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História Encröachment - Alaska


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Hello people
Aqui estou eu com mais um capítulo :) demorei um pouco, mas...
De qualquer forma, boa leitura <3

Capítulo 18 - Alaska


- Você tem certeza de que consegue, Andy? – Chris perguntou.

- Não. Mas acho que consigo, sim.

Estávamos eu, Andy, Keena e Chris nos fundos da minha casa. Já havíamos nos despedido de meus pais, e agora Chris nos explicaria como iríamos ao Alasca com os poderes de Andy.

- Como vocês já sabem, Andy possui a Umbracinese, controle de sombras. Um dos ramos da Umbracinese se baseia em viajar pelas sombras. Resumindo, ele pode nos levar até o Alasca num piscar de olhos.

- E isso é seguro? – Olhei de Chris para Andy e de Andy para Chris.

- Não. – Andy deu de ombros – Por mais que eu e Chris tenhamos treinado muito, quando viajo à longas distâncias é muito cansativo. Se eu não tiver energia suficiente, posso acabar chegando ao destino sem um braço ou uma perna. – Arregalei os olhos – O mesmo vale para a pessoa que estiver comigo.

- Ok. Nós vamos morrer. Mas veja pelo lado bom: Andy morre também. – Keena ironizou, passando as mãos pelos cabelos, nervosa.

- Olhem pelo Duat. – Chris mandou, e assim fizemos. Asas. Ali estavam elas, negras, enormes, brilhantes e macias. Por que eu ficava tão maravilhada com essa visão?

Keena recuou levemente com a visão delas, meio sem saber como agir. Andy também as encolheu, parecendo envergonhado.

- Todos de uma vez significa uma quantidade maior de massa. Um de cada vez, uma quantidade enorme de energia. Qual vai escolher? – Chris olhou para Andy, que passou o olhar por nós, pensativo.

- Elas são pequenas, então vamos todos de uma vez. – Andy sorriu irônico pra mim, e eu mostrei-lhe o dedo.

- Ok, se juntem aqui. – Chris nos levou para a parte do lugar aonde a luz dos postes na rua não nos alcançava. Graças ao horário, o sol nem mesmo havia nascido, e parecia estar de noite.

Fizemos um pequeno círculo, como jogadores fazem antes do jogo. Andy me segurou pela cintura, nos aproximando mais, e eu senti um pequeno e estranho choque com isso, mas não demostrei.

- Nós já estivemos lá, você sabe o que fazer. – Chris incentivou Andy, apertando seu ombro levemente.

Biersack não disse nada, apenas fechou os olhos, se concentrando. Num lado meu, estava Andy, no outro, Keena. No lado em que eu o tocava, um estranho formigamento se espalhou por meu corpo. Então, quando pesquei, tudo ficou escuro, como se estivesse cega. Repentinamente, Andy e Chris nos seguraram com mais força, e então, caímos.

O mais agonizante era estar caindo, não ter voz e estar cega. Simplesmente não entendi nada, mas então pesquei novamente, e paramos de cair. Agora estávamos em um pequeno beco escuro, todos ofegantes, principalmente Andy.

- Mas que merda foi essa? – Perguntei, quase morrendo.

- Andy conseguiu. – Chris respondeu, colocando a mão no ombro dele, e depois nos separando. Só então pude reparar que havia neve sob meus sapatos e um vento fraco, porém absurdamente frio.

A curiosidade me tomou, e eu fui até a entrada do beco, ver a “cidade”. Prospect Creek era, definitivamente, uma cidade pequena. O beco era um dos ramos de uma rua principal, e pelo que eu entendi, essa rua principal era o centro da cidade. Não havia como me perder ali, o lugar era menor que um bairro.

Alguns lampiões de modelo antigo iluminavam a rua vazia. Havia um mercado pequeno, algumas casas modestas e uma pequena praça no meio disso tudo. As ruas eram de blocos de pedra, e não asfalto, apesar do lugar ter sido caracterizado como fonte de petróleo. Não havia ninguém nas ruas, que estavam cobertas de neve. Como conseguiam viver num lugar assim?

- Vocês podem conhecer o lugar depois. – Chris chegou atrás de nós – Agora, temos que ir nos encontrar com alguém.

Sem dizer mais nada, Chris saiu caminhando em nossa frente. Fiquei alguns segundos sem saber o que fazer, mas logo o acompanhei, com Andy de um lado e Keena do outro.

- Devemos voltar pra visão normal? – Andy perguntou, parecendo incomodado por suas asas.

- O lugar para o qual estamos indo foi construído no Duat. Você precisa ficar assim. – Andy bufou.

- Você não está com nem um pouco de frio? – O olhei, me encolhendo em meu casaco.

- Também acho isso estranho, mas não. – Riu – Olha isso. – Ele colocou uma das mãos em meu rosto, que provavelmente estava pálido, com bochechas e nariz avermelhado. Sua mão estava quente. Não quente, quente. Estava na temperatura normal, o que no caso era anormal, levando em conta a circunstância atual.

- N-nossa... – Gaguejei, apreciando seu toque. Momento ruim para precisar de um abraço?

Percebendo a forma como estávamos, eu e Andy nos separamos rapidamente e continuamos à andar como se nada tivesse acontecido.

- Hey, está tudo bem? – Me aproximei de Keena, abraçando sua cintura, reparando que estava muito quieta à um tempo. Ela retribuiu.

