— Como assim?
— Prove que vocês estão namorando
(...)
Naquele momento eu congelei, não sabia o que fazer. Meu olhar alternava de Tzuyu para Dahyun, e de Dahyun para meus pés. Minha agora namorada batia os pés descontroladamente sob a mesa e o barulho estava me deixando louco.
Estávamos sendo muito óbvios.
— Estou esperando. - Dahyun falava impaciente, bom um pequeno sorriso formado nos lábios. Ela estava zombando de nós.
— Tzuyu, me acompanha um segundo? - puxei-a pelo pulso antes mesmo de ouvir uma resposta, nós precisávamos conversar.
Ela me acompanhou até o corredor dos banheiros da sorveteria, de onde conseguíamos ver todos os movimentos de nossa amiga impaciente, que batia repetidamente os dedos na mesa.
— Boa, seu plano mal começou e já está dando errado! - exclamei, expressando todo o meu nervosismo, eu estava ficando louco.
— Faz alguma coisa! - Tzuyu falou desesperada.
— O que? O plano é seu, da um jeito.
— Por favor DaeHyun-ssi, você é criativo, sei que pode pensar em algo. - me virei de costas, choramingando.
Sabia que a responsabilidade iria cair pra cima de mim cedo ou tarde. Olhei bem para Tzuyu e respirei fundo, precisávamos dar um jeito, e eu sabia exatamente como fazer isso. Segurei a mão de Tzuyu e voltamos juntos a mesa, atraindo o olhar irritado de Dahyun.
— O que foram discutir? Uma maneira de me contar que estão mentindo descaradamente como se eu fosse alguma idiota? - ela tinha um sorriso cínico nos lábios.
Tzuyu estava com o olhar perdido ao meu lado, beijei sua mão e ela virou o rosto para mim. Aproveitei o momento para segurar seu queixo e puxa-la para um beijo. Coisa rápida, apenas queria dar a Dahyun a prova que ela tanto queria. Quando me separei de Tzuyu, voltei a mesa e tomei o resto do café que eu havia deixado, sentindo o pesar do olhar de ambas sobre mim.
— Ok, eu não estava esperando por isso. - Dahyun nos olhou um tanto surpresa.
— Nem eu. - Tzuyu falou e eu a encarei. Ela não podia estar falando sério. — Digo, está satisfeita Dahyun?
— É, foi convincente. Mas eu ainda não acredito 100% em vocês dois. - disse tirando um chiclete da bolsa que carregava e pondo na boca — Se for realmente verdade. Cuida dele em Chou.
— O que você está querendo dizer com isso? - me pronunciei. Eu realmente não entendi onde ela queria chegar com aquilo.
— Você dá uma de todo poderoso, mas adora entrar em brigas por causa de garotas. Tzuyu que se cuide, ou vai perder o namorado para a novata. - Dahyun falou sorrindo de lado, cínica, como sempre.
— Você acha que eu sou do tipo que briga por causa de mulher? Vai sonhando. - falei com convecção, são poucas as mulheres pelas quais eu brigaria. — Enfim, o que está fazendo aqui? Você não disse ontem que iria lá pra casa?
— Tzuyu me disse que vocês iam sair, então eu demorei um pouco. Eu estava indo pra sua casa agora, digo, antes dessa doida me arrastar. - ela falou arregalando os olhos para Tzuyu.
— O que você estava fazendo? - falou a taiwanesa ao meu lado.
— Alá, a desinformada. Aproveitaram o feriado para entregar o novo uniforme para os pais. Esqueceu? - Dahyun perguntou desacreditada.
— Espera tem uniforme novo? Você pegou? Deixa eu ver. - Tzuyu tentou pegar as sacolas da mais velha, mas a mesma puxou a sacola a impedindo.
— Depois eu mostro. - finalizou.
— Aviso logo que é horrível! - falei - Decidiram mudar as cores, o vermelho não foi a melhor escolha.
— Não é feio, você deve achar isso porque o uniforme masculino não fica bom no seu cor... -suspirei ao ver onde aquela frase estava indo, e Dahyun parou no mesmo instante. — Me desculpe, eu não quis dizer isso.
— Relaxa Dahyun, eu vou em um médico. Logo, tudo isso vai passar. - falei desanimado.
