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História Encröachment - When Loneliness And Darkness Sit Down To Talk


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Olá pessoas! Sobre o capítulo, eu sei que demorei pra caralho papa postar isso aqui, mas as ideias simplesmente não fluíam. Eu tinha todo um roteiro preparado, com tudo o que aconteceria na história, mas eu não conseguia segui-lo. Então estressei e escrevi meio que espontaneamente mesmo, então, desculpe se estiver uma merda.
Acho que o capítulo está bem fofo, e ideal pra quem estava querendo mais Andy (eu sei que não estava tendo Andy suficiente - nunca será o suficiente lol -, mas eu vou fazer esse lindo ficar na cabeça da Drizz 24 horas por dia muahuahuahua
Enfim, boa leitura <3

Capítulo 7 - When Loneliness And Darkness Sit Down To Talk


- The Pretty Reckless – quando ele disse isso, um estranho formigamento surgiu em meu peito, uma sensação estranha de algo aconteceria, não necessariamente ruim ou bom, apenas que aconteceria.

- Legal – disse apenas, continuando nossa caminhada até a quadra, disfarçando que a ansiedade me consumia por dentro.

            Quando chegamos lá, o barulho forte da chuva foi bruscamente reduzido, e o lugar era bem mais silencioso. Os meninos já estavam lá, CC arrumando a bateria, Jinxx dedilhando sua guitarra, e Ashley e Jake conversando com quatro caras que eu não conhecia, do outro lado da quadra, arrumando seus próprios instrumentos. Todos estavam vestidos de preto; um com cachos negros, outro com uma barba grande e cachos castanhos, e outro com uma barba esquisita, e o último, loiro, com alargadores nas duas orelhas.

- Vocês estavam transando ou oque? – Jake chegou, com toda a sua delicadeza

- Oi também, seu viado - respondi

- Eai, Drizzle? - Sorriu divertido, me dando um abraço de lado - Vamos ensaiar ou não? - Perguntou para Andy.

- Que merda de pergunta. - Caminhou até os caras na arquibancada. E eu fiquei ali, sem saber o que fazer - Vai ficar parada aí? - Bufei e o segui.

- Olá Six - Um dos caras respondeu, o de cachos pretos, ficando de pé - Quem é a garota? - Me olhou

- Drizzle - apertamos as mãos.

- Olá, Drizzle. Sou Ben. Esses são Mark, Jamie e Travis - apontou para o de barba esquisita, o cabeludo e o loiro, respectivamente.

- Olá - lancei um sorriso tímido para todos, que retribuíram da mesma forma, com leves acenos.

            Eles ficaram conversando ali, como velhos amigos, Andy não parecendo ligar para a própria banda, absorto na conversa sobre um concurso o qual não me importava nem um pouco. Então apenas saí de fininho indo ficar com os meninos.

- Olá, bichas loucas - cheguei chegando. Aprendi com o Jake. Eles responderam com uma gritaria de cumprimentos descompassados, desafinados e desiguais.

- Nossa - Christian colocou a mão sobre o peito, fingindo estar ofendido - Por que essa agressividade, amiga? - Fez voz de gay.

- Não comprove minhas palavras - sorri - Mas então, que porra de concurso é esse?

- Andy não te contou nada? – Jinxx ergueu as sobrancelhas, e senti vontade de apertar suas bochechas, mas apenas fiz que não com a cabeça - Andy não toma vergonha na cara.

- É um concurso de talentos aqui da escola mesmo. - Ashley se adiantou - O diretor ainda não tornou o assunto oficial, mas, como ele sabe que temos futuro, e acha que vamos dar algum crédito à escola quando dominarmos o mundo - disse em tom pomposo - ele nos avisou antecipadamente, para nos prepararmos.

- Interessante - ergui as sobrancelhas - e qual é o prêmio? - Fui direto ao assunto.

- Bem, teremos duas bandas vencedoras, escolhidas por um produtor que assistira aos shows, e as duas poderão sair numa turnê pelo país. É claro, que ele poderia acabar não escolhendo nenhuma banda, se nós não estivéssemos aqui.

- Vocês nem são convencidos - todos deram de ombros - Bem, boa sorte então.

- Nós vamos bem - Jake sorriu - Andy pode ser arrogante e convencido as vezes, mas o filho da mãe tem talento.

