze horas.
Não abro a porta. Em vez disso ela se abre rangendo, trazendo neve, lama e água carregadas pelas botas pesadas; um pigarro simulado em irritabilidade falsa e um tronco corpulento que desejava esconder-se debaixo da escada.
– Vim apenas explicitar um argumento melhor para a nossa discussão de ontem.
– Deixa de ser ridículo, Sehun.
Já é uma hora.
Abro a porta. Não há nada que eu queira aqui fora, há apenas o deserto branco refletindo todo o brilho que o sol faz questão de ostentar, uma população de vida comum e nenhum de meus problemas.
Assim como não há o conflito, a voz agressiva tons acima e os consequentes sentimentos feridos. Mas talvez haja a espera, a ansiedade que embrulha, tortura e arrepia por algo que você sabe que vale mais do que a certeza absoluta sobre a vida.
Já estava na hora de eu definitivamente fechar a porta, pois a espera agora era de dias melhores e, quem sabe, argumentações em vez de brigas.
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