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História Imagination - Capítulo Único


Escrita por: AquaticBoy

Notas do Autor


Bom, gente, aqui estou eu novamente, após dois dias trabalhando em cima dessa mais nova criação. Decidi investir em uma história super clean, livre de qualquer ligação com relacionamentos amorosos, uma vez que o foco aqui é a amizade. É uma história que requer atenção, até porque ela é cheia de detalhes. Acredito que após a primeira leitura, muitos vão querer refazê-la pra compreender melhor alguns pontos. Ficou até grande, comparado às minhas outras one shots, não é? Mais de oito mil palavras, esse não é meu mundo. haha Mas foi necessário <3

Espero que vocês possam dar muito amor a essa fanfic!
Leiam, favoritem, comentem e compartilhem com os amigos!

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Imagination - Capítulo Único

O relógio marcava sete horas da manhã. O café estava posto à mesa enquanto a torradeira finalizava sua função. Cuidadosamente, a senhora Zhong servia o alimento matinal ao seu primogênito, Chenle, antes do garoto partir para mais um dia de aula. Dentro de poucos instantes, o ônibus escolar daria sinal em frente à sua casa, logo, o pequeno precisaria se apressar para não se atrasar.

— Filho, o que houve com você pra ter se levantado tão tarde, hoje? – indagava a mãe – Você ficou no video-game até de madrugada de novo?

— Não é isso... – respondia o menor – Meu despertador foi o culpado. Ele simplesmente não tocou!

A mãe sorrira — Nesse caso, a culpa não teria sido sua, por não tê-lo programado direito? – afagara seus cabelos, arrumando a gola de seu uniforme enquanto o aluno virava a xícara de achocolatado goela abaixo.

— Mãe! De que lado você está, afinal? – levantou em disparada, catando sua mochila que estava pendurada na cadeira ao lado, após ouvir a buzina que sinalizava a chegada do transporte escolar — Preciso ir. Hoje saio às onze! Não se esqueça de ir me buscar! Beijos, mamacita.

 

Aluno do nono ano do ensino fundamental, Chenle se distinguia dos demais de sua turma por ser o único estudante estrangeiro. Após sua mudança para Seul, capital da Coreia do Sul, sua vida pareceu ter virado ao avesso. O idioma novo ainda lhe confundia muitas vezes, mesmo depois de dois anos naquele lugar. Por algum motivo, o pequeno Zhong sempre se sentira muito solitário, desde que passou a frequentar sua nova escola. Ter que enfrentar a crueldade de alguns companheiros de classe passou a fazer parte de seu cotidiano. Era difícil acordar com ânimo para frequentar aquela rotina, sabendo que seria alvo de brincadeiras de mau gosto, travessuras e principalmente, ataques xenofóbicos.

— Sobe ligeiro, China! – gritou um de seus colegas de classe, da janela do ônibus – Tá atrasado por quê? O relógio falsificado deu problema? – Jeno se divertia ao fazer mais uma de suas piadinhas irritantes antes mesmo de chegarem ao colégio.

Chenle entrou pela porta da frente do coletivo, caminhando em passos lentos, notando mais uma vez que quase todos os acentos estavam preenchidos por alunos, que tagarelavam e cochichavam em duplas. Seu lugar parecia sempre reservado, na penúltima poltrona, que se encontrava sempre vazia todos os dias. Aproximou-se, sendo recepcionado pelo único sorriso que Chenle considerava, de fato, amigável.

— Bom dia, Jisung! – revelou seu nome, cumprimentando-o — Por pouco eu perderia a hora...

O garoto de cabelos douradinhos sorriu — Você teria que ir caminhando para a escola, caso o ônibus partisse sem você.

 

Já em sala de aula, o professor de matemática lecionava a disciplina enquanto todos, ou pelo menos a maioria dos alunos, prestavam atenção. Lidar com aqueles números e equações era considerado por muitos, um pesadelo. Exceto por Chenle. Este poderia ser mais um dos motivos pelo qual seus companheiros de classe o estranhavam.

— A resposta da questão C, alguém pode me dizer qual seria a correta? – perguntou o docente, notando o braço esticado do aluno estrangeiro, sentado na última fileira – Você sabe, Zhong?

— Quarenta e três, professor!

 — Muito bem, a resposta está certa! – confirmou mostrando o polegar ao pequeno, causando uma mistura de ciúmes e inveja em alguns alunos.

Jeno repassara um bilhete para seu inseparável amigo, o também problemático Jaemin, que o lera baixinho.

 “O Xing-Ling deve ser um robô, só ele entende essa baboseira toda. Não é possível...”. Jaemin rira, cobrindo a boca com a mão direita, voltando os olhos indiscretamente para Chenle, que percebera mais uma vez, que estava sendo alvo de deboche.

Zhong esticara seu corpo para trás, a ponto de ouvir a voz baixinha de Jisung que lhe falara próximo ao ouvido — Não liga pra eles... Você sabe que eles são uns bobos mesmo, só sabem provocar.

Chenle confirmara com um singelo balançar de cabeça, deixando os encrenqueiros de lado.

 

Hora do intervalo. O estudante chinês caminhava atentamente com sua bandeja contendo seu lanche, na tentativa de localizar um lugar vago em alguma mesa do refeitório, porém já estava ficando frustrado ao ver que basicamente todas já estavam lotadas. De repente, notara uma vaga em uma mesa, onde alunos do primeiro ano do ensino médio estavam sentados.

— Com licença... – o tímido aluno estrangeiro dirigia palavra a dois estudantes que lá estavam — Posso me sentar aqui com vocês?

O mais velho olhou para o companheiro e gargalhou — O que acha, Haechan?

— Cai fora, pivete! – respondeu o garoto, acenando com a mão – Se você se encostar em nossa mesa, vamos nos sujar com esse seu óleo de fritar pastel.

Mark rira da piada infeliz do amigo, provocando ainda mais o pequeno Chenle, que ouvira tudo aquilo calado, como sempre, com receio de revidar.

— Além do mais, o lugar está ocupado – replicou Mark, colocando os pés em cima da cadeira que estava desocupada — Viu só?

Chenle engolira seco, dando meia volta e prosseguindo seu caminho, com expressão séria no rosto, procurando um cantinho qualquer para tentar se acomodar. Logo notara uma mesa no canto do salão, que estaria desocupada se não fosse a presença daquele loirinho, considerado seu único amigo naquela escola, lhe acenando com o braço levantado em convite para que eles se sentassem juntos.

A bandeja fora posta na mesa e, poucos segundos após o pequeno chinês tomar seu lugar, tivera uma infeliz surpresa.

— Minha nossa... – dizia, farejando o ar — Que cheiro forte de xixi!

— Deve ser porque estamos muito próximos do banheiro masculino, não é, Chenle? – respondia Jisung, olhando para a porta do toalete — A propósito, é por isso que essa mesa é sempre vaga ou pelo menos costuma ser a última opção de todos durante os intervalos.