- Verdade - Jinxx deu de ombros, um tanto pensativo - Mas a The Pretty Reckless é um problema.

- Por que? - Franzi o cenho

- Bem... todos na banda são ótimos músicos, exceto... o vocalista. - Christian falou baixo - Nós só fazemos covers, por enquanto, mas ainda assim, a voz dele é desafinada de mais, e ele é convencido. Muito convencido. Mais do que o Andy - arregalei os olhos. Isso era muito convencimento - Andy já tentou convencer Ben a tentar procurar alguém melhor, mas não encontramos ninguém. E com aquela merda de voz do Travis, não vamos vencer esse concurso juntos. E sair em turnê com completos desconhecidos pode não ser muito bom. Pelo menos em nossa primeira, queríamos estar entre amigos.

            Encarei CC, pensativa. CC me encarou de volta, com cara de retardado. Ficamos nos encarando, eu, girando minhas engrenagens, e CC, só encarando mesmo.

- Por que você tá me olhando? - Ele começou a rir, sem motivo.

- Vem cá seus putos - fiz aquela rodinha que as pessoas costumam fazer antes de alguma apresentação ou jogo, para decidir as técnicas finais - É o seguinte: eu já fiz aula de canto, e acho que sou até bem afinada. Acho que posso ajudar vocês. - CC deu indícios de que iria se levantar e gritar de alegria como uma criança retardada e feliz, então imediatamente o puxei de volta e o mandei me escutar - Mas, eu nem conheço esses caras, então vão ter que me provar que são legais. Não agora! - Completei, ao ver que CC ia sair gritando de novo - por enquanto, não quero que ninguém além de nós saiba disso, ok?

            Eles nem concordaram. Só deram um abraço coletivo e gay que quebrou todos os meus ossos. Animais selvagens e cabeludos lindos, também amo vocês.

- Ok, chega - tentei respirar. Acho que eles viram que eu estava morrendo ali e decidiram me soltar.

- Drizzle, para sua sorte, todos eles são legais - Jake se animou.

- Nem tanto quanto nós, é claro - Ashley e seu ego tão grande quanto o meu.

- Vamos ensaiar - A reunião gay acabou com a voz grave e autoritária se aproximando.

            Depois disso, eu me sentei com Mark, Ben, Travis e Jamie na arquibancada. Tivemos apenas uma troca de sorrisos tímida, e nós nos voltamos para os garotos que se posicionavam em seus devidos lugares, com seus devidos instrumentos. Eles ficaram no canto direito da quadra, próximos a parede, onde, se estivéssemos em um show, seria o palco. Então, os víamos de lado. Os primeiros acordes soaram, e eu imediatamente reconheci Am I Demon. Eles tocaram de forma perfeita, uma sincronia sem falhas, e eu amei mais um pouquinho aqueles cabeludos. Mas quando a voz de Andy soou, se sobrepondo sobre os instrumentos, me coração acelerou. O filho da mãe realmente tinha talento.

- São realmente bons, não é? - Ben, que se sentava ao meu lado, puxou assunto.

- Não esperava menos deles - sorri, como uma mãe orgulhosa. Conheço eles a tão pouco tempo, e já são meus amiguinhos. Monstrinhos lindos.

- É; - Ben sorriu, com o olhar fixo nas minhas pequenas futuras estrelas - Poderíamos ser tão bons quanto eles - começou, um tanto triste - se não fosse a merda do nosso vocalista. - Sussurrou, olhando de esgueiro para o cara loiro de alargadores, Travis, sentado no degrau abaixo do nosso, um pouco afastado - Ele é definitivamente desafinado. Tentamos de tudo, mas ele não tem cura - disse, com um sorriso decepcionado - Tentamos achar alguém realmente bom para substitui-lo, mas não há cantores interessados. Acho que eles irão nesse tour ou sozinhos ou com alguma outra banda qualquer.  - Ben estava cabisbaixo. Nem o conhecia direito, mas dava para dizer com certeza que ele estava precisando da ajuda de um amigo, ao menos para conversar sobre os problemas, e que Andy não era exatamente a pessoa mais delicada com quem falar; então desviei, um pouco contragosto, o olhar dos meninos e me virei para ele.

- Eu ainda não vi vocês em ação, e ao que me parece, com exceção dele - cochichei, apontando para Travis - são todos ótimos músicos. - Ele assentiu, concordando - Olha cara, serei bem sincera, eu poderia ajudar vocês, mas eu mal conheço ninguém aqui. - Apontei ao redor, falando da banda.

