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História Encröachment - The Crazy People


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Olá, pessoas!
Bem, vamos começar.
Em primeiro lugar, peço desculpas pela demora, mas final de ano é uma época muito complicada! Ano que vem vai ser mais rápido ^^
Espero que todos vocês tenham tido um feliz natal e tenham um ótimo ano novo <3
E também ficaria bem feliz se vocês pudessem responder a pergunta que fiz no capítulo anterior, nas notas finais ;)
Então, boa leitura º3º

Capítulo 8 - The Crazy People


Cinza. Parecia que o mundo se resumira a cinza. As nuvens carregadas no céu não deixavam os raios de luz chegarem até nós, tornando a floresta que nos rodeava e o casarão em nossa frente ainda mais sombrios do que já eram por natureza.

Eu via vultos rondando pelas sombras das grandes árvores, mas nem me atrevi a perguntar a Chris o que eram. O casarão de três andares caia aos pedaços no alto da colina a nossa frente, bloqueada por um portão de ferro enferrujado que balançava e rangia com o vento forte. Suas janelas, altas, tinham os vidros surpreendentemente inteiros, porém eram invadidas pelos galhos das árvores que cresciam desenfreadamente ao seu redor. Não se podia dizer com certeza qual a cor original das paredes, pois a tinta caia, mofada e úmida. A grama que se estendia até o topo da colina estava cheia de gotas d’água congeladas. Todos esses fatores se uniam na paisagem sombria em nossa frente, e por incrível que me pareça, ela não me assustava. Ao contrário, ela me deixava tranquila. Ao mesmo tempo que sentia que algo estava errado ali, algo não resolvido; eu achei uma visão muito bonita. Mesmo com o vento forte tentando leva-lo a baixo junto com os fatores de decomposição, o casarão se recusava a cair. E Chris parecia pensar da mesma forma, pois encarava a casa com certa admiração.

Depois do abraço com Andy, havíamos conversado bastante.  Aprendemos coisas bobas um sobre o outro. Nos irritamos muito, também. Andy se esforçou para pronunciar meu nome do meio, assim como aprendi o dele. Ficamos rindo à toa por muito tempo. Até que Chris chegou, e tivemos de nos despedir.

O tempo que passei com Andy me deixara de bom humor, o que fez com que conversasse com Chris durante o caminho inteiro. Fomos duas crianças rindo do ar a viagem inteira até aqui. A propósito, esse aqui é uma parte mais afastada da cidade. Ele disse que era um bom lugar para aprender a primeira lição.

Por fora, eu até podia estar bem sorridente e alegre, e dizer que não estava feliz pela conversa civilizada com Andy seria uma grande mentira; mas tudo o que descobrira ainda me incomodava. Queria, queria muito mesmo, fazer várias perguntas para Chris, contar-lhe a verdade sobre Andy, mas temia que isso acabasse me separando do Six. Isso é ridículo, eu sei, nós não temos nada a não ser um início de amizade, talvez, porém eu não queria acabar com isso, então apenas engoli as dúvidas. Pensaria nelas depois, sozinha. Agora, precisava me concentrar no que Chris tinha a me ensinar.

- Bem, Drizzle, indo direto ao assunto, vou te ensinar a ver os espíritos e demônios por vontade própria. - Chris começou - Você consegue sentir que há algo errado aqui, não é? - Isso era evidente. O ar parecia pesado, mesmo com o vento forte, e a umidade parecia querer me engasgar. Apenas assenti, concordando - Realmente, tivemos duas mortes aqui. - Não me surpreendi com isso, mas senti um estranho calafrio.

            Chris foi em direção ao portão e tirou uma chave presa em um colar dentro da blusa preta que usava. Ele abriu o cadeado enferrujado e em seguida, os portões, que rangeram alto. Assim que entramos, ele os fechou novamente e caminhamos até o topo da colina. Para minha surpresa, ele passou direto pelo casarão, e seguiu até os fundos da casa. Ali, encontrei mais uma surpresa.

            A colina acabava ali, dando lugar a um penhasco, que acabava em um grande lago negro e sombrio, rodeado por pinheiros. Sua superfície era lisa como um espelho, e o vento parecia não fazer nenhum estrago contra ele, ao contrário dos pinheiros, que balançavam e rangiam contra a ventania. Podia ver a neblina enchendo o local aos poucos; em breve poderia até tampar a bela e mórbida visão dali.

- Que lindo - deixei escapar, admirando a visão.

