Deixa eu te contar uma coisa;
Uma coisa que vem lá das raízes da quinta série.
Ou talvez seja algo que tenha vindo no meu DNA.
Quem sabe até seja algo no meu mapa astral.
Argh... Não sei bem o que é.
Sei que eu poderia estar escrevendo outra coisa muito mais útil e interessante agora, mas a necessidade pede que eu escreva isso.
Não que isso seja ruim, claro que não, isso é só... estúpido.
Ah é. Eu sou meio que um aspirante a escritor. E isso, de alguma forma, me torna incrivelmente egoísta. Tão egoísta que eu simplesmente não penso muito nos meus atos. E sabe o que é mais doentio nisso tudo: Eu meio que gosto disso.
Eu não gosto de ficar enrolando muito, então vamos passar logo pro “começo de tudo”.
Férias de julho.
Olha só!
Eu costumo beber pra caralho. Quer dizer; Costumava beber pra caralho.
Acontece que eu cansei de ressacas e as bebedeiras já não me tiravam nenhuma história boa, então decidi partir pra fora da minha cidade pacata e ir para a grande SÃO PAULO CAPITAL!
Ai ai, Santa Sampa! Era um caos. Mas isso não é importante. Eu conheci uma garota que me agradou. Ela era legal e engraçada (Não posso falar bem sobre a inteligência e a maneira que ela escreve, porque, porra, me dava nos nervos).
Nessa de ir e vir pra Sampa eu meio que peguei certa atração por ela, e ela, pra mim incrível sorte, por mim.
Não sou um adolescente bonito, com corpo escultural e essas paradas de body builder. Sou só um magricela fumante que faz teatro e escreve, nada de super interessante.
Enfim, acabei ficando com essa garota e tudo estava numa paz, numa boa, good vibes.
Até eu perceber que, bem na minha cidade, na minha escola, andando pelos mesmos corredores que eu, havia uma garota completamente interessante.
Nunca gostei de garotas muito altas, mas ela foi a minha exceção. Nunca gostei de garotas de aparelho, mas ela foi definitivamente minha exceção. Nunca gostei de garotas que escrevem e, infelizmente, ela foi minha exceção nisso também.
Tem uma citação em algum filme que diz que “ninguém quer namorar uma escritora. É muita pressão”.
Acontece que éramos dois aspirantes à escritores. Eu e ela; Ela e eu.
Era um saco pensar na possibilidade de me apaixonar por ela. Mas eu sei que acabava esquecendo que era um saco quando eu dava às mãos pra ela, olhava nos fundos dos olhos dela (por de trás das lentes do óculos, claro) e ela sorria pra mim.
Eu adorava o cabelo enroladinho dela. Era, talvez, uma das minhas coisas favoritas nela.
Tenha em mente que eu suspirei enquanto escrevo isso. Eu sei lá, é meio que tenso pensar que tudo foi só um alicerce para isto. Exato. Tudo aquilo foi um alicerce pra ativar a minha habilidade de transcrever fatos ocorridos, veja bem.
Mas foda-se, lá no passado eu não tinha isso em mente quase que pela primeira vez. Mas eu continuava com o meu lema de “Tudo tem um final, seja ele bom ou ruim”. E, cá entre nós, esse foi um dos fins mais estranhos e chulos da minha história inteira até hoje.
Eu conversava com um amigo meu, dizendo algo como “Estou com problemas. Acho que tô gostando dela mais do que devia.”
E esse amigo me respondia algo como “Se fodeu”.
E ele nunca esteve tão errado. Eu não me fodi; Eu apenas fodi algo. Uma possível história maior e melhor. Mas o que me importa? De uma forma ou de outra, estou vivendo uma história diferente agora.
Nossa curta histórinha foi engraçada até. Havíamos parado de nos falar uma vez porque... Bem, porque meu colega comentou com essa garota que eu estava apaixonado pela guria de Santa Sampa.
Depois voltamos a nos falar. Uma das frases dela para comigo foi:
“Não precisa ser cuzão comigo.” Ou algo assim.
E sinceramente: Eu fui extremamente cuzão. Meio que fiz exatamente o contrário do que ela havia me pedido.
Eu havia desistido da guria de Santa Sampa por ela. Havia mesmo! Ou... era o que eu pensava.
De certa forma penso que a gente nunca pode gostar de duas pessoas ao mesmo tempo, afinal, sempre iremos preferir mais uma delas. E no meu caso eu fiz uma escolha: A de ficar com a guria meio vazia e superficial de Santa Sampa, e não com a garota intelectual, inteligente, engraçada e aspirante à escritora da minha cidade.