Chenle olhara em volta e percebera que os outros alunos continuavam a cochichar e rir — Será que algum dia eu serei tratado com normalidade aqui dentro?

Jisung apoiara o queixo com as mãos enquanto seus cotovelos estavam postos sobre a mesa, notando a perceptível melancolia nas palavras de seu amigo — Não fica assim, Le... Você sabe que não deve deixar isso te abalar... – fizera gesto com o punho – Fighting, ok?

Chenle abrira um sorrisinho de canto — Certo... A propósito, você estava aqui sem fazer nada? Onde está seu lanche?

— Não estou com fome – respondeu o loirinho, mexendo nos cabelos próximos à sua nuca — Acho que comi cereal demais no café.

 

Com o fim da aula, os alunos mais pareciam correr do que caminhar civilizadamente nos corredores do colégio. Grupos de amigos costumavam andar sempre juntos. Passavam pelo lado de Chenle, que involuntariamente, ouvia parte de suas conversas paralelas.

“Vamos para o shopping, me ajudem a escolher roupas novas!”, “A sorveteria nova da esquina tem os melhores milk-shakes, podemos ir pra lá agora, o que acham?”, “Você poderia ir jogar video-game na minha casa hoje se quiser”. Os adolescentes daquele lugar pareciam mesmo ter uma vida social bem agitada. Pra Chenle, notar o quanto ele era o único ali desprezado lhe causava um aperto no peito.

— Você quer ir à minha casa agora, Le? – uma voz chamara sua atenção. Era Jisung, que acabara por alcançá-lo – Poderíamos assistir minha série de Super Sentai favorita e em seguida jogar bola, o que acha?

Chenle sentira-se um pouco aliviado e aquela angústia reduziu-se pela metade, por uma fração de segundos — Seria mesmo muito bom, Jisung... Porém combinei com a minha mãe e ela está vindo me buscar agora. Podemos nos ver na nossa base secreta mais tarde.

— Pode deixar! – replicou o amigo — Sendo assim, vou me apressar porque agora sim, a fome me acertou em cheio!

Chenle rira. Pra ele, se distrair com o jeito engraçado de Jisung lhe fazia mesmo um bem enorme. Despediu-se, vendo o garoto de cabelos amarelinhos desaparecer com a distância. Em seguida, foi bruscamente surpreendido por Jeno e Jaemin, os alunos problemáticos de sua turma.

— E aí, China... – Jaemin se aproximara do garoto, que se encostou à parede, intimidado — O que é que tem nessa mochila aí, hum? Aposto que você tá carregando um estoque de catupily.

Jeno gargalhava escandalosamente — Essa foi boa, Jaemin... O que acha de tirarmos a prova?

Chenle, assustado, abraçou sua mochila com um pouco mais de força, na tentativa de impedir os garotos, tendo seu plano fracassado devido à vantagem dos demais. Logo, seus cadernos e estojo com lápis foram jogados de encontro ao chão.

— Ops, acho que nos enganamos, Jeno... – dizia ao comparsa, ironicamente — Parece que hoje o pasteleilo vai cancelar o catupily do flanguinho.

Ouvir tantos desaforos e ser alvo de tantas piadas cruéis atormentava o pequeno Zhong, que tentava veemente, segurar o choro na frente de todos. Notar que outros alunos que por ali passavam ignoravam a cena, ora por acharem engraçado, ora por receio de também se tornarem alvos fazia com que ele se sentisse ainda mais fraco e inseguro. Nessas horas, Chenle se apegava às palavras de Jisung, o único que sempre o encorajava.

Abaixou-se, recolhendo seu material espalhado pelo chão, notando o distanciamento dos covardes. Os corredores já se encontravam praticamente vazios. Ao olhar seu celular, uma nova mensagem de sua mãe sinalizava na tela. “Te aguardo no estacionamento, filho”.

 

Finalizavam o almoço, na residência dos Zhong. Estavam satisfeitos após mais uma deliciosa refeição, seguido da indispensável sobremesa feita de morangos e chantilly. Aquela era, de longe, a favorita de Chenle. Aproveitavam o momento em que a família estava reunida na mesa para colocarem os assuntos em dia. O pai, que trabalhava durante boa parte do dia em uma loja de conveniência, comentava sobre o noticiário do jornal.

— É lamentável ver que a violência nesse mundo cresce tanto a cada dia... – concluía, após contar sobre casos recém-publicados, onde uma senhora de idade havia sido vítima de maus-tratos por uma enfermeira.

— Isso é um caso mesmo sério – complementava a mãe — Devemos combater o ódio e a violência com amor. Só assim podemos ter a esperança de que haja mudança no coração dessas pessoas e elas possam se tornar melhores.

Chenle, que havia terminado sua porção de creme, ficara em silêncio ouvindo o diálogo dos pais, com um olhar claramente carregado de mistério. Ele sempre tivera receio de comentar algo sobre o bullying sofrido na escola, diariamente. O medo da reação de todos, desde os genitores aos agressores lhe perturbava a mente. Ele poderia piorar tudo, caso entregasse seus companheiros de turma, como Jeno e Jaemin já haviam o alertado antes. Aquele fardo que já carregava há certo tempo, o pequeno Le nutria a esperança de que desaparecesse sem que nenhum grande atrito fosse provocado.

— Filho... – seu pai o solicitara — E na escola, está tudo bem por lá?

Cinco segundos sem abrir a boca, o garoto ainda precisara antes de lhe responder calmamente — Está sim, pai – levantou-se da mesa, levando a louça até a pia, buscando escapar do ambiente e, como consequência, de mais indagações — Preciso ir. Combinei de encontrar alguns amigos na sorveteria. Retorno logo mais.

— Tudo bem, filho, tome cuidado e se comporte – alertou a senhora Zhong.

 

“Amigos”. Chenle alimentava a ideia na cabeça de seus pais, de que sua vida era mesmo igual à de qualquer outro estudante de sua idade, o que estava longe de ser verdade. Durante sua caminhada, sozinho pelas calçadas na proximidade de sua residência, imaginava o quão bom seria se tudo aquilo que ele havia acabado de inventar, fosse realidade. Nessas horas, onde sua maior vontade era a de fugir pra bem longe da vista de todos, havia um único lugar onde Chenle gostava de ir. Um sobradinho abandonado no fim do terceiro quarteirão. Aquela casa antiga, cuja frente havia sido tomada pela jardinagem esquecida, tornou-se seu esconderijo, ou como ele preferia chamar, sua base secreta. Chenle havia descoberto o muquifo após uma perseguição, adentrando-a para se esconder de Jeno e Jaemin, que queriam jogá-lo em um container de lixo. Desde então, após se livrar da vista de seus agressores, Le resolveu organizar um pouco do que podia, para poder visitar o local com mais frequência.