- Eles também achavam - Chris respondeu, observando o lago da mesma forma que eu -. Eram um casal jovem, a garota de uma família rica, e o garoto de um vendedor pobre. Aconteceu no início de Deadwood, quando as primeiras pessoas montavam moradia aqui. A garota estava prometida a um jovem de uma família também rica, mas se apaixonara pelo menino pobre. - Uma história bem clichê, essa, mas ao mesmo tempo, linda. Saber que romances assim realmente aconteciam me inspirava um pouco, mas ao mesmo tempo, já saber o final da história me deixava um pouco triste -. Eles não poderiam ficar juntos, e quando o pai da garota descobriu, foi um desastre total. Eles decidiram que ficariam juntos até o fim, mesmo que tivesse de acontecer naquele instante - terminou, num tom um tanto monótono. Eu apenas suspirei.

- Como sabe disso tudo? - Não queria me afundar na história. Era um belo romance, digno de um livro, mas é passado. Não devo me prender ainda mais a ele.

- Eu vi - o olhei, confusa com a afirmação - Quer ver também? - Me estendeu a mão, e, um tanto hesitante, segurei sua mão coberta por uma luva de couro.

            Chris me conduziu até bem perto da beira do penhasco, e me mandou fechar os olhos. Apenas obedeci; alguns segundos depois, senti seu dedo em minha testa. Aquilo me deu um pequeno choque, e eu abri os olhos novamente, mas as coisas estavam bem diferentes.

            O casarão, o qual estava de costas para nós, estava em perfeitas condições. A pintura bem-feita, as árvores em uma distância segura, tudo bem limpo. Vi também um casal na beira do penhasco, abraçado. Ela, com roupas dignas de uma duquesa, e ele, com farrapos. Mesmo sendo uma bela visão, tudo ali parecia vazio. Quase como se estivéssemos em um desenho em 2D, uma pintura sem sombreamento. As coisas se movimentavam lentamente, e eu não ouvia sons. Estava a noite, e o céu tinha estrelas, mas elas não brilhavam. Eram apenas pontos brancos.

            A garota murmurava algo para o rapaz, com um sorriso bobo misturado a lágrimas que lhe manchavam o rosto. O garoto sorria da mesma forma ao responder, mas seus olhos estavam tristes. Logo em seguida, eles se beijaram. A garota deu o primeiro passo, conduzindo o jovem até a morte. E então, quase em câmera lenta, eles caíram.

            Chris se mantinha imóvel ao meu lado, quando num piscar de olhos, tudo voltava ao normal. O casarão velho e abandonado, o céu nublado, o lago negro e inexpressivo. Não haviam muitas palavras para definir o que eu achava do que havia acontecido. Também não sabia descrever o que me deixava mais estupefata: o que Chris acabara de me mostrar ou como ele me mostrara.

- Isso foi triste. E bonito também. Mas foi mais triste - comentei olhando exatamente para o local em que o casal deveria ter caído.

- A parte mais interessante é ver como eles estão agora - senti um arrepio na espinha. Isso não me soou bem -. Mas isso você vai ter que fazer sozinha. Vamos começar - Chris chamou minha atenção para ele -. Os espíritos aqui estão dividindo o mesmo espaço que nós, porém em outro plano. Os primeiros a descobrir como vê-los foram os egípcios. Os magos passavam dias meditando para que, quando finalmente abrissem os olhos, vissem o plano espiritual, que chamavam de Duat e o nosso ao mesmo tempo. Mas não é necessário passar dias meditando quando não se é um humano comum - me deu um sorriso de lado, se referindo a nossa “semelhança” -. Você já poderia ter feito isso a muito tempo. É simples. As primeiras vezes podem ser mais complicadas, mas depois fica fácil.

            Chris começou a caminhar enquanto falava, como se calculasse quais seriam as melhores palavras.

“Você tem que que se esquecer desse mundo. Se esqueça de tudo. Tudo o que te deixa com os pés no chão, e tudo o que te tira dele. Tudo o que te prende aqui. Deixe sua mente em branco. Sei que é difícil se esquecer dos problemas e das coisas boas que tem aqui, mas é só na primeira vez. Depois, seu subconsciente se habitua a isso, e você faz automaticamente”.

            Ouvi as palavras dele com atenção, e, surpreendentemente, entendi o que ele tentava me dizer. Não era tão complexo na teoria. A prática, onde eu tinha que parar de pensar, era mais difícil. Esquecer de Andy, seu lado bom e seu lado que desconheço, de sua voz, de seu cheiro, dos seus olhos, da sua boca... acho que deu para compreender, não é? Não consigo parar de pensar. E nem todos os meus pensamentos estão presos nos olhos azuis, é claro. Em cada segundo de minha vida, eu vejo a imagem nítida de meu irmão morto em minha cabeça. Vejo meus pais mentindo para si mesmos e para mim. Vejo demônios que me atormentaram na infância. Vejo Taylor, tendo acessos de riso e choro descontrolado ao mesmo tempo, e tento imaginar a confusão em sua mente quando viu mais do que deveria.

