Valéria nunca gostou de filmes de suspense porque sempre ficava muito ansiosa, mas isso nunca a impediu de assistir a esse tipo de filme. Era quase um sentimento masoquista. Ela ficava lá, em frente à TV, os nervos à flor da pele enquanto esperava o assassino surgir de um lugar inesperado e atacar o personagem principal. Aquela trilha sonora que sempre toca durante esse tipo de cena parecia rastejar para dentro da pele dela, sufocando-a lentamente em uma mistura esquisita de curiosidade e medo. E era exatamente assim que ela sentia agora. A diferença era que agora eu encarava na tela do seu computador não um filme, mas uma pesquisa do Google.
Os que os eventos que a levaram a estar ali, sentada na cama, de madrugada com as luzes do seu quarto apagadas e encarando o monitor do seu notebook, Valéria supunha que também devem ter contribuído para os sentimentos desagradáveis que agora lhe castigavam. Afinal, depois da chegada de Yezi e Jungkook – o que, por si só, já queimou horrivelmente no peito dela – ainda teve aquele momento constrangedor entre ela e Hoseok – no qual nenhum dos dois entendeu o que tinha acontecido, e o que acabou em uma despedida rápida e em Hoseok também desaparecendo pelo corredor a fim de ir para o próprio quarto. Depois disso, Valéria tentou dormir, mas foi impossível. Era tanta coisa rondando sua cabeça que o sono foi espantado para longe, apesar de a mesma estar emocionalmente exausta.
E, depois de muito revirar na cama, ela resolveu levantar da cama e iniciar aquela pesquisa que agora tanto lhe incomodava. Antes tivesse ficado olhando para o teto, mas não, ao invés disso ela havia digitado “Jiyo Yezi” no maior site de pesquisas do mundo. Era óbvio que esperava alguns fatos sobre ela já que as fãs dos garotos aparentemente se penduravam em qualquer detalhe da vida deles, mas ficou surpresa com o resultado. Não havia “alguns fatos”, mas sim a vida dela inteira esquadrinhada. Havia vários fóruns dedicados inteiramente à ela com dezenas de fotos e vários detalhes sobre onde ela estudava, quem eram seus amigos, seus hobbies e até mesmo sobre seu tipo sanguíneo. Além disso, havia centenas de fotos dela com os meninos, mas principalmente com Jungkook. Eles estavam sempre sorrindo e em várias delas ele tinha seu braço sobre os ombros dela. Pateticamente o ciúme de Valéria foi aumentando a cada foto nova e a cada fã que escrevia sobre como sonhava que os dois formassem um casal porque eles seriam “o casal mais fofo e shippavel do universo”. Talvez o pior fosse o fato de que ela concordava com essas fãs, eles realmente formariam um casal perfeito. E isso, por alguma razão, a apavorava. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia parar de procurar mais e mais informações sobre Jungkook e ela. Sua curiosidade lhe envenenava aos poucos.
Uma hora se passou e nenhuma prova cabível de um relacionamento amoroso entre eles apareceu, mas isso não impediu as dezenas de fotos em que eles se olhavam com um carinho imenso. Era visível o quanto eles se importavam um com o outro. Suspirando, Valéria abaixou a tela do notebook e o empurrou para o lado. Deitando outra vez em seu travesseiro, tentou ignorar a ardência em seu peito, ardência que só havia aumentado depois de sua ideia infeliz de usar o Google para cavar informações sobre alguém que ela conhecia pessoalmente. Ela não soube quanto tempo ficou encarando a escuridão, mas lembrava-se de que entre um momento e outro tomou a decisão de nunca mais pesquisar na internet sobre algum conhecido seu. E também decidiu que precisava descobrir o que diabos sentia por Jungkook. Decisões muito importantes para um estado de semi-inconsciência. Vai ver é por isso que dizem que tentar resolver problemas de madrugada nunca dá certo.