- Como poderia nos ajudar? - Seus olhos brilharam. Realmente, para ficar tão feliz com a provável ajuda de uma estranha, esse cara deve estar desesperado.

- Opa, vamos com calma - me apressei -. Eu já fiz sim aulas de canto, e até sou boa nisso, mas eu realmente preciso conhecer vocês antes de tentar ajudar em algo. E além disso, não quero que ele tenha algum rancor de mim, ou coisa parecida - apontei para o loiro de novo.

            Nossa conversa estava um tanto engraçada, nós dois sussurrando sobre um assusto porque o mesmo poderia ofender o cara loiro sentado ali perto, e éramos dois idiotas que se fingiam de durões, mas na verdade odeiam magoar as pessoas. Esse lugar estava bagunçando tudo em mim, e aquela voz grave soando alta sobre os instrumentos não melhorava nada. Eu planejava esperar um bom tempo antes de comentar qualquer coisa sobre ajuda-lo com a banda, mas vê-lo triste por medo de não sair em um tour me deixou triste também. Eu simplesmente não deveria ficar assim. Já havia sido bem mais fria que isso, e saber que meu coração havia amolecido por uma simples carinha de cachorro abandonado me deixou preocupada. As pessoas dessa escola estão conseguindo despertar certa compaixão em mim, e apenas consigo me ver quebrando a cara por isso no futuro.

- Realmente, parece uma ótima oferta - Ben voltou a olhar para os garotos, que tocavam os últimos acordes da música. Minha mente se concentrava na conversa e na voz de Andy ao mesmo tempo, nas mesmas proporções. Por que eles estavam ensaiando mesmo? Estavam tocando tão perfeitamente que achei desnecessário -. E até entendo seu ponto de vista - olhou de canto para mim -; sair em seu primeiro tour com pessoas que você mal conhece é meio complicado. - Sorriu, gentil. E eu concordei, olhando-o da mesma forma, com um pequeno sorriso.

- Acredite, eu posso ser bem idiota as vezes, então saiba que estou achando você legal e se eu te xingar muito, quer dizer que está perto de um amigo. - Ele riu - Eu acho que vou acabar ficando na banda com vocês, se gostarem da minha voz, claro, mas o que ele vai achar? - Nem apontei dessa vez. Ele sabia que falávamos de Travis. Mas Ben apenas deu um sorrisinho de lado, se encostando no degrau da arquibancada.

- Ele que exploda.- Já disse que estou adorando esse cara? Conseguiu tirar minha compaixão pelo loirinho.

            Sorri da mesma forma que ele e voltei aos meninos. As últimas notas soaram, e, nós, como eu faria mesmo se estivesse sozinha, aplaudimos. Não pude evitar que meu olhar de se encontrasse com o do garoto de olhos azuis, ao mesmo tempo que também não pude esconder o sorriso orgulhoso.

            Eles caminharam em nossa direção, pomposos, orgulhosos de si mesmos pelas nossas expressões.

- O que achou? - Jinxx perguntou, com um sorrisinho tímido.

- Vocês são fodas - meu sorriso aumentou quando eles também sorriram.

- Nós sabemos - Andy e Ashley disseram ao mesmo tempo.

            Depois disso, foi a vez da banda do Ben ensaiar. Eu voltei a me sentar na arquibancada, entre CC e Andy. Jake tentava morder Ashley ao meu lado e Jinxx apenas observava os dois como se fossem crianças retardadas - e não estavam muito longe disso.

            The Pretty Reckless começou a tocar. Uma música calma, para a minha surpresa, mas que eu adorava. Acho que todos nós a adoramos. A batida leve e contagiante me fazia batucar os dedos na perna no ritmo de Come As You Are, e a vontade de cantar ali com eles era quase irresistível. Eram tão sincronizados quanto a Black Veil Brides e, consequentemente, isso nós muita expectativa em relação à voz da banda. Mas quando Travis começou a cantar, fora de sincronia com a banda, a maravilha foi simplesmente interrompida. Não há descrição melhor para esse cara do que “uma grande merda” no quesito.

            Andy notou minha expressão um tanto decepcionada, e o vi segurar o riso.

- Eles avisaram - disse, de forma que os meninos ao nosso redor ouvissem, mas a banda que tocava não.