— Você demorou, Le! – a voz de Jisung, que já estava no local, sentado em uma velha poltrona chamara sua atenção — Achei que não viria mais.

Jisung, obviamente, era o único amigo de Zhong que conhecia o lugar. Ali, ambos se divertiam ao contar histórias, jogar ou até mesmo estudar. Desde que o loirinho passou a fazer companhia para Chenle na base secreta que decidiram chamar aquilo de clube, onde um mural fora fixado, contendo retratos de seus membros oficiais. Retratos esses, feitos à base de giz de cera, onde os dois amigos foram rabiscados pelo seu fundador, na ausência de fotografias de ambos. “Meu cabelo não é tão feio assim!”, reclamou Jisung, na primeira vez que o viu, causando uma crise de riso no pequeno Le.

— Você chegou faz tempo? – perguntou o chinês — Tive que ajudar meu pai, um pouco antes do almoço.

— Não muito. Mas está tudo bem agora que você chegou... Trouxe seu tablet pra assistirmos o episódio novo de Dragon Ball?

— Claro! Achou mesmo que eu esqueceria? – sorriu, encolhendo os olhinhos.

 

 

Poucos dias depois. Chenle estava entediado olhando os outros alunos do ensino médio jogando futebol na quadra. Aproveitando uma aula vaga, os alunos no nono ano passeavam livremente pelas dependências da escola. Pareciam entusiasmados com alguma boa notícia que poderia ser a abertura de alguma loja nova nas redondezas ou até mesmo algum evento escolar do qual Le não estaria sabendo até o momento. Duas garotas sentaram-se ao lado do estrangeiro, deixando escapar o motivo para tamanha empolgação.

— Tenho certeza que essa vai ser a festa do ano! – dizia, comemorando com a amiga.

— Claro, né? A família do Jaemin é mesmo tão rica, que essa festa de aniversário vai dar o que falar. Ele mandou convites personalizados para todos da sala, estou babando no meu até agora – a outra replicara.

— Só de imaginar que passaremos a tarde toda na piscina da casa dele...  – levantaram-se, em contrapartida — Não vejo a hora de a aula acabar logo, já que iremos todos diretamente pra lá.

Eis a razão para tanto ânimo. A turma do nono ano havia sido convidada para uma festa na casa de Jaemin. Ou pelo menos, quase todos. Chenle não havia recebido convite algum, como era de se esperar. Será que todos ali eram mesmo amigos de um garoto problemático ou só estavam rasgando ceda em troca de umas horas de diversão? Independente do motivo, o sentimento de exclusão tomara conta de Zhong, sem que ele pudesse evitar. Imaginar que sua existência ali não significava nada lhe doía profundamente. Não que ele gostasse de dançar, mas estar entre amigos e esquecer tudo em volta ao som de uma boa música deveria ter mesmo um gostinho bom.

— Le, então você está aí... – seu confidente chegara, subindo na arquibancada onde estava o chinês — Parece que fomos excluídos...

Chen fizera cara de espanto — Você também não foi convidado, Jisung?

— Não... – sentara ao seu lado, fazendo bico — Mas eu nem queria ir mesmo. Pra quê perder tempo em um lugar cheio de pessoas que sorriem pela frente e depois te apunhalam pelas costas?

— Por um lado você tem razão... – concordara, retirando uma goma de mascar do bolso — Não dá pra fazer questão de quem não faz questão de nossa companhia – colocara na boca, oferecendo outra à Ji — Quer uma também?

— Não, obrigado, Le. Acho que vou evitar tanto doce – rira.

Ali ficaram por mais algum tempo, cantarolando uma música que falava sobre chicletes. Foi o que ficara em suas cabeças após Chenle insistir em fazer bolas e estourá-las a ponto de seu nariz ficar todo coberto — Che-che-che-che-chewing gum!

 

Fim da aula, alguns estudantes corriam para os carros de seus pais, enquanto outros pegavam carona. Até uma van havia sido fretada pra levar os que faltavam, na garantia de que todos os convidados fossem à festa de Jaemin. Por falar no problemático, logo ele passou ao lado de Chen, acompanhado de seus capangas.

— Parece que o flanguinho vai ficar sozinho em casa! – debochava, em mais uma tentativa de irritar o garoto — Pode deixar que amanhã te diremos como foi a festa, China. Au revoir! – o empurrara, fazendo com que sua costa batesse no armário onde guardava seus livros.

Jisung chegara a tempo de presenciar a cena — SEU COVARDE! – gritara, não causando qualquer reação em Jaemin, que já se distanciava — Chenle, você está bem?

— Sim, Ji... Obrigado por se preocupar comigo.

— Olha, não fica triste por isso. Eu tive uma ideia! – dera meia volta, convidando o amigo para segui-lo — Vamos até a sala da rádio escolar!

 

Chenle abrira a porta, os equipamentos estavam desligados. Com o fim da aula, as dependências do colégio estavam em total silêncio. A ausência de burburinhos parecia deixar o lugar mais tranquilo. Tranquilo até demais.

— E então, Chenle... O que acha de fazermos uma festa só pra nós? – sugeriu Jisung, animado.

— Sabe... É mesmo uma ótima ideia! – Zhong correra até o aparelho principal, ligando-o e colocando uma música bem animada pra tocar.

Sozinhos ali na sala, os dois riam e pulavam, dançando ao som de uma música que continha sons de sirene e falava sobre carros do corpo de bombeiros. Pareciam ser tomados pela brincadeira. Até um microfone inexistente nas mãos eles podiam imaginar. Por falar em microfone, sem saber que o da rádio estava ligado, Chenle agiu como se estivesse em um karaokê, deixando sua voz e todo aquele som tomarem conta da escola inteira, o que não estava em seus planos.

De repente, alguém batera na porta — Quem está aí? – perguntou o coordenador de disciplina do colégio — Abra imediatamente!

Chen se assustara de imediato — Jisung, rápido, se esconda! Não quero que você se prejudique por mim! – o conduzira até por trás de um armário, correndo para abrir a porta, em seguida.

— Pois não, Senhor Coordenador?! – o pequeno já sabia que estava encrencado por fazer mau uso daqueles recursos em horário indevido.

— Me acompanhe até a minha sala, mocinho.

 

 

Três da tarde. Foram quatro horas de detenção que o pequeno chinês ganhou, tendo que reescrever a mesma frase por centenas de vezes. Sua mãe já havia sido notificada sobre sua peraltice. Chenle assumiu toda a culpa, sem mencionar Jisung em momento algum. Poderia ser algo a se lamentar, mas a sensação de que aquela breve festa havia sido tão divertida quanto à de Jaemin fazia com que um largo sorriso se estampasse em seu rosto pelo resto do dia.