            Mas, eu teria de aprender.

- Ok, vamos tentar.

            Chris apenas me observou. Resolvi ir na base da intuição, como sempre faço. Fechei os olhos, e, de alguma forma, tentei esvaziar minha mente. No começo, simplesmente era impossível. Toda a minha vida parecia ter decidido ecoar na minha cabeça naquele momento; mas conforme os segundos foram passando, tudo parecia se esvair da minha mente lentamente, até que, eu realmente me encontrava num silêncio absurdo. Nunca havia conseguido tal feito, e era um pouco estranho. Senti que isso quebrou um pequeno bloqueio dentro de mim. Como se um cadeado se abrisse. Segui minha intuição, que dizia que essa era minha deixa, e abri os olhos.

            Foi como ir para outra dimensão, se é que me entende.

            Imagine pular em uma piscina de gelatina. Entrar ali me deu mais ou menos essa sensação. Quando Chris disse que eram dois planos em um só, não imaginei que fosse tão ao pé da letra. Na mansão, vultos corriam por seu interior, claramente. E esses não desapareciam quando os olhava diretamente. A mesma coisa na floresta. Agora, podia ver com mais clareza, animais de formas estranhas e um tanto desconectas corriam por todos os lados, olhando ameaçadoramente em nossa direção, ora ou outra.

            Mas não parava por aí. Essa era a parte mais simples.

            Chris sorria, divertido, quando notou meu pânico ao olhar para tudo ao redor.

            Desviei o olhar para o penhasco. A mesma cena se repetia, mas, eles não eram um casal tão bonito agora. Pareciam manequins podres, e mofados, com a carne despedaçando e caindo aos pedaços. Sabia que aquilo não era o corpo deles. O corpo já nem existia mais. Aquilo era a alma deles. Estava ferida, cansada, envelhecida e podre.

            Eles repetiam várias vezes. Se abraçavam e se jogavam. Não falavam nada. Nem podiam, provavelmente. Olhando para eles, sentia que cada vez que repetiam o movimento, doía de forma indescritível. Passados alguns segundos depois que caiam, era como se se reconstituíssem, mais feridos do que antes, e repetissem.

            Podia ouvir baixos sussurros, murmurados junto ao vento. Pedidos de libertação. Me salve, me salve! Não me deixe aqui mais uma vez!

            Estavam agonizando. E eu precisava ajudar.

- Quem diria - Chris se aproximou de mim novamente -, para uma novata, você foi muito bem. Só sete minutos. Não é qualquer um. Eu demorei vinte - sorriu, me olhando orgulhoso, e eu sorri de volta, meio boba, ainda assustada com tudo o que me rodeava.

- Valeu, mas temos que ajudar eles - apontei para o “casal”, que agora notara nossa presença, e mantinham suas cabeças viradas para nós, porque não tinham mais olhos para nos encarar.

- Acho melhor deixar para nosso próximo treino - Chris sorriu, um tanto piedoso -. Acredite, vai ficar bem cansada só com isso.

- A propósito, como eu faço para voltar “ao normal”? - Não tinha certeza se era certo chamar nosso plano de normal, porque tudo o que estava vendo aqui e agora, estava lá também. Só que eles nos observam. Nós não sabemos que estão lá, na maioria das vezes.

- Simples - ergueu as sobrancelhas, com o sorriso divertido que me fazia querer sorrir também, mesmo cercada de criaturas sinistras, mas que não me assustavam tanto, porque já as conhecia -. Feche os olhos, e faça o processo ao contrário. Encha a sua mente com cada preocupação que te assombra.

            Isso era bem fácil.

            Nem precisei me esforçar. Assim que fechei os olhos, tudo veio. Vi asas em Andy, enquanto Taylor o expulsava. Vi a mente de Taylor por seu ponto de vista. Vi a boca espumante e sem cor de meu irmão. Vi minha mãe beijando um cara qualquer. Vi meu pai chorando, sozinho no quarto, enquanto fingia que estava tudo bem, da mesma forma que meu irmão. Ouvi as palavras de Eros, alertando que as realidades estavam se misturando, e que tudo dependia de mim e de Chris.

            Tudo invadiu minha mente, e senti minha cabeça latejar, como se tivesse levado um golpe, mas era só a realidade chegando mesmo. Abri os olhos, e me deparei com uma visão normal do lugar. Sem zumbis pulando no lago, nem sombras passeando pela casa e pela floresta.

