1. Spirit Fanfics >
  2. Encröachment >
  3. We Are Just Starting

História Encröachment - We Are Just Starting


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Hello sweeties :)
Hoje o capítulo é bem simples, porque é mais uma introdução. As coisas começam de verdade no próximo 3:)
De qualquer forma, espero que gostem <3

Capítulo 13 - We Are Just Starting


-Bom dia, Drizz - as cortinas se abriram, mas não havia nem mesmo alguma luz para ir diretamente para minha cara enquanto Jane me despertava de um sono curto - Hoje você e seu amigo vão treinar com Chris, então se prepare - minha mãe nem esperava meu cérebro acordar num processo forçado. Eu não havia processado nem metade das palavras dela.

-Hã?

-Drizzle, levante e se arrume - mandou, tirando as cobertas de cima de mim - Chris vai passar aqui as 6h a.m., e é melhor que esteja pronta.

            Me sentei na cama esfregando os olhos. Pela janela, não podia ver o sol, não por ser um dia nublado, mas por não ter amanhecido. Estava frio, e minha mão guardava meus cobertores, quentinhos, no armário.

-Que horas são? - Perguntei, bocejando, com uma terrível irritação matinal.

-5h a.m. - falou, sem rodeios - E é melhor que esteja pronta logo, porque o humor de Chris não está nada bom.

            Ela saiu dali; me deixando confusa na cama. Não me lembrava de ter ido dormir, mas se o fiz, foi a pouco tempo. Me levantei da cama, rastejando até o banheiro, e fiquei surpresa em reparar que o meu tornozelo não doía mais, mas não reparei muito nisso.

Como minha mãe havia avisado ontem, Chris levaria a mim e a Andy para algum tipo de treinamento. Ele provavelmente não estava nem um pouco a fim de treinar um anjo caído, mas eu tinha certeza de que ele tentaria, de alguma forma, me provar que Andy não era um aliado confiável.

            Deixando as teorias de conspiração loucas de lado, fui tomar banho. Tomei um banho bem quente, e extremamente rápido, pois como minha mãe havia feito questão de lembrar, Chris não estava de bom humor, e me atrasar não colaboraria em nada.

            Quando saí do banheiro e fui me trocar, me perguntei várias vezes, o que iriamos fazer nesse “treinamento”. Seria algo como na mansão? Provavelmente não. Era quase certeza de que seria algo bem mais pesado, física e psicologicamente falando. E também, Chris não seria tão gentil.

            E como Andy lidaria com tudo? Podia prever brigas pelo resto do dia. Chris levaria Andy ao limite, e Andy não era nada paciente. Não seria nada bonito ver uma briga séria entre os dois, e não seria nada bonito estar lá também.

            Mas a parte que mais me atormentava, entre todas, estava longe do treinamento. O velho. Chris o chamara de James, e avisara que ele não aceitaria um anjo caído andando por aí livremente. Quando ele atacaria? Parando para pensar, ele já poderia ter atacado Andy durante a noite, ao descobrir que Chris não daria um jeito nele.

            Virei o rosto para o chuveiro, fechando os olhos e deixando a água cair diretamente em meu rosto. Isso tudo é difícil demais. São muitas informações, muitas responsabilidades. Pensar que logo estaria indo para o Alasca, por algum motivo que desconhecia, era frustrante. Eu ajudaria Chris, sem receber nada em troca e sem saber porque estaria fazendo o que terei de fazer. E eu não teria nem mesmo escolha, porque essa era minha responsabilidade desde o começo.

            Depois de muita reflexão em pouco tempo, finalizei o banho e fui me trocar. Como não fazia a mínima ideia do que teria de enfrentar com um Chris de mal humor, vesti uma roupa confortável. Jeans um pouco largos, surrados e rasgados e um moletom preto e enorme da Metallica, com meus All-Stars velhos.

            Quando desci para tomar café, eram 5h30min, e meus pais estavam sentados em volta da mesa, sem comer nada, em silêncio, com expressões sérias.

-Drizzle, sente-se. Como alguma coisa enquanto conversamos, temos um assunto sério - Meu pai pediu, indicando a cadeira em frente aos dois.

            Me servi de uma caneca com bastante café e duas torradas, me sentando no lugar indicado. Eu apenas segurei a caneca com as duas mãos, próxima ao corpo, tentando me aquecer enquanto meus pais me olhavam com aquelas caras sérias que eu odeio e que nunca significavam coisa boa. Um constante incomodo subia por mim. Aquele pressentimento, de que algo vai acontecer. Um calafrio esquisito que não deixava meus músculos relaxarem.