- Sim, tudo bem. – Sorriu levemente – Só estou meio nervosa.

A encarei por alguns segundos. Seus fios roxos voavam em volta do rosto, uma das mãos em volta da minha cintura e a outra aquecida no bolso. O rosto pálido, as bochechas rosadas pelo frio. Sabia que ela estava nervosa pela presença de Andy. Sabia também que as asas dele traziam lembranças ruins, que ela queria esquecer, à tona. Isso tudo junto ao fato de que estávamos prestes à enfrentar o desconhecido, era o suficiente para colocar qualquer um para baixo.

- Nós vamos conseguir. – Beijei sua bochecha, e ela sorriu – Você é forte, eu sei que vai conseguir. E eu vou estar ao seu lado no que puder. – Keena me olhou sorrindo. Parou de caminhar e me roubou um selinho. Andy nos olhou feio.

- Você é a melhor amiga que eu poderia ter. – Sorriu – Obrigada, Drizz.

Sorri em resposta, e nós continuamos caminhando. Andamos calmamente, e saímos da cidade. Caminhamos até uma floresta de pinheiros, e na frente dela, havia uma cabana. Feita totalmente de tábuas de madeira escura, A casa tinha um ar sombrio, coberta de neve. Chris se aproximou dela. Entramos numa pequena varanda térrea, e pude notar janelas de vidro colorido, laranja e azul, e por trás, cortinas fechadas. Na porta, sem hesitar, Chris deu três batidas fortes, se mantendo imóvel em frente à ela. Essa cabana estava mesmo no Duat?

Encarei o olho mágico por alguns segundos. Me senti observada, desviei o olhar, desconfortável. Olhei para Andy e Keena, e eles estavam tão sem jeito quanto eu.

- O que você quer? – Uma voz, grave e cansada, se pronunciou.

- Você sabe muito bem, John. Não faça drama, sabia que viríamos. – Chris, com a frieza de sempre, respondeu. O tal John resmungou alguma coisa por trás da porta, e ouvi uma série de sons por trás dela.

- Mary, eles chegaram. – A porta se abriu, revelando um homem da idade do meu pai, um pouco mais novo. Era muito bonito, cabelos castanho-claros, barba por fazer e olhos cor de mel – Você está brincando, não é? – Seu olhar parou em Andy.

- Não. Não estou brincando, e ele está conosco. – Chris explicou, cansado.

- Chris, não quero insultar sua inteligência, ou suas habilidades, ou qualquer outra coisa, mas ele é um anjo caído. Um arcanjo caído. – Ele falava tudo como se Andy não estivesse ali, enquanto o olhava vez ou outra e tirava uma cruz de dentro da camisa.

- Eu sei o que ele é – suspirou – Mas ele é confiável. – Antes que John pudesse responder alguma coisa, uma mulher, com cabelos loiros e pele clara, olhos azuis acinzentados e um olhar doce apareceu na porta. Ela tinha um corpo escultural coberto por roupas quentes e claras, mas reparei que sua barriga estava um pouco grande, e suspeitei que estivesse grávida.

- Confie em Chris, John – Ela colocou a mão no ombro do homem – Sabe que pode confiar. – Sorriu docemente para Chris, que retribuiu.

O homem a encarou por alguns segundos, antes de suspirar, sem saída.

- Entrem. Essas crianças vão morrer de frio aí fora.

Meio envergonhados, nós entramos. A mulher nos conduziu para uma sala, aonde nos sentamos ao redor de uma mesa grande e redonda.

- Não podemos perder muito tempo com apresentações – Chris começou -, então esses são Andy, Drizzle e Keena. – Nos apresentou.

- Prazer, crianças – A mulher apertou a mão de cada um de nós com um sorriso. - Meu nome é Mary, e meu marido se chama John. – John resmungou alguma coisa, contrariado.

- Vocês podem nos informar sobre a situação atual? – Chris se arrumou na cadeira, chegando para frente e lançando um olhar penetrante à John e Mary.

- Já temos três assassinatos. Uma garota, encontrada num celeiro nos arredores da cidade; um garoto, que trabalhava em uma mercearia e uma outra garota, em sua própria casa. – John respondeu, tomando a frente – Todos os assassinatos tinham as mesmas características: cabeça arrancada e remendada ao corpo e a boca costurada. Não parece haver um padrão de vítimas, mas todas estavam entre os 16 e 17 anos.

- Provavelmente bruxaria. Arrancaram as cabeças para remoção das almas por meio de um objeto inserido e, talvez, tenham costurado novamente para manter uma nova. – Chris começou com suas conclusões – A boca costurada... É provável que tenham colocado almas de demônios nos cadáveres, e isso os deixa muito falantes. Demônios comuns não escutam ninguém, a menos que não possam falar. E a idade das vítimas é compreensível. Corpos e almas novas.

- Nossa. – Mary concluiu – E o que sugere?

- Acredito que tenhamos uma bruxa agindo sobre ordens diretas do inferno. Ou, apenas para bem próprio. O que fizeram com os corpos?

- Um enterro normal. – John respondeu.

- Teremos de cuidar disso também. Os corpos podem hospedar algum tipo de parasita, portanto precisamos mantê-los sob sigilo.

- Espera, como assim, introdução e remoção de almas por meio de objetos? – Keena se pronunciou.

