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História Ilha da Liberdade - Amigo


Escrita por: LyhChee

Notas do Autor


Demorei, mas aqui vai mais um capítulo! :D

Capítulo 4 - Amigo


Kris

 

- Vamos lá, Amy – chamei-a após guardar meu violão no case. – O que está te incomodando? As aulas acabaram de começar, assim como o trabalho, não é possível que já esteja cansada disso – brinquei, observando-a tirar o avental. – E não é possível que o namorado esteja incomodando. Eu o vi, e de verdade…. Uau!

Sorri quando consegui arrancar-lhe uma risada.

Durante o dia que passamos juntos em busca de trabalho, na semana passada, Amy havia me contado sobre o namorado, Luke, e me confidenciado que estava preocupada se não deixara tudo acontecer rápido demais.

Em minha opinião fora relativamente rápido, dado que eles se viram pessoalmente apenas uma vez antes de iniciarem o namoro. No entanto, não lhe disse o que pensava, pois a vida não era minha, não é mesmo?

Mas então ela me apresentou o tal Luke, e eu pude entender o que a encantou. Ele tinha aquela aparência que atraía qualquer um. Claro que não era apenas a aparência: Luke sabia manter uma conversa agradável e cativar as pessoas à sua volta.

Não que eu esteja interessado.

Não desse jeito.

- É a colega de quarto de novo? – arrisquei, e pelo suspiro que deu, percebi que esse era realmente o problema.

No dia que as aulas começaram, Amy havia me dito que não gostava de sua nova colega de quarto. Lembro de tê-la ouvido classificar a garota como alguém “mesquinha, arrogante e narcisista”, entre outros nomes que eu preferia não repetir. Particularmente, eu não a conhecia pessoalmente, mas pelo jeito que era caracterizada, não estava a fim de conhecê-la.

E piorava o fato de estarem juntas na maioria das classes na faculdade de enfermagem.

- Lembra que eu te disse que Luke havia me chamado para jantar com sua melhor amiga? – perguntou, guardando o avental em seu armário. Concordei com um movimento de cabeça. Por que ela estava mudando de assunto? – E que naquele primeiro encontro eu não tinha aceitado? – novamente concordei. – Bom, ontem à noite ele me chamou de novo, e eu aceitei – ela revirou os olhos. – Acontece que a melhor amiga de Luke é a minha colega de quarto.

- Não! – exclamei, surpreso.

Isso que era azar.

- Exatamente! – resmungou, fechando o armário.

Peguei o case de meu violão e o coloquei no canto do cômodo em que estávamos, contente com o trabalho que havíamos conseguido. Era uma lanchonete perto do campus de nossa faculdade: Amy conseguira o papel de garçonete e eu alegrava os clientes tocando músicas no local.

- Mas pelo menos quando está com Luke, a garota é mais comportada? – indaguei, observando melhor a pequena salinha em que nos encontrávamos: era um cômodo pequeno, restrito apenas aos funcionários da lanchonete. Era aqui que nossos pertences e uniformes ficavam.

Basicamente tinha dois bancos localizados no centro da sala e dois armários roupeiros de aço encostado em paredes opostas, cada um com vinte espaços cuja portinha podia ser trancada por um cadeado. A parede em que estava a porta que ligava o cômodo à lanchonete era a única vazia, uma vez que a última parede possuía ganchos para pendurar nossos casacos nos dias frios.

- Não. É a mesma coisa. E o pior é que Luke acha graça naquele jeito arrogante – revirou os olhos, pegando seu casaco fino de um dos ganchos. – Mas enfim. Onde vai almoçar amanhã?

Juntos, caminhamos para fora da salinha e, vendo o interior da lanchonete vazio e com as luzes apagadas, não vimos motivos para prolongar nossa estadia. O gerente morava no andar de cima da lanchonete, e sabíamos que em cinco minutos ele desceria para trancar as portas e oficialmente encerrar o dia de trabalho.

- Não tenho planos ainda – dei de ombros, colocando as mãos nos bolsos de minha calça jeans. Quando saímos, senti uma brisa gelada vir ao nosso encontro, e Amy logo tratou de colocar seu casaco.

Talvez eu devesse ter vindo com um casaco também, mas sendo começo de setembro, não achei que fosse esfriar muito hoje.

