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História Ilha da Liberdade - Calculista


Escrita por: LyhChee

Notas do Autor


Em primeiro lugar, me desculpem pela demora.
Espero que tenham aproveitado o carnaval e, como dizem que o ano só começa depois do carnaval, aqui vai um capítulo novo fresquinho para começar bem o ano.
Espero que gostem!

Capítulo 6 - Calculista


Yukio

 

- Por favor! – Luke pediu novamente, bloqueando meu caminho.

Arqueei uma sobrancelha, levemente irritado com sua falta de percepção de que estava invadindo meu espaço pessoal e passando, mais uma vez, dos limites.

Ficamos um tempo em silêncio e ele pareceu perceber meu incômodo com a proximidade desnecessária, pois deu um passo para trás. Mas seus olhos castanhos claros permaneceram fixos em meus olhos, claramente aguardando minha resposta e, ao mesmo tempo, implorando para que eu o ajudasse.

Para falar a verdade, no começo foi difícil conseguir me adaptar a dividir o dormitório com alguém que possuía um estilo de vida completamente diferente do meu. Na época em que eu estava no colegial, sempre evitei me aproximar mais do que o necessário de pessoas como Luke. Enquanto eles buscavam fama e "poder" em relação ao resto dos alunos – seja porque tinham talentos esportivos ou porque possuíam uma aparência que podia ser considerada mais elevada perante o resto – e corriam atrás das garotas mais bonitas, eu costumava ficar longe de seus caminhos – e garotas – e me dedicar apenas aos estudos.

Sempre achei ridículo a forma como o sistema de ensino permite que alunos briguem, muitas vezes baixando o nível ao ponto de agressões verbais ou físicas, por algo tão inútil quanto "ser popular" na escola. Afinal, todos acabam sendo forçados a participarem da vida adulta e "ser o garoto mais atraente ou desejado do colegial” com certeza não era um tópico a ser acrescentado em um currículo.

E o fato de Luke parecer um desses bullies que eu tanto evitei em minha vida fez com que eu ficasse receoso em tê-lo como roommate na faculdade onde eu começava meus estudos. Afinal, eu estava aqui pelo meu próprio mérito: meus esforços, tempo e dedicação em ter as melhores notas em praticamente todas as matérias acabaram me garantindo uma vaga em muitas das universidades em que havia mandado uma aplicação. Não estava aqui porque tive um bom desempenho em algum esporte, como é o caso de meu colega de quarto.

Porém, apesar de sua aparência, sua personalidade não era esnobe ou de alguém que precisava jogar os outros para baixo para que pudesse sentir-se bem. Não, Luke se preocupava com as pessoas ao seu redor, era atencioso com desconhecidos e gostava de ajudar.

Claro que não era o cara perfeito. Por algum motivo, ele tinha uma necessidade esquisita de estar com alguém toda hora e muitas vezes não sabia quando passava dos limites com coisas básicas como, por exemplo, respeitar o espaço pessoal, não saber quando parar de falar ou quais assuntos não deviam ser discutidos em determinadas horas.

Mas no geral admito que acabei gostando de tê-lo como colega de quarto.

- É só uma festa – insistiu quando permaneci calado.

- Por que você quer tanto que eu vá nessa festa? – indaguei após um suspiro. Por um lado, se fosse apenas uma festa de faculdade, uma noite, acredito que não teria problemas. Por outro, ir nesse tipo de festa me lembrava de meu pai e como sua adolescência devia ter sido. Eu não queria seguir este caminho.

- Ok, eu preciso de ajuda – resmungou, e notei que seus ombros ficaram um pouco tensos enquanto seus olhos passaram a encarar algum ponto atrás de mim.

- E que tipo de ajuda você precisa em uma festa? – ri, sem conseguir imaginar qualquer motivo razoável para Luke precisar de ajuda. Ele tinha uma namorada e não parecia correr atrás de garotas desconhecidas, então não me queria como wingman; pelo jeito que comentava comigo sobre a época em que frequentava o colegial, não precisava de ninguém vigiando-o enquanto virava doses e mais doses de shots – o que provava que minha teoria inicial em relação a ele não era de todo errada.

- Bom – deu dois passos para trás e sentou-se na beirada de sua cama, onde seu cobertor e a fronha encontravam-se bem bagunçados. O travesseiro estava no chão. – Na verdade Amy e Lindsay também estão indo.