- Não bruxaria, elas criam objetos capazes de armazenar uma alma. Se uma pessoa, por algum motivo, ingerir esse objeto, sua alma estará presa nele. – Chris explicou – O objeto pode acabar ficando em qualquer parte do corpo. Pode subir ao cérebro ou dentro dos pulmões, e a pessoa não perceberá nada. Quando retirado do corpo, é como se você tirasse a pilha de um objeto eletrônico: ele não funciona mais.

- Entendi.

- Nós temos algumas tarefas para fazer se quisermos descobrir algo, e eu conto com vocês. – Passou o olhar por todos nós – John vai verificar os caixões das vítimas. Ver as alterações, procurar objetos com bruxaria, e tudo de anormal. Eu e Keena vamos verificar as cenas dos crimes. Andy, quero que sobrevoe a cidade e seus arredores, e procure algo de anormal.

- Você já aprendeu a voar? – Não pude conter.

- Quando se é jogado de um penhasco, é bem difícil não se aprender. – Andy respondeu, olhando acusador para Chris.

- Você sobreviveu, e aprendeu à voar, então não reclame. – Chris deu de ombros, e eu o olhei incrédula também – Mas enfim, Drizzle e Mary, vocês ficam.

- O que? Por que? – Agora sim eu estava incrédula – Eu também quero ajudar!

- Por enquanto, você não pode ajudar. – Respondeu, sério – Seu dom é avançado demais, e você não conseguiria aprender tudo em uma semana. Não está pronta para lutar.

- Eu já consigo entrar nos sonhos da Keena mesmo com nós duas acordadas! – Protestei.

- Isso não é o suficiente. Keena não é um inimigo. É além disso, vocês duas não vão ficar sem fazer nada aqui – Olhou de Mary para mim, e vice-versa – Lembra que Eros lhe ensinou muita coisa quando criança, e que as memórias estão adormecidas em sua mente?

- Sim...

- O dom de Mary é a manipulação de memórias. Ela vai entrar em sua mente, e despertar essas memórias. Em outras palavras, você irá relembrar tudo o que tinha aprendido, e então poderá nos ajudar.

- Hm... – Não era uma má ideia. Mas haviam algumas partes incômodas na história – Mas Chris... Mary vai ver... Todas as minhas memórias? – Olhei para o chão, me lembrando de quanta merda eu já havia feito, e inconsciente, meus olhos se cruzaram com os de Andy.

- Não tudo. – Mary explicou – Já irei direto para a sua infância. É só verei as memórias num rápido vislumbre, para sua privacidade. – Mary sorriu. Gostei dela.

- Certo... E quanto tempo isso levará?

- Tudo depende de você. – Chris disse – Você vai ter que entrar em sua própria mente, acordar lá, e encontrar o lugar onde as memórias estão armazenadas. Eros já te levou lá.

- Sim... Mas não sei se consigo.

- Você tem o dia todo. Mas não vai sair sem essas memórias despertadas. – Chris se levantou, indo até a saída, sendo seguido pelos outros – Até mais.

Andy me deu um leve olhar de relance, meio que entendendo porque eu estava com cara de bunda, e Keena fez um leve aceno de mão. John nem olhou para trás. Queria ver Andy voar, mas senti que deveria permanecer na mesa.

- Você quer se deitar, para facilitar? – Mary perguntou, gentil.

- Não precisa. Podemos ficar aqui. – Respondi, tentando, de forma falha, soar gentil também.

- Certo. Bem, te explicando como funciona, você basicamente terá que encontrar sua sala de memórias. Eu vou estar te observando o tempo inteiro, e quando você entrar lá, basta me dar a permissão para entrar também. Eu poderia entrar como intrusa, mas isso poderia bagunçar sua cabeça, então vou esperar seu chamado.

- Certo. – Suspirei. Mary me olhou, num incentivo para que eu tentasse.

Isso já não era mais difícil. A parte de entrar era fácil. Treinei o suficiente com Keena para que isso se tornasse quase automático. Fechei os olhos, limpando a mente e anulando os ruídos externos. Olhei para mim mesma, esquecendo tudo o que me prendia aqui. E depois de alguns segundos, quando senti que deveria, abri os olhos. Estava no mesmo lugar, com Mary paralisada em minha frente. Ela tinha um olhar vazio, e não possuía expressão, então eu soube que havia entrando. Me levantei. Agora, a parte difícil seria descobrir como chegar à sala de memórias. Andei pela casa, meio sem rumo. O silêncio era absurdo. Era um silêncio estranho, quase que repentino. Quase como se uma pessoa prestes a gritar tivesse sido interrompida, e o silêncio que me prendia aqui fossem os segundos após isso. O ar estava parado, mas estava frio. Na verdade, tudo estava parado.

Andei por um pequeno corredor. Minha intuição apontou uma porta à esquerda, e eu a abri, lentamente. No primeiro momento, o lugar parecia vazio e escuro, mas então notei uma movimentação. Lentamente, uma criatura alta, magra e negra se virou. Era enorme, e tinha olhos brancos e inexpressivos. Reprimi o grito quando ela começou a vir em minha direção. Fechei a porta imediatamente e sai correndo. Quando virei à direita no corredor, o lugar mudou. Do nada, eu simplesmente estava na tenda de um circo. Um circo comum, não aquele em que Chris me levara. A tenda era vermelha e branca, enorme. As cadeiras rodeavam o palco em meia lua, e o palco estava escuro.