Da janela de seu quarto, no segundo andar da casa, Zhong observava a movimentação no lado de fora. Notara que um carro de mudança descarregava móveis em uma residência do outro lado da rua. De certeza, seria mais um casal de idosos antissociais que não gostavam muito de chineses. Da vizinhança, sua família pouco interagia com alguns moradores, devido todos parecerem sempre muito fechados. Ainda acompanhando curiosamente com os olhos, Chenle tivera tempo de avistar um garoto de sua mesma faixa etária carregando uma caixa para dentro daquele que seria seu novo lar. O garoto de cabelos pretos, um pouco magro voltara seus olhos para o alto da casa de Le, enxergando-o. Acenou, timidamente, como gesto de cumprimento e entrou novamente no carro.

“Toc toc”, a porta abriu-se devagar, revelando a presença de sua mãe — Filho, você pode me ajudar um minutinho com as roupas na lavanderia?

— Claro, mãe. Já estou indo – respondera, retirando-se da janela — Você viu? Temos vizinhos novos!

 

 

Um novo dia havia começado. A responsável de Chenle se fazia presente na diretoria da escola, como haviam lhe solicitado no dia anterior, para que ela assinasse um termo de reconhecimento sobre a advertência do menor. Nada grave, contudo, fazia parte das normas internas da instituição. Ao passarem pelos corredores, ainda antes das aulas terem início, se depararam com um casal conversando com o coordenador de disciplina, que apoiava a mão direita nos ombros de um aluno. Devido aos seus sorrisos, não deveria se tratar de nenhuma encrenca. Logo o pequeno Zhong se dera conta de que o aluno ali presente, na verdade, era seu novo vizinho, visto no dia anterior — Nossa, ele vai estudar aqui também? – perguntou baixinho.

— O quê, filho? – a mãe ouvira o cochicho, mas não entendera.

— Ah, besteira, mamacita – sorrira, sem jeito — Hoje não precisa vir me buscar, tá bom?

A mãe concordara, dando um beijo de despedida em sua testa — Tudo bem, se cuida, viu? E nada de fazer a mamãe passar vexame aqui na escola novamente – se retirara.

O pequeno continuou a caminhar, rumo à sua classe, tendo que passar próximo ao coordenador, que o solicitara de imediato — Zhong Chenle! Venha aqui um instante.

Um calafrio tomou conta de si por uns instantes, ao ouvir seu nome daquela maneira — Oi, senhor Coordenador! O que desejas?

— Por gentileza, acompanhe o nosso novo aluno pelas dependências da escola. Ele se chama Hwang Renjun e, assim como você, ele também é chinês – aquelas palavras ecoaram na cabeça de Le como uma canção agradável de ouvir.

Como assim, um conterrâneo? Zhong sentia muita saudade do tempo em que viveu na China e dos amigos de infância que ficaram em seu passado. Saber que agora teria alguém igual a ele naquela escola, de alguma forma, lhe confortava — Pode deixar comigo! – Olhara para o novato, desprendendo-se ainda acanhado, das palavras que saíram propositalmente em sua língua materna – Zoh bah! – melhor forma que Chenle poderia dizer “Vamos lá”!

Juntos, os dois trocaram algumas primeiras palavras. Chen mostrou onde ficava a sala de música, o laboratório de química, a biblioteca e também as quadras de esportes. Aproveitaram para trocar algumas ideias sobre a experiência de morar em outro país. Zhong preocupou-se, ao pensar na possibilidade de Renjun se tornar mais um alvo nas mãos de seus colegas de classe.

— Sabe, Renjun... – tentava, de alguma forma, encontrar palavras para alertá-lo sobre a realidade ali dentro — Algumas vezes, as pessoas tendem a cometer atos não pensados. Por mais sem coração que alguns possam parecer, não se deixe levar pelo momento. É melhor pra todos nós, não darmos continuidade nisso.

O novo aluno parecia confuso, sem compreender ao certo o que Chenle queria dizer — Desculpa, acho que não entendi muito bem... Quem seriam essas pessoas e o que exatamente elas fazem?

— Deixa pra lá – fugira do assunto, como costumava fazer — Vem, está na hora de irmos pra sala. Mal posso crer que você também será de minha classe!

Renjun abrira um sorrisão, deixando à mostra sua presinha esquerda fora do lugar — Já estava mais do que na hora!

 

Em sala, todos olhavam curiosos para o novo aluno, que chegara acompanhado pelo pequeno Le, que se dirigira ao seu acento enquanto Hwang apresentava-se formalmente na frente do quadro. Tivera um pequeno espanto quando ouvira os risos e até algumas vaias quando revelara sua nacionalidade, confirmando aquilo que Chenle tanto temia que acontecesse.

— Não é assim que se recebe um colega de turma – esbravejou a professora de história presente na turma — Como é que se diz?

Beeem viiiindo, Reeenjuuun! – responderam em coro, com tom de deboche.

O novo aluno agora caminhara em direção à Chenle, notando o lugar vago logo atrás de sua carteira. Pusera seu material na mesinha, tendo sua atenção chamada de imediata pelo novo amigo — Esse lugar é do Jisung, Renjun! Tem aquele outro, na fila ao lado...

— Ah, claro... Eu achei que estava livre – sorrira, envergonhado – Parece que o dono desse lugar ainda não chegou...

 

 

Os primeiros horários de Renjun na escola nova haviam sido tranquilos, perto do caos que Zhong imaginava que seriam. O recém-chegado se sentia intimidado a cada vez que percebia algum aluno o encarando, mas sabia que aquilo se dava pelo fato de ser novidade na turma. Sempre que precisava de alguma ajuda com o idioma novo, Hwang perguntava discretamente ao novo amigo, que lhe respondia baixinho pra não atrapalhar as aulas. De fato, ambos já estavam se dando melhor do que esperavam.

No intervalo, Chenle fora o último, mais uma vez, a chegar ao refeitório. Dessa vez, lhe encarregaram de guardar alguns mapas da aula de geografia, tomando um pouco mais de seu tempo. E assim ele ia, caminhando com sua bandeja nas mãos, procurando novamente por um lugar disponível — Que saco, será possível que não tem nenhum sobrando? – perguntava baixinho.

Logo mais à frente, o braço levantado na última mesa mostrava aquele que o convidava para sentar-se junto. Não era Jisung. Dessa vez era Renjun, que estava na mesma mesa no canto do salão.

— Que cheiro horrível – resmungou Chenle, ao sentar-se próximo ao novo amigo.

— Deve ser porque essa mesa fica próximo ao banheiro... – respondeu Hwang, rindo da cara de Le — Você demorou tanto que acabei meu milk-shake.

— Bom, então toma esse achocolatado e me faça companhia – respondeu Chenle, entregando a caixinha em suas mãos — Trouxe um extra mesmo – na verdade, Zhong parecia surpreso com aquela cena que mais parecia um déjà vu.

— Sabe, Chenle – tomara a voz, após soltar o canudinho da boca — É impressão minha ou parece que os outros alunos não vão muito com a nossa cara?