- Agora, ficará bem fácil ver ou não ver os dois planos - Chris afirmou -; é só você querer ativar, e pronto. Aliás, ninguém vai perceber. Sua aparência não é afetada em nada. No máximo, seus olhos brilham mais.

            Chris conseguia dizer tudo com um sorriso, enquanto eu estava de pernas bambas e quase caindo de cansaço. Por que havia me cansado tanto?

            Minhas pernas estava prestes a ceder, quando Chris percebeu e me segurou.

- Eu avisei - ele me levantou na posição “noiva” e começou a caminhar até o carro -. Isso gasta muita energia no começo. Após algumas vezes você se acostuma. Mas por enquanto, se tivesse ajudado aqueles dois, já estaria bem morta.

           

            Os minutos seguintes passaram em silêncio, talvez porque eu não tivesse energia nem para respirar. Mas ainda assim eu queria saber. Eu precisava saber.

            Queria ter todo o tipo de informação possível sobre os anjos caídos antes de comentar qualquer coisa com Andy. Queria também ajudar Taylor. Ela não tinha culpa de estar como está. É claro que, a ideia de Taylor voltar ao normal vinha junto com a dele nos braços de Andy. Eu ajudaria a garota, e depois ela ficaria com aquele que eu desejo? Definitivamente, não parecia justo. Mas ainda assim, meu lado inocente era maior. Eu sentia penas dela, pena por ter a loucura em sua mente. Por ter as paredes desabando sobre si, por ver o que vi no casarão o tempo todo contra própria vontade. Por ter medo de alguém que não faria nada de mal a ela. A menos, talvez, que esse alguém soubesse quem realmente era. e era essa a dúvida que eu deveria tirar primeiro.

- Ah... Chris - pigarreei, tentando achar as palavras. Ele apenas desviou o olhar da estrada por alguns segundos, indicando que eu deveria continuar - É... Como são os... Anjos caídos?

            Minha voz soou solitária em meio ao barulho das rodas sobre a estrada, e o silêncio que se seguiu não era muito melhor. Chris nem desviara o olhar da estrada ao soltar um suspiro.

- Como assim? - Me olhou com uma sobrancelha erguida, tentando me ler, e eu me encolhi. Como eu consigo ser tão ruim em omitir?

- É que eu fiquei curiosa - olhei para a estrada, por que não conseguia encarar os olhos castanhos me examinando -. Por exemplo... O que faz um anjo cair?

            Em relação a isso, eu estava realmente curiosa, então soou bem verdadeiro. Chris me examinou por mais alguns segundos, até que pareceu se convencer. Ele voltou a olhar para a estrada.

- Há muitos motivos que levam a queda - começou, com um tom que me lembrava o de meu pai, quando me explicava as lições de casa -. Muitos anjos acabam caindo nas tentações humanas, como bebidas, drogas e mulheres. Mas no fim, o maior motivo das quedas são as mulheres. Eles podem ser atraídos por demônios, como Lilith, e acabam pecando. Podem também se apaixonar por mortais. Quando um anjo se apaixona, é difícil voltar atrás. É claro que há pecados muito maiores, mas esses representam a maioria.

- Mas, Chris, não existem... Garotas? Quero dizer, anjos do sexo feminino? - Chris me olhou um tanto triste.

- O cristianismo nunca lhe pareceu machista?

            Ele tinha razão. No catolicismo, que é o ramo mais “famoso” dentro do cristianismo, as mulheres estava sempre atrás. Não haviam mulheres no comando, nunca. Sempre ficavam abaixo dos outros. Era triste pensar no quanto a sociedade é machista. Não sou feminista, mas acho que deveríamos estar sempre lado a lado. O homem e a mulher são como Yin e Yang, eles estão juntos e são parte um do outro.

- Tem razão - olhei para o assoalho, pensando - mas estão como funcionam as coisas? São homens cuidando de tudo? - Não parece algo que dê certo.

- Na verdade, sim. Os anjos são divididos em classes, alguns cuidam de deveres no céu, outros cuidam de humanos, outros ficam ao lado da santíssima Trindade - explicou, parecendo entender meu ângulo.

- E isso afeta em alguma coisa na hora em que caem? - Estávamos chegando aonde eu queria chegar.

- Um pouco. Apenas um tipo de anjo muda - seu tom ficou sério -. A única classe superior de anjos, é a que luta contra demônios. São treinados para guerra. Asas maiores e mais resistentes. Frio e calor não os afetam. E isso se aplica a temperaturas extremas, no inferno - engoli em seco. Andy não pode ser assim. Certo? - Quando eles caem, surpreendentemente, a temperatura continua sem afetá-los. A força a mais que eles têm só desperta quando descobrem quem eram. Mas o jeito mais fácil de identifica-los é olhando os dois planos. São os únicos que ainda mantém as asas.