-Drizzle, vamos falar sobre o treinamento de Chris - Minha mãe começou - Ele provavelmente não lhe explicou completamente a parte de seus poderes, não é?

-Eu posso fazer mais alguma coisa além de ver o Duat? - Jane suspirou.

-A parte de você e Chris verem o Duat é praticamente uma maldição. Qualquer médium normal demora em média dois ou três dias meditando para poder ver os dois planos pela primeira vez. E como você sabe, a maldição também permite que seu corpo seja facilmente possuído por espíritos ou demônios enquanto for pura - tomei um gole de café -. Depois que os médiuns conseguem ter a visão completa, eles começam a se aprimorar em outras habilidades, que ajudam em várias coisas, sendo elas para autodefesa ou ataque.

-Que tipo de habilidades?

-Se começa com coisas simples. Telecinese, Detecção de perigo, medo ou mentiras - deu de ombros.

-Você tem alguma habilidade assim? - Jane sorriu de lado com a pergunta.

-Querida, eu sei muito mais do que habilidades simples - repentinamente, minha torrada começou a levitar na minha frente, e eu quase berrei pelo susto ali mesmo. Quase acreditei que a comida havia finalmente se revoltado contra mim, depois de tanto tempo. Mas então, ela simplesmente voltou para o prato.

-Ok. Posso gritar agora?

-Ainda não - Papai riu do meu espanto - Você ainda tem muito o que ouvir, e ver. Sua mãe é fantástica, tem poderes incríveis. Você tem muito o que aprender com ela - Mamãe sorriu para ele, em um agradecimento silencioso.

-Enfim, depois desses poderes simples, você acaba descobrindo que tem aptidão para um tipo específico de poder. Você pode ter uma relação maior com plantas, ou com algum elemento. Pode ter habilidades com música, ou poderes mentais. Mas no fim, sempre temos uma habilidade maior para algum poder específico.

-E qual é o seu?

-Você realmente acha que o inchaço no seu tornozelo se curou sozinho? - Automaticamente, minha mão desceu até meu tornozelo. Ela havia me curado enquanto eu dormia?

            Levantei o olhar para ela, surpresa. Ela sorria, se divertindo com minha reação. Honestamente, era algo que parecia combinar perfeitamente com ela. Por algum motivo, cuidar de outras pessoas era algo que simplesmente se encaixava nela.

-Simplesmente não sei o que dizer. Isso é incrível, mamãe - sorri para ela, ainda meio maravilhada - E qual é o meu “poder”?

-Não tem como eu saber - deu de ombros - Cada um descobre o seu sozinho, e você vai acabar descobrindo também.

-Entendo - suspirei.

            Após esse pequeno esclarecimento, ficamos alguns minutos em silêncio. Eles não tinham o que falar, e eu não sabia como perguntar. Apenas se serviram também. Graças a Chris, minha família toda acordou extremante cedo em pleno domingo. É claro que os dois ainda estavam de pijama, mas mesmo assim.

-Você disse que Andy iria treinar comigo, não é? - Questionei sem jeito.

-Sim - minha mãe olhou para mim, e meu pai fechou a cara, deixando claro que não aprovava - Sobre essa parte, é melhor deixar com Chris. Ele vai explicar melhor. Mas vocês terão um treinamento parecido, no começo.

-Está bem - mordisquei minha torrada, sem fome - Quem é James? - Fui direta.

            Meus pais se entreolharam, com receio estampado no rosto. Quase como se esperassem esse momento, essa pergunta, mas que preferissem que ele não chegasse.

-É um amigo da família. Não vem de nenhuma família de médiuns, aprendeu o que sabe sozinho, e é fantástico, com poderes incríveis. Ele me ensinou grande parte do que sei. A maior parte, na verdade. Foi meu professor, da mesma forma que Chris está sendo com você.

            Por um momento, meu coração parou, e eu não entendi o motivo. A sensação de uma história incompleta, talvez. Eu sabia que havia mais coisas ali, e sabia que ela não me contaria nada, pela forma como imediatamente desviou o olhar de mim. Minha mãe ainda era um grande mistério para mim. Não sabia nada sobre a infância e adolescência dela. Só sabia que seus pais haviam morrido a muito tempo, mas ela não me dizia mais nada. Sempre mudava de assunto, e eu não queria força-la a falar. Antes, eu simplesmente não sentia uma necessidade tão grande de saber, mas agora, parecia necessário. Poderiam haver peças em seu passado, peças que me ajudassem a entender a mim mesma, já que no momento, sou apenas uma grande bagunça.

