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História Ilusão Perfeita - Convenience


Escrita por: LyraBelacquaxo

Capítulo 2 - Convenience


“Te vejo amanhã”. Tá bom que seria tão fácil assim ter o resto do dia para pensar no que havia acontecido na aula de química.

A hora do intervalo não era diferente de todo o resto que eu fazia, ou seja, sozinho. Mas é claro que Eduardo não entende isso.

_ Olá _ disse ele, sentando na minha frente.

Desde que entrei para o ensino médio essa tem sido a minha mesa. Minha. Mesa. Sozinho. Nunca ninguém jamais sentou aqui, teve uma vez, mas só foi uma vez mesmo.

_ O que você está fazendo? _ perguntei e me arrependi. Isso deveria ficar em meus pensamentos e não sair da minha boca.

Ele me encarou surpreso, mas depois sorriu.

_ Quem diria que você sabe falar _ debochou ele _ Estou sentando aqui com você.

Não me diga.

_ Agora é você que está debochando de mim _ disse ele, quase como se pudesse ler minha mente.

Não vou negar que isso me incomodou e por isso peguei meu notebook e decidi ignorar o que quer que ele esteja fazendo.

_ Isso não vai me fazer sair daqui _ declarou ele.

O que esse cara quer?

_ Estive te observando.

_ Você já disse isso.

Assim que disse isso eu me encolhi. Merda. Era para ter ficado na minha mente!

Eduardo deu um risinho e encarou divertido.

_ Acho que temos coisas em comum _ explicou ele.

Nunca!

Não dou nem uma hora para ele perceber que não temos nada em comum e desistir dessa ideia de me conhecer. Inacreditável como ele conseguia manter a mesma mascara na minha frente. Era quase como se não fosse uma mascara. Inacreditável também era a intensidade desses olhos azuis.

Balancei a cabeça e resolvi afastar esses pensamentos.

A hora do intervalo passou com uma lentidão frustrante. Eduardo falou algumas coisas que eu fiz questão de responder com silêncio e mesmo assim ele não ia embora.

Quando o sinal indicando o término tocou, ele simplesmente levantou e disse um “até logo”.

O resto das aulas foi normal. Na hora da saída vi minha irmã se agarrando com o namorado dela. Coloquei o capuz da minha blusa e passei de cabeça baixa.

Como esse dia estava estranho eu precisava de uma musica estranha. Gotye era perfeito para coisas imperfeitas.

Nem tinha apertado play ainda e senti alguém segurando meu braço. Virei bruscamente de dei de cara com Eduardo.

_ Não estou te seguindo.

Estou pensando exatamente o contrário.

_ É o caminha para minha casa _ explicou ele, soltando meu braço.

Não falei nada, apenas me virei e comecei a caminhar. Algo no olhar dele me desafiava a negar isso e ir sozinho, mas eu sabia que seria inútil.

Fomos caminhando em silêncio por duas quadras, até que eu não aguentei mais.

_ Eduardo, o que você quer com tudo isso? _ perguntei, mas diferente das outras vezes eu fui honesto em querer saber de alguma coisa.

Ele me encarou por um tempo antes de responder.

_ Quero te conhecer, porque eu sinto que você entende as coisas.

Nada foi dito depois. Não precisava ser dito mais nada.

Não aguentei olhar naqueles olhos azuis e por fim baixei a cabeça e recomecei a andar. Fomos em silêncio até minha casa. Só quando eu já estava abrindo o portão foi que ele disse alguma coisa.

_ Te vejo amanhã.

Abusado.

O problema de tudo isso é que meu dia não havia sido muito produtivo. Não consegui tirar Eduardo da cabeça nem por um único segundo e isso me deixou muito irritado e chateado. É estranho. Sempre que fico irritado eu logo fico chateado por estar irritado. E somando essas duas coisas eu nada mais fico do que frustrado por ser tão patético.