— Como anda o processo da cirurgia? - Tzuyu perguntou em mandarim.
— Lento - respondi igualmente.
— Ei! Falem devagar, lembrem que eu ainda estou aprendendo. - Dahyun pediu.
— Depois eu te explico. - Tzuyu respondeu a mesma.
— Por enquanto eu só posso fazer a transição hormonal, mas eu ainda preciso de um médico confiável. - voltei ao mandarim. Dahyun já nos olhava forçando os olhos, estava ficando brava.
— Você vai fazer? - perguntou ansiosa.
— Eu não sei, estou confuso. - respondi sinceramente.
— Pensa bem, meu amor. - Tzuyu falou rindo e eu a encarei estranho, você já sabe o porquê.
— Ok, eu entendi o "meu amor". Que bonitinho. - Dahyun comentou também rindo.
(...)
•Mina•
Seul, 12:30 PM
Nunca foi costume meu acordar na hora do almoço, mas juntar o cansaço de uma viagem com um passeio repentino não é a melhor combinação para alguém que está acostumada com certos horários.
Primeiro, como prometido por Jackson fomos a uma sorveteria, depois disso ele me chamou para ir junto com ele e os amigo para o Everland (um parque de diversões bastante conhecido aqui na Coreia), e depois de pedir permissão para minha mãe, eu fui.
Ele pareceu ser uma pessoa legal, pelo menos até um dos amigos dele se meter em briga e precisar dele para ajudar. Junior, que parece ser o mais fraco do grupo, me tirou do ambiente, provavelmente sabendo o que viria. Lembro bem da conversa que tivemos enquanto andamos pelo parque:
— Não liga pra eles, Youngjae, é um bastardo. Tem aquela cara de bravo e a pose de machão mas não se vira sozinho. - falou sem graça.
— Porque anda com eles então? - perguntei.
— Jackson me salvou de uma cilada ano passado, eu devo minha vida social a ele. - falou sorrindo, enquanto olhava para o nada.
— O que aconteceu? Perdoe-me se estiver sendo intrometida. - falei e ele negou com as mãos.
— Havia um garoto, ele era um dos descolados da escola, pegava todas as meninas sempre que queria, o nome dele era Mark, era americano como você. - Junior suspirou, parecendo infeliz com a lembrança.
— Todo ano tem uma festa feita por Tzuyu, ela é como uma Regina George da vida real, tenho certeza que vai conhecê-la em breve. Enfim, nessa festa todos já estavam caindo de bêbados, eu era o único sóbrio, ou pelo menos era o que parecia. Mark chegou perto de mim jogando papo furado, ela era um canalha, todos sabiam, mas tinha um sorriso tão bonito, eu acabei caindo em seu charme, e nós ficamos. - ele sentou em um banco mais afastado do barulho do parque, parei perplexa na frente dele mas acabei sentando no banco também.
— No dia seguinte rumores foram espalhados, junto com fotos nas paredes da escola. Jackson era como meu irmão mais velho, ele não suportou me ver estampado daquele jeito nas paredes e foi se ver com Mark. Foi uma briga feia e Mark acabou expulso do colégio, ele quis me prejudicar dizendo que eu era gay.
— Mas você é? - perguntei curiosa e incomodada ao mesmo tempo.
— Você não parece ser muito a favor. - desviei meu olhar de seu rosto e passei a olhar minhas mãos. - seu desconforto diz tudo.
— Não é isso, desculpa. - fiz questão de mudar minha expressão — Continua.
— Se isso responde sua pregunta, sim eu sou. Mas nem Jackson sabe disso, para ele, tudo o que aconteceu ano passado foi só uma armação para me prejudicarem. Quem sabe da verdadeira história é você, e só você. - Junior concluiu.
— Eu não sou totalmente a favor do LGBT, perdão se pareço preconceituosa, não é nada disso, não leve para o lado pessoal. É muito bom te conhecer e agradeço que tenha me contado sua história. - tentei parecer compreensiva.
— Se você não é a favor porque anda com Chaeyoung? - sua pergunta me pegou de surpresa, não pude deixar de ficar curiosa.
— O que quer dizer? - perguntei.
— Você não sabe? Se ele não te falou nada, não sou eu quem vou falar...