Le contraíra o riso, respondendo sem tanta confiança — Algum dia saberemos...

 

 

Chenle e Renjun retornaram juntos para casa. Aproveitaram a proximidade de suas residências pra passarem o resto do dia juntos, conversando sobre seus gostos em comum e sobre suas séries favoritas. A liberdade que Zhong sentia ao estar próximo de Hwang era tanta, que ele resolveu se abrir e falar toda a verdade sobre o que passava no colégio e sobre o bullying que sofria. Não fora fácil, porém aquilo estava engasgado na garganta do menor, juntamente com o medo de que seu novo amigo também se tornasse mais uma vítima de seus agressores.

— Isso é inadmissível, Chenle! – esbravejava o vizinho — Você não pode simplesmente aceitar tudo e deixar como está. Você precisa entregá-los antes que algo pior aconteça com você...

— Não dá, Renjun! Não é tão simples assim! – respondia, ainda confuso — Eu sempre acreditei que eles pudessem mudar seus comportamentos, mas mesmo que eu permaneça calado, continuo sendo maltratado diariamente e agora que você chegou, tenho muito medo de que possam fazer o mesmo com você apenas pelo fato de ter se aproximado de mim.

— Você tem aguentado isso tudo sozinho, esse tempo todo, Chenle? – os olhos de Hwang pareciam carregados de tristeza ao ouvir seu desabafo.

— Não... Eu não estive sozinho graças ao Jisung... – replicara, acanhado — Ele tem me ajudado bastante e graças a ele eu não tenho me sentido tão só.

— Ele te defende dos demais alunos? Já tomou voz para tentar acabar com tudo isso de uma vez por todas?

Chenle engolira as palavras, que saiam cada vez com mais dificuldades — Não adianta, Ren... Eles não ouvem, simplesmente não ouvem.

Ao notar que aquele assunto parecia ferir Chenle em cheio, como seu ponto fraco, Hwang decidira ficar em silêncio e não insistir. Para ele, injustiça como aquela não era algo que pudesse facilmente ser tolerado e ele estava disposto a tudo para reverter aquele quadro — Vamos juntos amanhã pra escola, tudo bom?

 

 

Não era costume de Chen se atrasar para a escola, porém pouco dormira naquela noite, pensando em tudo que seu novo amigo havia lhe dito no dia anterior. Ele teria que ser forte e ter pulso firme para enfrentar a todos de maneira sábia, não dando vez à troca de violência, tanto verbal quanto física.

O ônibus buzinou em frente à sua casa enquanto ainda devorava sua torrada. Le sabia que a tolerância dos dois minutos já estava chegando ao fim e por isso resolveu sair de casa sem ao menos finalizar seu copo de leite.

— Filho, tente dormir mais cedo! – ainda tivera tempo de ouvir a queixa de sua mãe.

Ainda de fora do ônibus podia-se notar mais uma vez, os olhares acusadores nas janelas. Ele sabia que colocaria os pés ali dentro e seria recepcionado com mais uma piadinha de Jeno.

— Essas baterias importadas da China não duram nem um dia e já dão problema... Olha aí o despertador do Catupily de prova – dito e feito, como era de se esperar. Os outros alunos riam de mais uma piada estúpida do encrenqueiro.

O lugar de Chenle estava reservado, no fim do ônibus. Da entrada já se via o braço levantado em convite. Novamente, não era Jisung. Seus cabelos pretos revelavam que era Hwang que estava em seu acento e que Ji sequer estava presente no coletivo.

— Bom dia, Renjun! – cumprimentara o amigo, que retribuíra a cortesia – Dormi um pouco mais do que devia...

— Eu percebi – sorrira — Aquele garoto que falou aquelas baboseiras, como se chama?

— Ah... – Le olhava na direção de sua poltrona, vendo sua inquietação — É o Jeno... Ele sempre repete as mesmas coisas, não liga pra ele não.

 

 

Os alunos entraram em sala, indo para seus lugares. Novamente, Hwang seguira os passos de Zhong, inconscientemente, colocando seus livros em cima da carteira de trás de seu amigo. Chenle virara-se, não precisando prosseguir com suas palavras.

— Ops... Eu havia esquecido... Esse lugar já tem dono, não é? – catou o material, voltando para o mesmo lugar vago do dia anterior — Será que seu amigo faltará na aula hoje, de novo?

Chenle abaixara a cabeça. Onde estaria Jisung?

Uma bola de papel acabara por chamar a atenção do menor. Jaemin aproveitava-se na ausência do professor para provocá-lo, lançando outras em seguida — Nossa, quanto lixo! Por sorte o lixeiro está quietinho no seu canto...

Jeno rira e repetira a má ação do comparsa, atirando outras bolas de papel em Chenle, que agora tentava usar seu livro como escudo.

— PAREM COM ISSO, AGORA! – a voz em alto tom do corajoso aluno novo se revelou na sala, fazendo com que todos voltassem os olhos em sua direção — Vocês não tem vergonha de perseguir alguém dessa maneira? – levantara, caminhando em direção aos dois — Vocês são maiores que o Chenle, até quando vocês acham que poderão continuar com essa covardia e atacá-lo incansavelmente? Isso não é e nunca foi atitude de humanos... O que vocês são, afinal? Monstros?

Jaemin e Jeno se entreolharam, engolindo o riso.

— Não gostamos de parasitas, iguais a vocês – respondeu Jeno, tentando se mostrar superior.

— Se você nos compara a parasitas, Jeno, você está se incluindo, também — lhe respondera confiante de si — Somos todos iguais, independente de cor, etnia ou crença. O que nos faz diferentes é apenas o que pensamos, que nos torna ou não, mais humanos. Enquanto vocês tiverem atitudes desprezíveis assim, não passarão de meros pobres coitados que verdadeiramente abusam de pessoas mais frágeis para tentar justificar a suas vidinhas medíocres.

Jeno e Jaemin se calaram e não tiveram voz para revidar o repentino e inesperado contra-ataque de Renjun. Chenle assistira a cena também em silêncio, não acreditando no que havia acabado de presenciar.

Hwang sentara-se novamente, vendo que todos, de repente haviam se comportado como se o docente já estivesse em sala, o que não havia ocorrido ainda. Voltara seu rosto para Le, que lhe encarava com um semblante carregado de alegria.

— Obrigado, Renjun... De verdade – a voz baixinha de Chenle chegara até os seus ouvidos.

Dois gigantes pareciam ter sido derrubados com uma pedrada só.

 

 

Com uma breve trégua dos companheiros de turma, os dois amigos chineses agora se empenhavam na tarefa de biologia, referente ao terceiro horário de aula daquele dia. Renjun rira, após folhear o livro que estavam usando e se deparar com um texto sobre parasitas — Nossa, olha só o que temos aqui...