Meus olhos desviaram-se para o retrato que Luke mantinha sobre sua mesinha, a que ele e sua amiga se abraçavam após um jogo de futebol americano. Será que Luke tentaria outra investida em sua amiga enquanto eu deveria distrair Amy, sua namorada?

- Me recuso a te ajudar a dar em cima de sua amiga – revirei os olhos, apontando para a foto com a cabeça.

- Não! Não é nada disso! – o garoto apressou-se a dizer. – Eu e Lindsay somos apenas amigos!

Arqueei uma sobrancelha de modo desafiador.

- Ah, me desculpe se entendi errado – dei-lhe um sorriso de canto, julgando-o com o olhar. – Mas se eu não me engano, dois dias atrás você saiu com sua amiga e não voltou para cá a noite inteira. Na verdade, apareceu apenas no dia seguinte com a mesma roupa que usava na noite anterior.

Cruzei os braços. Eu não gostava de me envolver na bagunça que era a vida alheia, muito menos quando tentavam me arrastar para elas.

- Não, você entendeu errado!

- Então como você me explica isso?

Luke abriu e fechou a boca duas vezes antes de suspirar, derrotado.

- Eu não posso explicar. Mas juro para você que nada desse tipo aconteceu.

- Mas por que você precisa de minha ajuda nesta festa então? – indaguei. Quanto menos eu soubesse de seus problemas, menos seria arrastado para possíveis conflitos futuros.

- Na verdade eu queria que você passasse um tempo com Lindsay – arqueei uma sobrancelha. A amiga de Luke com certeza era a garota mais bonita que eu já conhecera na vida real, e claro que eu não me incomodaria em fazer companhia a ela, porém pelo jeito que me tratara dois dias atrás, quando a conheci, eu podia dizer com segurança que Lindsay provavelmente não queria me ver novamente. – Parece que a cada dia a situação delas piora, e eu não acho saudável que se encontrem mais do que o necessário.

- Quando é a festa? – perguntei, levemente tentado. Se Luke dissesse à Lindsay que eu sou uma pessoa decente, será que ela conseguiria me aturar por algum tempo? Eu com certeza não reclamaria se puder observá-la mais de perto, e por mais tempo.

- Amanhã.

- Quarta-feira? – cruzei os braços, imaginando se Luke realmente levava a universidade a sério. Ele fez que sim com a cabeça, aparentemente não vendo problemas em ir a uma festa no meio da semana.

- E por qual motivo as duas estão indo? Achei que Amy levasse bem a sério o curso – pelo menos o modo com que meu colega de quarto falava sobre sua namorada, era isso que dava a entender.

- Eu as convidei – encolheu os ombros.

- As duas? – ri. – Você que criou o próprio problema.

- Bom, eu achei que uma delas ia recusar.

Virei-me para pegar minha mochila, que estava encostada no canto de minha cama perfeitamente arrumada. Em dez minutos eu deveria partir para uma de minhas aulas.

Eu o conhecia fazia poucas semanas, mas sempre notei o quanto gostava de estar acompanhado. Seja pelo fato de ser filho único ou simplesmente porque tinha a necessidade de estar perto de alguém; e de alguma forma ele também atraía as pessoas ao seu redor.

- Por favor, eu vou ficar te devendo essa – insistiu. Virei-me para encará-lo. Passar a noite com uma garota dotada de extrema beleza e poder cobrar favores por isso?

Acho que posso lidar com uma noite mal dormida.

- Ok – fingi cansaço, observando a ponta de um sorriso surgir em seus lábios. – Mas você vai ficar me devendo muito. Principalmente se eu ficar até muito tarde e não acordar para minha aula no dia seguinte.

- Muito obrigado! – exclamou, levantando-se de sua cama em um pulo quando caminhei em direção à porta para retirar-me.

Eu não podia perder a próxima aula.

 

- Então qual é o esquema? – indaguei quando paramos na calçada do prédio em que a festa aconteceria. Olhando para os poucos andares, era claro que já tinha começado; luzes coloridas brilhavam no terceiro andar conforme a batida da música, já audível de onde estávamos.

Me peguei imaginando se os vizinhos já estavam acostumados ou se faziam parte da farra.

- Que esquema? – e pela expressão estampada na face de Luke, percebi que ele não havia planejado nada além de "vou para a festa às oito horas". Revirei os olhos, levemente irritado com sua falta de preocupação.