Aparentemente, eu estava errado.

- Por que não almoça comigo então? – Amy sorriu, animada. – Acho que vou almoçar no campus e vir direto para o trabalho. Amanhã os treinos de basquete começam, à noite, então pretendo começar mais cedo aqui.

- Pode ser – retribuí seu sorriso. – Amanhã também não tenho aula à tarde. Talvez voltar um pouco mais cedo para o campus seja uma boa ideia.

Quem sabe dê para dormir um pouco mais, ou conhecer melhor o campus.

Acontecia que, quando conversamos com o gerente da lanchonete, deixamos claro nossa situação na faculdade, especialmente sobre nossos horários. E foi bom, porque conseguimos fechar um contrato de trabalho onde precisávamos trabalhar um total de seis horas por dia, sem horário fixo para chegar e sair.

 E tinha a vantagem de ficar a poucos quarteirões da entrada mais perto dos dormitórios do campus.

 - Mas e Luke? – perguntei, observando-a com atenção. Normalmente ela costumava almoçar com o namorado.

 - Ah, amanhã ele tem aula até mais tarde, e se formos almoçar juntos, não consigo adiantar o trabalho e chegar a tempo para meu treino de basquete – deu de ombros, ajeitando sua bolsa preta em seu ombro, sobre o casaco bege claro que usava. – E ele disse que vai almoçar com ela – pronunciou a última palavra com uma careta que me fez rir.

 - Amy, se ele é seu namorado e ela é… – fiz uma pausa para lembrar de todos os títulos. – … sua colega de quarto, colega de classes e melhor amiga de Luke – desviei o olhar para que ela não pudesse me encarar daquele jeito que me intimidava. – … você precisa dar um jeito nisso.

A garota pareceu ofendida, e fiquei em silêncio por algum tempo.

Ela precisava ouvir isso.

- Sabe, você não precisa gostar dela nem nada assim – nossos olhos se encontraram por um breve momento, antes que eu voltasse a encarar a rua em que atravessávamos. Não era bom ser atropelado por um descuido tão besta quanto não olhar se havia carros vindo. – Só precisa aprender a conviver com ela. Coisas básicas, sabe? Cumprimentar, despedir, não trocar olhares ofensivos ou palavras. Quer xingá-la? Mande mensagem para mim ou outro amigo.

- Eu sei – murmurou após um suspiro. – Eu tento, juro que tento. Mas você não a conhece.

Sorri, voltando a encarar aquele par de olhos castanhos escuros, e pude notar certa aflição neles. Era possível notar muita coisa apenas pelos olhos de uma pessoa.

- Não se preocupe. Se é pra dar certo, vai dar certo – falei, tentando acalmá-la, quando passamos o portão que indicava que estávamos de volta ao campus.

Amy concordou com a cabeça e soltou apenas agora o cabelo que deixara preso em um coque para o trabalho. Eles caíram sobre seus ombros em ondas e passaram a se mexer conforme o vento que nos atingia – agora mais fraco do que antes.

- Você pensa demais em tudo, só precisa relaxar – comentei quando notei que seus ombros ainda estavam um pouco tensos.

Seus olhos voltaram a me encarar e ela sorriu, os ombros relaxando.

- Obrigada por me ouvir – disse quando entramos no prédio em que nossos quartos se encontravam.

Retribuí o sorriso, agradecendo internamente por não estar ventando nos corredores do prédio.

Amy havia me contado um pouco sobre sua vida, e talvez tudo o que ela precisava era de bons amigos. Eu podia – não, eu queria – ser um bom amigo para a garota.

Todo mundo precisa de bons amigos.

 

- Sabe, meu primeiro ano aqui foi difícil – admitiu Rick, meu colega de quarto.

- Claro que foi, você faz medicina – sorri, arranjando uma posição mais confortável em minha cama. Estar apoiado na parede sem um travesseiro fazia com que minhas costas ficassem mais geladas do que eu gostaria.

- Não por isso – ele riu, colocando o caderno em que fazia anotações de suas aulas em sua escrivaninha. – Eu morava em Las Vegas, e era bem caótico lá. Então vim para cá para estudar e é tudo diferente. Eu tinha muitos amigos lá, mas aqui? É um lugar totalmente diferente.