Chen abafara o riso. Ele não poderia extravasar ali dentro e ter sua atenção chamada pelo professor — Ren, você foi mesmo corajoso... Mas, tenha mais cuidado. Nem todos são como o Jeno ou Jaemin, que não revidaram agressivamente dessa vez.

— Espero que nada daquilo se repita, Chenle. Só assim podemos evitar qualquer atrito com aqueles baderneiros.

O professor solicitara Zhong, que se alertou ao seu pedido — Por favor, vá até a biblioteca e me traga os últimos livros que ficaram sobre a mesa, pode ser?

— Pode deixar! – levantou-se, partindo em direção à porta da sala.

— Professor! – Renjun levantara a mão – Posso ir junto e ajudar também?

— Tudo bem, Hwang, mas sejam breves.

 

Corredor afora, a dupla caminhava em direção à sala dos livros. Tudo estava mesmo tranquilo, já que as turmas estavam em aulas. Tal sossego chegaria ao seu fim, antes mesmo dos chineses chegarem ao final da passagem, próximo a escadaria de acesso ao térreo. Os alunos do primeiro ano, Mark e Haechan retornavam do laboratório de química, também seguindo ordens de seu professor. Desconheciam Ren, mas não perderiam a oportunidade de destilarem seu veneno contra Chenle.

— E aí, China... – disse Mark, com um olhar carregado de más intenções — Sabia que eu sempre tive curiosidade de saber se você cabe em um desses armários? Você é tão pequeno... O que acha de tentarmos? – voltou os olhos à Haechan, em forma de comando, convidando-o a prenderem o pobre garoto.

— O Mark tem razão. Você sabe que é melhor colaborar conosco, não é? – respondeu o outro veterano, andando na direção de Le.

— Vocês não farão nada disso com ele – Renjun se impusera novamente — Vocês deveriam ser exemplos, já que são mais velhos. Agindo dessa forma, não poderão cobrar respeito de ninguém.

— Ora, ora, ora, se não temos um valentão aqui... – Mark agora voltara os olhos para o novato — E com esse sotaque ridículo, parece que temos mais um pasteleiro na área...

— Me chame do que quiser. Não levarei suas brincadeiras adiante. Ser ou não um pasteleiro nunca foi e nunca será ofensa a alguém que trabalhe honestamente, então é melhor você rever seus conceitos – Renjun encarava Mark sem medo, sem saber que acabaria provocando-o ainda mais.

Haechan perdera a calma e avançou contra o aluno novo, prendendo seus braços para trás enquanto Mark preparava-se para lhe acertar o rosto em cheio quando de repente, Chenle empurrara o corpo do mais velho na tentativa de livrar seu amigo. Haechan desprendera os braços de Hwang e, em sua primeira tentativa de pegar Chenle, que estava ainda mais próximo da escada, fez com que o pequeno tropeçasse, caindo e rolando degraus abaixo, estirando-se desacordado no chão, para o desespero dos que estavam ali presentes.

— CHENLEEE! – gritara Renjun, descendo às pressas, tentando socorrer seu amigo que permanecia com os olhos fechados — Chenle, fala comigo!

Mark e Haechan se assustaram com o que haviam acabado de provocar, mas não puderam sair do local, logo que surgiram olhares curiosos após o grito de Renjun e vieram ajudar.

 

 

Chenle fora levado para o hospital mais próximo, pois havia desmaiado e precisaria de maiores cuidados que não poderiam ser realizados na enfermaria da escola. Renjun não saíra de seu lado um só instante. A essa altura, a senhora Zhong havia acabado de chegar após ter sido informada sobre o acidente. Ela estava mesmo preocupada e aflita, embora soubesse que seu filho não corria risco de morte.

Ainda sem entender direito o que havia acontecido, a mãe de Chenle tivera uma conversa com o novo amigo de seu filho, que também se encontrava no quarto onde o pequeno repousava. Hwang decidira esclarecer e repassar tudo aquilo que sabia sobre o sofrimento de Le naquela escola, desde os ataques, provocações diárias às agressões físicas. A senhora ficou chocada, devido à sua falta de conhecimento sobre todas aquelas calamidades.

— Chenle nunca nos falou nada, embora perguntássemos se tudo estava bem – dizia, com o coração cheio de aflição — Mas agradeço a você, Hwang Renjun, por ter defendido nosso menino com tanta coragem.

— Eu sinto muito por não ter conseguido evitar esse acidente... – lamentava o garoto — E por favor, não agradeça somente a mim. Há alguém ainda mais importante que sempre se mostrou presente ao lado de Chenle durante todo esse tempo em que não estive por aqui.

— Quem é? Quero encontrar esse anjo da guarda e abraçá-lo como forma de agradecimento por todos os bons cuidados que tivera com o meu filho.

Nesse momento, Chenle se mexera na maca onde estava, demonstrando sintomas de delírio — Ji... Sung... – falava em sílabas lentas, repetindo em seguida — Ji... Sung... Cadê v-você...?

— Quem é Jisung? – indagara a mãe, curiosa.

— É dele que estou falando. Jisung é o melhor amigo de Chenle. Graças a ele, seu filho não tem se sentido tão só.  Parece-me que ele foi o responsável por todos os momentos felizes que Chenle tivera na nossa escola e fora dela, até hoje.

A senhora sorrira — Me parece que o Chenle quer que ele também esteja aqui conosco, Renjun.

— Poxa... – o garoto coçara a cabeça — O problema é que o Jisung não foi à escola hoje de novo. Pra ser sincero, eu sequer tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, ainda – levantara-se, tentando pensar em alguma forma de ajudar — Bom, acho que vou até o colégio pra ver se encontro um modo de entrar em contato com o Jisung. Logo em seguida eu retorno pra cá, tudo bem?

— Você é mesmo um amor, Renjun. Obrigada pela preocupação – despediu-se, a mãe de seu amigo – Vá com cuidado.

 

Poucos instantes após a retirada de Hwang, a orientadora da escola adentrara o quarto. Viera conversar sobre o ocorrido, que também fugia dos conhecimentos do corpo docente da instituição.

— Ficamos sabendo sobre tudo apenas agora, senhora Zhong. Lamentamos muito – dizia a psicóloga — Não aprovamos esse tipo de comportamento e o que mais nos entristece é ver até que ponto gravíssimo tudo isso chegou, para que tivéssemos conhecimento dessa ação maldosa.

— O mais importante nesse momento, é que Chenle está bem. Inclusive, ele já recebeu alta médica – dizia, acariciando os cabelos do pequeno, que despertou com seu toque, abrindo os olhos lentamente.

— Nos alivia saber que tudo não passou de um susto e que o sábio Zhong não fraturou nada. Sobre os alunos envolvidos, já entramos em contato com seus responsáveis. Eles serão devidamente punidos, inicialmente com uma suspensão, para que possam refletir sobre seus atos.