- Não achei que fosse tão ruim - suspirei.

- Você devia ajuda-los - retrucou, e o olhei, franzindo o cenho - Eu não sou idiota, sei que você estava falando disso com eles - apontou para os meninos. Ashley ainda tentava não ser mordido, e Jinxx ouvia a canção com a mesma expressão que eu. CC apenas olhava para o teto, com a boca entreaberta, sorrindo. Menino estranho.

- Quem sabe - disse apenas, voltando a olhar para os meninos que ensaiavam, tocando os acordes de Come As You Are, perfeitos no instrumental e um desastre no vocal. Andy me olhou por mais alguns segundos, mas logo se virou também.

            Depois que eles ensaiaram, Travis ficou se gabando, achando que realmente era bom no que fazia; enquanto eu e os outros tentávamos ser gentis, com exceção, como sempre, de Andy, que foi bem frio e honesto.

            Eles ensaiaram mais algumas músicas, dando críticas uns aos outros sobre onde melhorar, apesar de eu ver apenas um erro no meio de tudo, se é que me entendem. Ficaram assim por um tempo, eu apenas assistindo.

            Quando chegou a hora de irmos embora, caminhei em silêncio com Andy até as arquibancadas, e a chuva ainda não havia dado trégua. Não entendi porque o garoto me seguia, mas ele se sentou ao meu lado.

            Ficamos por longos minutos em silêncio, os dois com cigarros acesos, apenas assistindo à queda do céu, inexpressivos. Olhei para Andy pelo canto do olho num impulso incontrolável que já me acometia por horas. Como era possível um ser tão belo existir? Os olhos azuis, frios, encaravam a chuva com intensidade, o cabelo escuro, brilhante e macio, a pele macia, o cheiro inebriante... tudo nele parecia ser feito para testar minha sanidade. Tudo parecia ser feito para mim. A altura, um tanto exagerada, parecia perfeita para envolver meu corpo pequeno, seu cheiro, mesmo com uma certa distância entre nós, se misturava ao meu de uma maneira viciante e inexplicável. Andy Biersack era viciante. Eu observava seus traços, os lábios finos e perfeitos, claros e tentadores. Porque não conseguia me esquecer do gosto deles? Me lembrar do que aconteceu no banheiro me fazia corar, e me dava vontade de voltar para aquele momento. Apesar de eu tentar esconder, ele não ter comentado nada sobre o que aconteceu me magoava um pouco, mas eu preferia acreditar que ele estava tão bêbado que nem se lembrava.

Queria também que ele não se lembrasse de nosso trato ridículo. Por que caralhos eu o mandei não me tocar? Suas mãos correndo por mim era a sensação que eu levaria para o túmulo, mas não queria que aquela fosse a primeira e última vez.

Azul. Ficar olhando para seus olhos me transportava para outra dimensão, e tudo o que via era a imensidão azul me engolindo. Não deveria me sentir assim. Isso está indo rápido demais. Queria saber mais sobre ele, qual a comida preferida, como fora sua infância, seus medos e desejos, queria fazê-lo rir, queria secar suas lágrimas, mesmo que elas não estivessem caindo. Queria apenas tê-lo.

E pensar isso tudo me fazia lembrar do que Andy havia dito. Um beijo meu, e você já estaria apaixonada. Não acreditei nele no momento, apenas ri, mas agora, olhando para ele e vendo o quão perfeito era, tive medo. Medo de Eros ter me acertado. Teria ele acertado Andy também com uma de suas flechas nada delicadas? Teria funcionado? Teria doído? Estaria doendo agora? 

Provavelmente, não. Por mais que eu não quisesse acreditar na hipótese, meu coração me dizia que o dele estava com outra pessoa. E eu temia saber quem era. A garota da foto. O modo como ele reagira quando perguntei quem ela era não me deixava dúvidas, mas eu ainda não queria acreditar nisso na mesma intensidade que não queria acreditar que estava apaixonada pelo garoto que me ameaçara. Ele ia te bater, Drizzle! Pare de ser estúpida. Acha que alguém que tenta te bater gosta de você? Longe disso.

Eu ainda teria ido longe com meus pensamentos, se certas joias frias e azuis não tivessem se movido em minha direção. Andy me olhou intensamente, sem nem se mover, e eu simplesmente me arrepiei quando nossos olhares se cruzaram. Me arrepiei ainda mais quando um sorriso de canto começou a se formar naqueles lábios lindos, e a expressão maliciosa que ele assumira me dava vontade de sair correndo gritando pela mamãe, mas tive de resistir ao impulso.