            Mas antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa, a campainha tocou, e minha espinha congelou. Chris já estava aí, e talvez, Andy também. Mas o que me preocupava, era como seriam as coisas com Chris agora. Ele estava com raiva de mim, e eu não queria ficar assim. Dependemos um do outro, como ele mesmo disse. Nascemos no mesmo dia, temos a mesma maldição, e os mesmos alcances, em termos de poderes. Eu posso ser tão forte quanto ele um dia, mas por enquanto, dou dependente de Chris, e eu preciso tê-lo ao meu lado.

            Jane, vendo que eu não criaria coragem para me levantar e abrir a porta, suspirou e foi até ela. Assim que Chris se revelou na entrada, meu coração parou mais um pouco, se é que é possível. Ele cumprimentou minha mãe, educadamente, a distância, e ao chegar à mesa, fez o mesmo com meu pai, mas a mim, dirigiu apenas um olhar frio.

-Vamos. Agora.

            Sem dizer mais nada, ele apenas olhou para meus pais e saiu. Que reencontro curto. Minha mãe me lançou um olhar com muitos significados, mas acima de tudo, preocupado, e me abraçou. Meu pai apenas me olhou muito preocupado e me abraçou muito apertado, me deixando sem ar.

-Drizz, eu sei que está crescendo e que não é mais minha menininha, nem de longe - murmurou, com o queixo sobre minha cabeça, me aconchegando nele - Mas ainda assim, será sempre minha filha, e eu vou sempre me preocupar com você. Então por favor, tome muito cuidado com aquele garoto. Ele está reagindo muito bem a tudo, mas eu tenho medo. Medo do que ele pode fazer a você. E também, medo de que ele te magoe. Então me escute, e não acredite nas mentiras dele. - Me movi desconfortavelmente, sem entender a última parte - Eu também já tive a idade de vocês. Ás vezes, os interesses num casal não são os mesmos, e isso faz com que um dos dois acabe machucado.

            Papai me apertou um pouco mais, colocando a cabeça em meu ombro, e eu agradeci mentalmente por ter um pai tão maravilhoso. Ele deixou um beijo em minha testa, e ele e mamãe estavam prestes a me acompanhar até a porta, até a porta, quando papai estacou, encarando meu pescoço.

-O que foi? - Perguntei, me assustando com a seus olhos arregalados.

-O que é isso no seu pescoço? - Perguntou, pausadamente. Só então me lembrei do que Andy havia feito.

-N-não é nada - corri para porta, antes que meu pai tivesse um surto.

-Drizzle Blawatsky Young, quem fez isso? - Ele ia começar a ter um troço, mas minha mãe o segurou, o acalmando, se despedindo de mim com um olhar, enquanto eu corria.

            Eu sei que meu pai sabia que era um chupão, e eu também sei que ele sabia quem havia feito isso. Mais um pouquinho e ele vai matar Andy. Então apenas corri para o carro, deixando minha mãe resolver as coisas.

           

 

Eu me remexia no banco, sem conseguir ficar confortável com a frieza de Chris. Ele não olhara para mim por nem mesmo um momento, e eu sabia que teria de recuar. O clima estava estranho, uma distância desnecessária pairando estre nós.

-Você não pode me desculpar mesmo? - Pedi, afoita, num murmúrio.

-Não tenho motivos para isso.

-Se tivesse de proteger quem ama, faria diferente? - Pela primeira vez, depois de minutos dentro do carro, ele me olhou, um pouco surpreso. Mas logo depois, voltou seu olhar para estrada.

-Você só vai acabar consigo mesma, se realmente o amar.

-Eu sei. Mas eu não escolhi isso - suspirei, numa confissão silenciosa para mim mesma. Não tinha motivos para amá-lo, mas ainda assim, era inevitável. O simples ato de olhar para aquele garoto me tirava o fôlego. Andy era uma droga, literalmente viciante -. Mas você não respondeu minha pergunta.

            Por alguns segundos, ele não respondeu, e eu pensei que fosse continuar assim. Mas repentinamente, seu olhar se abrandou, e sem nem mesmo se virar para mim, ele me respondeu.

- Eu faria exatamente a mesma coisa.

            Aquilo não era um perdão, ou uma reconciliação, mas era um começo. Uma confissão de ambas as partes, como uma forma de restaurar a confiança, com um novo segredo. Por enquanto, não passaria disso, e eu sabia que ele ainda não estava 100% comigo, mas também sabia que logo, eu conseguiria, pela primeira vez, restaurar uma amizade que havia arruinado.

            E então, fiquei simplesmente feliz. O resto da viagem se seguiu em silêncio, mas por dentro, eu finalmente estava feliz. E no fundo, eu sabia que Chris também estava, mas que não iria admitir isso nunca. Mas não importava, porque isso já era o suficiente.

