Já era de manhã quando pedi que Zayn me levasse para casa.
Não posso dizer que consegui dormir ontem a noite — eu estaria mentindo.
Mandei algumas mensagens para Lucy, que depois de vizualizar a maioria, me bloqueou. Sei que estou errada — fui uma tremenda idiota e desleal em fazer o que fiz — mas ela precisa escutar toda a história. Não creio que ela possa ter pensado que vim voluntariamente até a casa de Zayn e caí de boca nos seus lábios. Por mais que isso realmente tenha acontecido, teve um enredo muito mais sombrio que ocorreu antes. Mas tenho que esperar com que a loira esfrie a cabeça.
Não me permiti dormir com Zayn depois da visita inesperada da minha melhor amiga, e ele me ofereceu um quarto de hóspedes depois de alguns minutos pedindo. Ele deveria estar ciente de que manter mais outro contato com ele depois do imprevisto seria muito absurdo, e eu me sentiria pior do que me sinto agora.
Mas sinto que enquanto Lucy se acalma da minha traição, eu possa pensar sobre algumas coisas também. Como o que aconteceu ontem, como esconder da minha família — Collin, principalmente — sobre minha relação claramente imprevisível e estranha com Zayn, e também como o fato de eu me sentir estupidamente diferente com a presença do moreno.
Saio do banheiro e encontro Zayn sentado na cama, vestindo uma camisa de manga longa cinza e uma jaqueta de couro (enorme) por cima e uma calça jeans escura. Não sei qual era o seu lance com jaquetas, mas combinava com ele, e acho que o moreno estava ciente disso.
— Podemos ir? — Ele pergunta impaciente e olha para a tela do celular.
Não posso ter demorado tanto no banheiro — tomei um banho rápido e só — então não entendo esse humor dele. Talvez ele goste de bancar o grosso para se sentir superior.
Reviro os olhos e assinto, e ele me leva até seu carro. Desconsiderando as minhas informações sobre a localização da minha casa, ficamos quietos. O som de músicas pop deprimentes tocava no rádio, e era o único som presente no carro. Por mais que aquilo tivesse piorando a situação, nenhum dos dois se atreveu a mudar a estação.
— É aqui. — Digo quando chegamos em casa. Ele para o carro e olha pela janela, através de mim, para a casa amarela. A escolha da cor foi de pura culpa da mamãe.
— Quer que eu acompanhe você? — Ele sugere, mas já está abrindo a porta antes da minha resposta. Faço o mesmo e balanço a cabeça.
— Não precisa. Tenho certeza de que meu pai e meu irmão vão surtar ainda mais quando me verem com você.
— Você tem irmão? — Sério? O humor dele era extremamente afiado.
— Você fala com ele todo dia. Como raios não sabe dele? — Pergunto me aproximando da porta. Quando toco a campainha, Zayn pergunta:
— Mas a única pessoa com quem converso é o... — No mesmo momento, um figura adolescente e loira abre a porta. Collin.
— Eu vou te matar, So... — Ele mesmo se corta, e não parece perceber quando eu rodo os olhos. Quando observo, Collin olhava para Zayn, os dois com olhos arregalados.
— Vocês são irmãos? — Zayn olha de mim para Collin, e depois volta a me encarar.
Faço que sim com a cabeça.
— Achei que você sabia. — Pela expressão dele, é claro que não. Então a pergunta sobre a existência do meu irmão não foi brincadeira.
— O que você está fazendo com ele? — Collin sai do transe e me olha, rosnando.
Algo no seu olhar faz com que eu perca minha coragem. Não é possível. Zayn nunca nem comentou de mim para ele? Isso está começando a fazer cada vez mais sentido. Duvido muito que Collin permitiria que eu me envolvesse com Zayn.
— Entra. — Collin manda, com a voz áspera. — Agora! — Seu tom de voz aumenta, e eu me sobressalto antes de obedecer.
A porta atrás de mim se bate, e mamãe aparece na sala de estar logo depois. Ela me olha preocupada de cima a baixo, e acho que a roupa amassada e manchada de rímel não melhora minha impressão. Mamãe se aproxima e me segura pelos ombros.
— Onde você estava? — Pergunta. Consigo identificar preocupação na sua voz, e mais algo que não ouvia a muito tempo. Raiva.
— E-eu...
— Vai se fuder, Malik! Você não vai ficar com ela! — Collin grita atrás da porta, e mamãe olha preocupada.
— O que está acontecendo lá fora? Odeio quando Collin fala palavrão! — Ela exclama frustrada, e parece se esquecer da minha presença por um breve momento.
— É o carteiro. — Bato mentalmente em minha testa depois disso. Eu era horrível com mentiras, mas isso merecia um oscar.
