— E aí? Noite agitada? — Collin pergunta enquanto joga suas chaves no sofá.
— Você nem imagina. — Sorrio para ele, e aposto que por sua cabeça não passa a ideia de que socorri um conhecido de uma briga feia.
— Mamãe e o pai voltam semana que vem. Eles disseram que não conseguiram um horário decente pra voltar, mas sei que só querem passar mais tempo longe de nós dois. Principalmente de você, pois eu sou um anjo. — Ele pisca os olhos claros e se senta ao meu lado.
— Oh! Mas é claro. Quer dizer, eu trago tanto amante pra cá, que eles não aguentam mais os gemidos, assim como meu irmão angelical. — Falo com um deboche evidente.
— Demônios são mais divertidos. — Ele pisca, e não consigo contar a risada. Eu amava aquela peste, isso não conseguia esconder.
— Não vai trazer mais ninguém aqui, né? Pelo menos não hoje, estou exausta.
— Estou começando a ficar preocupado com o que você fez enquanto estive fora. — Ele sorri. — Mas respondendo a sua pergunta: não. Fique tranquila. — Ele beija minha bochecha e se levanta, indo até a escada. Então, se vira no primeiro degrau. — Tem falado com Zayn?
Ó, céus! Era a primeira vez que não pensara nele durante o dia inteiro, mas Collin precisava estragar isso?
— Ele deve estar ocupado. — Tento justificar. Mas, para quê? Acho que estava na hora de aceitar que Zayn não me considerava do mesmo jeito que eu considerava ele. Talvez eu fosse só mais uma garota que ele brincou. E talvez, tenha cansado. Só não gosto da ideia de ter envolvido Harry nisso. No fundo, acho que coloquei expectativa demais em algo insignificante; não para mim, mas para o Javadd.
Collin me lança um sorriso solidário e sobe para o segundo andar.
Droga! Eu precisava me livrar dessa sensação ruim. Ainda tinha James. Eu não tinha noção alguma de como ele estava, onde estava... Não acredito que coloquei Zayn na frente do meu melhor amigo só para me decepcionar. Eu queria ter tido a mesma experiência que mamãe, que conheceu nosso pai no terceiro ano do médio e, mesmo que separados pelas faculdades, deram um jeito de ficarem juntos, no final. Mas sentia estar destinada a essa sensação de insuficiência e solidão quanto a Zayn, e eu não queria isso de jeito nenhum. Se eu não obter respostas, então não há motivos para insistir nessa luta, uma vez que ela estaria perdida.
⋆⋆⋆
— Assim, concluímos esse capítulo do livro didático. Bem, recomendo que façam os exercícios das páginas 20 a 35 para dominarem melhor o assunto. Essas atividades também ajudarão vocês para a semana de provas. Dispensados. — Nossa professora de química sorri para seus alunos e começa a organizar seus materiais antes de sair da sala, assim como os adolescentes, e no instante seguinte, todos estão fora da sala de aula.
— Eu não acredito que as provas começam semana que vem. Fico estressada só de pensar nisso! — Deia esfrega uma das têmporas só para dramatizar ainda mais sua fala.
— Não há a necessidade. Não vai ser difícil, é só manter a concentração. — Digo simplista, mas na verdade, entendo a preocupação de minha amiga completamente. Nesses últimos dias tenho andado tão distraída que agora tinha medo de isso interferir na realização de minhas provas.
— Bom, é fácil falar pra você; é uma das melhores alunas da classe. — Ela sorri e empurra o meu ombro levemente. — Mas vamos desviar um pouco desse assunto deprimente, certo? — Concordo com um gesto de cabeça.
— Como vai o James? — Pergunto. Esperava qualquer reação de Andreia, menos que suas bochechas mudassem a tonalidade para vermelho.
Meu Deus, é o que estou pensando?
— Bem, eu acho. — Ela sorri.
— Comprometido? — Perguntei e ela, de olhos arregalados, me dá um tapa no braço. —Ai! Doeu!