Chenle revelara sua voz, ainda com um pouco de dificuldades — O-Onde está... O R-Renjun?

— Filho... Não se esforce tanto assim! – pedia sua mãe — Olha só, seu amigo foi achar uma forma de falar com o Jisung para que ele venha te visitar também!

— Foi atrás... Do J-Jisung? – Chenle agora parecia assustado.

 

Renjun retornara à escola. Todos estavam aproveitando o intervalo, naquele momento. Com isso, os demais colegas de classe se espalhavam pela instituição — Nossa, assim vai ser difícil... – se queixara, procurando por algum rosto familiar.

Jaemin estava próximo da quadra de esportes, com seus grandes fones de ouvido. Tivera sua atenção chamada por Hwang, que lhe dirigira a palavra mesmo depois de terem discutido algumas horas mais cedo — O que você quer?

— Você teria o número do Jisung? Ou saberia me dizer onde ele mora?

— Quem? – estranhara a pergunta — Desculpa, não sei de quem você está falando.

“Que implicante!”, pensou Renjun, “Não gostar é uma coisa, fingir que não conhece já é demais!”. Desistira de tentar arrancar alguma informação do mais alto, se obrigando a falar com Jeno, que passava com uma garrafa de refrigerante um pouco adiante.

— Jeno! – chamou-o — Eu sei que tivemos um desentendimento hoje, mas eu preciso que o Jisung vá visitar o Chenle no hospital. Entenda que isso é um assunto sério, você me pode me ajudar?

— De que forma? A propósito... Quem é esse Jisung? – Jeno repetira a mesma reação do amigo, deixando Renjun impaciente.

— Deixa pra lá – dera meia volta, não dando continuidade naquela frustrante tentativa, indo em direção à sua turma — Alguém que esteja em sala deve saber de algo.

Lá estava ele, de volta à sua classe. As únicas duas alunas que estavam ali presentes olhavam os garotos jogando bola, pela janela. Hwang se aproximara novamente.

— Meninas... Vocês poderiam me ajudar a entrar em contato com o Jisung? É um assunto muito importante.

As duas se entreolharam curiosas — Quem é Jisung? – perguntaram em coro.

— Jisung, que estuda na nossa turma – especificou, caminhando em direção à sua cadeira, segundo Chenle — Aqui é onde ele se senta...

— Deve haver algum mal entendido... – uma delas o interrompera.

A outra dera continuidade — Não há nenhum Jisung aqui na nossa sala. Essa cadeira sempre ficou vaga, desde o início das aulas...

— Vocês não podem estar falando sério comigo... Isso é algum tipo de brincadeira? – Renjun desacreditava naquelas afirmações. Como ninguém naquela escola poderia conhecer Jisung, de quem Chenle tanto falava?

Retirara-se novamente de sua classe, se deparando com o docente da aula anterior, que passava pelo corredor. Não hesitou em perguntar-lhe sobre seu colega de classe — Professor...  Por favor, me ajude a encontrar um modo de entrar em contato com o Jisung, que também é da nossa turma!

— Mas... Pelo que me recordo, não há ninguém com esse nome no nono ano, Renjun. Você não se enganou e trocou o nome? – respondeu convicto, o professor de biologia.

— Não... – Hwang havia perdido as esperanças — Não me enganei... Deve haver algo errado... Isso não pode ser verdade.

No fim das contas, onde estaria, ou melhor, quem seria Jisung?

 

 

Quarto do hospital. A psicóloga, que também era orientadora escolar havia pedido permissão da mãe de Chenle, para que ela pudesse ter uma conversa a sós com o menor após o garoto ter demonstrado uma melhora significativa que lhe permitia se expressar sem complicações. Ela precisaria apurar todos os fatos sobre as constantes perseguições sofridas durante sua estadia em sua instituição.

Do lado de fora, a senhora Zhong aguardava pelo retorno da profissional, que também lhe traria mais informações sobre o que Chenle havia acabado de revelar sobre seu misterioso melhor amigo, momentos antes de sua retirada do quarto, o que não parava de repetir em sua mente.

Virara seu rosto para o início do corredor, quando notara a aproximação do pequeno Renjun, que retornava após sua infeliz busca de informações sobre seu inexistente colega de classe, Jisung.

— Desculpe pela demora... – ele parecia um pouco ofegante, pela correria — Eu acabei levando um pouco mais de tempo... Eu não sei nem o que falar, ou como lhe contar, mas... – sua voz parecia trêmula, pelo tamanho de sua incredulidade — Me parece que Jisung, na verdade...

— Nunca existiu – completou, a senhora, sem precisar que o amigo de seu filho continuasse — Chenle nos contou um pouco depois de você sair do aposento... Jisung, na realidade, sempre foi...

 

 

 

 

 

...um amigo imaginário.

 

 

 

 

 

“Amigo imaginário”. Aquela afirmação veio para selar de vez toda aquela confusão causada na cabeça de Renjun, que não conseguia de nenhuma maneira assimilar o que havia se passado com todos na escola anteriormente. Como Chenle teria imaginado tantos momentos bons ao lado de alguém que nunca existiu? Como ele teria suportado tanta exclusão e desprezo, sabendo que durante todo tempo ele esteve, na verdade, sozinho?

— Quando penso no quanto deve ter sido difícil pro Chenle, fantasiar alguém que seria seu amigo ideal, apenas para livrar-se da solidão, meu coração parece apertar tanto... – Hwang não conseguia mais segurar suas lágrimas, que escorriam finamente sobre sua face — Não que ter um amigo imaginário seja ruim... Eu mesmo já tive diversos, mas... – tentava encontrar as palavras certas que definissem o quanto ele sentia empatia pela dor de seu companheiro — É duro saber que em um lugar cheio de pessoas da nossa idade, não havia ninguém que estivesse ao lado do Le. Ninguém para ouvi-lo quando ele precisava desabafar... Ninguém para dividir o lanche ou mesmo para defendê-lo em meio a tanta maldade.

— Não chore, Renjun – a mãe de Zhong tentava consolá-lo, abraçando-o calmamente — Pense pelo lado positivo disso tudo... Chenle pode ter sim, idealizado um amigo que nunca foi real e que só existiu durante todo esse tempo em sua mente – ofegava, antes de continuar — Mas foi graças à Jisung que meu filho teve forças pra continuar e suportar tudo. Mesmo sabendo que não posso me encontrar com Jisung e retribuir o mesmo afago que lhe dou agora, eu quero que ele saiba, onde quer que esteja, que eu sou grata por ele ter apoiado Chenle em todos os momentos em que ele precisou de um ombro amigo.