 

 

-Não, eu não vou entrar aí nem fodendo.

-Drizzle, para de drama. Vocês estava se pegando na sua casa ontem, ele não vai te matar se o acordar cedo. Eu acho.

            Chris havia estacionado o carro em frente à casa de Andy. Eram seis da manhã, e Chris queria que eu entrasse ali, como se não fosse nada demais, acordasse Andy, e esperasse que, de bom grado, ele se arrumasse para ir treinar ou seja lá o quê fosse. Mas nosso pequeno Chris não estava entendo a gravidade da situação. Eu simplesmente não tenho coragem o suficiente para acordar Biersack as SEIS da manhã, no DOMINGO. Eu provavelmente apanharia até a morte.

-Chris, eu vou ter uma morte lenta e dolorosa se eu for até lá. Simplesmente não posso acordar ele agora.

-Sinto muito, Young, mas você quem o tornou um aliado, então a responsabilidade é sua. Boa sorte - disse, ironicamente, se esticando por cima do meu banco e abrindo a porta para mim.

-Seu mal humor passou muito rápido - bufei, enquanto ele dava um sorrisinho irônico, olhado para a rua e se segurando para não rir.

            Caminhei até a entrada, parando na varanda de madeira, encarando a porta. O que eu devia fazer? Não é todo dia que uma garota bate na sua porta as seis da manhã e te sequestra. O que diria à Amy, ou o pai de Andy?

-Ah, Drizzle, é melhor que os pais dele não te vejam. Entre escondida - Chris disse do carro.

            Fiz um muxoxo esquisito, só de revolta mesmo. Como caralhos ele quer que eu entre sem ser vista? Não tem como!

            Sai da varanda, olhando para cima. A janela logo acima era do quanto dele. Mas não tem como subir lá. Fui pela direita na casa, procurando um jeito de entrar, então encontrei uma janela, baixa o suficiente para que eu entrasse. Mas estava trancada.

            Olhei para dentro da casa pela janela, que eu descobri ser da cozinha, até que vi um homem, alto e com algumas tatuagens entrando ali. Por pouco não fui pega. Me abaixei rápido o suficiente para que ele não visse nada. Ouvi alguns barulhos dentro, ele provavelmente estava tomando café ou algo assim. Logo, a janela foi aberta, e eu estremeci com a possibilidade de ser pega; mas logo depois, ouvi alguém subindo as escadas, e a cozinha se tornou silenciosa. Respirei aliviada, e olhei para o carro de Chris na calçada, o vendo se divertir com o meu desespero. Droga.

            Lentamente, olhei para cozinha novamente. Vazia. Pelo que pude ver, o provável pai dele havia apenas aberto a casa, para o Sol que ainda não aparecera, mas já iluminava um pouco por trás do céu nublado. Sendo cuidadosa e silenciosa como nunca fui em toda a minha vida, pulei a janela, entrando na casa.

            Fiquei atenta a cada pequeno som, me preparando para correr se ouvisse qualquer som. Assim que cheguei no corredor, silencioso, corri em direção a porta de Andy, e sem me importar com nada, entrei e fechei a porta, respirando profundamente, de olhos fechados, tentando fazer meu pulso voltar ao normal e minha respiração voltar para mim.

            Antes de abrir os olhos e olhar para a cama de Andy, me preparei psicologicamente para todas as situações possíveis. Poderia haver uma garota ali, e se houvesse, eu esfolaria a vadia viva; ou então, poderia encontrar um Andy nu na cama, e eu acho que não sobreviveria a isso; ou então ele poderia não estar nem ali, o que seria bem ruim. Mas de longe, a pior das opções seria simplesmente encontrar Andy ali, dormindo tranquilamente, sem qualquer anormalidade, pois se fosse assim, eu teria de acordá-lo e teria de lidar com a fera.

            Quando abri os olhos, me virei lentamente para ele. E, para a minha tristeza, ele estava exatamente como eu descrevi na última opção. Enrolado em um edredom azul marinho, os cabelos bagunçados, de costas para mim. Moon estava sentado perto dele, me encarando.

            Meu coração se acelerou, junto com minha respiração, e eu comecei a suar frio. Eu queria gritar, só de medo de me aproximar. Mas eu precisava, então, lá vamos nós. Lentamente, as pernas e mãos tremendo, me aproximei da cama de Andy. Mesmo ficando de frente para ele, eu só via um emaranhado de cabelos negros, porque ele escondia o rosto embaixo do edredom.

            E agora? Como vou acordar ele? Talvez eu deva acorda-lo e depois correr, pulando a janela. Parece uma boa ideia, se não quiser ser assassinada aqui mesmo.