— Você mereceu. — Deia me mostra a língua de maneira infantil. — Mas, bem... — Ela sorri.
— Ai. Meu. Deus. Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! — Paro de caminhar nos corredores só para dar alguns pulinhos.
— Menina, aquieta o fogo! As pessoas estão olhando. — Ela balança a mão e quase derruba seus livros, implorando para eu sossegar.
— Eu não acredito. Deia, isso é incrível! — Não consigo parar de sorrir. — É oficial mesmo?
— Ainda não. Estamos sendo cautelosos porque não sabemos quando ele vai voltar a morar com a mãe, e se vai.
— Então aí que vocês deveriam ser apressados, não?
— Somos apressados em outra coisa. Começa com "s".
Reviro os olhos, mas o sorriso ainda está lá, firme.
— Estou feliz por vocês dois, de qualquer forma.
Andreia me agradece e continuamos andando pelos corredores até cada uma alcançar o seu armário. Enquanto organizo meus materiais, uma parte de mim se pergunta o porquê de eu não ter essa mesma sorte em relacionamentos como minha amiga popular.
Afasto esse pensamento egoísta da mente e fecho o armário, só para me deparar com um rosto extremamente familiar, um conhecido distante.
Mas Lucy estava com algo diferente em si, e me toquei que era seu cabelo. O cabelo que antes reluzia um dourado forte e vivo, agora brilhava num tom escuro de castanho. Queria perguntar se tinha algum motivo para tal mudança física, mas não me sentia confortável para isso. Afinal, não éramos mais amigas. Pelo mesmo motivo que perdi meu melhor amigo.
Zayn não parecia mais um bad boy cujo história era comovente e cujos segredos revelavam seus gostos mais profundos; só parecia alguém disposto a destruir minha vida social.
— O que você quer, Lucy?
— Uma trégua. — Diz olhando as unhas longas e vermelhas.
— Estamos a meses sem nos falar direito. Por que essa decisão do nada?
— Por quê? — Ela parece deixar sua aparência de lado para finalmente me encarar. — Porque eu lembrei o que nós já fomos, Soph. Fomos amigas inseparáveis, apoiando uma a outra e se estimulando a seguir seus próprios sonhos e objetivos. Até compartilhavámos nossos crushs e agora, tudo acabou por um garoto?
— Você quem decidiu que seria assim, Lucy. — Mencionei. A cena daquela noite, quando ela tentou me bater por eu estar com Zayn vem a minha cabeça, e sinto vontade de sair dali. É como se me faltasse um pouco de ar. Eu não quero me sentir estranha toda vez que estou com Lucy. Sobrevivi a ela, e isso foi libertador demais. Tudo tinha que estar relacionado a ela, e eu só percebi isso quando, implicitamente, me proibiu de ficar com um garoto para que tivesse mais chances.
— Eu estava cega com a possibilidade de um clichê. Você estava certa o tempo todo, Soph. Eu fiquei tão irritada com a ideia de ele escolher você, sendo que você nem estava se esforçando. Isso me enfureceu. Mas agora que eu vi que ele não presta, percebi quanto tempo perdi distante de você.
Mas eu também sentia falta dela, às vezes.
— Eu não sei se consigo. Quer dizer, você se alterou demais naquela noite. A cena ainda martela em minha cabeça.
— Você está certa. Não há justificava para o que tentei fazer, mas sinto muito por isso. Não quero passar o resto do meu ano brigada com a minha melhor amiga. — Lucy curva os lábios, um movimento delicado que a deixa com um ar real ainda maior que já tem. Não ia ser supresa alguma para as pessoas se descobrissem que ela é uma princesa.
Merda! O que eu deveria fazer?
— O fato de eu estar com Zayn te incomoda? — Aquela frase parecia tão falsa para mim. Não sentia verdade alguma nela.
— Ainda está com ele? — Lucy arregala os olhos, e eu afirmo com um curto movimento de cabeça. — B-bem, eu não vou deixar que outro garoto atrapalhe nossa amizade. Se ele te faz feliz, é o que importa.
