P.O.V. Gabriel
Acordo com alguém me chamando. Abro os olhos bem devagar e vejo que é o doutor chamado Davies.
-- Bom dia Gabriel. Desculpe-me acordá-lo, mas você tem visita.
-- Não doutor. Tudo bem. Dê-me um minuto para lavar o rosto e depois mandem que entrem.
-- Fique a vontade. - Ele sai.
Levanto-me e vou direto para o banheiro. Jogo um pouco de água no rosto e seco-o. Depois escovo os dentes e ajeito o cabelo.
Volto para a cama e aguardo. A maçaneta finalmente gira.
Duas pessoas entram. Um casal. O homem aparenta ter uns quarenta e oito anos, a mulher, uns quarenta e dois. Eles me olham fixamente por um instante.
-- Bom dia Gabe. - Eles me desejam ao se sentarem.
-- Bom dia. - Respondo.
-- Nos disseram que você perdeu a memória. - A mulher começa - Então, não deve fazer ideia de quem somos não é?
Apenas balanço a cabeça negativamente.
-- Nós somos os seus pais. - Quase engasgo com a saliva. Não acredito nisso. Finalmente eles estão aqui.
-- Nossa... I-Isso é sério?
-- Sim, filho. - O homem fala.
-- E por que não vieram antes?
-- Creio que seu amigo Ethan já esteve aqui, certo?
-- Sim. Ele veio. Ele e a namorada foram as únicas pessoas que parecem ter falado a verdade para mim.
-- Sim, filho. Eles falaram. E é só por isso que estamos aqui. Depois que entraram, nos disseram como fizeram. Tentamos muitas vezes, mas não conseguimos. Ninguém nos deixava entrar.
-- E como convenceram o doutor a deixá-los vir até o quarto?
-- Ele não sabe quem somos. Dissemos ser mais um dos atores que o tal garoto Lucas estava contratando e ele acreditou.
-- Então é verdade mesmo? Estão tentando colocar falsas memórias na minha mente.
-- É o que parece filho.
-- Mãe, Pai... Vocês precisam me tirar daqui.
-- É o que viemos fazer filho. Eles não podem tirar você de nós.
-- E como vão fazer isso?
-- Já falamos com dois policiais. - O hom... Quer dizer, o meu pai finalmente diz alguma coisa - Se tentarem nos impedir vão ter que se ver com eles.
-- Olha... - Minha mãe diz enquanto pega uma mala no chão - Aqui tem uma troca de roupa. Tome um banho e depois saímos.
-- Tudo bem. - Eu me levanto e pego as roupas que ela me oferece - Demoro dez minutos.
-- Nós esperamos.
-- Obrigado por estarem aqui. - Eu digo e entro no banheiro.
Tiro o roupão hospitalar e vejo as marcas que tanto doem. Não sei como as consegui, mas prefiro não descobrir. Depois começo a ensaboar o corpo e passando o sabonete por ele, algo estranho acontece. Ao chegar à barriga, passo o sabonete por uma das marcas e vem à minha mente uma imagem do garoto Lucas me dando banho.
Abro os olhos no mesmo instante e deixo o sabonete cair.
Passo as mãos pelo rosto e fico paralisado por um minuto. Aquilo foi muito real, como se ele tivesse estado aqui por um momento. Não sei o que foi, mas me deixou assustado.
Saio do chuveiro, seco-me e visto a roupa nova. Finalmente algo diferente.
Volto para o quarto.
-- Estou pronto.
-- Então vamos. - Meu pai se levanta e abre a porta.
Eu saio primeiro, e assim que coloco os dois pés para fora do quanto, vejo-o dobrando o corredor. Baker para de súbito e olha para mim confuso. Assim que meus pais se postam atrás de mim, sua expressão muda, e agora é um misto indecifrável de tudo o que ele parece sentir.
P.O.V. Luck
-- O que vocês pensam que estão fazendo aqui?
-- Viemos levar o nosso filho embora. - O pai de Gabe fala sério, tentando me intimidar.
-- Vieram o que?
-- Isso mesmo que ouviu.
-- Vocês não vão fazer merda nenhuma. Não depois do que fizeram à ele.
-- Fizeram à mim? - Gabe olha a para os pais - Do que ele está falando?
-- Nada filho. - O pai dele me olha fixamente. Seus olhos expressam uma raiva que penetra a minha alma e a faz queimar - Já se esqueceu do mentiroso que ele é? Tudo que sai da boca dele não passa de mentiras.
-- Ga... - Lembro-me do pedido que ele me havia feito, de não chamá-lo pelo apelido - Gabriel, você não sabe do que eles são capazes. Eles nunca te amaram. Te expulsaram de casa pelo fato de você ser homossexual.