Ao ser acordada na manhã seguinte por seu despertador, depois de aproximadamente três horas de sono, Valéria demorou o máximo que pode para sair do quarto. Levou um tempo excessivamente longo para pentear seu cabelo e para escovar seus dentes, por exemplo. Não queria sair pela porta, não queria encarar a realidade em que Jungkook estava chateado com ela e em que ela estava naquela situação com ele. Só quando não havia mais nenhuma desculpa para se prolongar ainda mais no quarto, foi que relutantemente abriu a porta e foi para cozinha, esperando encontrá-lo lá, assim como todas as outras manhãs.
Jungkook sempre a esperava com um sorriso sonolento no rosto ao lado da mesa farta, que Jin lhe preparava – não importava quantas vezes Valéria insistira dizendo que poderia preparar seu próprio dejejum, que ele não precisava se preocupar com isso. A resposta dele era sempre a mesma “Eu gosto de cozinhar, Vaah e gosto de te ver sorrindo”. E em cada segundo, cada passo até a cozinha, Valéria ficou acalentando uma esperança infantil de que o dia anterior e simplesmente desapareceria, levando junto os problemas que trouxe. Esse tolo sentimento se desfez, junto com seu apetite, quando ela se deparou com o café-da-manhã pronto, como sempre, mas nem sinal de Jungkook. Havia, porém, um bilhete sobre a mesa e perto do lugar onde ela geralmente sentava.
“Noona, precisei sair cedo hoje. Jimin irá levar e buscar você hoje. Jungkook”
Valéria observou seus dedos se fecharem sobre o pedaço de papel. Soltando um suspiro pesado, jogou-o sobre a mesa e foi para o quarto de Jimin. Pediria a ele para lhe levar para faculdade uma hora mais cedo do que o normal. Quem sabe algum tempo de estudo na biblioteca servisse como refúgio contra todos os pensamentos e sensações contraditórias que estava sentindo.
[...] Quebra de Tempo [...]
Se já não estivesse tão chateada antes de ir para faculdade, o humor de Valéria teria piorado drasticamente durante aquela manhã. Ela podia literalmente sentir a atenção dos seus colegas nela. Eles olhavam, cochichavam e apontavam como se ela fosse um freak show com o único propósito de entretê-los durantes as aulas chatas de genética. Valéria limitou-se a ignorá-los. Sua cota de paciência já havia se esgotado naquele dia e queria evitar ainda mais drama. Quando o horário final veio e passou, Valéria esperou todos saírem antes de se levantar. Preferia evitar episódios como aquele com as duas vadias que haviam derrubado suas anotações no outro dia. Milena estava pacientemente esperando para conversarem.
- E aí, Vaah – sorriu.
- Como você está? – Valéria perguntou apaticamente.
- Eu estou muito bem, mas pelo jeito você não, né?
- Por que diz isso? Eu estou ótima – Valéria tentou forçar um sorriso, mas tinha certeza de que saiu como uma careta.
- Claro que sim – Milena revirou os olhos. – Biscoito já está chegando?
- Ele não vem hoje – O tom da voz de Valéria saiu meio rouco. – Jimin é quem vem me buscar e ele me mandou uma mensagem avisando que está preso no trânsito e que ainda vai demorar uns quinze minutos.
- Ótimo! Vamos conversar então.
E no segundo seguinte Milena estava segurando o braço de Valéria e a guiando de maneira precária até um banco que estava perto.
- E sobre o que você quer falar?
- Nós duas sabemos que isso não é sobre mim, Valéria Oliveira. Me diga o que aconteceu para você estar nesse humor depressivo.
- Já disse que não aconteceu nada – Valéria olhou para uma árvore ao longe. – E onde está Miguel?
- Não tenta mudar de assunto. Você sabe que isso não funciona comigo. E não vamos sair daqui até você me contar o que aconteceu. Agora comece a falar ou, quando o Mr. Sexy, também conhecido como Jimin chegar aqui, vai ter que ficar esperando. E você já pode imaginar a confusão que a carinha famosa dele vai provocar aqui.
