História Im Wide Awake - Segunda Temporada - O Plano

P.O.V Luck

-- Você fez o que? - Nathaly pergunta incrédula.

Mostro a gravação para que ela possa ouvir com seus próprios ouvidos.

-- Luck, você é maluco. Quer dizer... Olha as coisas que essa mulher falou. Agora você tem provas mais que necessárias para mostrar a ele que os pais o estão enganando.

-- Sim... Eu tenho.

-- E por que eu tenho a impressão de que você não está tão contente quanto deveria estar?

-- Não sei exatamente.

-- Luck... - Ela pega em minhas mãos - Mostre a gravação a ele.

-- Eu não posso Nathaly. Eu quero, mas não posso.

-- Ai meu Deus, Lucas, o que foi agora? É por causa dos pais dele terem definitivamente proibido você de vê-lo?

-- Não, não é por isso. Se eu quiser, eu vou vê-lo e eles não vão me impedir.

-- Então o que é?

-- Gabe sofreu muito nas mãos dos pais, e de certa forma ainda está sofrendo, mas eu sei que ele sempre os amou, independentemente de como eles são, pois, querendo ou não, eles são seus pais. E Nathaly... Por mais que eu queira tê-lo de volta, terei de conseguir de outra forma. Nunca conseguiria colocá-lo contra os pais, muito menos fazê-lo odiá-los.

-- Uau, Luck... Agora estou até envergonhada. Apesar de tudo, você ainda pensa neles.

-- Eu só acho que nenhum pai deve ser odiado pelo seu próprio filho.

-- E o que você vai fazer? - Ela me faz a pergunta para a qual eu não tenho a resposta.

-- Não tenho a menor ideia.

-- Lucas, o casamento já está chegando. Você precisa agir logo.

-- Eu sei.

-- Recebi o convite. - Ela me pega de surpresa.

-- Sério?

-- Sim. Eu conversava com a Rosalie no colégio, e como eu tenho certeza de que foi ela quem fez a lista de convidados, ela acabou me mandando um.

-- E você vai?

-- É claro que não, porque não vai ter casamento... Não é?

-- Obrigado por botar tanta confiança em mim Nathaly, mas...

-- Mas nada Lucas... Você vai consegui-lo de volta. Eu sei que vai...

-- Deus te ouça.

Começo a pensar e algo me vem a cabeça.

-- Espere um pouco... Hilary é a melhor amiga de Rosalie, ou vice-versa, não estou certo?

-- Corretíssimo.

-- Acho que acabei de ter uma ideia. Venha, temos que ir a um lugar.

(...)

-- E por que você acha que eu te ajudaria?

-- Porque você tem uma queda por mim.

-- Isso foi antes de você me dar um pé na bunda e estragar com a minha festa. - Hilary parece mesmo decidida a não me ajudar - E além do mais, eu nunca arruinaria com o casamento da minha melhor amiga.

-- Não estou pedindo para arruinar o casamento... Quem fará isso serão os meus amigos.

-- E eu seria cumplice.

-- Meu Deus, Hilary... Você não vê que isso é importante para mim? O homem que eu amo está prestes a se casar com outra. OUTRA... E essa nem é a praia dele. Você sabe o quanto dói não poder ficar com a pessoa que ama.

-- E se essa fosse a minha chance de me vingar de você, por ter me enganado?

-- O que? Te enganado? Hilary... É isso que você acha que eu fiz: te enganei?

-- E o que foi então?

-- Eu sempre amei o Gabe... Eu só não havia percebido ainda...

-- E achou de perceber bem no exato momento em que estava comigo em uma cama? Sabe as coisas que eu tive que ouvir depois disso Lucas?

-- Ouvir? - Não entendo o que ela quer dizer.

-- As pessoas começaram a me chamar de "Hilary, a homotizadora", "A mãe do pecado", "Pomba-gira" e muitas outras coisas, tudo porque supostamente transformei um hetero em gay.

-- Isso não pode ser verdade.

-- Mas é Lucas... As pessoas não perdoam. E você acha que a Rose escapou dessa? É claro que não... Ela ganhou apelidos do tipo "Pepeka milagrosa", "Toda Poderosa" e "Santa Rose: Aquela que tem o poder de converter os gays".

-- Isso é uma sacanagem. - Nathaly finalmente diz alguma coisa - Eles não... Vocês não...

-- E quem liga para o que eles podem ou não Nathaly? - Hilary pergunta a ela.

-- Hilary, eu sinto muito por tudo isso, mas eu realmente preciso de uma resposta sua.

-- Eu é que sinto Lucas, mas acho melhor você ir agora.

