1. Spirit Fanfics >
  2. Ilusões >
  3. Capítulo XVIII - Confissões de um adolescente

História Ilusões - Capítulo XVIII - Confissões de um adolescente


Escrita por: apxrodith

Notas do Autor


Olá, olá, já faz um tempo, não é?
Eu passei por um bloqueio criativo e dentre outras complicações, acabei por não atualizar essa história, mas agradeço a cada pessoa que continuou ou passou a lê-la, mesmo diante da minha ausência.
Espero que gostem do capítulo, boa leitura ❤️

Capítulo 18 - Capítulo XVIII - Confissões de um adolescente


Eu caminhava ao lado de Róger naquela tranquila tarde de sábado, encarando o sorvete em meu copo enquanto caminhávamos sob a grama estranhamente verde para a estação.

O homem, recém conhecido de mim e de meu irmão, era novo na cidade e como aparente negociante, resolveu adiar sua volta para o Texas, sua terra natal, na possibilidade de conquistar alguns clientes aqui.

E mamãe, com a mania extrema de acolher qualquer pessoa, forçou-me a mostrar alguns dos pontos mais frequentados pelos turistas e habitantes do local, com o intuito de fazer com que o Rosicco se familiarizasse mais com o novo ambiente.

— Parece muito calmo; não tenho certeza de que me trará muitos benefícios. — Ele anuncia, encarando as poucas pessoas que por ali passavam.

— Finalizamos a semana das provas finais há poucos dias, então é normal que as ruas estejam vazias. As lojas logo vão lotar com o início de dezembro.

Róger, com o semblante absurdamente tranquilo e encantador apesar das linhas que lhe denunciavam a idade, encarou-me com curiosidade.

— Você está em qual ano escolar, Sophie?

— O último. — Respondo, pensando sobre os meus próprios estudos. —  E eu espero que isso acabe logo, mal posso esperar para sair daqui.

— Não gosta de cidade pequena? 

— É confortável, mas acho que preciso me adaptar a uma nova situação, iniciar um novo ciclo. Parece bobo, mas eu acho que deveria agarrar a chance de me reinventar, e o quanto antes.

— É admirável ver a determinação dos jovens. Vocês são ambiciosos; isso é muito bom.

Apesar de falar como um senhor de idade, ninguém daria ao homem mais de quarenta anos. Com um charme e carisma absurdo, Róger se tornava alguém tão jovial, e era muito confortável estar ao seu lado, mesmo que não tivesse intimidade alguma com o de cabelos parte escuros, parte grisalhos.

Mas diferentemente do restante da família, eu ainda me mostrava um tanto relutante em aceitar sua chegada tão inesperada em nossas vidas. Era como se ele tivesse enfeitiçado meus pais e isso era um pouco assustador para mim, por mais que não quisesse admitir nem para mim mesma.

Devia ser outra paranóia adolescente.

Então, resumidamente, eu apenas procurava manter a educação e simpatia com ele, apesar de nunca me abrir para o homem de fato, como outros pareciam fazer.

— Sabe, eu sinto que te intimido, de alguma forma. — A voz grossa e rouca dele me desperta de um pequeno devaneio, e curvo as sobrancelhas diante da fala do Rosicco. — Eu espero que não tenho te incomodado em algum momento, às vezes tendo a ser um pouco... intrometido.

— O quê? — Balanço a cabeça, procurando por alguma frase educada que desmentisse o que, de fato, era verdade. Mas nada veio. Então eu apenas sorri, recusando-me a entregar a verdade para ele; afinal, tinha medo de soar mal-educada.

— Eu espero que possamos quebrar essa barreira no futuro, Sophie. — Ele sorri, voltando a observar as pessoas andando por entre as árvores.

Um silêncio então se instala, ambos distraídos com a natureza a nossa frente e desprecoupados em iniciar qualquer outro assunto, até que o meu aparelho celular vibra em meu bolso, atraindo ambos os olhares para a tela grande do dispositivo. Era Zayn.

— Oi... — Levo o celular à orelha, voltando a encarar a grama e ignorando o olhar de Róger em mim.

Você está ocupada? — Direto, ele pergunta, a voz mais grossa que o normal por consequência de seu aparelho móvel.

— Um pouco. — Respondo, sem muito entusiasmo. De alguma forma, não sentia a necessidade de falar com ele. Não enquanto algumas coisas não fossem esclarecidas. — Por quê?

Precisamos conversar. — Do outro lado da linha ele pergunta, e a julgar pela voz momentaneamente cansada, imaginei ele passando os dedos pelos fios escuros e lisos de seu cabelo.

— Você sumiu de novo. — Digo, o cenho franzido enquanto tentava entender a naturalidade com a qual ele tratava de seu próprio sumiço repentino. Quando sinto os olhos de Róger novamente sob mim, procuro abaixar o tom da voz.

Eu tive que resolver uns assuntos. 