- Como você quer fazer em relação às garotas? – tentei deixar a pergunta de forma mais clara possível.

- Ah, isso – riu despreocupadamente. – Acho que Amy chega antes, Lindsay nunca é pontual a menos que seja um compromisso de sua família.

- Ok – murmurei. Aquela informação ainda não era o suficiente se Luke gostaria de evitar conflitos. – E como elas vão te avisar? Ou você combinou aqui?

- Hm… Não pensei nisso, mas provavelmente devem me mandar mensagem – deu de ombros, tirando seu smartphone do bolso da calça que usava.

- Mas então você não pensou em como mantê-las longe? – cruzei os braços, meus olhos novamente encarando a janela do terceiro andar. A porta de entrada do prédio era razoavelmente pequena, e haviam poucas janelas por andar, o que significava que teríamos problemas caso a festa fugisse do controle e precisássemos nos retirar rapidamente do local.

Quando voltei a encará-lo, Luke abriu um sorriso nervoso no canto de seus lábios. Claro que ele não tinha pensado.

- Ok – respirei fundo, tentando pensar em um plano. – Quando a primeira chegar, ficamos os três em algum canto e assim que a segunda chegar, você dá uma desculpa qualquer e a leva para o outro canto. E damos um jeito de ir trocando.

- É uma boa ideia – sorriu. – Mas você acha que vai dar certo?

- Eventualmente elas vão acabar descobrindo, se é que já não sabem – dei de ombros. – Vamos lá, Luke. Você é mais inteligente do que isso. As duas dividem um dormitório, e mulheres tem todo um processo para se arrumar para uma festa – expliquei quando seu olhar indicou pânico.

- Tinha me esquecido disso – murmurou.

- O ponto é o que você vai fazer – novamente ele me encarou daquele modo perdido. Não é possível que ele não pense nessas coisas depois de arranjar a confusão. – Você tem que saber administrar bem seu tempo com ambas. Piora o fato de existir essa rivalidade entre as duas, então se você passa mais tempo com Lindsay, Amy pode ficar enciumada porque ela é sua namorada, e não a outra. Mas se você passar mais tempo com Amy... – fiz uma pausa, notando que eu não conhecia o procedimento neste caso. Normalmente a melhor amiga não vê problema se o melhor amigo passa mais tempo em uma festa com a namorada.

- Ela me mata – Luke disse antes que eu pudesse considerar as possibilidades.

Tinha o fato de que Luke a chamara, e ser largada em uma festa onde não se conhece mais ninguém pode ser constrangedor.

E pelo pouco que conheci de Lindsay, ela pareceu ser bem esnobe, de modo que não acharia graça ser trocada desta forma. Ela tinha jeito de alguém que não estava acostumada a ser segunda opção. Encarei a calçada para evitar os olhos do garoto ao meu lado.

- Você está ferrado – concluí meu pensamento, e ouvi uma risada nervosa de Luke.

- Oi Luke! – ouvi uma voz feminina atrás de mim, e virei-me para constar que devia ser Amy.

A garota era menor do que eu havia imaginado, e seus lábios exibiam um sorriso bonito. Seus cabelos eram curtos, caindo até pouco acima de seus ombros de forma natural, e os olhos castanhos escuros – de mesma tonalidade que os cabelos – eram expressivos. Ela usava uma jaqueta preta sobre uma camiseta amarela, uma calça jeans, botas de cano alto pretas e um gorro sobre a cabeça.

Luke aproximou-se dela e a beijou. Tornei a olhar para o chão, não queria tornar o momento mais constrangedor do que já era.

- Amy, este é Yukio – ouvi a voz do garoto enquanto meus ouvidos tentavam adivinhar a música que tocava na festa. – Yukio, Amy.

- Prazer – cumprimentei-a com um breve sorriso.

- Ah, é tão bom poder finalmente dar uma face ao nome! – ela sorriu, enquanto seus olhos pareciam me analisar. Não do modo frio como Lindsay o fizera, mas de modo acolhedor e até animado, eu arriscaria dizer.

- O que você anda falando tanto de mim? – resmunguei, encarando o homem que gentilmente abraçava sua namorada pela cintura.

Luke abriu um sorriso sapeca e sussurrou algo no ouvido de Amy, que riu.

Revirei os olhos e girei meu corpo para entrar no prédio.

- Não se preocupe, ele só disse coisas boas – Amy disse quando abri a porta para que ela passasse. – Obrigada.