Concordei com um movimento de cabeça, observando-o tirar o pijama branco, cor que contrastava com sua cor de pele, de seu armário. Eu já havia passado um tempo em Vegas, e lembro-me que, apesar de ter muita gente em todos os lugares, não achei tão divertido assim. Mas também eu era menor de idade e tinha ido com meus pais: não acho que teria sido interessante de qualquer forma.

Eu fui proibido de ir em casas de apostas, não pude beber nada alcoólico e as pessoas que estavam dispostas a conversar comigo não estavam tão sóbrias quanto eu estava.

- O que eu quero dizer é que fico feliz em dividir o quarto com você – concluiu seu pensamento, e sorri ao ouvir o elogio. – Nos dois anos que fiquei aqui não tive muita sorte com os colegas de quarto, sabe? O primeiro tinha umas manias esquisitas, suspeitava de tudo e me olhava como se eu fosse.. Sei lá, algum agente duplo da FBI com a missão que prendê-lo.

- Mas você não é, é? – arqueei uma sobrancelha, um sorriso brincando na ponta de meus lábios. Rick era uma pessoa divertida, que gostava de conversar com outras pessoas, e isso era muito bom, porque eu também gostava de ter alguém para conversar e passar o tempo.

- Quem sabe – brincou, e nós rimos. Tirei meus óculos, e tudo à minha frente passou a ficar embaçado.

- Eu juro que não fiz nada de errado ainda – levantei as mãos como em rendimento.

- Ainda? – arqueou uma sobrancelha.

- Nunca é bom prometer coisas – comentei, dando de ombros enquanto ajeitava meu travesseiro. – Mas o que aconteceu com o segundo colega de quarto? – indaguei quando lembrei como chegamos nesse assunto.

- Ele era quieto demais – deu de ombros, tirando sua camiseta para usar a do pijama. – Ficava o dia inteiro no computador, e agia como se eu não existisse.

- Ah, isso é chato – murmurei, bocejando. Estreitei os olhos e liguei a tela de meu celular para ver as horas, os números ali presentes indicavam que já havia passado da meia noite.

- Nem me fale – resmungou, reprimindo um bocejo. Nós estávamos morando neste quarto fazia uma semana, mas ainda assim parecia muito mais tempo. Eu gostava de Rick como se fosse um irmão.

Bom, eu acho. Nunca tive um irmão para fazer uma comparação, mas acredito que se tivesse, esse seria o sentimento.

Rick se ajeitou em sua cama, murmurou um boa noite e, em menos de um minuto, já tinha caído no sono. Era engraçado como o sono lhe vinha com tanta facilidade. Eu gostaria que viesse para mim um pouco mais rápido, mas talvez não tanto.

Meu celular vibrou e a tela brilhou com vida ao meu lado.

Quem poderia ser a essa hora?

Curioso, peguei os óculos que repousavam ao seu lado e os coloquei em meu rosto. Ainda sem levantar, puxei o aparelho para mais perto de meus olhos com a finalidade de descobrir que me mandava mensagem a esta hora.

"Querido, faz tempo que não nos falamos. Como você está? Onde está? Estamos preocupados. Beijinhos, mamãe".

Li e reli a mesma mensagem por uns dois minutos, incrédulo.

O que ela estava tentando fazer?

Beijinhos, mamãe. Quem ela estava tentando enganar?

Quando os números digitais no canto superior da tela mudaram mais uma vez indicando que outro minuto havia se passado, notei que desta vez era só mamãe, nada de papai.

Mas essa não era a melhor hora para pensar, eu podia fazer alguma besteira como, por exemplo, responder a mensagem. Ela sempre soube que a madrugada era a hora mais fácil para atingir meu coração.

Relutante, apaguei a tela do celular, mas quando fui tirar os óculos e tentar voltar a dormir, outra mensagem chegou. Mesmo remetente.

"Kris, você não pode nos evitar para sempre. Uma conversa, é tudo o que eu peço" e um emoji com carinha triste.

Pisquei duas vezes, encarando o emoji.

Isso era golpe baixo.

Apertei o campo de resposta, mas meus dedos não sabiam o que fazer em seguida.

Suspirei, fechando meus olhos por um tempo.

Olhando mais uma vez as mensagens, resolvi desligar o celular. Eu não podia lidar com isso agora. Não quando tudo começava a se acertar em minha vida.