            Meu estômago, mesmo vazio e roncando de fome, revirou. Taylor via as duas realidades. E ela disse a Andy que ele tinha asas. Andy era o único tipo de anjo que não deveria ser.

- E... Você acha que sou capaz de derrotar um anjo assim, ao menos depois de muito treino com você? - Eu precisava saber. Temia que ele se virasse contra mim, por algum motivo. Chris me olhou, um tanto encabulado.

-Drizzle, acho que você não está entendendo o nível do que eu estou falando. Eu, com ajuda, poderia ganhar de um deles, mas só com ajuda. Nós dois juntos, por exemplo, poderíamos, talvez - um calafrio cortou minha espinha. Deveria imaginar -. O melhor a se fazer é manter distância desse tipo. No céu, são treinados para serem líderes e lutarem contra demônios de nível alto sem se ferir. Quando eles caem, fica meio ao contrário. Eles continuam com os mesmos potenciais, mas virados para o inferno. Podem liderar demônios e sua própria espécie e matar anjos do mesmo tipo sem esforço. Demônios não sentem. E quando o fazem, se alto-condenam ao fracasso.

            Absorvi cada palavra de Chris. Se alto-condenar ao fracasso... Andy havia feito isso ao amar Taylor? Provavelmente.

- E os anjos caídos “comuns”?

- Eles não são um perigo muito grande. Praticamente não tem habilidade de luta. Geralmente, só seguem a ordem de um guerreiro, talvez porque estejam em pequenas quantidades, formando assim alguns pequenos exércitos pelo mundo. Em pequenas quantidades não são perigo. Mas esses exércitos são problemas.

- Entendo... - Eu ainda queria perguntar muita coisa, mas minha cabeça girava. Não conseguia raciocinar.

            Mas no fim, apenas uma ideia lúcida se mantinha em minha cabeça, sobre as outras. Eu veria Andy nos dois planos amanhã. Eu precisava saber. Não havia como estar enganada. Só tinha medo de minha própria reação.

            Quando chegamos em casa, eu nem me movi, pois não havia percebido que o carro parara. Eu olhava para o assoalho, com uma confusão tremenda dentro de mim.

            Estava profundamente perdida em minha mente, quando senti dois braços me envolverem num abraço apertado.

- Sei que as coisas estão difíceis, e que são muitas informações para uma só pessoa processar de uma vez só, mas precisamos que você seja forte - Chris se separou, colocando as mãos em meus ombros e olhando em meus olhos -. Eros tem corrido entre vários planos diferentes, tentando acalmar as coisas. Mas precisamos que você aprenda a lutar, porque teremos de fazer isso juntos.

            Chris sorria confiante, tentando me passar segurança, mas eu estava caindo aos pedaços por dentro. Era tanta coisa dependendo de nós. Mal tínhamos acabado com a minha primeira semana em Deadwood e tanta coisa já havia acontecido. Conheci o deus do amor, descobri que Chris Motionless era meu primo, e que era um fofo, descobri muito mais do que gostaria sobre minha família, descobri uma garota louca descendente de Psique, a qual queria ajudar; fiz amizade com cinco garotos cabeludos, escandalosos e malucos, sendo que um deles era um garoto problemático, agressivo, irritante, que vive rindo de mim por ser baixinha, mas me faz sorrir por tudo isso e um pouco mais.

Deadwood tinha virado minha vida de cabeça para baixo e havia me causado um destino incerto e perigoso, que no fim, podia acabar com uma morte antecipada. Mas eu me importava? Eu estava triste por isso? Aquilo me preocupava ou me fazia querer voltar no tempo? No fundo eu gostava daquilo. Lembro que a ideia de ser uma pessoa normal me assustava. No fim, pessoas normais me assustam. Vivendo suas vidas como robôs programados para seguir a sociedade, sempre questionando os mesmos problemas monótonos, mas não fazendo questão de mover um dedo para resolvê-los. Não queria ser apenas mais uma.

E, por um grande acaso, eu mudo de cidade, e essa enorme bomba cai em minha vida. Drizzle, agora você é a escolhida para salvar o mundo com um astro do rock lindo e gostoso e um deus do amor misterioso com problemas amorosos. E ao mesmo tempo, também tem que segurar a barra com um provável anjo caído, o qual te deixa um pouco mais louca a cada segundo. E você também tem que ajudar uma garota maluca descendente de Psique, porque é boazinha demais. E muito provavelmente, terá de sair em um tour com três caras que conheceu hoje.