— Do que, porra? — Balanço a cabeça, frustrada.

A gente pode falar disso pessoalmente? — Ele pede, e eu suspiro. Parando de caminhar, respiro fundo enquanto penso. 

— Está bem. Vou aí hoje. — Digo e desligo, voltando a caminhar com o Rosicco.

— Está tudo bem? — Ele pergunta, o semblante expressando uma gradativa curiosidade que eu insisto em ignorar.

Balançando a cabeça, confirmo o oposto do que sentia.

— Zayn? Parece alguém misterioso, complicado... — Ele sugere, a partir do nome que inicialmente preenchia a tela.

— Você nem imagina.

•••

Bato três vezes na porta. Depois de me despedir de Róger, tudo o que eu queria era finalizar qualquer complicação com Zayn e ir embora.

Sentia-me estranha e demasiadamente cansada depois da semana de provas, do novo melhor amigo de meus pais e da distância cada vez mais comum e irritante entre eu e o Malik, que não tinha nenhum real motivo para tal.

Eu só queria descansar.

Dormir um pouco e comer qualquer porcaria, assistir um reality show e esquecer, por um momento, sobre o fim do Ensino Médio e do futuro que teria pela frente. 

Eu me perguntava quando isso seria possível, porque sempre havia um empecilho e, agora, tudo o que queria era acabar com aquilo tudo.

— Você veio. — Zayn diz, assim que abre a porta. A julgar por uma única toalha lhe cobrindo o tronco e pelo peito molhado e nu, ele devia ter saído do banho há pouco. — Não achei que seria tão cedo.

— Eu percebi. — Digo, adentrando na casa sem nenhuma permissão do homem. 

Sentei-me no sofá e cruzei as pernas, esperando que ele fizesse alguma coisa, ou dissesse alguma coisa. Eu nem ao menos ousei olhar para seu rosto por tanto tempo, e me perguntava o motivo de tal ação.

— Está tudo bem? — Ele pergunta, sentando-se ao meu lado no enorme sofá cinza.

— Não vai se trocar? — Tento desviar a indagação do moreno, finalmente olhando os seus olhos. Ele parecia cansado.

Zayn por um momento parecia ter se esquecido que estava semi-nu. Devia se sentir muito confortável perto de mim para que uma simples peça de roupa não parecesse ser problema algum. Por outro lado, ele também tinha uma inabalável autoestima. 

— O quê? Ah, certo. — Ele se levanta, indo até a escada sem mais nada dizer.

Com a mania de acompanhar seus passos, não demorei muito para avistar uma estranha marca em suas costas, um círculo imperfeito pintado de roxo.

— Por Deus, Zayn! — Exclamei, me levantando do sofá. — O que houve com suas costas?

Enquanto me aproximava do rapaz, ele tocou a área atingida e se virou para mim, fazendo uma breve careta pela dor.

— Não é nada de mais. — Ele diz, mas eu resolvo ignorar completamente sua fala.

Indo até atrás do homem, analiso o machucado, o cenho franzido em preocupação. Queria tocar o local, mas tinha medo de trazer mais incômodo ao Malik.

— O que aconteceu? — Pergunto novamente, dessa vez a voz mais séria. — Outra briga? — Sugeri, e ele confirma com um movimento de cabeça.

Até então cansada, o meu corpo é preenchido por uma sensação gradativa de pura raiva.

Como ele podia se meter em tanta confusão? Era o que eu pensava naquele exato momento.

Não queria mostrar qualquer preocupação com o ele, mas Zayn tinha o péssimo hábito de nunca tampar a ferida. Era como se gostasse de exibir que socou alguns caras, como se se sentisse mais impotente com aquilo.

Eu tinha a crescente sensação de que isso era verdade.

— Vai trocar de roupa. — Eu mando, impaciente, e aponto para as escadas com o queixo. 

Zayn obedece, mas não antes de soltar uma curta risada para mim, que tentava esconder a preocupação e substituí-la por raiva. 

Atrás de si eu andava, encarando o machucado com cada vez mais curiosidade, foco. Questionava a mim mesma com o que Zayn se envolvera desta vez, e a pergunta ponderou mesmo enquanto ele trocava de roupa no quarto, enquanto eu o aguardava do lado de fora.

Seria essa uma forma de adiar, mais uma vez, a conversa que nós dois tanto deveríamos ter? Não queria que fosse isso, mas era o que parecia.

Não conhecia bem o homem para afirmar se ele seria capaz disso, assim como não o conhecia direito para saber identificar muitas de suas emoções. Não sabia do que ele gostava, além do afeto incomum por cores neutras e sem vida. Era Zayn Malik, alguém com quem eu tentava constantemente construir algum laço que não fosse carnal e, por algum motivo, não conseguia alcançar isso de maneira nenhuma. Será que eu não estava me esforçando o suficiente, ou apenas estava focando nas coisas erradas?