A faculdade de música ia bem, eu tinha Amy e Rick, e vários amigos em minhas classes teóricas e práticas, tinha bons professores e um ótimo trabalho.

Eu não precisava de meus pais se metendo em minha vida novamente.

Coloquei os óculos ao lado do aparelho eletrônico desligado e fechei os olhos com força, desejando que o sono viesse e eu dormisse tão rápido quanto Rick o fizera.

 

Saí da aula completamente contente. Eu amava essa faculdade, e eu amava esse curso.

Músico.

Quem diria que a vida me deixaria fazer parte disso, que talvez um dia eu pudesse trabalhar compondo músicas, ou simplesmente ganhar dinheiro tocando algum instrumento?

Esse era o sonho. Sempre foi.

Caminhei para fora do prédio dos cursos de artes tranquilamente. O relógio me indicava que a aula de Amy terminava daqui a quinze minutos, no mínimo. Então eu podia caminhar tranquilamente pelo campus até encontrá-la.

Meu prédio não era exatamente ao lado do prédio de saúde – onde Amy cursava enfermagem –, mas era próximo à saída mais perto de nosso trabalho. O que significava que eu ainda tinha o tempo que ela levaria até chegar ao portão, fora os quinze minutos.

Sentei-me em um dos bancos perto das janelas da construção e observei a praça que havia sido feita ali. O campus era cheio de árvores, plantas e flores, que melhoravam o ambiente, e o tornavam extremamente agradável.

Ouvi um miado em algum lugar atrás de mim e, quando notei, um gatinho bege com listras em uma tonalidade mais escura de marrom subiu no banco ao meu lado, me encarando.

Sorri com sua proximidade; eu gostava muito de animais.

- Olá amigo – cumprimentei-o, esticando cuidadosamente minha mão direita para que ele (ou ela) pudesse sentir meu cheiro.

- Sabia que aproximadamente quarenta mil pessoas são mordidas por gatos anualmente nos Estados Unidos? – ouvi uma voz feminina quando estava entretido acariciando o gato.

Ergui meus olhos para encarar a dona da voz, e me surpreendi ao ver cabelos longos em uma tonalidade rosa-claro. A garota à minha frente era extremamente magra, mas o que mais chamava atenção em sua aparência era o brilho em seus olhos verdes, que também era refletido em um sorriso bonito.

- Quarenta mil pessoas? – arqueei uma sobrancelha, surpreso. Era um número muito grande.

E mordidos por essas criaturinhas bonitinhas?

Pensando nisso, encarei o gatinho que estava deitado no banco, ao meu lado, sua cabeça mexendo quando eu passava meus dedos pelos seus pêlos, claramente gostando do carinho.

- É o que me falaram – ela deu de ombros, também oferecendo sua mão para que o pequeno sentisse seu cheiro. – A propósito, meu nome é Jessica.

- Eu sou Kris – retribuí o sorriso que ela me deu.

- E o nome dele é Buttercup. Quem nem em Jogos Vorazes!

- Então vocês já se conhecem? – olhei para o gatinho para não entregar o jogo de que eu queria olhar mais para a coloração verde de seus olhos. Eu tinha certeza que conseguiria passar um dia inteiro analisando-os.

- Ele é meu – Jessica deu de ombros, agora pegando Buttercup em seu colo e acariciando-o na cabeça.

- Ah – sorri – É um gato bem bonito.

Seus olhos me analisaram por um tempo, antes que aquele sorriso bonito voltasse aos seus lábios.

- Você acreditou? – riu. – Eu realmente podia levá-lo para mim, não acha?

Pisquei, tentando entender o que Jessica queria dizer.

- Eu… – murmurei. Ela tinha me enganado?

- Ele nasceu aqui na faculdade ano passado, e eu e mais algumas pessoas tentamos ajudá-lo com comida e essas coisas – disse ela, sem realmente esperar uma resposta para sua pergunta. Ainda com Buttercup em seu colo, ela sentou-se ao meu lado, seus cabelos rosas voando em mim devido ao vento, e então sussurrou: – Mas pretendo roubá-lo quando me formar.

Observei-a, achando graça. Não soube dizer se ela dizia a verdade ou se apenas me enganava novamente, mas algo me dizia que esse era o começo de uma boa amizade.



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