Bem normal, não é? Tem acontecido todos os dias comigo. Todos os dias, isso bombardeia minha cabeça. Mas, não era tão ruim. Eram problemas e mais problemas, mas eram fora do comum. Não eram normais. Não eram monótonos. Me davam um frio na barriga, cada um deles. E por mais que aquilo quebrasse minha cabeça ao meio, eu estava ansiosa para resolver cada um deles.

- Não se preocupe, Chris - retribui o sorriso -. Vamos conseguir.

            Chris sorriu, e me deu um abraço.

            Nesse dia, dormi com a sensação dos lábios de Chris em minha testa, no pequeno e doce beijo que ele me dera. E olha que cheguei em casa as 17:46, e eu não durmo cedo. Mesmo depois de comer como uma condenada e tomar banho, eu ainda sentia. Não sei explicar, mas senti um sentimento de proteção com essa sensação, e não quis que ela me abandonasse.

 

(...)

 

- TOCA AQUI, PORRA -  eu e Juliet gritávamos como loucas no corredor da escola, onde todos paravam para nos olhar; mas foda-se para todos eles, e sabe por que? - SABIA QUE TU IRIA PASSAR! - Abracei Juliet, que ria, alegre como nunca. Ela havia participado do concurso para a vaga de líder de torcida, e havia passado. Ela era oficialmente, uma líder de torcida que curtia rock em meio a patricinhas anoréxicas e metidas. Tomara que ela foda com todas elas.

- Mas que merda tá acontecendo aqui? - Cristhian perguntou, chegando junto com quatro dos meninos. Tente adivinhar quem está faltando. Não é difícil.  Todos nos abraçaram calorosamente, Jake bagunçou meus cabelos, CC me abraçou com força e aperou minhas bochechas, Ashley mordeu minha orelha (safado) e Jinxx deu um beijo na minha bochecha; já falei que esse menino é muito fofo?

Juliet recebeu cumprimentos no mesmo nível, e após muitos parabéns e muita gritaria, Jake e CC colocaram Simms (contra vontade dela) sobre seus ombros e rumamos para sala com muitas risadas.

- Ash, cadê o Andy? - Questionei em meio a gritaria.

- Também não faço a mínima ideia - deu de ombros -. Ele tem mania de faltar sem avisar ninguém.

            Olhei nos olhos dele, e tive a forte sensação de que ele estava mentindo. Ou, omitindo algo.

- O que você tá escondendo, Purdy? - Ashley nem olhava nos meus olhos. Olhava para o lado oposto, fingindo que nada estava acontecendo - Ashley!

            Comecei a cutucar ele, que ficava dando saltinhos toda vez que eu encostava.

- Para! - Tentava afastar minhas mãos com tapinhas de bicha - Para, Drizzle!

- Fala logo Ashley! - Exigi. Ninguém parecia reparar nossa pequena briga amigável ali.

- OK! Eu falo, mas para! - Ele tentava ficar bravo, mas não conseguia parar de rir. Eu parei, mas mantive o olhar fixo em seus olhos enquanto ele se recompunha, tentando manter um olhar sério, inutilmente - É que.... Uma vez por mês o Andy vai visitar uma... Pessoa.

            Seu tom e seu olhar deixavam claros que ele ainda estava omitindo alguma coisa. E eu não sairia dali sem uma resposta clara.

- Quem ele vai visitar? - Olhei fixamente em seus olhos, enquanto ele parecia extremamente interessado nos armários do outro lado - Ashley Purdy, eu vou bagunçar seu cabelo!

- Drizzle Young, não ouse! - Ele finalmente me olhou, com os olhos arregalados - Mas vai por mim, é melhor você não saber. Tanto por isso ser bem pessoal para ele, e por isso poder... Te magoar.

            Comecei a juntar as peças que tinha. Algo pessoal para ele que poderia me magoar? Só conseguia pensar numa resposta: uma garota. Havia uma garota na história. E não acho que ele trataria uma namorada como algo pessoal, ou secreto. Se tratava dela.

- Ele vai visitar a Taylor, não é? - Perguntei, num murmúrio, fazendo Ashley arregalar os olhos.

- Como você sabe? - Ele parecia se controlar para não sair berrando. Como assim?

- Andy me contou, ora - respondi como se fosse óbvio, o que só fez a expressão de Ash se tornar mais assustada -. Ashley, o que eu falei demais? - Sua cara já estava me preocupando.

- Andy Biersack, Andrew Dennis Biersack, o magrelo convencido, te contou sobre Taylor Scout? - Questionou com um sorriso se formando em seu rosto. Um sorriso lindo e animado.

- Sim... - ele está me assustando - O que tem incrível nisso?