- Hey, achei que não viria, Sra. Young – Um garoto, com cabelos pretos e olhos verdes apareceu. Era um pouco mais alto do que eu e tinha uma voz suave – Ela já vai entrar no palco, sente-se aqui. – Apontou para uma cadeira próxima à mim. Eu não sabia exatamente o que responder, mas como sabia que não era real, não estava confusa – Eu tenho que me arrumar, já vou indo.

O garoto saiu, passando por trás das cadeiras e indo para o backstage. Eu sabia que não deveria ficar ali, e que tinha que encontrar a sala de memórias, mas a curiosidade me tomou. A maioria das coisas loucas em minha cabeça tinha um certo fundamento. Eu sonhava com uma família, onde Logan estava vivo, ou Andy me amando em um futuro próximo, mas um circo? Não imaginava isso em meu futuro.

Repentinamente, o palco que antes estava escuro foi iluminado por luzes roxas. Os murmúrios do público cessaram, e uma garota se revelou no palco. Usava um collant negro com detalhes roxos, uma saia de renda preta e roxa, meia-calça arrastão preta e saltos enormes e negros. Possuía cabelos pretos e ondulados, um corpo escultural e um rosto magnífico, com olhos azuis. Ela estava posicionada magnificamente no centro do palco, parecia a apresentadora, e quando ela ia falar alguma coisa, me senti cair. O chão sob meus pés se abriu em um buraco negro, e me puxou para dentro.

Caí pelo buraco com vários objetos me rodeando, até o piso xadrez preto e amarelo envelhecido. A queda doeu, mas não liguei. Fiquei curiosa sobre a garota, mas sabia que era um sonho. Aquilo não fazia parte da minha vida, talvez eu tivesse entrado na mente de alguém, por acidente. Não era impossível, segundo Jaime.

Mas decidi me focar na missão. Lembrei de Eros me levando até a sala. Na Oneirocinese, quando você deseja uma coisa em um sonho, simplesmente tem que mandar essa coisa acontecer. Estendi a mão, fechei os olhos, e mandei a entrada aparecer. Senti algo frio em minha mão, e quando abri os olhos, ali estava a porta. Sorri.

Virei a maçaneta, sem entrar imprudentemente dessa vez. A mesma sala branca. Pulei lá dentro. A porta imediatamente sumiu.

- Sabia que você conseguiria. – Mary surgiu ao meu lado, e eu milagrosamente não me assustei.

- Meus sonhos não fazem sentido. – Constatei, meio sem motivo. Ela sorriu.

- A partir de agora será fácil. Pode esperar aqui, vou até o final, e limparei o quadro de suas memórias com Eros.

Dito isso, ela saiu. Fiquei parada, observando os quadros recentes. Por que os olhos azuis tinham de estar em todos? Me vi observando à nós dois na picape de Keena, a visão como de uma terceira pessoa. Notei que, entre as leves caretas que ele fazia enquanto eu o provocava, ele as vezes ficava quieto, apenas me olhando um pouco. As vezes se aproximando e sentindo meu cheiro. Em certo momento, ele tirou uma das mãos de minha cintura, e estava prestes a brincar com uma mecha de meu cabelo, mas parou no meio do caminho, hesitando. Logo após, Keena freou bruscamente, e ele arregalou os olhos, me puxando com força, meio assustado. Sorri com isso.

Fui para o outro lado, a parede em frente à que eu estava, e vi as memórias de algum dia qualquer, em que eu dormia na sala. Andy estava acordado ao meu lado, e eu com a cabeça baixa, escondida em meu moletom. Era uma memória recente, suponho. Biersack me observava em silêncio. Disfarçadamente, levou uma mão até meu cabelo, fazendo carinho com um sorriso bobo. Meus olhos marejaram um pouco com a ideia de que ele me amava borbulhando em meus pensamentos enquanto um sorriso alegre se espalhava por meus lábios.

Andei até outra memória. Me vi em minha primeira vez. Eu de olhos fechados, ofegante, Andy sobre mim, se movendo e me observando. Corei, me distanciando um pouco. Me vi agora nos braços dele, recuperando o fôlego. Eu te amo. Foi o momento em que deixei escapar. Meu coração doeu ao ver minha boca formar essas palavras. Logo após, eu arregalei os olhos e os fechei com força. Andy me encarou, assustado. Antes que eu abrisse os olhos ele sorriu. Um sorriso enorme e lindo. Mas ele o disfarçou rapidamente, me perguntando algo enquanto eu me levantava. Me distanciei desse quadro também. Fui até o centro da sala, com um sorriso bobo nos lábios. Andy já deu tantos sinais de que gostava de mim... Mas os disfarçou tão bem. Meu coração deu pulinhos de alegria com a pequena possibilidade de eu não ter estragado tudo.

- Drizzle! – Ouvi Mary. Corri até o fim da sala. Ela estava parada em frente ao quadro em que Eros me levara. Este agora estava descoberto, revelando uma garotinha, no caso eu, conversando com Eros, que a olhava pacientemente – Bem, eu consegui liberar as memórias. Mas você precisa recebê-las agora, e pode ficar um pouco tonta ao ganhar tudo de uma vez. Eu vou lá para fora, e ficarei de olho em você para que não caia da cadeira ou algo assim. Quando eu sair, você entra no quadro.

Assenti, meio encabulada e assustada com a ideia de entrar em um quadro. Quando pisquei, Mary sumiu. Ok, isso foi estranho. Olhei para o quadro, suspirando. Lá vamos nós.