— E com o que ele quer ficar? Você? — Papai aparece na sala e para ao lado da mamãe.
— A... encomenda. — Cristo é mais!
Ela levanta uma sombrancelha duvidosa e papai se aproxima da porta. Quando abre, Zayn e Collin parecem surpresos.
— O que está acontecendo aqui? — Consigo imaginar papai avaliando Zayn de cima a baixo, imaginando tatuagens por baixo de sua jaqueta.
— O Zayn... — Collin parece pensar um pouco quando me vê. Suspira. — Quer ficar com uma garota do colégio que eu tô a fim.
Collin tivera recibido o dom da mentira. Ao contrário de mim.
Vejo os ombros de papai relaxaram por debaixo da roupa.
— Ora garotos. Não se briga por mulher nenhuma. — Isso foi inesperado. Se bem que a nossa mãe que costuma julgar pela aparência. Papai julga pelo caráter. — Você quem trouxe minha filha para casa? — A voz grossa dava o maior ar de intimidação, por mais que ele fosse extremamente doce.
Mamãe encara Zayn com as sobrancelhas erguidas, e o preconceito que seu rosto parece estampar me desconforta. Ela não aguentaria saber que foi com esse cara que aconteceu a minha primeira vez.
— Sim. — Zayn responde, passando os olhos rapidamente por mim. — Encontrei ela a caminho da casa de um amigo, e resolvi trazê-la.
Papai olha para minha mãe com uma dúvida eminente no rosto, e se vira para Zayn.
— Bom — Ele diz. — Muito obrigado, garoto. Qualquer dia passe aqui para almoçar.
Zayn confirma com a cabeça e olha para mim e para Collin antes de voltar para o seu carro e ir embora. Quando Collin entra em casa, ele me chama para o seu quarto, e depois de falar para nossa mãe que eu não estava com fome, eu o segui escada acima.
— Senta aqui. — Ele pede com o cenho franzido e bate levemente no colchão da sua cama. Eu obedeço, meio receiosa. — Se não quer que eu conte para a mamãe e pro pai o que eu supostamente acho que sei, deve me contar agora o porquê de ter vindo com ele.
Filho da mãe.
— E-eu — Suspiro e olho para o meu irmão. — Dormi na casa de Zayn ontem. — Antes que ele surtasse, eu continuei. — Olha, eu quase fui agredida, ok? Se Zayn não tivesse aparecido... — Engulo em seco. Não termino a frase, não quero, e proibo a minha mente de trazer o rosto daquele homem de volta a memória.
Collin balança a cabeça e segura em meus ombros.
— Você... O cara te machucou?
— Por sorte, não. — Tento sorrir para ele. Não tinha como ser positiva diante da nojenta possibilidade.
Collin me abraça, e sei que mais está por vir quando retribuo o gesto.
— E o que mais?
— Lucy apareceu. — Digo, e acabo me lembrando. Ela gritou comigo, e tentou me agredir, mas não perguntou o motivo de eu estar ali. Simplesmente deduziu o que queria. — Ela entendeu tudo errado. — Só sei que uma lágrima escorreu do meu rosto quando meu irmão a limpa.
— Ela vai precisar esfriar a cabeça, assim como nós dois. — Ergo uma sobrancelha. — Olha, eu não vou perguntar o óbvio, então sei que quando você se afastava tanto de Zayn e o julgava tão mal, era porque algo estava escondendo. Não vou tocar no assunto, mas eu já sei o que deve ser.
E ele, com o lado cavalheiro que sempre tenta esconder, foi sensível comigo mais uma vez, quando eu não merecia. Concordo com a cabeça e o abraço novamente. Fico feliz quando ele permite o gesto carinhoso e o retribui até.
— Não vou contar para a mamãe e o pai, mas você terá que contar algum dia. Sabe disso, não é? — Ele pergunta e se afasta, e eu concordo. — Não posso escolher com quem vai se relacionar, mas não quero que se machuque. Ficar com Zayn é uma passagem direta e sem volta para isso.
— Esse é o seu jeito de dizer que ama o seu amigo? — Collin ri, e o clima tenso evapora aos poucos. — Eu estou ciente do que estou fazendo Collin, mas preciso conversar com ele e estabelecer qualquer tipo de relação que ele possa querer. Que eu possa querer. — Isso pareceu muito menos esquisito na minha cabeça.
Collin assente e se levanta da cama.
— Agora vai comer e trocar de roupa, senão o pai vai te matar. — Eu solto uma risadinha e saio do seu quarto.
Subo para o meu quarto depois de comer e de trocar de roupa, e giro a chave de minhas memórias de volta para aquela noite.
A noite em que eu cometi um dos mais problemáticos erros na vida. A noite em que tive minha primeira vez com Zayn Malik.
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