- Drizzle, ele demorou meses para contar o que havia acontecido entre eles para nós - indicou os meninos, que riam exageradamente alto com Juliet nos ombros -. Você conhece ele a um tempo bem curto e já sabe! - Minha expressão confusa explicou que eu não havia entendido merda nenhuma - Young, ele gosta de você!

            Um soco no estômago teria tido um impacto maior. Como assim? Não era possível.

- Sinto muito lhe tirar dos seus contos de fada, mas isso é impossível - conclui, recuperando seja lá o que eu havia perdido -. Agora, me fale logo o que caralhos o Six tá fazendo.

- Ele vai visitar ela uma vez por mês, numa clínica psiquiátrica. Ele passa o dia lá, então não vai vê-lo tão cedo.

            Taylor está em uma clínica? Era tudo o que eu não precisava. Como iria até lá? Precisava encontrar Andy ainda hoje. E precisava falar com Scout. Talvez, se explicasse para ela que a compreendia, ela não tivesse um surto comigo por perto. Mas como explicaria para Andy que precisava falar pessoalmente com a ex-namorada dele? Ou, voltando a maior dúvida, como eu chegaria lá?

            Olhei para Ashley, com um olhar pensativo. Tenho mania de encarar as pessoas enquanto penso. Ashley me encarou de volta, com uma cara confusa.

- Você disse que ele fica lá o dia inteiro? - Ele assentiu - E ele vai sozinho, de carro? - Concordou novamente - Ashley, me leva lá depois da escola? - Fiz a carinha do gato de botas pra cima do Ash.

- Opa, opa, acho que estamos misturando um pouco as coisas - ele começou a recuar para os armários, tentando não olhar nos meus olhos -. Ele vai me matar lentamente se eu te levar até lá. E provavelmente, vai te matar ainda mais lentamente. E depois, se descobrir que fui eu quem te disse onde ele estava, vai me reviver e me matar de forma pior ainda. Está entendendo o nível da coisa?

- Ashley... Você não precisa nem entrar lá. É só me deixar na porta e pode se mandar, eu dou um jeito de voltar. Não vou contar que foi você quem me contou - eu me aproximei mais, e achei engraçado que Ash estivesse recuando ao invés de avançar, como normalmente faria. Isso significava que estava conseguindo o que queria - Por favor... - fiz o olhar mais pidão de toda a minha vida, e Ashley mordia o lábio, como se tentasse se convencer de que não deveria fazer o que eu estava pedindo, mas logo suspirou, derrotado.

- Ok, eu te levo - soltou, derrotado, passando a mão pelo rosto, e eu sorri como uma criança que ganha um doce -. Mas você tá me devendo uma! - Repreendeu.

- Sem problemas! - O abracei, sorrindo, e ele acabou rindo também, enquanto bagunçava meu cabelo.

            O resto do dia se seguiu bem normal, para nossos termos, é claro. Jake tentando morder a todos nós, Ashley dando em cima da primeira peituda que aparecia, Jinxx quieto num canto, comentando algo vez ou outra, Cristhian sendo Cristhian, e Juliet rindo de todos eles, assim como eu. Mas ainda assim, faltava algo. Faltava alguém irônico e convencido, com um senso de humor negro e um sorriso que faz até sua alma tremer. Sem Andy ali, não era a mesma coisa.

            Com o passar das aulas, quase fomos expulsos da sala três vezes - em cada aula, é claro -, Jinxx teve duas mordidas, e Jake uma, como resposta; Ashley pegou o endereço de umas quinze putas; e Cristhian ameaçou correr pelado pela escola, e só não o fez porque eu o convenci de que não era uma boa ideia, e que ele deveria deixar para outro dia, outro lugar, e outra vida. Juliet bagunçou o cabelo do Ashley, e, eu achei, realmente achei, que ele queimaria ela viva com o olhar, mas no fim, ele apenas deu um ataque de cosquinha que durou uns bons minutos - e que, na minha opinião, tinha segundas intenções. Há algo entre esses dois?

            No fim da aula, Juliet foi para o treino das líderes de torcida, e todos os meninos foram embora, exceto Ash.

            Seguimos para o estacionamento, indo para sua moto, enquanto ele dizia sobre como estaria ferrado por fazer isso.

- Se segura - disse, malicioso, enquanto eu me ajeitava na moto. Apenas dei um tapa no seu ombro, e ele riu maquiavelicamente em resposta.

            Ashley acelerou, e corremos em direção a clínica, a qual nunca havia visto na vida. O céu estava nublado, e meu moletom da Twenty One Pilots não parecia mais suficiente. Existem dias quentes em Deadwood?