- É bom mesmo. Ele me dá muito trabalho – lancei um olhar frio para Luke, que riu; e me adiantei para entrar, de modo que a porta quase fechou sobre ele.

- Ei! – Luke reclamou quando passou pela porta. – Eu só disse coisas boas.

- E eu disse que é bom mesmo – lancei-lhe um sorriso frio.

Amy parecia interessada em cada palavra dita, e ria de nossa discussão. Porém quanto mais degraus subíamos para alcançar o terceiro piso, mais alta a música ficava, e sentíamos cada vez mais o chão vibrar sob nossos calçados.

O dia no geral estava frio, como era de se esperar nesta época do ano, mas o terceiro andar estava extremamente quente – talvez essa fosse a ideia, mais contato humano, menos roupas, mais bebidas geladas.

Era praticamente impossível conversar sem ser aos berros quando chegamos ao terceiro andar, mas isso porque as caixas de som encontravam-se em posições extremamente próximas às escadas – os elevadores pareciam não funcionar.

Nos afastamos dos pontos das caixas de som, adentrando no prédio e descobrindo que todos os apartamentos daquele andar faziam parte da bagunça que era aquela festa. No meio estavam as bebidas, e descobrimos que no canto era possível conversar sem a necessidade de gritar muito alto.

- E como é dividir o quarto com Luke? – Amy me perguntou quando o namorado saiu, após dizer que buscaria bebidas. Quando a garota concordara e virou-se para conversar comigo, ele apontou o celular e disse que Lindsay havia chegado.

- Ele é bem bagunceiro – fingi dar de ombros, observando o sofá mais perto e tentando decidir se era ou não seguro e limpo sentar-me ali. – E não para de falar – revirei os olhos de maneira brincalhona, arrancando tímidas risadas da garota.

Foi então que dois jovens se jogaram no sofá, entre beijos e abraços. Dei cinco passos para o lado oposto do móvel, e após ver a cena, Amy também fez o mesmo.

- Você não tem cara de quem vem nesse tipo de festa – comentei, e tive de repetir quando ela sinalizou não ter ouvido.

- Não costumo mesmo – respondeu, também sendo obrigada a elevar o tom de sua voz quando uma música mais agitada começou a vibrar em nossos ouvidos. E em toda a estrutura do pequeno edifício, devo dizer. – Mas Luke e eu entramos em um acordo. De tentar fazer coisas novas, descobrir os interesses do outro.

Sorri em resposta. Era uma ideia interessante, mas vendo a situação da festa em que nos encontrávamos, não era possível imaginá-la indo a outras com o namorado. Muito menos quando descobrisse que Lindsay também estaria aqui.

- E o que Luke está fazendo de novo para ele? Lendo? – ri, recordando-me que não o havia visto pegar sequer um livro em nosso quarto.

- Ele me prometeu que vai ler Harry Potter – ela sorriu. – Você acredita que ele nunca leu? Disse que só assistiu aos filmes – fez uma careta, ao que arqueei uma sobrancelha.

Harry Potter podia ser um começo para um hábito de leitura.

 

- Deixe-me adivinhar – Lindsay lançou-me um sorriso torto quando me avistou. – Luke te chamou para me distrair enquanto ele fica se agarrando com a namorada?

Arqueei uma sobrancelha, mas não estava de todo surpreso que ela soubesse ou pelo menos suspeitasse o motivo de minha presença. Talvez Luke já estivesse passado por situações semelhantes, ou minha expressão de desconforto entregara o jogo. Eu não tinha como saber exatamente.

- Ele me convidou, eu vim – fingi dar de ombros, encarando a mesa de drinks, imaginando se era uma boa hora para caminhar até lá e pegar o meu segundo copo de bebida alcoólica desde que cheguei. O primeiro tinha sido duas horas atrás, quando Luke surgira com três copos para logo sumir com uma desculpa qualquer.

Duas horas de puro desconforto por ser obrigado a observar pessoas se agarrando e desperdiçando comes e bebes em minha frente. Não, o pior nem era isso ou a música cuja qualidade piorava; o pior era tentar puxar papo com a namorada de meu colega de quarto.

Não que fosse de todo ruim, Amy é uma pessoa muito simpática. Mas chega uma hora que não há nada mais a ser dito que não ultrapasse os limites invisíveis porém presentes em assuntos de recém-conhecidos.