Uma coisa que me incomodava nessa garota daqui era que... Sei lá, de certa forma eu me sentia responsável por tentar curar algo. E isso me sufocava. Eu sabia que eu já havia iniciado o procedimento cirúrgico da garota, e que não poderia larga-la na mesa de cirurgia. Mas foi exatamente o que eu fiz: Deixei-a aberta ao meio numa mesa de hospital, pronto para aquele maldito “PIIII!” do aparelho começar chiar e eu ter a certeza de que o coração dela parou de bater por minha culpa.
E isso me fazia bem. Esse som de que o coração de alguém parou por minha causa. Quer dizer: Não quero matar ninguém! Nunca quis. Não fisicamente.
Me faz bem saber que fui uma parte pequena, bem pequenininha mesmo (quase que nula, menor que a porra de um espermatozoide) da vida dela.
Eu fui a célula que apareceu pra mostrar que:
“Ei! Olha só! Filhos da puta piores que eu existem por aí, cuide-se!”
E era isso: Uma grande descoberta pra mim; A de que eu era, de certa forma, um sádico egoísta.
Exatamente.
Eu planejei tudo para o fim. Até dediquei uma música pra ela numa rádio de um amigo. “3x4 do Engenheiros do Hawaii, que o garoto estúpido dedicou para a garota aspirante à escritora.”
Essa menina... ela é alguém que precisa de um cirurgião melhor e mais experiente que eu. Um cirurgião que não sinta-se tenso por executar sua tarefa.
Foi no dia da apresentação de uma peça de teatro na qual eu faço parte. A garota de Santa Sampa apareceu, mesmo sem eu ter a convidado. E a garota aspirante à escritora apareceu, à meu convite.
Fiquei sem saber o que fazer. Nunca consigo escolher logo de cara, mas era o que o momento e a vida pediam naquele instante.
Escolhi a garota vazia e superficial de Santa Sampa. Por quê?
Bem... Eu acho mais fácil curar a superficialidade de alguém do que ter que entrar na sala de cirurgia por alguém.
Eu não seria um bom cirurgião, não mesmo. Mas creio que sou um ótimo médico para a cura de superficialidade.
Levei a garota de Santa Sampa até a estação de trem da minha cidade. Conversamos sobre ficar de maneira mais séria. Ainda meio que sem compromisso, mas com o pé já no inicio de algo, sabe?
Depois que a guria de Santa Sampa entrou no trem eu acendi um cigarro enquanto pensava:
“Que porra eu vou falar para a garota que escreve?”
Demorou. Foi um dia estranho, um dia que eu sabia que teria que falar algo. Foi mais estranho ainda porque eu estava de ressaca. Mas enfim.
Hora ou outra, no meio do chat vazio e parado do facebook eu disse à ela algo assim:
“Conversei com uma guria de Sp, a gente decidiu ficar de modo mais fechado (a gente já tinha algo antes), então... Então é isso.”
E a garota me respondeu:
“É, tudo bem”
E eu sabia que não tava tudo bem. A coisa que me veio à mente naquele instante foi essa citação:
“Não está tudo bem. Você quer que as pessoas pensem que esteja tudo bem, é diferente.”
Eu sabia que eu era a causa desse distúrbio emocional em ambos, até porque, qualquer médio fica abalado com a perda de um paciente numa cirurgia.
Eu preferia ter contado pra ela pessoalmente, mas ela disse que preferia pelo chat, então não queria causar mais dor de cabeça sendo filho da puta e negando esse direito à ela.
“Só... Por que não contou antes?” Ela me perguntou.
Suspirei. Acho que é porque ela já devia saber que a guria de Santa Sampa existia, não é?
Ela disse, depois de duas ou três coisas banais, um “Cuide-se”.
Mas não era um daqueles “cuide-se” que você diz quando quer, na verdade, pedir pra cuidar da pessoa. Era um daqueles reais e secos “Cuide-se.”
Eu abomino essa frase: “Cuide-se.”
Abomino ela e todas as suas outras vertentes. Minha antiga namorada falava isso quando estava braba comigo, e falou isso quando terminamos.
Enfim.
Dais depois eu loguei num site de fics e escritores e, vi no perfil da guria aspirante à escritora, uma história sobre algo bem semelhante ao que acontecera na nossa “despedida”.
Eu sorri. Tive que sorrir. E era um sorriso, sinceramente, sádico.
Isso proporcionou em mim exatamente o que eu queria:
A sensação e a certeza de que deixei uma marca.
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