-Andy - sussurrei, me cagando de medo - Andy, acorda, a gente precisa treinar - cutuquei levemente o cobertor, esperando que ele magicamente sentisse, mas ele obviamente nem notou. Ok, você geralmente não acorda uma pessoa sussurrando, certo? - Andy - falei um pouco mais alto, e ele se remexeu levemente, o que me fez encolher - Six, acorda - o cutuquei, e dessa vez ele sentiu. Agora só corre.

            Andy murmurou alguma coisa que eu não entendi, se enrolando mais no edredom. E eu simplesmente corri para o outro lado do quarto, achando que ele tinha acordado. Mas parece que não.

-Andrew, acorda - eu me aproximei, balançando ele levemente. Num movimento repentino, fui puxada, e antes eu percebesse, já estava embaixo do edredom.

-É bom que você tenha um bom motivo para me acordar a essas horas num domingo, ou então você estará bem ferrada - Andy começou o dia me colocando por baixo de si. Ele nem havia acordado direito e já estava lindo. Como é possível? Sua voz estava bem mais grave e rouca, o que me despertou completamente, e a cara de sono combinava perfeitamente com ele.

-Eu tenho um ótimo motivo, e ficaria muito grata se você pudesse, por favor, sair de cima de mim - pedi, fechando os olhos, tentando ignorar o fato de ele estar de cueca.

-Não vou sair daqui enquanto não se explicar - Biersack soltou o peso sobre mim, e eu perdi o fôlego por um segundo. Tanto pelo peso, quanto por outros detalhes. Não é todo dia que você está em baixo de um garoto assim que ele acorda, há certas coisas que dá para sentir, cara!

-Seu gordo - tentei respirar, em vão - Sai de cima de mim, eu vou morrer - pedi, fazendo drama.

-Você com certeza pesa mais do que eu, com essa sua bunda gorda - Six disse sem se mover. Sua voz estava arrastada, e ele estava claramente com muito sono.

-Eu não tenho bunda gorda - esbravejei - Meu Deus, você nem acordou e já está me perturbando.

-Você quem me acordou, agora fica na sua e obedece - mandou - Por que me acordou cedo em pleno domingo? Tá querendo morrer?

-Acredite, foi por livre e espontânea pressão - respondi, enquanto ele se apoiava nos cotovelos, colocando o rosto acima do meu e me olhando nos olhos - Chris havia decidido me treinar hoje. E você meio que decidiu se aliar a nós, então precisa aprender a lutar também.

            Andy me olhou por alguns segundos, de uma forma indecifrável. Eu acredito que ele estivesse torcendo para que tudo tivesse sido um sonho. Mas logo, ele bufou, e se largou em cima de mim de novo, me deixando sem ar.

-Ah, mas eu tô com sono - bocejou, se aconchegando, puxando o edredom dobre nós dois - E aqui tá tão confortável.

- Fale por você - eu entrava em pânico. Simplesmente não estava indo como eu havia planejado. Ele devia ter ficado bravo, e não se aconchegado em mim e voltado a dormir. Andy me abraçava, e eu pedia a todos os deuses que ainda existissem, que me salvassem, porque Six estava com o rosto em meus seios, e eu sabia que ele não estava assim atoa - Andy, se você não descer rápido, Chris vai vir aqui, e não vai ser nada bom para nenhum de nós dois.

            Sem dizer nada, Biersack se remexeu, inquieto. Sabe quando o dia está frio, e você está muito bem aconchegado na sua cama quentinha, e você definitivamente não quer sair dali, mas está sendo obrigado a ir para escola? Andy estava mais ou menos assim.

            Six subiu um pouco, cheirando meu pescoço. Começou a dar alguns beijinhos por ali, me arrepiando. Nenhum de nós dois queria sair dali, e por mais que eu estivesse morrendo de vergonha por ele estar de cueca, era muito gostoso ficar com Andy ali.

-Eu não quero levantar - Biersack fez manha, se esfregando em mim.

-Andrew, para com isso - Agora eu entrei em pânico. Aquilo estava passando para o lado erótico, e eu simplesmente não tenho o controle nessas situações.

            Andy apenas riu, e quando ele ia dizer mais alguma coisa, alguém bateu na porta. Imediatamente, Andy se ergueu em seus braços, me olhando em pânico.

-Andy, querido, já está acordado tão cedo? - Era a voz de Amy.

            Andy entrou em pânico, e sem delicadeza nenhuma, ele me empurrou para debaixo dos cobertores, fazendo com eu me encolhesse, de frente para ele. Ouvi a porta abrir, não antes de Andy arrumar o cobertor sobre nós. Eu estava com a cara em sua barriga, e isso parecia lhe arrepiar, o que eu achei fofo, mesmo que não fosse para o momento.