Conversamos sobre Luke, sobre a faculdade e nossos cursos, sobre o campus e, claro, não pôde faltar o clássico desconforto após o término de cada tópico. Duas horas depois de Luke ter aparecido com nossas bebidas e sumido para claramente passar um tempo com Lindsay, ele resolvera reaparecer.

Foi o momento que eu decidi ser uma boa hora para sair da presença de ambos, pois apesar de toda a simpatia e todos os sorrisos fracos de Amy, era visível que a garota estava decepcionada com a situação. Quero dizer, ela nem conseguira ficar muito tempo com seu namorado; ao invés disso, passara duas horas com o colega de quarto dele. Era decepcionante mesmo.

- O que ele te prometeu? – Lindsay riu, servindo-se de alguma bebida que eu desconhecia. Algo me causou desconforto quando seus olhos azuis extremamente brilhantes me encararam. Era como se ela não quisesse me ver nem a dois quilômetros de distância. – Seja lá o que for, ele não vai cumprir.

- E porque eu não posso estar nesta festa por livre e espontânea vontade? – desviei meu olhar do vestido que usava, claramente chique demais para o ambiente e a ocasião, para observar a mesa de bebidas e calmamente me servir de alguma.

- Você pegou só groselha – ela empinou o nariz, segurando-se para não rir de minha expressão de incredulidade. Eu realmente conseguira pegar apenas a groselha de marca duvidosa em uma tentativa falha de entrar no clima.

- Ele não me prometeu nada, mas disse que ficava me devendo – devolvi o sorriso seco, admitindo silenciosamente minha derrota.

- Hm, Luke realmente devia estar desesperado – ela deu de ombros, caminhando na direção oposta de onde meu colega de quarto encontrava-se. – O quão confortável você fica em uma pista de dança?

Ela perguntou, e meu olhar parou no centro da sala em que estávamos, onde muitas pessoas dançavam. Ou tentavam. A maioria já estava bêbada o suficiente para saber o que realmente acontecia ou qual música estava tocando – para mim, todas as músicas eletrônicas eram semelhantes, então acredito que conhecer a música não era um bom parâmetro de sobriedade.

- Nada confortável – admiti, encolhendo os ombros.

- Ótimo. Vamos então – disse, fazendo um gesto para que eu a seguisse.

Ah, eu ia cobrar caro de Luke.

- Se você vai ganhar alguma coisa de Luke, pode pelo menos me divertir enquanto ele não está, não é mesmo? – riu, lançando-me um olhar que insinuava intimidação. Como se eu não tivesse escolha.

Será que valia a pena? Era o que eu me perguntava durante todo o trajeto de quinze passos até a pista de dança improvisada.

- Por que você é tão chato? As outras companhias que Luke me arranjava pelo menos tentavam me entreter, ou me constranger, nunca sei – comentou, seu corpo movendo-se em um ritmo condizente com a música.

Era possível notar vários olhos masculinos sobre a garota, e eu não os culpava. É uma visão realmente maravilhosa quando você não tem um alvo desenhado em sua testa.

- Ótimo, reclame com ele então – resmunguei quando notei o garoto aproximar-se com sua namorada. Aparentemente os dois também decidiram dançar.

- Ele está aqui? – perguntou, e confirmei com um gesto de cabeça, apontando com o olhar onde ele estava, menos de três metros atrás da garota. – Ele nos viu?

Meus olhos encontraram os de Luke e novamente confirmei com a cabeça. Amy seguiu o olhar de seu namorado e sorriu timidamente para mim, mas sua expressão endureceu quando notou com quem eu estava. Se ela ainda não tinha notado, agora com certeza sabia por que fora deixada de lado por duas horas.

Luke sorriu e acenou para mim, mas antes que eu pudesse dizer ou reproduzir o gesto, senti dois braços envolverem meu pescoço e então Lindsay estava perto. Perto demais.

- O que você está fazendo? – indaguei, alarmado.

Mas qualquer outra coisa que eu pudesse perguntar foi abafado pelo toque de seus lábios nos meus.

Meu coração acelerou e eu não sabia dizer se era porque alguém me beijava como eu não fazia há tempos, se era porque a pessoa me beijando era Lindsay, a garota mais bonita que eu já conhecera, ou se era pelo olhar fuzilante que Luke me lançou, indicando que tudo aquilo havia sido em vão.

Eu não receberia nada em troca.



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