Estava deitada a mais de doze horas na mesma posição: Quadril bem apoiado no chão, tórax levemente inclinado e um dos meus joelhos me permitia criar com minha coxa e panturrilha uma ângulo de noventa graus. Esse formato apesar de muito esquisito, garantia para mim maior facilidade de camuflagem, boa acessibilidade a arma e ainda em caso de emergência seria fácil gerar impulso para rolar, rastejar e sair correndo. Mesmo sentido todos os efeitos do cansaço e da angustiante agonia de sentir a roupa grudar na pele sob o clima abafado, meu olhar não saiu da mira telescópica do Barrett M82.
O alvo estava a aproximadamente 6 Km de distância, o ponto de máximo de alcance. Tudo que faltava para ver o melhor fuzil norte-americano disparar um projétil a 3.070 Km/h, era voz tediosa de Sasuke ordenar pelo radiotransmissor preso em minha orelha.
― SHOT!!
Disparei e o alvo foi estraçalhado em exatamente 7 segundos, fazendo-me sorrir devido a adrenalina. Levantei lentamente e respirei fundo satisfeita por estar praticando algo que realmente me anima. No entanto franzi o cenho quando um ruído trazido por uma corrente de vento surgiu em meus ouvidos. Observei pelo rabo do olho uma sombra se aproximar e se tocar buscando algo nas vestes. Disfarcei não perceber sua presença fingindo muito interesse no local onde havia, a pouco, disparado.
Quando o senti mais próximo, virei subitamente e encontrei Sasuke segurando em forma de ataque uma faca de caçador. Rapidamente segurei o pulso da mão armada e me girei para encaixar minhas costas em seu peitoral, completando o movimento com uma cotovelada na boca do estômago, fazendo-o se curvar sobre mim. Através dessa abertura, puxei o braço que segurava a faca em direção ao chão, forçando o corpo de Sasuke virar sobre o meu e cair no grosseiro tapete de pedras sob meus pés. Ainda segurando sua munheca, direcionei-a para o pescoço branquelo.
― Nada mal Hyuuga.
Soltei o moreno com um sorriso de canto e finalmente depois de 12 horas pude relaxar os músculos e estalar os ossos. No entanto, senti as mãos de Sasuke agarrar repentinamente meus braços e sua perna se meter entre as minhas, puxando a direita em um gancho, jogando-me em direção ao chão, mas antes que atingisse o solo pedregoso segurei sua camisa e o puxei para debaixo de mim. Ao atingir as duras pedras, não deixei que a vista embaraçada pela queda me retardasse e ginguei meu peso para cima do tórax do moreno, aproveitando a situação para pegar suas mãos e as erguendo sobre a cabeça.
― Até que para quem come só pão e água, você é bem carnuda.
Estava pronta para revidar suas provocações quando gritos histéricos e pedidos de socorro irromperam o ar, fazendo com que nos dois nos levantássemos de imediato e olhássemos em direção as exclamações. Era a Sakura.
― HINATA!! SASUKE!!! PROBLEMAS!!! ― disse ela enquanto se aproximava de nós.
Sua respiração estava descompassada e suas mãos tremiam mais que o 4° estagio de Parkinson.
― Pegaram o Sasori. ― falou ela depois de engolir o seco. ― Pegaram ele e só Deus sabe se está vivo ou morto.
Não sei exatamente quando parei de respirar, apenas me lembro de encontrar o olhos de Sasuke, que igualmente aos meus estavam arregalados e correr com toda velocidade em direção a minha casa. Eu iria me fazer de forte, eu sabia que eu devia fazer isso, mas eu não sentia meu estômago e engolir o choro já estava dolorido demais. Até quando as pessoas que gosto iriam partir?
Quando adentrei a casa de bambu todos os ministros estavam reunidos em plena discussão. Felizmente ninguém tinha se exaltado ainda e Itachi já me lançava sinais de eu tinha notícias muito ruins para falar.
― Um pássaro da noite trouxe a mensagem de alerta, Sasori foi pego em uma emboscada.
― Temos que revidar e mandar uma equipe imediatamente. ― disse um dos ministros provocando uma maré de opiniões vindas dos outros ministros.
― Não. ― Falei atraindo a atenção e o silêncio de todos na sala.
― QUE!? ― exclamou Tsunade. ― Por acaso Sasuke está lhe dando muita porrada na cabeça!?? O SA-SO-RI FOI PEGO!
― Eu sei. ― disse tentando mantar meus sentimentos longe do meu papel como líder. ― Mas uma equipe de resgate é tudo o que eles esperam de nós.
― Onde você quer chegar Hinata? ― perguntou Shikamaru.
― Vamos, na verdade, montar um esquadrão para se infiltrar e traze-lo de volta. Eles se acham tão impenetráveis que nunca esperariam por isso .― respondi.
― Pode funcionar...
― Besteira! Quando for para o campo de batalha de verdade vai ver que a prática não tem nem 15% dessa brincadeira que vocês fazem aqui. ― falou um dos membros mais velhos do conselho.
― O senhor não poderia estar mais que certo! ― retruquei com um sorriso de trunfo no rosto.
― Hinata nã...
― Por isso, não vejo circunstância melhor para aprender, de fato, minhas habilidades.
Escutei Tsunade suspirar e Itachi massagear suas têmporas.
Quando a primeira reunião se dissolveu, fui descansar no meu quarto enquanto Shikamaru, Itachi e Tsunade faziam a seleção dos possíveis candidatos para a missão que se iniciaria nas primeiras quatro horas após a virada de dia. Deitei na cama e pensei nele mais intensamente do que em qualquer outra noite desde sua ausência.
Sentindo a solidão, o medo e a dor da perda afogar meu coração, deslizei minha mão sobre a cama para o lado em que ele ocupava, agarrando a fronha que embromava o colchão, até senti os nós dos meus dedos chegarem a seu limite.
Junto as minhas lagrimas, o lampejo de raios e o barulho de trovões configuravam o cenário de boas-vindas ao inverno.
Passaram-se poucas horas do momento em que eu consegui dormir e do horário e fui acordada.
― Hinata-sama, acorde, você foi convocada para a missão. Esteja pronta na entrada da vila daqui a 30 minutos. ― escutei a voz polida e grossa de Kakashi falar de algum lugar do cômodo.
Automaticamente fiz meu corpo se erguer, ir em direção ao pequeno guarda-roupa de bambu e pegar minha mochila, armas (alguns presentinhos do Sasuke) e munições; tudo guardo em seus devidos compartimentos da bolsa negra da NƎ. Troquei de uniforme, calcei meu coturno e refiz a trança em meu cabelo.
Antes de sair do quarto, dei uma última olhada na cama e tirei de um dos meus milhões de bolsos a fotografia do ruivo desaparecido.
― Não importa quantos eu tenha matar Sasori, ninguém vai te impedir de ver o dia amanhecer. Aguente mais um pouco, eu vou achar o caminho que nos leve até você.
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