-Andy, você estava conversando com alguém? - Ouvi Amy perguntar.

-Ah... Não, eu só acordei agora mesmo - respondeu, rápido - Mas eu vou voltar a dormir, se não se importa.

-Claro - Amy estava desconfiada, pelo tom de voz - Eu e seu pai vamos visitar sua tia, você vai querer ir conosco?

-Não, hoje não.

-Está bem - Amy estava cada vez mais desconfiada. Tentando me esconder melhor, Andy me puxou um pouco mais contra si, o que fez com que meu busto o tocasse, por cima da peça íntima. Automaticamente e sem querer, unhei levemente sua barriga, onde minhas mãos já estavam. Andy se encolheu, e soube que Amy havia percebido - Andy, o que está acontecendo aí?

-Nada, mãe - Six respirava um pouco mais rápido - Só estou com um pouco de dor de barriga, mas logo passa.

-Está bem - Amy não pareceu muito convencida - Eu e seu pai vamos passar o dia lá, voltamos as 9h p.m.

            Eu acredito que Amy havia dado um beijo na testa de Andy, porque logo depois ela saiu. Biersack imediatamente me puxou para cima.

-Você estava querendo que ela matasse nós dois?

-Eu não fiz nada - o encarei indignada - Você quem me puxou.

            Biersack apenas me encarou por alguns segundos, antes de bufar e se levantar. No momento em que o vi de cueca, fechei meus olhos, suspirando, contando até 100. O ouvi soltar uma risadinha baixa, aquela que simplesmente significa malícia.

-E ainda tem coragem de me dizer que não é virgem - corei, sem responder - Vou tomar banho. Se minha mãe entrar aqui, é bom que ela não te veja.

            Ouvi uma porta se fechando, e constatei que ele havia ido tomar banho. Abri os olhos, me deparando com Moon me encarando. Me sentei corretamente na cama. Andy havia me jogado ali de sapato e tudo. Acariciei Moon, que ronronou em resposta. Me levantei e fui até a janela, olhando escondida entre as cortinas. Chris havia estacionado do outro lado da rua, enquanto Amy e o pai de Andy saiam. Ele estava encostado na porta do carro, olhando diretamente para mim. Apenas voltei para o quarto, não estava a fim de ficar encarando ele.

            Me sentei no chão, e Moon veio até mim. Fiquei fazendo carinho nele, que deitou em meu colo - tão folgado quanto o dono - e ficou ronronando ali. E eu estava apenas ficando bêbada com o cheiro dali. O quarto de Andy era organizado, surpreendentemente organizado. Mas o maior problema era o cheiro. Tudo tinha o perfume dele, e isso me dopava.

            Estava quase dormindo ali, quando Andy entrou. Para minha alegria, ele estava de calças, mas só de calças mesmo. Calças pretas e coladas, como sempre. Entrou secando cabelo com uma toalha preta, e eu acho que babei olhando ele.

-Você tem o péssimo habito de encarar as pessoas - comentou, me encarando e jogando a toalha sobre a cama. Ele foi procurar alguma camisa, e eu fiquei olhando a toalha, a imaginando passear por todo o seu corpo... Drizzle!

-Você também - me levantei, enquanto ele vestia uma regata preta e larga, que deixava suas costas quase que completamente a mostra - Está frio, deveria levar uma blusa - Andy me encarou erguendo uma sobrancelha - Ah, esqueci. Deixa para lá - também queria não sentir frio.

            Logo, Andy já havia calçado um par de coturnos pretos, arrumado/bagunçado seus cabelos e colocado uma touca preta, e então estávamos seguindo juntos para o carro. Chris e Andy nem mesmo se entreolharam enquanto nós entravamos no carro. Eu fiquei no banco do passageiro, e Andy se jogou no banco de trás, atrás de mim.

            Após Chris dar partida no carro, andamos por bastante tempo. O lugar, qualquer fosse ele, era bem distante dessa vez, e Chris simplesmente não falava nada. Depois de muito andar, saímos da cidade, mas ainda assim, ele seguiu. Até que em um certo ponto, a estrada se dividia: uma parte continuava reta, normal e asfaltada; e a outra era uma estrada de terra, que entrava em uma floresta de pinheiros. Chris seguiu pela estrada de terra, andando pelo bosque sombrio, até que parou em uma enorme clareira.

            Descemos do carro, e eu percebi que no final da clareira, havia uma casa, não muito grande, mas não pequena. Parecia extremamente confortável, e ao mesmo tempo sombria, graças ao clima frio e a neblina.

