Jimin mudou de posição mais uma vez, na esperança de que ela fosse confortável o suficiente para que pudesse dormir. Infelizmente, após esperar alguns segundos, percebeu que se sentia desconfortável. Suspirou e se moveu novamente, piscando lentamente. Jimin não conseguia dormir, muito embora estivesse cansado, e completamente exausto.
Havia algum tipo de barreira entre ele, e o sono. Uma barreira que estivera lá havia tanto tempo, que ele já tinha suas olheiras como sua marca registrada.
O dia seguinte seria um dia cheio, e ele precisava daquele momento precioso de descanso, mas seu corpo parecia não entender isso, assim como sua mente. Sua mente se perdia em pensamentos e reflexões, das quais ele não precisava no momento. Tudo que ele precisava era do mais puro descanso, para guardar energia para as atividades que teria de realizar no dia seguinte, tanto na escola, quanto no orfanato. Na escola tinha dois testes, - um de álgebra e outro de física - e uma redação. A redação, na verdade, era pra casa, mas Jimin não conseguira escrever sobre "sua história" sem começar a chorar. Tentaria explicar isso para a Sra. Costner, que era uma das professoras mais compreensivas da escola. Já no orfanato, como castigo por brigar na escola, teria de arrumar a biblioteca. Como alguém gostava de ler, Jimin deveria estar animado para esta atividade, mas o problema era: A biblioteca estava completamente abandonada.
Antigamente, a biblioteca era um lugar imponente e respeitável, repleta de livros grossos e bonitos. Livros que, mesmo sendo de difícil compreensão, eram muito bons na opinião de Jimin, e Taehyung, tanto que, quando não conseguiam dormir, iam de fininho até a biblioteca e passavam a noite inteira lendo. Porém um dia, a bibliotecária acabou por falecer, e nenhuma das outras irmãs quis aceitar a responsabilidade de cuidar da biblioteca. Então, deixaram-na sem ninguém por um tempo, mas esta foi uma péssima ideia. Ao verem as prateleiras ao seu alcance, os órfãos começaram a pegar livros e não devolver e etc. Conclusão: A Madre Superiora se cansou dos órfãos pegando livros e não devolvendo, então acabou por fechar a biblioteca e em sua porta, colocar um imenso aviso vermelho: "PROIBIDA A ENTRADA DE NÃO AUTORIZADOS", ou seja, órfãos.
Mas isso não impediu que Taehyung e Jimin, quando não conseguiram dormir, invadissem o local e passarem a noite inteira lendo, ou fazendo aviôezinhos de papel com as páginas de algum outro livro. Taehyung, burro, fora pego incontáveis vezes, e tarefas como lavar a louça, servir o almoço e ajudar na limpeza eram realizadas por ele semanalmente.
Taehyung sempre dizia que não se importava em fazer tais coisas, mas, ao assisti-lo, Jimin tinha a certeza de que ele odiava o orfanato com todas as suas forças, então o ajudava para que tudo fosse mais rápido. Kim ajudava Park quando o mesmo era punido, e sua relação funcionava assim. Ambos sabiam que, para sobreviver ao orfanato, precisariam da ajuda um do outro, e viviam bem bem daquela maneira, até os doze anos.
Uma semana depois do aniversário de doze anos de Taehyung, um casal decidiu que o garoto seria o filho perfeito. Decidiram que queriam Taehyung para eles, e o arrancaram de Jimin, que ainda se lembrava do dia em que seu melhor amigo foi embora. Lembrava-se de ter assistido enquanto o outro preparava as malas, com a ajuda de Hyori, uma das noviças da época. Lembrava-se do abraço apertado que dera nele, e de ter mostrado suas cicatrizes quase idênticas; a de Jimin na palma da mão e a de Taehyung no pulso. Lembrava-se de assistir enquanto Taehyung descia as escadas vagarosamente, sem pressa de ir ao encontro do casal, e também se lembrava dos seus olhos se enchendo de lágrimas. Mas o pior, e o mais humilhante naquele dia, foi quando Jimin, viu o carro se afastando. Naquele momento, o ruivo desceu as escadas correndo, passou pelos dois portões abertos, e saiu em disparada, tentando alcançar o carro no qual seu melhor amigo se encontrava. Infelizmente, uma das irmãs o avistou, e na metade do caminho Jimin sentiu seu braço sendo puxado com força. Logo, a freira tinha todo o controle sobre seu corpo, não importava o quanto ele se debatia.
A única coisa que pôde fazer foi chorar enquanto assistia a cena mais triste de sua vida. Ele pensava sobre aquele momento como: O Momento Mais Patético Que Park Jimin Já Viveu. Fora tão patético que até irmã Yoko o abraçou, e o levou para o orfanato, acariciando seus cabelos, que jamais voltariam a ser um vermelho tão vivo quanto fogo.
Desde então ele nunca mais havia realizado as atividades que costumava realizar com Tae (apelido que o ruivo dera ao melhor amigo.) Nunca mais usara folhas de árvore para fazer desenhos na quadra. Nunca mais fora até a cozinha, apenas para pegar um garfo, que mais tarde serviria de instrumento para fazer gravuras nos troncos das árvores. Nunca mais roubara corante no almoxarifado para tingir o cabelo de variadas cores. Nunca fizera as coisas que mais gostava de fazer, porque Taehyung não estava aqui, ele havia quebrado a promessa de não o deixar nunca.
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