Zayn me fazia feliz? Eu sorria quando estava com ele, me sentia especial. Me sentia especial a cada toque e a cada sorriso, e me sentia satisfeita toda vez que fazíamos algo erótico mas... ele me fazia feliz? Com sua atual ausência, eu não me sentia nada além de descartada.
— Soph? — A recém-morena me desperta do pensamento. — O que você acha?
Acho que ela merecia uma segunda chance. Eu nunca tinha visto aquele lado de Lucy, mas ela passou por tanta coisa sem nunca descontar uma única gota em mim...
Meu celular vibra duas vezes e peço desculpas a Lucy antes de ver as notificações. Sinto os olhos da garota sob minha tela, então levanto a mesma para que somente eu pudesse ver as mensagens.
Uma mensagem de Collin, mas o outro contato me chama mais atenção: Zayn Malik.
Ele pedia para eu encontrar ele embaixo dos bancos do campo da escola.
Ele tinha que aparecer logo agora?
Eu não queria dar uma resposta mal pensada para Lucy, mas não queria perder a oportunidade de saber o motivo da ausência do moreno.
Merda.
— Lucy, eu... — Suspiro. — Eu preciso resolver algo, e preciso pensar sobre o que você me falou. Posso...
— Demore o tempo que precisar para se decidir. Pode ir. — Ela curva os lábios graciosamente e eu agradeço com um sorriso, saindo às pressas pelos corredores antes que o intervalo acabasse.
Quando chego ao local marcado, encontro Zayn, com roupas escuras, fumando e perdido em algum pensamento. Quando me vê, larga a bituca no chão e pisoteia a mesma.
— Que bom que veio.
— O que você quer? — Uau! Minha voz saiu rude, mais do que eu gostaria, até. Eu não me sinto culpada por isso, pois queria respostas.
— Está tudo bem? — Ele pergunta com uma sobrancelha erguida.
Não acredito!
— É sério? — Largo minha bolsa na tábua de madeira que servia como banco. — Zayn, eu te mandei várias mensagens e você nem me respondeu, sumiu por semanas, pediu para que eu me afastasse do Harry e então ele vem buscar sua pasta porque você se recusou a isso e agora aparece de repente, agindo como se nada tivesse acontecido? Qual é o seu problema?
Ele arregalou os olhos, surpreso, e admito que em outra situação eu acharia encantador.
— Eu não falei com ninguém. Tive que resolver um problema na empresa da família.
— Que problema? Você nem deveria fazer essas coisas, você não tem idade para isso.
— Então está incomodada de eu estar me focando mais no meu futuro do que em um romance de ensino médio?
O quê?
— Eu não... Eu não quis dizer isso. — Sinto-me sem ar, sem respostas, sem defesas. Ele está virando o jogo pra si, ou só está frustrado com algo? Por que não pode dividir isso comigo?
— É o que parece.
Franzi o cenho.
— Por que apareceu do nada?
— Acabei de voltar para a cidade, e queria ver você. Eu nem precisava vir para a escola, já que perdi muito conteúdo e possivelmente não vou fazer as provas. Eu só queria saber se estava tudo bem.
— Eu não... Não quero ter essa conversa aqui. Tenho que voltar para a aula e...
— Eu vou junto. — Ele curva os lábios minimamente. — Podemos conversar sobre isso depois, com mais calma. Eu realmente quero me abrir com você e te contar muitas coisas a meu respeito, mas sinto que agora não é momento. Pode te desconcentrar da semana das provas.
Expiro o pouco de ar que entrou em meus pulmões, nesse pouco tempo de conversa. Eu mal conseguia respirar, esperando ele surtar e sumir da minha vida de vez, mas parecia estar disposto a se abrir comigo. A luta não está totalmente perdida, afinal.
— Certo. — É o que digo, e vamos lado a lado, mesmo que distantes, até nossa sala.
Entramos na mesma e seguimos para nossas respectivas carteiras, mas na aula inteira só pensei no que Zayn dissera, sobre querer se abrir comigo, e junto, senti uma sensação muito ruim quanto a isso.
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