-Sua casa? - Olhei para Chris, que caminhava até ela, acompanhado por mim e Andy.

-Sim, apenas enquanto estou por aqui.

            Ele entrou na casa, e fez um sinal para que nós dois esperássemos aonde estávamos. Uma varanda, bem espaçosa, com chão liso de madeira. Eu e Andy estávamos um tanto sem jeito. Ele parecia não se sentir bem-vindo ali, com razão, e isso me incomodava. Para mim, ele era bem-vindo, mas quem era eu para discutir com Chris?

-Não tenho certeza se você já sabia disso, Drizzle, ou se contou para ele - Chris chegou, segurando um baralho em cada mão - mas temos vários tipos de poderes. Dos mais simples aos mais complicados. Eu e você temos facilidade para aprender qualquer coisa, graças a maldição, e Andrew também terá, porque está no sangue dele - vi Andy se remexer desconfortavelmente ao meu lado -, mas saibam que qualquer médium normal demoraria ao menos três dias para fazer o que fazemos em minutos.

Chris fez uma pequena pausa, colocando os baralhos no chão e se sentando, sinalizando para que nos sentássemos também. Nós três, de pernas cruzadas, olhávamos enquanto Chris colocava um baralho em minha frente e outro em frente a Andy, para depois voltar o olhar para nós novamente.

-Vocês vão começar com Telecinese - afirmou -. É simples, e não há muito o que explicar sobre isso, apenas que vão ter de usar a mente. Depois disso, vão aprender coisas cada vez mais difíceis, até descobrir qual a maior habilidade de vocês.

-Qual é a sua? - Andy perguntou, e Chris o olhou frio.

-A mesma de Jaime - virou o olhar para mim - Necromancia.

            O ar se tornou estranhamente pesado. Necromancia? Isso era sempre citado como “magia negra”. Existiria alguma separação entre magia branca e magia negra? E além disso, era mesma habilidade de Jaime. Aquilo que havia me visitado no banheiro era então um cadáver animado?

-Antes que você pergunte, magia não existe - Chris afirmou - Mas há sim, algo como um poder negro e um poder puro. Ofereça sua alma ao demônio por poder, e você terá algo próximo ao que você conhece como “magia negra”. Adquira habilidades de forma justa, ou nasça com ela, como eu e Jaime fizemos, e você estará no caminho certo.

            Não respondi aquilo. Não havia como responder. Era um pouco assustador, e eu preferia simplesmente ter o mínimo de fatos assustadores me assombrando.

-Vamos ao que interessa - Chris prosseguiu - Vocês dois, eu quero que façam um castelo de cartas - até aí, simples - Sem usar as mãos.

-O que?! - Eu e Andy berramos, encabulados, ao mesmo tempo.

-Vocês entenderam bem - Chris sorriu de lado - Se concentrem, imaginem as cartas se movendo da forma como querem, e terão o castelo - Enquanto ele falava, as cartas do baralho de Andy se moviam sozinhas, montando, cuidadosamente, mas de forma rápida, um grande castelo de cartas - Mas tomem cuidado - Chris começou a se levantar, se ajoelhando em frente a Andy e o olhando nos olhos - Um pequeno desvio de atenção, e todo o seu pequeno reino cai - Chris puxou uma das cartas, fazendo com que o castelo todo desmoronasse, deixando um monte de cartas bagunças em frente a um Andy espumando de raiva.

            Observamos Chris entrar dentro de sua casa e fechar a porta, nos deixando na varanda fria. Já imaginava que nós dois passaríamos um dia inteiro ali, mas não dessa forma. Encarei o baralho, pensando no quanto isso seria difícil.

-Aposto que termino antes de você - Andy disse, me encarando.

-Apostado. Qual será meu prêmio?

-Você não vai ter prêmio - ele riu - Eu vou ganhar.

-Não vai não - o examinei, procurando algo do meu interesse - Quando eu ganhar, vou ficar com sua touca.

-Pode ser - Andy olhou para cima, para a touca, como se só agora se lembrasse de que ela estava ali - Quando eu ganhar - Ele se aproximou, em tom malicioso - Vou viajar com você, aonde quer você vá.

-Opa, opa, opa - me afastei rapidamente - Eu peço uma touca e você quer viajar comigo?

-Qual o problema? Está com medo de viajar comigo?

-Não estou com medo de viajar com você - bufei.

-Então aceita a aposta.

-Não quero.

-Então está com medo.

-Não tô não.

-Tá sim.

-Não.

-Então aceita.

-Não quero!

-Então está com medo.

-Ah! Tá, eu aceito essa merda - esbravejei, o que o fez sorrir, contente.