O que acontece a seguir me surpreende e devasta meu coração. Gabe vem até mim e com as costas da mão direita, me dá um forte tapa no rosto.
Perco o equilibro, já que não estava esperando por isso. Apoio a mão esquerda no chão para não cair de bunda, e passo as costas da direita sobre o canto da boca. Dou uma olhada e ela está suja de sangue. Depois, coloco-a sobre o local atingido e cuspo a mistura de sangue e saliva que se forma em minha boca.
-- Não acredito que você chegou mesmo a esse ponto Gabriel. - Faço uma pausa e me levanto - Acreditar nas pessoas que mais mentiram para você, nas pessoas que mais te fizeram sofrer, e deixar de lado aqueles que querem realmente te ajudar.
-- As pessoas a quem você acusa, foram as únicas que me disseram coisas que realmente fazem sentido desde que eu acordei aqui.
-- E como você pode saber se são elas mesmo que estão falando a verdade?
-- Não sou obrigado a te dar respostas. Eu escolho no que quero acreditar.
-- E também não quer saber quem fez isso com você?
-- Isso o que?
-- As marcas Gabe. - Não consigo chamá-lo de Gabriel novamente. Vejo que ele para, pensando um pouco nas minhas palavras. - É... Você deve estar se perguntando como é que eu sei das marcas, não é?
-- Não importa como é que você sabe delas.
-- Então pergunte à eles. Veja se eles sabem. Se realmente tiverem feito o papel de pais nesses sete meses, eles irão saber.
Ele não olha diretamente para os pais, mas o faz de canto de olho.
-- Olha aqui garoto... - O pai de Gabe se avulta sobre mim como a sombra de um grande prédio - Pare de encher a cabeça do nosso filho com besteiras. - Ele dá um jeito de me levar um pouco mais longe - O que fizemos ele foi necessário, mas agora que temos a chance de concertá-lo, não vamos deixar que um pecador como você estrague tudo. Ele estava no caminho do inferno, e agora temos a chance de colocá-lo novamente nos caminhos de Deus e não será um filho do diabo como você que o fará cair novamente.
-- Vocês são uma vergonha para Deus. - Eu não penso nas palavras, apenas as deixo sair - Se em algum momento vocês acreditaram que são dignos de entrar no paraíso, é ai que estão enganados. Deveriam cumprir com a função de vocês que é amá-lo apesar de todas as coisas e deixar que Deus decida como o julgará. Mas o que estão fazendo, dando uma de Deus na Terra, interferindo nos planos dele... Isso é pior do que ser homossexual. Se eu... E Gabe estivermos no inferno quando tudo isso chegar ao fim, pode ter certeza de que nos veremos lá.
-- QUEM VOCÊ ACHA QUE É PARA FALAR COMIGO DESSA FORMA GAROTO. - Ele grita e não se importa se está num hospital. Saliva jorra de sua boca e atinge meu rosto - Eu sei muito bem que eu e minha esposa não vamos entrar no paraíso - Ele volta a falar baixo - Mas não vamos deixar que nosso filho desça ao inferno conosco e muito menos com você. Guarde bem as minhas palavras: você não o terá mais aqui e nem em outro lugar.
Ele retira o antebraço direito que vinha apertando o meu pescoço contra a parede desde o início e volta até a família.
-- Vamos embora.
Quando eles já estão a uns dez passos de mim eu volto a falar.
-- Pense bem Gabe. - Ele para de andar - Quem estava lá quando você acordou era eu e não eles. - Começo a rir e ao mesmo tempo chorar - Sou eu quem sabe sobre as marcas, e não eles. E sabe por quê? Porque fui eu quem cuidou de você durante estes sete meses e não eles. Cheguei a te dar banho todos os dias... E não eles.
Não pude ver qual foi a reação de Gabe perante estas palavras, mas pude ver o pai dele vindo rapidamente em minha direção antes de tudo ficar escuro.
P.O.V. Gabriel
Aquelas palavras. O que ele me disse, a visão que tive durante o banho, de alguma forma coincidiram. Não tinha como ele saber do que me veio à mente porque não disse isso em voz alta em nenhum momento.
Sei que o que Lucas falara deixou meu pai muito irritado, pois ele sai de perto de nós e indo na direção do garoto, lhe dá um soco no rosto que o faz desmaiar no mesmo instante.
-- Pai, não precisava tanto.
-- Não me diga o que fazer. Se eu fiz é porque ele mereceu.
-- E você merece ir pra cadeia. - Olhamos assustados para trás, e vejo a mulher que diz ser mãe do garoto agora inconsciente no chão.
Ela empurra minha mãe sem pedir desculpas e se atira no chão ao lado do filho. Chama seu nome algumas vezes com as mãos em seu rosto, mas não obtém resposta.
-- Ele merecia bem mais, Linda - Meu pai diz à ela.