- Sei que sou irresistível, Young, mas está cansando minha beleza ao me secar tão descaradamente assim.

            Só então percebi que tinha me virado de lado. Ele continuava imóvel, me olhando do mesmo jeito, e eu apenas olhei para mim mesma, sem entender como meu corpo se movera sozinho.

- Não estou te secando - bufei, desviando o olhar -; você deveria parar de ser tão convencido. Há muitas coisas muito mais interessantes do que você para serem olhadas por aqui.

            O sorriso de Andy aumentou, juntamente com a malícia, e eu estava quase esquecendo das ordens de Chris para sair correndo. Ele se virou para mim, se sentando de pernas cruzadas e fixando o olhar nos meus olhos.

Tentei encará-lo, mas ele parecia furar meus olhos. Eu sentia o rubor tomando conta de mim, e Andy se aproximando não ajudava a melhorar a situação. Nós estávamos bem próximos, e a drástica diferença de altura o deixava quase encima de mim. Eu tentava me afastar, mas meu corpo não obedecia. Eu podia sentir sua respiração batendo em meu rosto quando ele parou e ficou me olhando de cima, e isso dificultava um pouco mais minha respiração já descompassada pela simples proximidade.

- Eu acho que você estava sim me secando - sua voz rouca estava sussurrante, senti que minha alma saia do corpo com isso - da mesma forma que estou fazendo com você agora.

            Seu olhar descendo por meu corpo parecia me queimar, eu queria muito mesmo sair correndo, mas se ele me agarrasse agora, eu provavelmente não resistiria.

- Andy... - queria sair correndo dali, mas não sabia o que dizer.

- O que está acontecendo, Drizzle? - Andy disse, aparentemente para si mesmo - Por que quero tanto te tocar? Por que quero tanto você? - A última parte saiu sussurrada, mas eu não pude deixar de ouvir - Eu nem te conheço. Não sei quase nada de você. Por que?

            Não estava acreditando no que estava ouvindo. Havia algo mais ali? E se sim, como? Como ele mesmo disse, ele não sabe nada de mim. Eu também não sei nada dele. Não sei nem se podíamos ser chamados de amigos. Chego a acreditar que o que sentimos ali seja apenas um desejo carnal. Luxúria. Era isso. Eu queria loucamente tocá-lo, e eu mal conhecia ele. E repentinamente, conhece-lo havia se tornado uma ideia tentadora, e ao mesmo tempo, uma rota de escape.

- Não seja por isso - numa onda de emoção, me afastei dele, numa distância segura -; vamos nos conhecer - sua expressão se tornou confusa, enquanto ele se sentava reto e puxava as mangas da camisa e escondendo as mãos do frio entre as pernas, e eu não pude deixar de sorrir com tamanha fofura em apenas um garoto vestido de preto -. Me fale sobre você.

- Falar sobre mim? - Franziu o cenho enquanto ele pensava - Não sei falar sobre mim. Não acho que tenha muito o que contar.

            Ver um cara daquele tamanho conversando com você um tanto sem graça por não saber o que dizer é algo que você não esquece facilmente. Andy olhava para as mãos, ainda escondidas, pensando.

- Bem... fale coisas bobas. Qualquer coisa - sorri, reparando no quanto eu também não tinha jeito para isso - Por exemplo... hm... como foi sua infância? - Foi a única merda que consegui pensar.

            Andy ficou ainda mais pensativo. Olhou para chuva, evocando as lembranças.

- A parte escolar foi uma merda, a familiar foi ótima - Disse simplesmente, dando de ombros. Ergui uma sobrancelha, incitando-o a contar mais -. Olha, foi bem clichê, para ser honesto. A escola inteira sempre implicou comigo, pelas roupas que uso e as músicas que escuto, até hoje implicam, então basicamente, aqueles quatro animais são meus únicos amigos.

            No fundo, eu esperava algo assim. Algo ao menos semelhante ao que aconteceu comigo. Mas a mágoa na voz dele me levava a crer que tinha mais coisa por trás da história.

- Me conte mais - disse, gentil -. Quero te conhecer, e se você for honesto e falar de você para mim, eu falo o que você quiser saber.