- E então? – Milena estreitou os olhos.
Valéria suspirou. Conhecia bem aquele brilho determinado nos olhos de Milena, ela não iria desistir até saber o último detalhe.
- Depois daquela... situação com os paparazzi na outra noite. Eu tive um momento.
- Você sabe que esses eufemismos não funcionam comigo, né? Sei que você está querendo dizer que surtou depois de ser atacada por aqueles malucos com câmeras.
- Milena!
- Que foi? Você sabe que eu estou falando a verdade.
Valéria revirou os olhos e não respondeu.
- O importante é que Jungkook me ajudou e você sabe que detesto dever favores.
- Você quer dizer que depois que você superou seu momento de surto você isolou ele porque odeia depender de alguém.
Valéria piscou devagar, o queixo caído ao ouvir sua amiga descrever crua e exatamente o que havia ocorrido.
- Como você...?
- Sensibilidade de psicóloga somada com preocupação de amiga. E também não é tão difícil adivinhar. Você faz isso todas as vezes que sente que alguém está invadindo essa bolha de independência que criou para si. Até agora não entendi como aceitou ir morar com eles. Talvez realmente por falta de opção. Ou talvez você estivesse dopada pelos remédios pra dor – Milena deu de ombros. – Mas o que aconteceu depois? Vocês discutiram?
Valéria contou a ela sobre a discussão e sobre o que havia acontecido depois dela. Milena ficou calada o tempo todo e quando Valéria terminou, ela se levantou em um pulo e estalou os dedos.
- Está bem claro o que temos que fazer. Nós vamos achar essa tal Yezi e depois nós va...
- Você não dar na cara dela, Milena. – Valéria revirou os olhos, tentando conter uma risadinha.
Era por isso que as duas eram tão amigas. Milena sempre conseguia fazer Valéria rir, mesmo nos piores momentos.
- Mas não vamos deixar nenhum rastro! Eles nunca vão saber que fomos nós.
Valéria revirou os olhos novamente.
- Não.
- Posso então só...
- Não!
Milena voltou a se sentar.
- Por quê?
- Porque não é certo.
Foi a vez de Milena revirar os olhos.
- E a razão verdadeira?
- Porque se Jungkook descobrir, ele nunca mais vai falar comigo.
- Ok, ok. Isso não é muito legal. Mas diz muita coisa. – Milena disse.
- Como assim? – Valéria questionou.
- Vaah, você gosta dele?
- E-eu... – Valéria gaguejou. – Por que você está perguntando isso?
- Só responda à pergunta. Esqueça o Jeon Jungkook artista, idol que você ama e foque no Jeon Jungkook pessoa, ser humano. E não se faça de idiota quando for responder, você sabe que não precisa mentir para mim.
Valéria olhou para o céu e depois para uma árvore qualquer. Não havia respostas ali, assim como não havia respostas na mente dela para aquela pergunta. Só dúvidas.
- Eu não sei – Valéria respondeu, fraco, desviando seu olhar para o chão. – Realmente não sei. Eu detesto vê-lo com Yezi. Não gosto de quão próximos eles são, não gosto que ele a chame de linda enquanto ainda está brigado comigo. Jungkook me acusou de estar com ciúmes, e está certo – Ela ponderou por um segundo. – Na verdade, ele não poderia estar mais certo sobre isso. Mas é ridículo! É impossível que eu... – Valéria parou de falar, as palavras entaladas na sua garganta.
- Impossível o que, Vaah? Impossível que você sinta ciúmes? Impossível que você goste dele?
- Não sei. Não sei – Valéria passou as mãos pelos cabelos, puxando-os pra trás em frustração e Milena só ficou ali, encarando-a serenamente enquanto ela perdia o controle.
- Você tem que se lembrar de que sentimentos não são lógicos.
- Sei disso.