-- Quem merecia mais era você. Luck não disse nem metade das boas verdades que vocês dois precisavam ouvir.
-- Não vamos deixar que seu filho estrague mais a vida do nosso. - Minha mãe diz e vira as costas, puxando-me pelo braço. Meu pai também se vira e nos segue.
(...)
No carro tenho mais tempo para pensar. Pouco antes de sairmos, minha mãe dissera àquela mulher que não deixaria que Lucas estragasse mais a minha vida. Não sei em qual sentido ela dissera aquilo, mas me pareceu que foi mais no sentido de como se já tivéssemos nos esbarrado muitas vezes antes, do que no sentido tentar arruinar a minha vida a partir dali, aproveitando-se daquela situação.
Nenhum deles fala comigo o caminho inteiro, e também não se conversam entre si. Sei que era para eu estar feliz, agora que finalmente estou com meus pais, mas não é esse sentimento que está em meu peito, e muito menos chega perto de ser isso.
Perco-me nos pensamentos até que sinto o carro parar. Estou em casa.
Nunca tinha parado para imaginar como seria a minha casa. Agora, de pé diante dela, chego a conclusão de que nunca teria imaginado tal estrutura.
Madeira. Toda a sua decoração externa é feita de madeira que fora pintada de branca. Possuí uma varanda extensa na frente dois andares e um sótão.
-- Vamos entrar filho. - Minha mãe convida.
(...)
Duas semanas. É esse o tempo que já estou no que dizem ser minha casa.
Bom, eu já estou bem convencido de que seja mesmo. Tem fotos minhas em alguns quadros na estante e na parede. Em algumas estamos eu, minha mãe e a garota que conheci como sendo minha irmã. Em outras, a figura de minha mãe é trocada pela de meu pai.
Algumas pessoas, aquelas que me visitaram no hospital, apareceram aqui, mas meus pais nunca permitiram que entrassem.
Ethan e Lilly não deram sinal de vida.
Alguns sonhos muito confusos me perturbavam durante a noite. Minha cabeça parecia prestes a explodir em outros dias. Achei que poderia encontrar alguma coisa em meu computador, mas não consegui me lembrar da senha.
Meus pais pareciam não estar em casa, tão predominante era o silêncio.
Almoçávamos e jantávamos juntos, mas nunca estabelecíamos um diálogo maior que oito palavras.
As palavras ditas naquele dia, tanto pelo garoto, Luck, quanto pela minha mãe, ainda se repetiam em minha mente, como um eco que não conseguia sair.
No banho, sempre prestava muita atenção nas marcas, arriscava até a apertar algumas para ver se me lembrava de algo com a dor, mas nada me vinha à mente. A única marca que me trazia o que eu não consigo decidir se é uma lembrança ou uma confusão mental, é a que se encontra na minha barriga. Uma imagem tão nítida do garoto me dando banho, agora em conjunto com as suas palavras.
Será que ele realmente me dissera a verdade?
Certa noite, enquanto eu olhava pela janela, ofuscado pela escuridão do quarto, vi alguém rondar a casa. Algo me dizia que era ele. Não consegui ver com clareza o que estava fazendo, mas se aproximou de uma arvore do outro lado da rua, ficou ali por alguns segundos e depois foi embora, mas não antes de dirigir um olhar para a minha janela.
-- Filho, venha jantar. - Minha mãe chama lá de baixo.
-- Já vou descer mãe.
Outro jantar silencioso. Resolvo falar desta vez.
-- Por que ela não está aqui? - Pergunto, fazendo um sinal de cabeça para o quadro em que se encontra uma foto de minha irmã.
-- Agora não é hora de conversa. - Meu pai me repreende. - É falta de respeito falar enquanto se está à mesa. Por ser um momento sagrado, a única coisa que devemos fazer é a oração agradecendo e pedindo a Deus para que abençoe o alimento.
-- Engraçado. - Penso alto demais.
-- O que é engraçado? - Ele me pergunta largando o garfo no prato. Minha mãe para de comer.
-- Vocês. - Respondo depois de alguns segundos.
-- O que temos nós, Gabriel? - Agora é minha mãe quem pergunta.
-- Vocês falam tanto de Deus, e em nenhum momento vi nenhum de vocês indo à igreja.
-- O que você está insinuando?
-- Não estou insinuando nada, pai. Só estou comentando o que observei.
-- Então pense melhor antes de abrir a boca garoto.
-- Sabe, parece que vocês estão mantendo-me preso aqui dentro. Não me deixam sair para nada, não saem os dois ao mesmo tempo para que eu não fique sozinho, não me deixam receber visitas e não respondem às minhas perguntas. - Minha voz se altera ao pronunciar as últimas palavras.