            Era como um trato, eu acho. Ambos queríamos uma certa aproximação, isso estava escrito em nossas testas, mas ambos também achávamos isso errado. Ao menos eu achava, Andy provavelmente estava apenas cumprindo sua parte do trato. E uma pequena parte de mim me dizia que ele estava um pouco arrependido pelo modo como me tratara em minha casa, e esse Andy tímido aqui, falando sua história para mim, fosse um pedido de desculpas.

- Está bem - ele suspirou -. Desde criança, estou acostumado com cartazes idiotas sendo colados no meu armário, e com comentários idiotas me chamando de emo ou viado - me olhou acusatoriamente, e eu me encolhi, entendendo um pouco mais seu lado agora -. As pessoas tendem a minimizar as outras para se sentirem maiores, e eu era um alvo perfeito para isso. Inocente, não conhecia a maldade nas pessoas.

            Era realmente muito difícil imaginar Andy Biersack como um garotinho inocente, mas não comentei nada, e apenas o deixei continuar.

- Eu realmente tentava ajudar quem me pedisse ajuda, mas no fim, só estavam zombando comigo. Demorou muito para eu me tocar que vivemos entre monstros, e a partir daí, não confiei em mais ninguém. Me isolei do mundo, simplesmente exclui a vida social da minha rotina. Ainda assim, os cartazes continuavam, as ofensas continuavam, tudo continuava. Mas eu simplesmente ignorava, e isso os deixou com raiva.

            Ele fez uma pausa, um segundo engolindo em seco, parecia pensar que estava indo longe demais. Deveras, eu provavelmente não parecia alguém muito confiável, acho eu.

- Deixou quem com raiva? - Tentei.

- A todos que me atormentavam. - Me olhou sério, com uma expressão dolorida - Eles armaram contra mim, Drizzle. Na época, eu estudava a tarde, e estava voltando para casa, a pé, com 14 anos. Estava escuro, tinha ficado até tarde colocando algumas lições em dia, em ordem do professor. Mas eles sabiam, e me esperaram. Quando já havia saído da escola, eles me cercaram no estacionamento. Não havia ninguém ali para ver, e eles me bateram. Muito. Onze garotos contra mim. Me bateram até eu ficar inconsciente.

            Ele fez mais uma pausa, olhando novamente para chuva. Meu queixo estava no chão com isso. Senti vontade de bater em todos os filhos da puta que fizeram isso com ele, em cada um deles. Mas antes que eu tivesse um ataque e saísse para caçar suas almas, Andy continuou.

- No dia seguinte, acordei no hospital, com minha mãe chorando. Ela dizia que uma garota havia visto o que aconteceu, e chamado uma ambulância. Eu estava com 2 costelas quebras e sangrando muito. Se ela não estivesse lá, eu provavelmente teria morrido.

            A questão era: ela quem? Quem era a garota que havia salvo sua vida? Tinha um palpite, mas o deixei continuar.

- Quando finalmente pude conhecer a garota, ela me contou que a surra já estava “programada” por eles a partir do momento em que souberam que eu ficaria até tarde. Ela disse que queria ter me contado, mas foi ameaçada. Então, assim que ela viu que eles levariam a surra a sério, quando eu estava no chão, ela chamou a ambulância. Eles provavelmente saíram correndo ao ouvir o barulho das sirenes. Mas depois disso, nós dois nos aproximamos. Eu confiei nela. Tanto que ela foi minha primeira garota. - Corei ao pensar nisso, mas ele não pareceu perceber - Mas, ano passado, ela começou a mudar. Se afastava do mundo todo, até de mim. Murmurava coisas sem sentido, via coisas que ninguém mais via, tinha ataques de pânico repentino. Ela sustava.

            Andy falava tudo olhando para o chão entre nós. Ele estava tão absorto nas próprias palavras que parecia ter esquecido que estava falando comigo.

- Ela ficava com medo de mim - ele arregalou um pouco os olhos, parecendo de se lembrar de momentos assustadores -. Dizia que eu tinha... asas. Mas não eram de um anjo, era de um demônio. Ela ficava gritando isso, e depois começava a rir e chorar ao mesmo tempo. Era assustador; ela gargalhava ao mesmo tempo em que se encharcava com as próprias lágrimas.

            Ele tinha a expressão muito sofrida. E eu estava com os olhos arregalados. As palavras dele se repetiam ao mesmo tempo juntamente com a conversa que tive com Eros e Chris.