- Ótimo! Então talvez seja a hora de você encarar os seus.
- Que sentimentos? Eu nunca dis...
- Ora, não se faça de idiota Valéria. Você sabe exatamente sobre o que eu estou falando. Ficar fugindo ou fingindo que não é com você não vai adiantar nada. Ainda mais com você morando com ele.
Valéria respirou fundo. Lembrando-se de quando havia conhecido o BTS, e na maneira como inevitavelmente seus olhos pousaram em Jungkook. Percebeu logo nos primeiros momentos que ele fazia tudo com perfeição. Se cantava, era lindo. Se ele dançava, fazia isso com maestria. Era impossível não ficar o observando quando ele realizava as coreografias, ou quando cantava. Ele sempre dava tudo de si, não importava o que fazia. E então, ele se tornara seu favorito e era simplesmente impossível ignorar sua aura, e a admiração crescia a cada novo vídeo, cada música que ouvia, ou cada novo detalhezinho que descobria na internet sobre ele. E agora morando na mesma casa com ele, mesmo por tão poucos dias, ela havia descoberto algo novo, descobriu que sua admiração por ele, ia além dos palcos, ou das artes, se pegou encontrando na vida cotidiana cada vez mais motivos para admira-lo, e se pegar sorrindo ao fazer isso. Foi ali, naquele momento, que ela percebeu, que além da nova amizade e admiração, havia algo mais, algo que ela ainda não sabia nomear, ou tivesse medo de fazer.
- Ok. Você tem razão. Talvez eu esteja tentando ignorar essa confusão sentimental pela qual estou passando. Mas você pode me culpar? Como eu posso estar gostando de um cara em tão pouco tempo?!
Milena sorriu de lado.
- Talvez você e ele sejam feitos um para o outro.
- Você sabe que isso é tudo baboseira para vender livros de romance. Essas coisas não existem de verdade.
- Tem certeza? – Milena arqueou a sobrancelha.
- Claro que sim!
- Então qual é sua explicação para o que você está sentindo, hein? Todo o ciúme e essa tristeza por vocês terem brigado? Vai dizer que ele é irresistível?! – Milena ironizou.
- E-eu...
Valéria foi salva de ter que respondê-la quando Jimin apareceu ao seu lado, falando animadamente:
- Oi, Vaah linda. Está pronta para irmos para casa? – Ele disse, depois virou para a amiga dela. – Oi, Milena.
Ela acenou com a cabeça e respondeu:
- Como vai Mr. S (*N.A. Referência ao Mr. Sexy lá de cima.*)?
- Mr. S? – Jimin perguntou, confuso.
- Não pergunte. – Valéria respondeu, levantando e ajeitando as muletas.
Jimin pegou a mochila de Valéria e ela se despediu de Milena. Os dois já haviam se distanciado alguns metros quando ela gritou:
- Hey, Vaah!
Valéria virou-se.
- Pense no que eu disse. Fugir não vai adiantar.
Valéria revirou os olhos e voltou a andar. Bem típico de Milena querer um final dramático para a conversa delas.
- O que ela quis dizer com isso? – Jimin perguntou ao abrir a porta do carro para Valéria entrar.
Ela deu de ombros, se acomodando no banco.
- Não sei.
Ele lançou na direção dela um olhar calculado, como se soubesse exatamente a que ela tinha se referido. Jimin, porém, não disse nada e fechou a porta, deu a volta e sentou-se no banco do motorista.
- E ai? Como foi seu dia? Estudou muito? – Ele perguntou ao ligar o carro.
- É.
As engrenagens cerebrais de Valéria estavam girando.
- E a aula foi interessante?
- É.
Ela sentia as palavras vindo para sua boca e se via numa ânsia desesperada para contê-las. “Concentração, concentração.”
- Muitos trabalhos para essa semana?
- É.
“Eu não vou perguntar, eu não vou perguntar”, pensava.