— Está tudo bem? — Zayn sai do quarto, vestindo moletons confortáveis e escuros.

— Eu não te conheço. — Sussurro, passando a mão pelo braço nu.

De alguma forma, aquilo me desesperava. Eu nunca parei para pensar de fato sobre o tipo de relação que nós tínhamos e agora, temia que ele não passasse de mais outro idiota com quem tive que enfrentar em minha curta vida.

— O quê? — Ele pergunta, tocando o meu braço. 

Com seu toque, finalmente pareço voltar para a realidade, onde a voz do homem não estava distante e até mesmo confusa. Onde eu o via, mas não o enxergava.

— Eu... não te conheço. — Repito, com a voz triste. — Não sei nada sobre você. O que eu sou pra você, Zayn? O que tudo isso é para você? — Indago, sentindo o meu semblante se tornando cada vez mais triste e confuso.

— Você está bem? — Ele volta a perguntar, parecendo curioso ou preocupado. O que quer que estivesse escondendo de mim parecia tão pequeno perto de como me sentia agora.

Afasto a mão do Malik de meu braço, irritada.

— Como eu posso confiar em você, se nem sei quem você é? Como posso querer algo com você se nem sei a sua comida favorita? — Balanço a cabeça.

— É macarrão à bolonhesa, mas no dia seguinte sempre parece mais gostoso. — Ele anuncia, sorrindo.

Talvez aquilo fosse para descontrair um pouco do ar cada vez mais pesado que pairava entre nós, mas eu sentia como se ele zombasse de mim, como se tornasse aquilo pequeno. E isso estava me irritando.

Evito qualquer contato visual com ele, furiosa. Se encarasse seu rosto, provavelmente iria explodir, e eu estava me contendo para não fazer isso.

Nunca fui alguém necessariamente monogâmica, e muito menos apegada a outro indivíduo, mas com ele era diferente e até agora eu não sabia o porquê. Não sabia o porquê de tanto nervosismo a cada vez que o via, ou de tanto desejo toda vez que ele estava sem camisa. Não entendia como gostava da companhia de alguém tão sério e ora mal-humorado, e me perguntava naquele exato momento se o problema não estava em mim. 

Sentia-me tão especial e tão desejada perto de Zayn, mesmo que este estivesse acostumado a brincar com garotas, usá-las apenas para o próprio prazer... Por que eu gostaria de alguém assim? Seria apenas um fetiche por badboy?

Suspirei, fechando os olhos e tentando me acalmar. 

— Olha... — Ele diz, chamando minha atenção. Quando encarei ao homem, ele estava com a cabeça baixa, soltando um longo suspiro antes de finalmente olhar para mim e prosseguir. — Eu não queria que fosse assim, queria que tudo fosse mais fácil mas... Eu só não sei como. — Admite, a voz parecendo rouca e cansada. — Não sei como te tirar dessa merda em que te envolvi. E acho que no fundo, eu não quero.

Momentaneamente arregalo os olhos, surpresa. Eu contava com mais outra piada besta dele, ou que simplesmente não levasse o assunto na seriedade que deveria ser, mas ele parecia estar... tentando.

— Eu gosto de você, Sophie, mesmo que eu também não te conheça tanto. Não é casual, e não quero que você sinta que vou te largar a qualquer momento.

— Eu não disse isso. 

— Mas é o que pensa, não é? Acho que todos pensam assim. E eu realmente não me importo com o que esses idiotas falam, mas é diferente com você. — Ele desvia o olhar, mas procuro incentivá-lo a continuar quando pego em sua mão e entrelaço os seus dedos com os meus próprios.

— Obrigada por isso. De verdade. — Eu sorri, os lábios curvados com serenidade. Imaginava o quanto ele estava pensando sobre a relação, e me sentia culpada por plantar pensamentos negativos em sua mente. — E eu sinto muito. Não queria que você se sentisse tão... vulnerável. — Digo, encarando as duas mãos dadas.

— Próxima sexta? — Ele sugere, depois de um curto suspiro. Sem entender a pergunta, eu passo a encarar sua face.

— O quê? — Curvo as sobrancelhas, olhando em seus olhos castanhos.

— Nunca tivemos um primeiro encontro, não é? — Ele diz, os lábios minuciosamente curvados num pequeno sorriso. — Antes tarde do que nunca. 

Eu não sabia como reagir, mas um sorriso involuntário revelou que, de fato, eu tinha gostado da ideia. Então balancei a cabeça, concordando com a ideia.

— Ótimo. — Diz, passando a mão pelos fios escuros e úmidos de seu cabelo recém lavado. — Vamos, vou te levar pra casa.

E passou a caminhar, em momento algum largando a minha mão, conduzindo-me para fora enquanto eu sentia que parte dos meus problemas se dissipavam no ar.


Notas Finais


Eu espero que tenham gostado deste capítulo, até uma próxima!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...