-- O Que? Hilary...? HILARY!? - Ela fecha a porta na minha cara.

-- Venha Luck... Vamos achar outra solução. - Nathaly tenta me consolar.

Se tem uma coisa que eu andei fazendo muito nesses últimos meses, essa coisa foi chorar. E estou chorando agora. Mas não de raiva, ou de alegria... Mas porque vejo claramente a minha última esperança indo embora, escorregando por entre meus dedos como um sabonete molhado.

P.O.V Gabriel

Duas semanas passam voando e agora falta apenas um mês para o casamento.

Duas semanas se passaram e desde o ocorrido durante aquele banho, naquele dia, fui assombrado por inúmeros sonhos com o garoto Lucas. Em todos, eu me encontrava deitado com ele, ou em seus braços. Depois começaram a se tornar em beijos assustadoramente cheios de vontade. Eu sempre acordava assustado e quando me dava conta, estava excitado.

As coisas não deveriam estar assim. Começo a tentar colocar em minha cabeça que esses sonhos são minha mente dando forma a algo com o qual estou tão perturbado, mas algo me diz que não é bem isso.

Todas as vezes em que discuti com o garoto Lucas, fora por causa desse assunto. Eu nem mesmo se quer dava ouvidos a ele. Mas então, por que fui atrás dele aquele dia? O que eu esperava que ele fosse me dizer? Por que constantemente eu me lembro do sorriso dele e pego a mim mesmo sorrindo quando isso acontece? Por que vê-lo cavalgar em seu cavalo no dia em que nos encontramos na sorveteria, me deixou com o coração acelerado e por que eu sinto tanta vontade de que aqueles sonhos se tornem realidade?

O que está havendo comigo?

-- Gabe? - A voz de Rosalie me trás de volta.

-- O que? Ah, me desculpe, eu estava pensando.

-- Não se desculpe, aliás, fui eu quem demorou uma hora pra ficar pronta. - Ela ri.

-- Tudo bem... E o que vamos fazer hoje?

-- Lista de presentes.

-- Tipo... Ir de loja em loja pra escolher as coisas e pedir para os padrinhos e madrinhas?

-- Sim. E não é pedir exatamente.

-- Claro que não. – Digo com sarcasmo.

-- Queridinho... Isso é costume. Não queira você discuti-los agora.

-- Não estou querendo discutir nada.

-- Então levanta desse sofá e vamos.

(...)

Rosalie é bem prestativa e faz questão de estudar muito bem os preços antes de adicioná-los ao catálogo da lista. Ela procura pelas coisas mais acessíveis para que todos consigam comprar o que ela acha necessário.

Para termos um bom aproveitamento do dia, primeiro fazemos o orçamento nas lojas do centro. Começamos pelos eletrodomésticos, logo em seguida, dando continuidade com os móveis em geral. Depois peças de cozinha e enxoval.

Vejo-a fazer tudo isso com um sorriso no rosto. Dá para ver o quanto ela quer esse futuro, mas ainda não consigo correspondê-la, e tenho medo de acabar destruindo os sonhos dela.

De repente ela encontra uma amiga.

-- Hilary... - Elas se abraçam.

-- Nossa amiga, há quanto tempo não é mesmo? - Hilary parece feliz em vê-la.

-- Sim. Não nos vemos desde a formatura.

Então ela olha para mim.

-- Gabriel... Como está?

-- Bom... Eu estou bem e você? - Digo um pouco sem graça por não me lembrar dela.

-- Vou bem, obrigado. E o que os pombinhos estão fazendo por aqui hoje?

-- Estamos fazendo a lista de presentes. - Rosalie conta a ela agarrando em meu braço e dando-me um beijo no rosto.

-- Sério? - Hilary se empolga - Ai amiga, me mostra, porque eu quero te dar o melhor presente da lista.

-- Ainda não está completa, mas eu prometo que assim que acabá-la, enviarei para você uma semana antes do que para o restante dos padrinhos.

-- Combinado.

-- E você... - Rosalie começa a perguntar - O que faz por aqui?

-- Ah, vim comprar um celular novo.

-- O que aconteceu com o antigo?

-- Nada... Mas já vai fazer um mês que estou com ele. Preciso me atualizar.

-- Claro. - Rose tenta dar algumas risadas - Bom, espero que encontre um do seu gosto.

-- Obrigado. - Hilary agradece e eu penso comigo: “Espero que sobre dinheiro para ela comprar o presente que prometeu a Rose, porque, gastando com celulares sempre que sai um novo modelo ela vai é acabar acumulando uma grande dívida antes dos vinte e cinco”. - Também já escolhi o vestido com o qual irei à cerimônia e o que usarei na festa.