Me aproximei dele. Era gigante, maior do que eu, e ia até o chão, então foi simples entrar. Atravessei ele como se fosse apenas tinta. Quando finalmente entrei lá, me encontrei no campo onde Eros me ensinou tudo, mas a grama estava amarelada, o céu nublado e a à casa em pedaços, como Eros me mostrou da última vez. Fiquei em dúvida sobre o que fazer, até que senti uma forte pontada na parte de trás da minha cabeça, logo acima da nuca, como ser uma agulha entrasse ali.

Me ajoelhei no chão, colocando as mãos no local numa tentativa falha de amenizar a dor. Fechei os olhos com força e serrei os dentes. Rápidos vislumbres passavam por minha mente, e era como se várias pancadas seguidas me atingissem. Fui completamente cegada por um clarão quando abri os olhos, e tudo ficou escuro.

- Drizzle, acorda! – Meus olhos abriram rapidamente. Pisquei algumas vezes, me acostumamos com a luz. – Funcionou?

Não respondi. Passei as mãos pelo rosto, tentando processar as coisas direito. Era como se memórias novas tivessem sido implantadas. Eu sabia tantas coisas... Era apenas o básico, mas eu sabia tudo.

Memórias de Eros me ensinando várias coisas, agindo como um irmão mais velho invadiram minha mente. Ele me ensinou a ver melhor. A ver os espíritos que se escondem, mesmo no Duat. Á afastá-los. Me ensinou a iluminar a escuridão mais profunda. Me ensinou incontáveis coisas.

- Sim, funcionou. – Finalmente respondi, arrumando meus cabelos, sentindo que as memórias haviam parado de voltar. Eu sentia uma estranha saudade de Eros. Saudade de uma velha amizade – Podemos ver Chris agora?

- Não tenho certeza... Você não se sente cansada? – Perguntou, preocupada.

- Não, eu estou bem. Podemos ir?

- Ok. – Suspirou – Mas não se esforce muito.

Saímos da casa, e eu me sentia incrível. Segundo o que eu havia aprendido com Eros quando criança, eu já podia aprender habilidades de nível médio. Era uma médium intermediária.

Olhei em volta, respirando fundo, lembrando o que Eros havia me ensinado. Foquei meu olhar em um ponto específico, usando a visão periférica. Haviam espíritos ali. Escondidos, tentando encontrar uma brecha em mim, uma chance de me possuir. Não era impossível, mas agora que sou impura, é bem mais difícil.

Decidi afastá-los. Respirei fundo e abri os braços e as mãos. Labaredas de fogo branco saíram de mim, queimando os espíritos impuros que estavam perto. Sorri com isso. Mary me olhou assustada.

- Não está cansada? – Perguntou. Neguei com a cabeça. – Nem depois de fazer isso? – Apontou para mim. Neguei novamente – Você e Chris são, sem dúvidas, a dupla mais monstruosa que já conheci.

- Eu deveria estar cansada?

- Deveria estar querendo dormir nesse momento.

- Isso eu quero o tempo todo. – Ri.

- Mas deveria estar capotando agora. – Sorriu – Vem, vamos encontrar Chris.

Entramos em um carro no fundo da casa, e Mary imediatamente começou a dirigir. Seguimos em silêncio, estava tudo tranquilo, até que reparei em algo na beira da estrada a qual seguíamos.

- Mary, o que é aquilo? – Apontei, assustada, para alguém simplesmente jogado no acostamento. Era John.

- Merda. – Praguejou, freando o carro bruscamente no acostamento. Descemos correndo.

- John? John, o que houve? JOHN? – Mary parecia estar em pânico enquanto segurava John, levantando sua cabeça. Ele tinha um ferimento sério na barriga, estava pálido, mas parecia acordado.

- Mary... Não deveria ter aberto o caixão. – Gemeu, se esforçando para falar. – Andy... O garoto... – Ele parecia prestes à nos informar sobre alguma coisa, mas perdeu a consciência. O que aconteceu com Andy?

- Droga, John. – Mary murmurou, os olhos marejados – Me ajuda a levar ele para o carro, Drizzle.

A ajudei, e o colocamos no banco de trás, deitado.

- Mary, eu vou procurar Andy. Pode ir sem mim. – Mary hesitou por alguns instantes, mas percebeu que não estava com tempo para discutir, então apenas entrou no carro e se foi.

Respirei fundo. Tirei a bússola de prata presa na corrente de dentro da minha blusa, e imediatamente pensei em Andy. A seta se virou, apontando para minha frente. Sem hesitar, corri nessa direção, atravessando a rua rapidamente, escorregando um pouco no asfalto congelado.

Estava nevando, e muito. Tudo o que eu via era uma imensidão branca, mas minha mente estava presa nos olhos azuis. Eu seguia a bússola, cegamente, pois era o único meio. Não haviam pegadas, nem mais nada que me indicasse um lugar. O pânico tomava conta de mim enquanto eu me via cercada de neve por todos os lados. Corri, corri muito, até que vi que não estava indo à lugar algum.

Me deixei cair, os joelhos batendo dolorosamente na neve. Andy, Andy, merda, cadê você? Olhei a bússola novamente. Minhas mãos estavam pálidas, frias e congeladas, então tive um pouco de trabalho ao manuseá-la. Ela continuava apontando para frente. Senti as lágrimas invadirem meus olhos, mas respirei fundo.

Me levantei. Tentei me concentrar, me lembrar de algum ensinamento de Eros útil para o momento.