- Andy... quantos anos ela tinha quando isso começou? - Perguntei, temendo a resposta - Ela era mais velha que você?

            Isso era tudo o que eu podia perguntar. Não sei dizer se essa era a parte que mais me chocava, ou a parte dela ver Andy com asas. Asas de demônio. Um anjo caído. Andy era um deles? Eu temia pela resposta, e só Chris poderia me ajudar, mas ele demorava, muito.

- Ah... bem... sim ela era mais velha que eu. Na verdade bem mais velha do que eu - pareceu um pouco envergonhado -. Ela tinha 21. Quando começou. Eu disse que tinha 19, ela acreditou, não sei como, porque eu tinha 15. Acho que até hoje ela acha que sou maior de idade. Se é que ela acha alguma coisa.

            Isso foi um pouco sinistro, porque ele era uma criança, e ela era uma adulta, e isso foi quase que pedofilia acidental; mas afastei logo esses pensamentos.

- Mas quando ela começou a ficar assim, quantos anos ela tinha? - Perguntei, indo direto ao assunto. Andy franziu o cenho.

- Vinte e três.

            Meu mundo girou. Senti que tinham puxado um tapete embaixo de meus pés. Olhei para a chuva, os olhos um tanto arregalados, e as mãos apertando o tecido branco do meu moletom, tentando reprimir o pânico. Andy olhava para mim, sem entender. Eu o ouvi chamar meu nome, mas era um som distante. Tudo o que eu conseguia pensar se baseava no quanto coisas sobrenaturais me perseguem. A namorada do Andy era a descendente de Psique, e ele era um anjo caído. Eu tinha total certeza. Eros disse que a garota estava nessa cidade, e disse também que quem eu menos esperava poderia ser um anjo caído.

            Tudo dentro de mim revirava, eu não sabia o que fazer. Deveria sair correndo nesse momento? Deveria contar a Eros e Chris sobre isso? Ou melhor, deveria contar a verdade a Andy?

- Drizzle! - Fui tirada dos meus pensamentos por Andy me balançando pelos ombros - O que houve? - Perguntou desesperado.

- Ah... nada, nada. Só fiquei surpresa com a história - me fiz de boba. Andy não precisava sair de sua zona de conforto. Não sei como estão as coisas para ele, mas provavelmente, ele não é perturbado por espíritos possessivos. Ele é um demônio no corpo de um humano. Se ele soubesse o que é, poderia se tornar alguém mal. Saber quem são os tornam mais fortes, segundo Eros. E eu não queria que Andy se tornasse um demônio de verdade.

- Está bem - respondeu, não muito convencido -. Mas agora é minha vez de saber sobre você.

- Ainda não. Eu tenho minha última pergunta - eu já tinha quase que completa certeza da resposta, mas queria ouvir dele. Precisava saber -. Ela é a garota da foto, não?

- Sim - sua expressão se fechou -. Se chama Taylor Scout. Não faço a mínima ideia de como ela está agora, porque ela me mandou embora, com medo de mim por eu ser um “demônio”.

            A ironia e o rancor em sua voz eram evidentes. Ele provavelmente sabe que ela não voltará a ser a garota que o salvou da morte na mesma intensidade que eu sei que ele não será mais o Andy que eu conheço se souber quem realmente é.

- Mas agora, sua vez de falar sobre você. Como foi sua vida antes daqui? - Ele colocou as mãos no chão entre nós, me olhando atentamente.

- Como você já sabe, eu vim de Manhattan. Morei lá com meus pais e meu irmão mais velho. Quando era criança, não tinha amigos, e Deus e o mundo me odiavam por eu gostar de rock, graças ao meu irmão, que ouvia muito. Ele era tão excluído quanto eu, e por isso foi meu único amigo. Me defendia em brigas e era a melhor pessoa do mundo, mas por trás disso, ele escondia uma depressão profunda. Todos já sabiam disso, mas ele escondia de mim, porque não queria que eu soubesse que estava mal.

            Fiz uma pausa, me lembrando do quanto aqueles tempos eram bons, e lembrando do quanto doía não ter ele mais comigo. Andy me olhava atentamente, e eu apenas suspirei, voltando a falar.