— De quem estão falando? - Jackson apareceu sorrindo, com um YoungJae sangrando atrás de si.
— Estavamos falando de Chaeyoung. - pronunciei-me vendo Junior calado.
— Não gaste essa voz linda que você tem falando...daquilo. - disse com total aversão, como se estivesse se referindo a um bicho.
Vou confessar, achei grotesco o modo no qual Jackson se referiu a Chaeyoung. Ele parecia falar sobre um bicho, se referia a tal como se fosse uma pessoa nojenta, que não merecesse respeito.
Nem mesmo os bixinhos merecem tamanha falta de respeito. Mas eu vou confessar, fiquei muito curiosa sobre a frase de Junior; "Se você não sabe, não sou eu quem vai te contar". O que eu não sei? O que eu preciso saber?
Não vou pensar muito sobre isso, em minha opinião, a primeira impressão é a que fica, e ele pareceu ser uma pessoa muito legal. Talvez um pouco estranho, mas muito legal.
Ele tem um estilo peculiar, não sei dizer o que é, talvez sua aparência um tanto feminina, que é quebrada pela personalidade forte e o jeito arrogante.
Eu não sei como são os homens coreanos, até porque até onde eu saiba, Jackson é chinês e Junior é gay, então seria errado me basear neles para julgar os outros.
Jackson não é uma pessoa ruim, ele ajudou o Junior, mesmo sabendo que aquilo poderia ser verdade, não entendo porque ele implica com Chaeyoung.
— Mina minha filha, você tem visita. - ouvi minha mãe falar do corredor.
Fechei meus cadernos e livros e guardei tudo antes de sair do quarto.
Atendi a porta e me surpreendi ao ver Jackson parado na entrada. Vendo que eu não me movia, ele tomou liberdade e me abraçou, me erguendo um pouco do chão.
— Hey, Mina, Tudo bem? - disse simpático, segurando minha mão.
— Sim, está tudo ótimo, o que está fazendo aqui?
— Pode sair um minuto? - concordei com a cabeça e saí, fechando a porta atrás de mim e me encostando na mesma.
— Eu vim te convidar.
— Para que? - perguntei surpresa, ninguém nunca havia me convidado diretamente para nada. Não negarei que fiquei curiosa para saber do que se tratava.
•3° pessoa•
— Festa! Está todo mundo convidado! - Tzuyu falou, seguindo seus dedos, que digitavam o mesmo no celular. Logo, todos os alunos da escola já tinham conhecimento do assunto.
— Ótimo, aproveitem a festa. - Daehyun falou se jogando na cama ao lado de Tzuyu.
Quando Daehyun percebeu que havia deixado as chaves de casa no carro de Jeongyeon já era tarde. Foi obrigado a ficar na casa de sua então namorada, até que sua irmã desse algum sinal de vida. E Daehyun acompanhou os dois para estudar.
— Ué, mas você vai, não vai? - a mais velha deixou o caderno de lado para perguntar.
— Eu? Óbvio que não. - deixou claro.
— Você vai deixar sua namorada, com um bando de marmanjos que fariam de tudo para entrar nas calças dela. Coragem. - a mais velha voltou sua atenção para os livros.
— O Jackson vai estar lá, e eu não vou em uma festa para servir de saco de espancada, Dahyun.
— Dae, o Jackson é um babaca mas ele é meu amigo, e ele nunca iria mexer com meu namorado. - Tzuyu se aninhou ao garoto na cama.
— Você quis dizer, com a sua namorada certo? Vocês duas me ajudam muito, mas para o Jackson eu não passo de uma garota lésbica, que se veste de homem para pegar outras garotas. Do jeito que ele é, capaz de começar a implicar com você também. - falou o garoto, atraindo a atenção de ambas as amigas.
— Ei! Basta! Já chega dessa crise de identidade, você já passou por isso. Você sempre foi e sempre vai ser o nosso garoto. E pau no cu do Jackson se ele não aceita. - Tzuyu falou rude.
— Arrogante porém certa. A Tzuyu falou tudo, e se eu bem entendi, agora que você já escolheu um novo nome, pode ir num médico, começar a tornar sua identidade definitiva.