            Ele dirigiu para uma parte mais afastada da cidade, como é de se esperar. Após uns bons minutos de viagens silenciosa e fria, ele parou em frente a uma construção alta e branca, que me parecia uma prisão. Ela era cercada por um grande nada, composto apenas de árvores grandes e sombrias. Olhar para aquele lugar me dera arrepios.

            Desci da moto e entreguei o capacete a Ash.

- Drizzle, tome cuidado - Ashley disse, me olhando sério, com o capacete embaixo do braço, ainda sentado na moto -. Andy costuma ficar... bem sentimental nesse lugar. Parece que ele tá de TPM, se é que me entende.

- Andy sempre parece estar de TPM - sorri, e ele sorriu.

            Nos despedimos, e eu caminhei para a clínica, sem olhar para trás, apenas ouvindo o ronco do motor da moto se afastando, após alguns segundos.

 

(...)

 

- A senhorita quer ver a paciente Taylor Scout, certo? - Era a quarta vez que a secretária pálida, gorda, enrugada, com voz entediada e falsa e perfume enjoativo me perguntava isso. Eu estava prestes a dar um soco na cara dela, mas me contive.

            Estava em uma sala grande e com algumas janelas de vidro aparentemente bem resistente. Não havia muita coisa ali. Uma cafeteira em um canto, em cima de uma mesa, um sofá bege e grande e o balcão de mármore eram as partes que mais se destacavam dentro da sala de espera. O único ser vivo ali, se é que ela está viva, era a senhora sentada numa cadeira de couro, por trás do balcão, a qual tentava entender o que eu estava fazendo ali. Minha paciência, já não muito grande, estava se esgotando com o fato dessa velha ser burra de mais ou estar apenas me enrolando, e o cheiro de remédios que rondava o local não colaborava, pois me deixava tonta e embrulhava meu estômago.

- Sim, senhora. Vim aqui ver a paciente Taylor Scout, uma velha amiga minha - respondi, com o máximo de calma possível.

- Mas a paciente já tem visitas hoje - Ela me olhou por cima dos óculos de lentes grossas.

- Sim, eu o conheço, é um amigo meu também. Eu queria vê-lo também, e se quiser chamar ele aqui, ele me reconhecerá.

- Está certo, não precisamos de tudo isso - acreditou em mim, finalmente. Ela apertou um botão, e logo uma enfermeira negra, com a roupa totalmente branca cobrindo um corpo curvilíneo e o cabelo cacheado preso em um rabo alto, apareceu - Mary, querida, pode levar a senhorita Young para o quarto número 570? - Número um tanto irônico, não?

            A enfermeira apenas assentiu, e, com um sorriso simpático, me indicou as portas duplas de onde havia saído. Quando entrei lá, o silêncio perturbador da sala de espera foi drasticamente interrompido. Ouvia gemidos e gritos por toda parte. Risadas altas e insanas ecoavam de dentro de alguns quartos, mas não podia ver nenhum, já que o corredor, paredes e piso branco, tinha apenas portas de madeira escura sem nenhuma abertura, apenas números.

            Caminhamos mais um tanto, subimos uma escada, e então, finalmente, chegamos a porta com o número 570. Um grande nó começou a se formar dentro de mim, enquanto a enfermeira levava a mão em direção a maçaneta, quase em câmera lenta.

            Eu deveria mesmo estar ali? O que Andy pensaria? Ele ficaria bravo? Provavelmente sim. Deveria ter escutado Ashley. Mas que merda eu estou fazendo aqui? Só conseguia pensar em dar meia volta e sair correndo, mas minhas pernas não me obedeciam. O que eu encontraria nesse quarto? Taylor estaria acordada? E se Andy quisesse uma explicação? Se ele me pressionasse muito, eu não conseguiria segurar tudo o que havia descoberto, e ele com certeza não acreditaria em metade da merda que eu dissesse, e eu não tinha como provar.

            Estava com a boca se abrindo para pedir a enfermeira para não abrir a porta. Mas era tarde. Ela já o fizera, e dentro do quarto, Andy estava sentado em uma poltrona ao lado de Taylor, que dormia tranquilamente. Quando ele olhou para porta, seus olhos se arregalaram.

- Drizzle?

 

 

 

 

“Eu sou mau até o meu interior

O que eu não deveria fazer, eu farei

Eles dizem que eu sou emocional

O que eu quero salvar, eu matarei

É esse quem eu realmente sou?

Eu realmente não tenho uma chance

Amanhã eu vou manter o ritmo

E repetir a dança de ontem”

Twenty One Pilots


Notas Finais


Eai? o que acharam do capítulo? não tá muito bom, mas a porra vai ficar séria no próximo 3:)
Até lá, e feliz ano novo <3


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