Eu me olhava no espelho, com um short de cintura alta que prendia a camisa xadrez vermelha que eu vestia. E, claro, um all star. Eu não parecia uma garota que estava prestes a ir para a boate se divertir e acho que isso aconteceu porque eu, no fundo, não queria sair
- Você vai assim??? - Carmen não tentou disfarçar seu descontentamento quando apareceu em meu campo de visão no espelho
- Vou - me virei, encarando-a
- Hm - hesitou, ponderando sobre prolongar ou não aquele assunto - Okay, eu não vou te encher o saco. Já basta a sua bad que você tem que aguentar.
Revirei os olhos.
- Vamos?- eu disse, já saindo do quarto
- Ah! - ela parou, chamando a minha atenção
- Que foi?
Eu chamei o Johnny.
Eu estanquei enquanto eu era atingida pelos flashbacks. Johnny foi um ficante fixo por um bom tempo: um cara de boa lábia, cabelos castanhos lisos e olhos amendoados que foi capaz de me prender por cinco meses. Ele era legal e até deve ser a definição de perfeição de algumas garotas, mas as coisas estavam ficando sérias demais. Eu não queria, não sentia o coração acelerado, nem as borboletas intrometidas no estômago. Ele era só mais um cara…
- Okay, tudo bem - dei de ombros, interrompendo meus pensamentos - Talvez eu mande uma foto para o Axl com a minha língua dentro da garganta do Johnny.
(...)
Não era a minha língua que estava na garganta do Johnny.
E eu quase me lamentava por isso enquanto eu assistia aquela sincronia de bocas que estava acontecendo bem na minha frente. Quer dizer, eu não me importo com o fato de quem o Johnny vai beijar, mas incomoda o fato de que ele seria um catalisador para diminuir todo sentimento bom que eu sinto pelo Axl e que, obviamente, aquele ruivo escroto não merece.
- Ta tudo bem? - Carmen pergunta e consigo sentir a sua preocupação em sua voz. Eu a encaro e ela parece fantástica naquele vestido que emprestei e que não ficava tão bom em mim.
- Eu estou ótima - sorri amarelo - Por que não estaria?
- Simplesmente porque Axl Rose, de forma literal, te deu um fora?
Ela falou como se fosse óbvio demais e aquilo doeu, porque eu não queria falar daquilo. Eu deveria era ter ficado em casa com meus doces e as séries que me distraiam temporariamente… Mas eu acabei saindo com a Carmen, e eu pensei que isso iria me fazer bem, exatamente como nos velhos tempos em que eu estava cagando e andando para Axl, porque ele era, na época, a última pessoa que eu precisaria para esquentar a minha cama.
- Lana… - recomeçou, talvez percebendo algo de errado em meu silêncio que nunca durou tanto - Desculpa. Eu não queria ter sido grossa…
- Eu não deveria ter vindo - interrompo seu raciocínio, deixando a minha garrafa de Jack Daniel’s no balcão em que estávamos escoradas.
- Lana…
- Eu vou tomar um ar
E eu vou, e ela não tenta me impedir. Eu quase corro para ficar longe da música, do ar abafado, dos beijos e das conversas maliciosas. Porque tudo me lembra ele, tudo é ele e isso está atingindo proporções doentias que fogem do meu controle. Quando chego no estacionamento mal planejado, eu finalmente posso respirar fundo e sentir o ar frio encher meu peito.
Com nada para fazer ali fora, eu decido andar pelo estacionamento enquanto eu fumo um cigarro e penso na merda que é a minha vida. Mas, então, eu estanco, sentindo o frio em minha barriga ao ver um carro e um cara alto encostado nele.
- Slash?
- Hey, Lana - Slash meneia a cabeça na minha direção, com um sorriso contido como se estivesse com medo da minha reação.
Mas não era o Slash que tinha que ficar com medo. Ah, não mesmo.
Todo ressentimento e raiva estavam sendo dirigidas a outra pessoa. E se o melhor amigo estava aqui, ele também deveria estar.
- Cadê ele? - me surpreendo com o misto de raiva e anseio que me atinge como um soco no estômago. Já existe um bolo formado em minha garganta, enquanto eu olho para todos os lados, o procurando.
- Lá dentro - responde, colocando suas mãos dentro do jeans.
Eu bufo irritada.
- E por qual motivo você não está lá dentro também? - digo, jogando o cigarro inacabado no chao e pisando-o em seguida.
- Porque é ele que está te procurando, não eu
Como em um filme, tudo para.
- O que?! - acho que estou mais nervosa
- É o segundo bar que ele visitou hoje… - murmura, meio ressabiado pela minha exaltação
- Ele é louco?! - gritei - Puta que pariu, que doente! Custava ter ligado antes?!
Então, algo no semblante do Slash me fez perceber que não estávamos sozinhos.
Eu me viro, e sinto a raiva se sobrepor entre o misto de sentimentos dentro de mim.
- O que você disse? - ele começa
- O que diabos pensa que está fazendo? - não respondo sua pergunta, porque eu tinha a prioridade aqui para conseguir respostas. - Você sumiu por dias, justo no momento em que eu achei que estava tudo bem, e ainda volta achando que te devo explicação?
- Eu não sumi - sua voz está tão irritantemente controlada que me deixa mais nervosa ainda.
- Ah, é? - digo sarcástica, me aproximando dele e dos sentimentos que só ele foi capaz de despertar em mim - Então você chama o fato de não dar notícias por dias, de que?
Ele ficou em silêncio, e eu queria que ele me respondesse, mas parecia que ele não faria isso. E aquilo me irritou ainda mais, se é que isto é possível.
- Quer saber de uma coisa, Axl? - digo me aproximando do seu rosto que tinha a feição impassível - Foda-se! Foda-se você e o que você acha certo! Eu te odeio, okay? Te odeio pra caralho! - eu grito e finalmente vejo alguma emoção em seu rosto. Ah, é a famosa irritação de Axl Rose que está estampada na sua cara - Você pode ficar todo nervosinho, porque eu estou furiosa!
-Porra, Lana…
- Porra o que? - interrompo, sentindo o gosto azedo da raiva em minha língua - Em que mundo você vive para achar que este tipo de comportamento é normal? Acha mesmo que eu iria passar todo esse tempo ao lado do telefone esperando você ligar? - grito e cruzo os braços, olhando para trás e não encontrando o Slash encostado no carro.
Aonde ele tinha ido?
- Vem, Lana - Axl segura o meu braço e me puxa, indo em direção ao carro
Eu me contorço e o estapeio, mas não adianta em muita coisa.
- Me solta, caralho!
Ele me soltou e o meu corpo acaba encostando na carcaça fria do carro dele
- Me conta então
- O que?
- O que você fez nesses dias.
Eu nao sei se foi o seu tom de voz, ou o jeito como seus olhos me olhavam estando tão perto, que me fez responder aquela pergunta de um jeito que me envergonharia depois:
- Eu fiquei esperando você me ligar.
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