-- Olha aqui garoto, essa é a minha casa, minhas regras. Quem você acha que é para questionar a mim e a sua mãe desta forma? Se estamos fazendo todas estas coisas de que nos acusa, não sei como ainda não entendeu que é para o seu próprio bem.
-- Como me manter preso dentro dessa casa vai me fazer bem? Como me deixar com mais dúvidas, ao invés de saná-las, pode ser uma coisa boa?
-- Você quer respostas? Sua irmã não está aqui porquê foi uma ingrata. Nunca aceitou o fato de que tinha que obedecer às nossas regras. Nunca entendeu que tudo que fazíamos era para o bem dela. Arranjou um namorado que não atendia às vontades de Deus e ele confundiu a mente dela, fez a cabeça dela, e um dia, os dois fugiram. Ele a levou para os caminhos do inferno.
-- Ele não atendia às vontades de Deus ou às vontades de vocês?
-- CALE A BOCA - Minha mãe se levanta e me dá um tapa no rosto. - Seu ingrato. Depois de tudo que passamos com ela, quer nos fazer passar pelas mesmas coisas com você?
-- Eu não estou querendo fazer merda nenhuma. Só quero que respondam as minhas perguntas. Só quero que conversem comigo se querem que eu me lembre das coisas certas.
--Se decidirmos que não queremos falar sobre alguma coisa com você, nós não iremos falar. - Meu pai diz com punhos cerrados contra a mesa e as costas curvadas para frente.
-- Okay. Mas saibam que vou dar um jeito de encontrar as respostas sozinho.
-- Como ousa? - Minha mãe me pergunta com um olhar perplexo.
-- Estou começando a achar que... - Faço uma pausa, mas depois decido terminar a frase - Estou começando a achar que foram vocês que me marcaram desta forma.
-- AGORA VOCÊ PASSOU DOS LIMITES GAROTO. - Meu pai grita e avança em minha direção.
-- Querido, não! - Minha mãe se apressa em impedi-lo - Não vale a pena piorar ainda mais as coisas. - Ela me lança um olhar furioso - E você, vá já para o seu quarto!
Eu não a questiono. É até um alívio sair dessa sala.
Subo as escadas e me jogo na cama. Adormeço. Ninguém vem até meu quarto, mas é o sonho que me acorda.
Estava num beco sem saída e alguns garotos me encurralavam. Não consegui ver o rosto de nenhum deles. Eu estava de bruços, caído no chão e eles me batiam com pedaços de madeira e desferiam chutes em várias partes de meu corpo.
Eu não conseguia me levantar e eles faziam de tudo para que eu não conseguisse mesmo.
Quando finalmente consigo abrir os olhos, lanço um olhar para o rádio relógio que está sobre a cômoda. Duas e meia da manhã. Paralisia do sono?!
Não volto a dormir devido ao medo de ter o mesmo sonho. Vejo o sol nascer e invadir o quarto com a sua luz cor de ouro.
Passam-se as horas e aproximam-se ás nove da manhã e então, a campainha toca. Nem me preocupo em me levantar e espiar pela janela. Com certeza deve ser mais uma pobre pessoa que veio me visitar numa tentativa inútil, já que é certo que meus pais não permitirão que entre.
Alguns minutos se passam e escuto passos subindo as escadas. Alguém bate à porta.
-- Filho? - Minha mãe chama do outro lado.
-- Pode entrar.
-- Você tem visita. - Ela faz uma pausa - Arrume-se antes de descer. É um conselho.
Ela fecha a porta e me deixa ali, com as minhas próprias conclusões.
Fico deitado por mais alguns segundos e resolvo me levantar. Levo vinte minutos para me arrumar e depois desço.
Chegando ao andar de baixo e indo até a sala me deparo com uma situação um tanto... Incomum.
Meus pais estão sentados no sofá de dois lugares. No outro, de três, está Ethan, Lilly e uma garota que não conheço, e se conheço, não tenho como me lembrar dela.
-- Olá pessoal. - Cumprimento-os, lançando à garota um gesto de cabeça individual. Eles respondem afetuosamente.
-- Sente-se filho. - Meu pai pede. Eu obedeço, e me coloco na poltrona que fica na quina entre duas paredes.
-- Filho, já faz duas semanas e meia que você está em casa - Minha mãe toma a frente da conversa - E estávamos tentando encontrar o momento certo para termos esta conversa com você.
-- Aham... - É o máximo que consigo dizer. Não estou entendendo nada.
-- Bom filho, gostaríamos que conhecesse... Quer dizer - Ele corrige o que estava dizendo - Gostaríamos que “reconhecesse” a Srta. Rosalie Anderson. Claro que você não se lembra dela, mas... É bom que a apresentemos para você.
-- Certo, e... Por que isso?
-- Bem... - Minha mãe volta a dizer - Porque ela é a sua noiva.
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