Uma teoria meio louca varreu minha mente. E se o lugar não fosse no Duat? Poderia ser um meio de enganar médiuns como eu. Eros disse que se você construir um tipo específico de barreira, feita no Duat, qualquer médium que olhasse pelo segundo plano não veria nada ali. Mas se você usasse a visão normal, poderia ver o lugar. Não tinha certeza se isso era possível, então rapidamente anulei a ideia ridícula.

Olhei em volta. Nada além de neve. Mas ainda assim, vou acreditar na bússola. Corri na direção indicada, olhando fixamente para frente.

Um ponto negro começou a surgir em meio a imensidão branca. Acelerei. A mochila pesava em minhas costas, mas eu não iria parar. O ponto negro logo se revelou uma cabana. Uma cabana caindo aos pedaços. Parei em frente à ela. Não haviam espíritos nem barreiras ali. Respirei fundo, batendo na porta. Ninguém atendeu. A abri. Ela rangeu com o movimento, e eu logo entrei. Caminhei por todo o lugar, feito de madeira escura e móveis antigos. A cada passo meu, a madeira rangia sob meus pés. Minha respiração estava tão descompassada quanto meu coração, e eu tremia de frio, medo e pavor, sem saber exatamente como agir.

Escutei um barulho. Travei imediatamente. Paralisei aonde eu estava, olhando para todos os lados, menos para trás, com medo do que eu poderia encontrar.

- Q-quem é você? – Uma voz perguntou atrás de mim. Me virei imediatamente. Uma garota, de cerca de 15 anos, ruiva, com olhos verdes estava encolhida, no fim do corredor no qual eu me encontrava.

- Quem é você? – Perguntei, nervosa, dando ênfase no “você”. Ela me olhava, assustada, sem responder. Usava roupas rasgadas, trapos, e parecia malcuidada. – Não sou uma ameaça, se é isso que pensa. – Falei, vendo que ela não responderia.

- V-você não vai me machucar? – Perguntou, se aproximando.

- Não. – Respondi, ainda nervosa.

- Mas eu vou te machucar. – Um sorriso demoníaco tomou conta de seus lábios. Estremeci, sem saber ao certo que atitude tomar. Quando ela avançou para cima de mim, coloquei meu braço na frente e fechei os olhos, sem saber o que fazer.

Antes que eu fosse atingida, um grito agudo escapou dos lábios dela. Abri os olhos, e para minha surpresa, ali estava Andy. Ele a puxou pelos cabelos antes que me atacasse, e a jogou do outro lado do cômodo.

- Corre! – Berrou, pegando minha mão e indo o mais rápido que podia. Saímos da cabana às pressas, e Andy fechou a porta rapidamente.

Ouvi um estrondo. A porta fora arrombada, e agora estava no chão. As roupas da garota, antes como trapos, se transformavam em um suntuoso vestido negro e longo. Suas pernas, antes belas e esguias, se tornavam, de alguma forma, pernas de aranha. Com um movimento de mão, um chapéu surgiu entre seus dedos, e ela o colocou, cobrindo o rosto. Quando o levantou novamente, sua boca havia desaparecido. No momento em que vi isso, meu coração parou, e acabei tropeçando em meus pés.

- Merda, Drizzle! – Andy praguejou, me levantando. Antes que eu ficasse de pé, a coisa com pernas de aranha começou a se mover em nossa direção de forma extremamente rápida.

- Andy, não vamos conseguir. – Entrei em pânico quando a vi à dos metros de distância.

- Droga – Murmurou. Repentinamente, meus pés sairam do chão. Andy me segurou na posição “noiva” firmemente.

- O que está fazendo? – Me assustei.

- Só segure firme. – Mandou, abrindo as asas. Entendi.

- NÃO! – Ouvi o monstro gritar. Ela tentou agarrar meu pescoço, mas acabou segurando minha corrente. Tentei soltar, mas as asas de Andy desceram num movimento rápido e meu corpo foi puxado para cima. A corrente se soltou, e a ruiva ficou com ela, se distanciando cada vez mais rápido.

- Ai meu Deus. – Murmurei, a voz meio esganiçada, escondendo a cabeça no ombro de Andy e o abraçando, o fazendo soltar um pequeno risinho. Eu sabia que estávamos voando rapidamente, pelo vento frio, mas estava com medo de olhar. Não por medo de altura, mas por medo de me separar de Andy e acabar caindo.

Eu sentia os músculos das costas dele se movimentando no ritmo das asas, e era fascinante. Seu calor me acalmava e me fazia esquecer do que acabara de acontecer, mas eu ainda me sentia um lixo por ter perdido a corrente e a bússola de minha mãe.

- Drizzle, eu não consigo mais voar. – Senti que estávamos descendo, e os pés dele batendo suavemente no chão, e só então abri os olhos e me soltei. Estávamos em frente à um rio quase congelado, numa pequena fenda aberta na terra. O chão era de pedra, e haviam pinheiros por todos os lados. A neve cobria quase totalmente o lugar, e era uma cena até bonita.

Andy parecia extremamente cansado, e as asas não estavam tão brilhantes, mas opacas e amassadas.

- Eu sou tão gorda assim? – Arregalei os olhos.

- Você não tem nem 20 quilos, retardada. – Se sentou, encostando-se na “parede” de pedra da fenda. Bufei – Foram eles quem fizeram isso comigo.

- Eles quem?