- Eu tinha 7 anos quando aconteceu. Estava voltando da escola, e fui direto ao quarto dele. Quando bati na porta, ninguém atendeu, mas ela estava trancada, então ele tinha de estar lá dentro. Chamei por ele, mas ele não atendia. Pensei que ele estivesse dormindo ou usando fones de ouvido, e decidi esperar. Fiquei sentada o dia inteiro encostada na parede ao lado do quarto dele, e nada.

            Meus olhos já marejavam, contra minha vontade, e eu tentava secá-los inutilmente. Odeio chorar na frente dos outros. Andy tinha um olhar triste, como se já tivesse entendido.

- Quando meus pais chegaram do serviço, à noite, se assustaram quando contei que Logan não abria a porta. Meu pai a arrombou, e quando olhei lá dentro... só vi... meu irmão... ele... - eu tentava falar, mas os soluços já tomavam conta de mim. Respirei fundo, engolindo o choro -. Ele tinha se matado. Overdose. Vi os comprimidos espalhados no chão e o corpo. Se eu não tivesse sido uma criança estúpida que só olhava para o próprio umbigo, teria percebido que ele estava mal, e o teria ajudado. A culpa foi minha.

            Meu olhar deixou de transparecer qualquer emoção. Fiquei olhando fixamente para Andy, que continuava com o olhar triste e compreensivo. Se eu falasse qualquer coisa, choraria, então fiquei em silêncio.

            Mas então, fiquei em choque com o que veio a seguir. Senti os braços de Andy me envolvendo e me puxando contra si, num abraço silencioso, mas cheio de palavras que não conseguíamos expressar.

            Fiquei em choque por alguns segundos, mas depois, retribuí. Ele me apertou mais, e o choro que prendi escapou. Não consegui me segurar. Chorei a dor de anos em seu peito, mas a sensação de que ele me entendia era maravilhosa. Ele entendia o que era perder alguém importante. Ele entendia o que era se culpar por isso. O que era viver cada segundo de seu dia se culpando.

- A culpa não foi sua - sussurrou, firmemente, acariciando meus cabelos, e eu só consegui apertá-lo mais. Sempre precisei que alguém tomasse a iniciativa e me desse um abraço assim. Um abraço tão apertado que te deixa sem fôlego é um dos melhores remédios do mundo.

- A culpa também não foi sua - sussurrei, a voz trêmula, mas convicta das minhas palavras. Definitivamente não era culpa dele.

            Da mesma forma que eu, Andy apenas me apertou mais, e ficamos ali, compartilhando a dor que ninguém entende. Com a chuva caindo forte ao nosso redor. Com seu cheiro misturando-se ao meu e ao da chuva. Com seus cabelos fazendo cosquinha na minha orelha. Com seu calor aconchegante. Na proteção de seus braços. Estava aquecida ali. De todas as formas. Não sentia aquele frio interno e escuro que chamamos de solidão. Eu tinha alguém. Ao menos naquele momento, eu tinha alguém.

 

 

 

Você entende quem eu sou?

Você quer saber?

Você pode realmente ver através de mim?

Agora eu tenho que ir

Apenas esta noite

Eu não vou partir

E eu vou mentir e você vai acreditar

Apenas esta noite

Eu vou ver que é tudo por minha causa

The Pretty Reckless


Notas Finais


Eai? o que vocês acharam? eu aprofundei rápido de mais ou está bom? Comentem!
Mas antes, quero saber a opinião de vocês sobre uma coisa. Eu estou com uma segunda história na cabeça. Sim, também é do Andy, porque não consegui imaginar ninguém melhor do que ele no papel. É bem diferente dessa, se passa na era medieval, e teria muito drama. Mas se eu começar a escrevê-la, a postagem de capítulos poderia ser um pouco mais lenta. Eu sei que eu já demoro muito para postar, mas eu tento trazer o melhor material possível aqui.
Mas voltando, a protagonista seria uma princesa, que desde pequena, já tem um casamento arranjado, e todas nós já sabemos com quem. Mas eu imagino uma história muito fofa por trás disso tudo, mas ao mesmo tempo com muito drama. É difícil explicar sem contar spoilers, mas eu já tenho uma verdadeira novela mexicana escrita mentalmente.
O que quero saber é: vocês acham que devo terminar essa ou postar as duas juntamente? Comentem! Estou meio perdida aqui, com ideias loucas para duas fanfics ao mesmo tempo!
Beijos da July (eu) para vocês :3


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