-- Caramba. Eu nem fui ver o meu vestido de noiva ainda e você já escolheu um pra usar na igreja e o outro para usar na festa? Preciso me apressar. – Rose faz uma piada.

-- Eu não escolhi não... Eu comprei. Gostei muito deles pra não trazê-los para casa comigo.

-- Que bom... Pelo menos você pode usá-los novamente em outra ocasião.

-- Tá maluca Rose? - Rosalie e eu levamos um susto - Não sou de usar a mesma roupa mais do que uma vez.

-- Então por que não os alugou? Você poderia ter economizado mais... - Eu finalmente falo mais alguma coisa com ela, mas somente pelo fato de que me cansei de ficar ouvindo essa loira oxigenada se gabando do tanto de dinheiro que tem para jogar fora.

-- Gabe, isso é coisa de mulher. Você não entenderia. – Hilary me responde.

Estou prestes a abrir minha boca para retrucar o que ela disse, quando Rose me dá uma leve cotovelada no braço. Quando olho para ela, seu olhar me diz para deixar para lá. Realmente... Não vale a pena.

-- Bom Hill, nós precisamos ir andando se quisermos terminar essa lista hoje, então...

-- Claro, sem problemas Best. - Elas se abraçam novamente e Hilary "beija" uma única vez cada um dos lados do rosto de Rosalie, que também faz o mesmo.

-- Foi muito bom te encontrar. - Rose diz sendo bem sincera.

-- Foi bom encontrar vocês também. - Hilary vem em minha direção e me dá um abraço. - Boa sorte com a lista.

-- Obrigado. - Rose e eu respondemos em uníssono.

Estamos saindo da loja quando Hilary vem correndo atrás de nós.

-- Esperem... - Ela faz uma pausa para respirar - Rose... S-Será que eu posso te pedir uma coisinha?

P.O.V Luck

Os dias passam depressa. Parece proposital.

Não tenho mais o mesmo ânimo de antes para as coisas, portanto, quando passo o dia inteiro trancado no quarto, meus pais sabem o que estou fazendo, e preferem não me interromper.

Em meio às muitas lembranças dos momentos bons com Gabe que tenho em minha mente, lembro-me da conversa que tive com o treinador na escola há alguns meses.

Ele me havia incentivado a não desistir de Gabe e eu, um tolo esperançoso, havia prometido a ele que iria reconquistá-lo.

Palavras... Meras palavras que agora se dissolveram totalmente como gelo que é exposto a altas temperaturas, e tudo o que resta é uma pequena poça que logo irá evaporar e nada mais sobrará para provar que antes havia de fato um cubo de gelo.

O vapor da água que se formara, sobe, para o céu, onde se juntará as inúmeras nuvens que mais tarde trarão uma forte chuva. A tempestade.

E é assim que me sinto agora: em meio a uma tempestade de palavras dissolvidas que não tem previsão para terminar.

Estou numa situação em que já perdi a noção do tempo.

Minha janela está constantemente fechada e como não durmo com certa regularidade e me recuso a olhar as horas, não consigo dizer se está de manhã ou de tarde.

Num determinado momento, estou eu encolhido num canto do quarto quando ouço a campainha tocar lá em baixo.

Ainda assim, não consigo decidir que período do dia está lá fora, já que de uns tempos para cá, essa campainha não tinha mais hora certa para tocar.

Alguém deve ter atendido a porta porque o aparelho não volta a ser acionado.

Espero. Alguns minutos depois algumas batidas em minha porta.

-- Entre.

Minha mãe surge na fresta com um leve sorriso intrigante no rosto.

-- Você tem visitas. - Ela me diz com um ar alegre.

Não consigo imaginar quem seja e não tenho tempo de perguntar, pois ela rapidamente volta lá para baixo.

Levanto-me e olho-me no espelho. Nada apresentável. Pondero a possibilidade de me arrumar um pouco, mas acabo desistindo e desço do jeito que estou.

Quando chego à porta, uma bela surpresa: Emma, Scarlett, Adam, Archie e Jess. Todos eles de pé no hall de entrada. Está no início da noite.

-- Olá Luck. - Eles me cumprimentam junto.

-- Que surpresa tê-los aqui. - Digo entusiasmado - A que devo a honra?

Emma dá um passo à frente e tira as mãos das costas. Nelas, alguns envelopes muito chiques por sinal, mas eu fico sem entender nada.

-- Humm... E o que é isso? - Pergunto meio sem jeito.

-- Adivinha só garotão...

Continuo olhando para ela com o mesmo ar de dúvida, até que ela resolve dizer:

-- Temos convites para um certo casamento.