Andy começou a me explicar o que havia acontecido. Ele estava rondando os arredores da cidade, procurando por algo incomum, até que encontrou John. O mesmo estava na entrada de um cemitério, e dois cadáveres o atacavam. Não eram cadáveres comuns, segundo Biersack. Eram os cadáveres dos assassinados, os três com a cabeça remendada ao corpo e a à boca costurada. Tinham olhos negros, a pele pálida e fria como a de mortos, mas pareciam estar sendo controlados por cordas, como manequins. Tinham movimentos lentos, mas desapareciam e apareciam novamente o tempo todo, e era difícil derrotar eles. Um deles acertara John na barriga, e depois imobilizaram Andy. A mesma ruiva-aranha apareceu e o levou para a cabana. Suas asas já estavam acabadas graças à briga contra os mortos, e ele não conseguiu fugir graças à isso.

- Acredito que só não me tornei mais um defunto-marionete graças a você. – Explicou – Quando você chegou, ela saiu de perto de mim e foi ver o que estava acontecendo. Então, tive a chance. Usei as últimas energias que tinha para voar, mas estou cansado e dolorido, não consigo mais.

- E para onde os mortos foram?

- Desapareceram assim que a ruiva me levou para a cabana. – Olhei em volta.

- Aonde estamos?

- No caminho para uma outra cabana. John disse que deveríamos encontrar uma velhinha ao norte e me entregou essa bússola.

Olhei a bússola. Era apenas uma bússola comum. Andy a guardou no bolso. Senti a culpa me consumir novamente. Deveria ter tomado mais cuidado com o presente de minha mãe. Repentinamente, as asas de Andy viraram fumaça de novo. Segui o exemplo, e voltei minha visão para o plano normal.

- O que foi? – Demorei alguns segundos para responder.

- Nada. – Menti – Como nós vamos chegar no lugar de você não pode voar?

- Hm... Vamos ter que andar. Acho que estamos muito longe de Prospect Creek pra voltar atrás. Devemos continuar.

- Acho que está certo. – Respirei fundo – Nós iremos dormir aqui? – Perguntei ao olhar o relógio em meu celular. Sem chances de ligar para Chris, aqui não tem sinal algum – Já são 05:48 p.m.

- Acho que vamos. – Olhou em volta – Tem um tipo de caverna ali. – Apontou para o outro lado do rio – Se a gente fizer uma fogueira, você não morre de frio. E além disso, Chris pediu para mim trazer um cobertor. – Apontou para a mochila, pendurada em apenas um de seus ombros.

- E como vamos atravessar o rio? Ele está congelando, não podemos nadar.

- Não vai ter outro jeito. – Apertou os lábios – Você tem roupas limpas aí, certo?

- Sim.

- Então não vai morrer. Vamos.

Sem demora, Andy foi para a beira do lago, analisando a extensão. Deveria ter uns 10 metros de largura, e eu não podia ver aonde começava ou terminava. Ao menos, não tinha nenhuma correnteza, mas estava muito frio, com gelo começando a se formar.

- Eu vou ter uma hipotermia se tentar atravessar isso. – Suspirei.

- Eu não consigo voar, e a gente vai ter de ir por esse lado de qualquer jeito. Se fizermos fogo, e te aquecermos rápido, você vai, no máximo, ficar com um resfriado.

- Está bem – Suspirei.

- Ok. Preste atenção: quando chegarmos ao outro lado, eu vou te levar para a caverna imediatamente, para você não tomar vento. Você vai se trocar enquanto eu começo uma fogueira com alguns galhos secos de pinheiros por ali. Entendido?

- Sim. – Esfreguei as mãos, com medo do que viria a seguir.

- Tire a sua blusa. – Mandou, tirando minha mochila de meus ombros – Ela é muito pesada, e precisamos ser rápidos.

Obedeci, a tirando rapidamente. Andy abriu minha mochila e nós a guardamos dentro dela, dentro de uma sacola junto com as outras roupas, e ele a colocou em um dos ombros.

- Se eu conseguisse viajar pelas sombras, juro que o faria. – Informou, indo até a beirada do rio e segurando minha mão – Mas estou acabado. Acha que consegue?

- Não sei. – Suspirei – Mas só tentando.

Ele assentiu. Me lançou um olhar que dizia claramente “se prepare”. Fez uma contagem regressiva silenciosa, e pulamos. A água entrou em contato com minha pele quase como uma lâmina cortante, e eu achei que morreria ali. Meus músculos não se mexiam corretamente, e eu só estava na superfície porque Andy me segurava.

- Vamos, Drizz! – Pediu, praticamente me carregando pelo rio.

Só então consegui despertar. Comecei a me mover, nadando, e mesmo que não fosse de grande ajuda, já era algo. Estávamos passando a metade do rio, e Andy continuava dizendo que eu conseguiria, mas não dava. Senti meus músculos cada vez mais rígidos, estava cada vez mais difícil respirar. Estava ficando na temperatura da água.

- Respira, Drizzle! – Andy pediu, nadando mais rápido. Eu não conseguia falar, muito menos respirar.

Senti meu corpo sendo erguido. Chegamos à costa. Andy me colocou sobre a neve e saiu da água logo depois, me segurando em seus braços. Ele correu para a caverna, e delicadamente me colocou no chão. Ali era consideravelmente menos frio do que do lado de fora, e um pouco mais escuro também. O chão era de pedra, e a neve não nos alcançava na parte aonde estávamos.