Não tive fome e por isso nem sai do meu quarto. Dormi até 18h30min. Como sempre meu pai chegou em casa e foi falar comigo. Ele abriu a porta do meu quarto que não estava trancada e quando me viu em um perfeito casulo de cobertas o seu sorriso murchou.

_ Rafa, o que você tem? _ perguntou meu pai, ansiedade presente na voz.

Não respondi e ele sentou na beira da minha cama e fez carinho em meus cabelos.

_ O que você tem? _ insistiu ele, dessa vez com a voz mais suave.

Eu não podia ficar calado para sempre.

_ Estou cansado.

Ele me olhou sério.

_ Assisti séries até tarde.

Meu pai sabia que eu estava mentindo, mas não insistiu. Na verdade, ele levantou e saiu do meu quarto.

Encarei o teto.

É normal querer dormir e dormir para sempre?

Óbvio que não!

Às vezes eu queria me dar uns tapas na cara.

Virei em direção à parede e fechei meus olhos.

 

 

Mais um dia pela frente. Levantei da cama com uma vontade enorme de morrer. Não estava sentindo fome. Às vezes eu não conseguia comer nada. Me troquei e desci as escadas. Dessa vez minha irmã estava sentada e comendo um pão.

Falei um bom dia para todos e coloquei o capuz andando apressado até a porta.

_ Rafael!

Parei no meio do caminho e voltei até a cozinha.

Meu pai estava me encarando curioso, mas sem sinal de divertimento ou coisa do tipo.

_ Não vai comer?

Neguei com a cabeça.

_ Não está com fome?

_ Não.

Ele suspirou e me fitou com profundidade.

_ Deveria comer alguma coisa.

Essa seria uma discussão que eu não poderia ganhar. Peguei uma maça na mesa e dei um sorriso de despedida ao meu pai.

Os corredores da escola eram terríveis. Exibicionismo barato de pessoas infelizes tentando desesperadamente convencer os outros de que elas são felizes.

Minha primeira aula era de química e fui logo para sala. Praticamente vazia.

Sentei no meu lugar de costume.

Dessa vez uma garota veio falar comigo. Qual é o problema dessa gente?

_ Vi o Eduardo falando com você _ começou ela, com sua voz estridente _ Já deveria saber do que você gosta só com essa carinha de gay.

O que?

_ Eu não sou gay.

A forma como eu respondi a fez calar a boca. Logo depois disso, Eduardo apareceu e encarou a garota com nada mais do que irritação. Ela saiu e foi sentar no lugar dela.

_ O que ela queria? _ perguntou ele.

Não respondi e não respondi as outras três vezes em que ele insistiu. Só parou por que o professor chegou para dar aula.

Com a matéria do dia explicada, o professor resolveu deixar a sala conversar baixinho.

Estava ocupado desenhando um jedi no meu caderno quando senti/vi a mão de Eduardo segurando meu pulso.

_ Está tudo bem?

Fiquei muito assustado. Não gosto que as pessoas me toquem.

Ele me olhou por um tempo de depois soltou meu pulso.

_ Desculpe.

Não falei mais nada e ele respeitou meu espaço. Mas quem ele quer enganar? Esse foi o pedido de desculpa mais falso que eu já vi na vida.

Aparentemente ele não se tocava e esse papo de “respeitar o meu espaço” foi pro lixo na hora do intervalo. Eduardo estava sentado em uma das cadeiras da minha mesa.

Sentei em silêncio como sempre.

_ Eu realmente sinto muito sobre hoje mais cedo _ disse ele, dando uma mordida na salada dele.

Quem come salada no ensino médio?

_ Não.

Ele parou no meio de uma garfada e me olhou curioso.

Mas que merda em Rafa. Aprende a ficar de boca fechada.

Respirei fundo tomando coragem.

_ Eu sei que você não sente muito então não fique pedindo desculpas.

Eduardo ficou surpreso com a quantidade de palavras que eu disse.

_ Tem razão _ admitiu ele, voltando a comer como se nada tivesse acontecido _ Eu não sinto muito. 



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