-Boa sorte - sorriu de lado, se virando para as cartas.

            Então, como retardados, começamos a encara os baralhos. Se alguém estivesse nos assistindo, acreditaria que éramos duas estátuas olhando para os baralhos, mas na verdade, tenho certeza que nós dois estávamos tentando, com extrema convicção, mover as cartas.

            Após alguns longos minutos, pude ver uma das cartas dele dar uma tremida, começando a se mover. Andy percebeu que eu havia visto, e sorriu convencido. Eu ainda não havia feito nada. Como ele estava conseguindo?

            Voltei minha atenção para as cartas. Imaginei a carta de cima se movendo e indo para sua devida posição, mas ela nem tremeu. Tentei por muito tempo, mas aquilo estava me irritando. Logo, para minha surpresa, uma das cartas de Andy flutuava. Ele arregalou os olhos, tão surpreso quanto eu. Ela estava meio trêmula, mas logo ele a colocou, inclinada, no chão, tudo sem usar as mãos. Sua concentração era tanta que ele nem mesmo se gabara para mim, em momento nenhum havia desviado os olhos das cartas.

            Logo, uma segunda carta flutuou, também um pouco trêmula, e completou o primeiro triângulo, junto com a primeira. Elas ficaram meio trêmulas no começo, mas então, como se ele as tivesse soltado, pararam ali.

-Mas como? - Olhei para o primeiro triângulo, indignada - Como você conseguiu?

-Eu sou foda. Você não. Simples - se gabou.

-É sério - o encarei por alguns segundos - Me explica?

-Não - ele riu - Se vira.

-Por favor...

-Não.

-Andy - fiz manha, me aproximando dele - Por favor, me explica? - Fiz aquela cara de cachorrinho abandonado. Ele se encolheu um pouco, e eu percebi que estava conseguindo.

-O que você está tentando fazer para mover as cartas? - Suspirou.

-Imagino elas indo para onde eu quero.

-Não imagine. Mande elas se moverem. Deu certo comigo - Se virou para as cartas, como se não quisesse me encarar.

-Obrigada, Andy - dei um soco de leve em seu ombro, e ele apenas bufou em resposta.

            Olhei para meu baralho novamente. Realmente, mandar é o forte dele. Tentei fazer o mesmo, meio que exigindo que as cartas se movessem. Então, simplesmente, uma começou a flutuar. Logo, eu entendi como funcionava, e na mesma forma que Andy, tinha o primeiro triângulo montado. Nos entreolhamos de forma competitiva.

            A partir daí, foi uma verdadeira competição. Nós dois corríamos, e estávamos indo na mesma velocidade, mesmo que não fossemos tão rápidos quanto Chris. Estávamos quase acabando, eu estava colocando as duas últimas cartas, quanto uma mão tampou minha visão.

-Andy isso é trapaça! - Berrei, tentando tirar a mão dele da minha frente.

-Nunca discutimos as regras do jogo, querida - sorriu, tirando a mão da minha frente, revelando seu castelo, completamente montado - Será uma viajem divertida. E se te serve de consolo - tirou a touca, colocando-a em minha cabeça - pode ficar com a touca.

-Vai se foder - joguei a touca na cara dele, que apenas riu.

            Montei o resto meu castelo, balbuciando ofensas contra ele, sobre como havia sido injusto, e assim que terminei, nos levantamos para ir chamar Chris.

-Para onde vamos mesmo? - Sorriu de lado.

-Brasil. Com minha família. Visitar parentes.

-Parece tedioso - respondeu, monótono - A menos que a gente possa brincar lá - lambeu o piercing, me olhando.

-Não. Nós não podemos brincar lá - bati na porta de Chris enquanto Andy ria da minha cara vermelha. Após alguns segundos, Chris abriu a porta.

-Terminaram rápido - constatou - Só demoraram meia hora, parabéns. Mas isso é só o começo. Espero que não se cansem facilmente, porque vocês ainda têm o resto do dia.

            Chris deu um sorriso cruel, e eu soube que só estávamos começando a partir de agora. Estávamos bem fodidos.

 

 

 

 

 

“Fim do drama, esfarelando-se

Eu sou sua fonte de autodestruição

Veias que pulsam com medo, sugando a mais escura claridade

Comandando a sua construção da sua morte

Me experimente e você verá

Você só precisa de mais

Você está dedicado a

Como eu estou matando você

Venha rastejando rápido

Obedeça seu mestre

Sua vida queima rápido

Obedeça seu mestre”

Metallica


Notas Finais


Não é grande coisa, mas se preparem pra o próximo
BVBeijos :*


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...