- Drizzle, vamos! – Pediu, em pânico. Meus sentidos começaram a se bagunçar, e eu senti minha consciência começando a ir embora.

Desesperado, Andy começou a tirar minhas roupas. Não reclamei, sabia que ele estava me ajudando. Após me deixar de calcinha e sutiã, ele tirou minha mochila do ombro. Tirou uma sacola plástica de lá, aonde havia deixado minhas roupas. Andy rapidamente me vestiu com uma calça preta, uma blusa branca de mangas compridas e um moletom preto. Colocou meias em meus pés, e me olhou, meio apavorado. Eu sentia minha respiração voltando ao normal e minha pele formigando, mas não sabia se isso era um bom sinal.

- Drizzle? – Chamou, me levantando em seus braços. Ele estava molhado, mas quem se importa? Seu corpo estava morno, e aquilo me aqueceu mais do que tudo. Ainda estava com muito frio, mas posso dizer que estava melhorando. Me aconcheguei em meu peito, como resposta – Você me assustou.

Andy me abraçou com força, e eu sorri levemente. Já estava recuperando o movimento, estão levei as mãos para o rosto e cobri meu nariz, soltando ar quente ali, numa tentativa quase inútil de esquentá-lo. Andy riu.

- Espera. – Me colocou delicadamente no chão.

Biersack caminhou até sua mochila, tirando de lá um cobertor, não muito grande, de solteiro, mas confortável, de dentro de uma sacola. Ele tirava mais algumas coisas enquanto eu tentava me mexer, ficando de pé.

- Está tudo bem? – Me olhou, preocupado. Fiz que sim. Ele assentiu, passando o cobertor por cima de meus ombros – Espere aqui. Vou buscar as coisas para a fogueira.

- Está bem. – Ele beijou minha testa, e milhões de borboletas voaram por meu estômago. O olhei enquanto se distanciava. Garoto perfeito.

Me sentei novamente. Nem sei porque tinha levantado. Me envolvi no cobertor, tremendo de frio. Sorri ao perceber que tinha o seu cheiro. Fiquei ali um pouco, tossi algumas vezes, revelando o inicio de uma gripe. Meu celular estava dentro da sacola, e não se molhou. Segundo ele, eram 06:19 p.m., e já estava escurecendo. Andy surgiu na entrada da caverna, carregando um monte de galhos secos. Ele armou uma pequena fogueira ali, cercada de pedras, e logo parou por alguns segundos, pensativo.

- Eu esqueci meu isqueiro, e eu não sei nada de pirotecnia. Você sabe?

- Sim. – Sem sair do meu casulo, me inclinei, levando as mãos sobre a fogueira. Eros havia me ensinado.

Eu estava com frio, o que dificultava as coisas. Fiz um grande esforço, mas apenas uma pequena chama surgiu, não o suficiente.

- Não dá, eu estou com muito frio. – Falei, brava comigo mesma.

- Isso não é problema. – Biersack se sentou ao meu lado, me abraçando de lado sob as cobertas. Seu calor me invadiu e seu cheiro me dominou, e eu me senti mais quente, por vários motivos.

- Hm... – Resmunguei, meio com vergonha. Andy me apertou mais. Ergui minhas mãos sobre a fogueira, e dessa vez o fogo surgiu sem problemas, iluminando a caverna e me aquecendo.

- Isso foi incrível. – Andrew sorriu, depositando um beijo em minha bochecha. Não sei de onde esse Andy fofo surgiu, mas estou adorando.

- Obrigada. – O olhei, me perdendo em seus olhos. Estava sentindo saudade disso. De simplesmente olhar em seus olhos e esquecer que o resto do mundo existia. Sem querer, meu olhar desceu para seus lábios, me prendendo ali. Aqueles lábios quentes e rosados, viciantes. Andy também olhava para minha boca, e eu já não aguentava mais. O puxei pela nuca, e iniciei um beijo um tanto possessivo. Eu simplesmente não podia dizer com palavras que eu o queria, mas aquele beijo gritava: “você é meu!”. Ele logo pediu passagem, e eu nem pensei em negar, deixando sua língua explorar minha boca. Eu puxava seus fios, querendo me agarrar à ele e nunca mais soltar. O ar já me faltava, mas eu não queria parar.

Quando não aguentava mais, nós nos separamos, ofegantes. Nos mantemos colados, sem quebrar o contato visual.

- Senti saudade disso. – Biersack mordeu meu lábio inferior. Passei as mãos por seu peito, sentindo sua respiração já normalizada, e a levei até seu rosto, nos separando um pouco. Acariciei sua bochecha. Ele fechou os olhos. Como podia ser tão lindo?

- Você é um idiota. – Falei, meio sem motivo, me aconchegado em seu peito.

- Sou seu idiota. – Ele me acomodou melhor, nos deitando e me cobrindo melhor com a coberta. Ficamos assim, apenas aproveitando a presença um do outro. – O que você está fazendo comigo, garota?

- O que você fez comigo, garoto? – Me apertei um pouco mais à ele, sentindo o cheiro maravilhoso que só ele tinha. Suas roupas já estava secas, para minha surpresa, mas nem me dei ao trabalho de perguntar.

Sem perceber, acabei caindo no sono.


“E acho que eu simplesmente amo as pessoas demais, tanto que chego a me sentir mal.”

Kurt Cobain


Notas Finais


Eai? Tá uma merda de hipopótamo ou só uma merda?


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