A porta do quarto se abrira novamente. A orientadora aproximou-se, demonstrando tranquilidade — Senhora Zhong... Queria apenas dizer pra não se preocupar com o seu filho. Conversamos bastante e está tudo bem com ele, agora. Graças ao nosso proveitoso diálogo, pudemos compreender melhor o que tem se passado naquela cabeça inteligente – sorrira, continuando em seguida — Chenle é mesmo um garoto sonhador, não é? Infelizmente ele passou por diversos momentos difíceis no colégio, o que causou seu isolamento, já que os demais colegas de turma o excluíam das atividades e até mesmo de passeios em grupo. Me corta o coração ter que reafirmar isso. Foi aí que a necessidade de ter alguém com quem conversar, sorrir e até brincar tomou conta, cada vez mais, de Chenle. Com isso, Jisung passou a existir inteiramente em sua mente. Quando ninguém o respondia, Jisung estava lá, próximo aos seus ouvidos. Quando todos lhe viravam as costas, Jisung lhe estendia a mão. Quando ninguém fazia questão de sua presença, Jisung fazia de tudo para animá-lo. Sem dúvidas, o amigo imaginário de Chenle, que também era seu maior confidente, o ajudou incrivelmente. Não se trata de nenhum distúrbio mental. A imagem de Jisung vive na mente e no coração de Chenle, como uma forma única de proteção e refúgio que ele mesmo criou, inconscientemente. Uma fortaleza para fugir dos problemas que enfrentou até agora.

— O que acontecerá com o Jisung a partir de agora? – questionou, ingenuamente, Renjun.

— Bom, na verdade ele nunca deixará de existir plenamente. Porém, a necessidade de sua presença aos poucos se dissolverá, ao passo que Chenle continue se realizando com sua amizade, por exemplo – replicara — A propósito, me parece que você e Jisung têm muitos pontos em comum, não é mesmo? Ambos se preocupam com o pequeno Zhong e o defendem com unhas e dentes.

Renjun ficara vermelho, intimidado com as palavras da orientadora.

— Obrigada pelo esclarecimento, doutora – a mãe de Le apertava sua mão — E obrigada por todo suporte que você nos deu até agora.

— Não precisa agradecer. Estamos dispostos a tudo pelo bem estar de nossas crianças.

 

 

Noite, residência dos Zhong. Chenle já havia retornado para seu lar e agora cochilava, vestido em seu pijama. Adormecido, ele pudera claramente se ver em um campo, correndo com uma pipa, seguido de Jisung e Renjun. Os três amigos corriam alegremente, quando Jisung parara no meio do caminho e ficou a observá-los se divertindo em meio a tantos risos.

Chenle virara seu rosto, percebendo que Jisung havia ficado para trás — Ei, o que está esperando?! Corre aqui com a gente! – gritava para o amigo, que não se movera do lugar.

No rosto de Jisung, seu feliz semblante não mudara. Continuava a demonstrar seu gigante contentamento em dividir mais um momento bom ao lado de seu amigo. De repente, Chenle percebera que o corpo de Ji parecia desvanecer lentamente, o que lhe causou espanto, correndo até seu encontro.

— Jisung... O que está havendo com você? – ele poderia sentir os ombros de seu amigo, ao tocá-lo — Você não pode me deixar aqui! Aonde você vai?

— Chenle... Não precisa se preocupar tanto assim comigo – respondera Jisung, com o mesmo sorriso e os olhos brilhando — Você sabe que nós sempre seremos amigos, não é?

— E porque você está fazendo isso comigo?

— Eu sou parte de você, Chenle. Eu sou sua imaginação... Eu sempre estarei com você, onde quer que você esteja. Agora que vejo que seu coração está sereno, graças ao nosso novo amigo, eu ficarei em paz por saber que você ficará em boas mãos. Por isso que preciso te deixar viver a realidade, a partir de agora.

— Jisung... – Chenle abraçara seu amigo, que aos poucos desaparecera — Obrigado... Por tudo.

Renjun aproximara-se, abraçando o amigo. Após aquela inconsciente despedida, Chenle despertara de seu sono, com os olhos carregados de lágrimas.

 

 

Quatro dias haviam se passado desde que Chenle havia sofrido o acidente na escola. Ele já podia sair de casa, graças à permissão de seus pais, que preferiram mantê-lo em observação pelos últimos dias. O primeiro lugar que o pequeno decidiu visitar, um dia antes de retornar para a escola, foi o seu adorado esconderijo secreto. Agora, ele estava acompanhado por Hwang, que adentrara o ambiente pela primeira vez.

— Nossa, que lugar maneiro – dizia, ao olhar em volta — Ao mesmo tempo, é assustador!

— Você fala isso porque não viu como estava no primeiro dia que entrei aqui – Chenle afirmara, enquanto terminava de rabiscar um papel com giz de cera — Prontinho, acho que acabei.

Zhong direcionou-se até a parede, onde os retratos ilustrados com a imagem de Jisung e a sua estavam fixados. Ao seu lado, o novo desenho com a imagem de Ren fora colada.

— Agora você é um membro oficial do clube! Bem vindo, Renjun!

Nooossa! – o amigo de Le se surpreendera – Então esse é o Jisung? Bem diferente do que eu imaginava... Mas espera aí, como que esse rabisco feio sou eu? – apontou para a sua ilustração — Não precisava ter evidenciado tanto meu dentinho!

Chenle ria da forma engraçada como Renjun se queixava, correndo ao redor de um velho sofá, na tentativa de fugir do amigo que agora tentava lhe tomar o giz de cera e vingar-se pela aparente má vontade em fazer uma ilustração mais aceitável.

E assim, Zhong Chenle se estabilizara emocionalmente. Na escola, lhe fora garantida total proteção contra qualquer indício de assédio novamente. Os alunos envolvidos desculparam-se pessoalmente após uma visita em sua residência no dia anterior. Seguindo as orientações da escola, os mesmos receberiam ajuda especializada para que pudessem se reintegrar à instituição como pessoas melhores, exatamente como Chenle sempre sonhara. Quem sabe, todos possam ser amigos em um futuro não tão distante, não?

 

Os dois amigos retiravam-se da base secreta, depois de uma tarde bem divertida e agitada. Após a saída, Renjun caminhara na frente enquanto Chenle fechava o velho portão de ferro enferrujado. Dera as costas em seguida, correndo em direção ao companheiro.

Se Chenle tivesse olhado para trás uma última vez, teria visto Jisung acenando com um sorriso no rosto.


Notas Finais


Bom, espero que tenham gostado! Tive mesmo um trabalhão pra desenvolver o plot, uma vez que envolve muito drama e algumas informações aqui contidas precisaram ser pesquisadas, antes. haha
Agradeço de muitão a Marylina que me ajudou quando eu tinha dúvidas sobre duas opções de desenvolvimento pra essa história e a que vocês acabaram de ler foi a que ela mais gostou. BÊJO MARY ♥

E aí, deixem nos comentários o que vocês não gostaram o que gostaram, o que sentiram ao ler a fanfic, etc etc e etc que vocês sabem que eu amo ler o que vocês têm a dizer ♥
Até a próxima!


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