— Dahyun, vai estudar vai. - Daehyun falou, e deitou a cabeça nas pernas da namorada. — Eu não quero fazer desse jeito. O lance dos documentos até vai, mas a transição... Vai ser estranho, parecer homem mas não ter... Vocês sabem.
— Vai ser estranho se você tiver e parecer mulher de todo jeito. - Dahyun falou e recebeu uma almofada no rosto, atirado por Tzuyu.
— Cala a boca Dahyun, que tem que decidir é ele. E não precisa ser agora. Ainda tem tempo, não é meu amor? - Tzuyu falou, acariciando os cabelos do garoto. Se ele não estivesse viajando naquele momento, teria chiado pelo apelido.
— Eu desisto. Vou voltar a estudar. Lucra mais do que segurar vela. - Dahyun voltou sua atenção aos livros de mandarim.
(...)
Daehyun checava as mensagens, e viu três mensagens deixada por sua irmã "Três mensagens de: Jungão"
[Hoje, 17:30] Jungão: Hey Chaeyoung! Vi que deixou a chave no carro. (-_-)ゞ゛
[Hoje, 17:30] Jungão: Se for ajudar, eu deixei a minha em cima da mesinha da janela. Que por um acaso eu esqueci aberta.
[Hoje, 17:32] Jungão: Quero que vá lá fechar as coisas, e que se possível durma na casa da Tzuyu. Eu falei com a mãe dela, não tem problema. Vou dormir fora hoje, estudos, você sabe. ;)
[Hoje, 17:33] Jungão: Eu te pego no colégio amanhã. Até mais maninho.
— Estudos? Quem você pensa que engana Yoo Jeongyeon? - DaeHyun pensou alto, levantando da cama.
— Onde vai? - Tzuyu perguntou.
— Em casa, tenho que pegar minhas coisas. - disse desamassando suas roupas e calçando os sapatos.
— Pra que?
— Jeongyeon acabou de dizer que deixou uma chave na janela. E que não volta hoje. Tenho que ir em casa pegar minha coisas, ela quer que eu durma aqui. - explicou.
— Tudo bem então. - Tzuyu sorriu, vendo o garoto sair do quarto.
DaeHyun cumprimentou a mãe de Tzuyu e confirmou com ela se o que Jeongyeon havia falado era verdade, ouvindo um sim como resposta.
Após a confirmação, DaeHyun saiu da casa, e começou a subir a rua. Mesmo ainda estando claro a rua estava vazia. Ele conseguia ouvir o barulho que o sapato fazia na rua ou até mesmo sua respiração pesada por subir a rua inclinada. Malditas ladeiras coreanas!
Começou a ouvir passos vindo em sua direção, junto com o barulho irritante de um assobio. Se arrependeu amargamente de ter se virado o rosto quando deu de cara com Jackson, o mesmo sorria como um idiota quando não estava assobiando.
Ambos estavam cada vez mais perto, até que se cruzaram, Jackson passou direto e Daehyun suspirou aliviado, até que ouviu a voz do garoto chamando-lhe.
— Tudo bem Chaeyoung? - Ele falou sorrindo, nem parecia a mesma pessoa que socara o rosto do garoto no dia anterior.
— Estou tranquilo, e meu nome é Daehyun agora. - Jackson se aproximava do mais baixo o deixando nervoso.
— Seu nome é bonito, gostei. - Jackson abraçou o mais baixo sem tirar o sorriso do rosto o deixando espantado. — Perdoe-me por ontem, eu fiquei nervoso.
— O que aconteceu com você? - DaeHyun perguntou pasmo ao separar-se do abraço.
— Só estou tendo um dia bom. - suspirou. — Você ficou sabendo da festa da Tzuyu? Vai ser incrível, espero você lá, Daehyun. - Jackson piscou um dos olhos e sorriu antes de se virar e continuar andando.
— Beleza, isso foi bizarro. Melhor eu correr antes que ele decida que não está arrependido de me bater.
•DaeHyun•
Ok, o que está acontecendo com o mundo? Em um belo dia, um valentão quebra minha cara, e no outro, ele me convida para uma festa. Não pode existir, no mundo, pessoa mais amedrontada e confusa que eu agora.
Corri em casa e arrumei minha mochila com o uniforme e alguns livros. Não queria demorar muito, já estava ficando escuro e eu não queria ser pego desprevenido sozinho.
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