História Im Not Like Your Bitches - All my heart it breaks (...)

- Posso escolher uma música? - pergunto no silêncio quase sepulcral que se instalou no carro mal iluminado. 

Axl dá de ombros, parecendo estar concentrado na estrada longa que me levaria até a minha casa em Malibu. Eu agradeço mentalmente, mas antes que meus dedos consigam tocar os botões da rádio, o Slash diz:

- Você pode escolher, mas... - começa, colocando a sua cabeça cabeluda para frente, ficando entre os bancos dianteiros e me observando com aqueles olhos amendoados e escuros como carvão - Não coloca nenhuma das suas músicas, okay?

Eu estanquei, confusa com o que ele havia dito

- Mas o quê? - eu exclamo, atordoada - O que há de errado com as minhas músicas?

Apesar da minha seriedade evidente, Axl e Slash começam a soltar gargalhadas desenfreadas. Então eu soube quase imediatamente que eles estavam de brincadeira com a minha pessoa, mas eu ainda não sabia o por quê.

- Slash! - exclamei, já ficando irritada com o fato de eu ser o motivo da gracinha dos dois

- Ai Lana... - ele parou e respirou fundo, me encarando novamente - É que suas musiquinhas são um pouco deprês, né? - finalmente ele esclarece a minha confusão e eu reviro os olhos.

Slash e o Axl não eram os primeiros a verem somente a depressão nas minhas músicas. Eles não enxergavam a realidade atrás dos versos melódicos  e melancólicos, e eu não mudaria a perspectiva deles... Pelo menos não agora. Por isso eu dei de ombros e, com um suspiro, eu digo:

- Vão para o inferno - eu levanto um dedo do meio e esfrego na cara abusada dos dois

Apesar deles manterem um riso baixo que irritava o resquício da minha paciência, eu finalmente consigo ligar o rádio. Então, aos poucos, os acordes me fazem identificar aquela música clássica do AC/DC:

- Pera - o cabelo-de-miojo-queimado começa - Você percebeu isso?

- Percebi o que, Slash? - bufo irritada

- Você acabou de mandar a gente para o inferno e tá tocando Highway to Hell na rádio - Axl completa o raciocínio do Slash, como verdadeiros amigos que eram e, novamente, a risada se faz presente dentro daquele carro, mas, dessa vez, eu começo a rir também e ao olhar para o meu lado esquerdo, percebo que o Axl sustenta um sorriso glorioso em seus lábios enquanto cantarola a música com uns uns batuques no volante:

- I'm on highway to hell...

(...)

Depois de ouvirmos Lou Reed, AC/DC e The Clash na rádio, finalmente Axl estaciona o carro na frente da minha casa. Ao observar a entrada do imóvel, percebo que é a primeira despedida em que não há sentimentos amargurados rondando esse carro que já presenciou muitas coisas... Intensas. Eu até que estou feliz por estar aqui, com o Slash e Axl, e há um outro sentimento bom que eu quero prolongar:

- A gente poderia sair amanhã! - sugiro animada

- Porra, Axl! - eu fico murcha que nem uma uva passa quando percebo o tom repreendedor na voz do Slash, que estava atrás de mim. - Você não contou para ela?

Então tudo parece parar, enquanto uma vozinha irritante soava na minha cabeça como um alerta súbito

- Você não contou o quê? - digo já ficando irritada com aquilo. Meu coração estava começando a  ficar apertado, e eu claramente não estava gostando disso. Por fim, eu o encaro, na busca de uma resposta que fosse apaziguar toda aquela confusão sentimental que crescia dentro de mim - mas ele simplesmente estava lá, glorioso com seu rosto simétrico e rígido moldado em uma feição impassível que não melhorava muito a situação.

- Conta para ela - Slash parece tão nervoso quanto eu, e tal incerteza se concretiza quando eu o vejo saindo do carro, me deixando sozinha com o Axl que não sabia fazer algo além dos suspiros irritados e dos gestos impacientes que me deixavam nervosa.

- Axl... - eu o chamo com a voz baixa, tentando transparecer a calma que eu não tinha e ficando com medo de saber o que diabos ele estava me escondendo - O que está acontecendo, porra?! - eu exclamo e eu ainda consigo parecer irritada sem aumentar o meu tom de voz

Então, depois de segundos infinitos, Axl solta em um suspiro o ar que estava preso em seus pulmões e, por fim, ele consegue falar alguma coisa:

- A nossa viagem para a turnê começa amanhã 

- O quê?! - eu grito na mesma intensidade da dor que eu estava sentindo. Parecia que um caminhão pesado tinha acabado de atropelar  a minha cabeça que zunia ao tentar processar tanta informação em uma frase tão pequena.

- A gente vai fazer um último show no Whisky A Go Go e depois partiremos para New York - ele finaliza e fica em silêncio, sem reação

Eu simplesmente... Não conseguia. Não conseguia dizer nada para quebrar o silêncio torturante que suas breves palavras deixaram. Na verdade, eu não me importava. Meus pensamentos estavam enevoados e não demoraria pra o nó em minha garganta se arrebentar em lágrimas, mas eu não queria isso. Eu não queria ficar longe de novo... Por que ele não conseguia fazer nada certo? Por que eu ainda insistia nele?

- Quando você iria me contar sobre isso? - consigo dizer depois que o choque se esvaiu para dar lugar a raiva que crescia ao meu redor - Você só iria me contar quando estivesse em New York fodendo com uma groupie qualquer?

Ele não respondeu e, para o azar dele, eu estava furiosa, de novo. 

Eu saio do carro, ignorando qualquer impropério que tenha saido da sua boca, enquanto eu sinto a sua presença que perseguia os meus passos apressados, mas eu não ouso olho para trás. Estou em pedaços pela milésima vez, ele sempre me deixava em pedaços

- Porra, Lana! 

Sua mão segura o meu braço com força, fazendo o meu corpo se chocar contra o seu e, inevitavelmente, ele me aperta, dificultando as minhas tentativas de sair do seu abraço sufocante que machucava a minha pele e a minha alma.

- Me solta, porra!

- NÃO! - ele grita no meu rosto, me fazendo fechar os olhos, já que eu estava assustada com tudo aquilo que eu não havia visto no Axl antes

Ele começa a sussurrar coisas incoerentes, junto com o tom de voz que aumentava com a força que ele fazia em meus braços para me manter presa ali, próxima ao seu corpo, me obrigando a encarar aqueles olhos dilatados e raivosos, mostrando toda a sua loucura que estava escondida anteriormente. Então, em um milésimo de segundo, ele não está mais ali, me prendendo - eu sinto um empurrão e quando consigo focalizar algo com as minhas retinas, vejo o Axl no chão, caído sentado com o Slash na minha frente, me protegendo

- Entra, Lana - ele se vira, mas eu não consigo decifrar a sua feição que estava escondida pela sua bagunça de cachos

- Slash, o que você fez?

- Só entra na sua casa, okay?

Naquele momento, a minha cabeça ainda zunia enquanto meu coração sentia tudo e entendia nada.