- Por que você decidiu fazer Psicologia? – Vagamente Valéria percebeu uma risada no tom de voz dele.
- É.
“Eu não vou perguntar, eu...’’
- O que a Yezi e o Jungkook tem?
Jimin virou a cabeça para encarar Valéria, atônito quando sua explosão verbal ressoou entre eles.
- O quê?
- Eles estão juntos?
- Quê? De onde estão surgindo essas perguntas?
- Curiosidade – Valéria tentou soar casual, mas não foi muito convincente. - Agora será que você pode respondê-las?
- Ok, senhorita agressividade. Sim, eles se pegam.
- O quê? – Valéria sussurrou.
Jimin explodiu em gargalhadas.
- Claro que não – Jimin falou entre uma risada e outra. – Eles são como irmãos. Você devia ter visto a sua cara quando achou que eles tinham um caso.
Valéria deu um tapa ardido no braço dele.
- Isso não teve graça.
- Ai, Vaah! – Jimin resmungou, se afastando em reflexo. – Você está muito violenta hoje. O que foi que aconteceu?
- Nada – Valéria cortou aquele assunto e fez questão de voltar para o que realmente lhe interessava. – Mas eles já ficaram?
- Não. Por quê?
Valéria ignorou sua pergunta.
- Então por que tem na internet toda essa torcida para que eles fiquem juntos? E por que tem gente que jura que eles são um casal, mas que escondem isso da mídia?
- Como você sabe disso?
- Será que dá pra você parar de responder minhas perguntas com outras perguntas?
- Uou! Você caiu da cama hoje, foi? Seu humor está terrível. Não conhecia esse seu lado. Ou será que é dia de ser brusco com o Jimin? Porque Jungkook também es...
Jimin parou no meio da frase e Valéria quase pode ver o cérebro dele fazendo conexões. Jimin, então, desviou os olhos da estrada por um segundo para encarar Valéria. Havia um brilho esperto ali e um sorrisinho malicioso.
- Vocês brigaram! É por isso que ele pediu para que eu viesse buscá-la e é por isso que vocês dois estão insuportáveis hoje.
Valéria não se ofendeu com o que ele havia dito, pois nem ela mesma estava se suportando hoje.
- Essa não é a questão! Vamos voltar ao assunto principal!
- Não. Nã-nã-ni-na-não – Jimin riu. – Não até você me contar o que aconteceu ontem.
Valéria sentiu seu rosto se contrair em uma careta indignada e até pensou em alguns bons argumentos para gritar e defender o retorno ao assunto do seu interesse, mas isso levaria tempo e ela queria suas respostas antes de chegarem em casa. Por isso respirou fundo e falou rapidamente:
- É. Nós tivemos um desentendimento ontem.
Jimin riu ao ouvir o eufemismo que ela utilizou para se referir a discussão do dia anterior.
- Foi sobre o quê? A Yezi? Por isso você quer saber tanto sobre ela?
- Não, não foi por causa dela e eu não vou te dizer sobre o que nós discutimos. Agora é sua vez de me responder por que, se os dois não são um casal, tem tanta coisa na internet sobre eles sendo um casal?!
- Não vou mentir e dizer que entendo exatamente o que se passa na cabeça dos caras que escrevem sobre fofoca ou das nossas fãs, mas, do pouco que eu entendo, há essas fofocas jornalísticas porque eles querem vender revistas e há fãs que realmente acreditam que eles fariam um bom casal e torcem para que eles fiquem juntos. Isso acontece com todos nós, na verdade. Uma vez li nos trending topics do twitter que ela e eu formaríamos um casal perfeito. Mas não é só com ela, sabe? Eles já falaram que Jungkook mesmo estava namorando ou deveria namorar aquela cantora ou formaria um casal lindo com aquela atriz. Entende?
Valéria assentou, absorvendo todas aquelas palavras. O problema agora, contudo, era que não tinha muita certeza se aquelas informações lhe causavam alívio ou lhe deixavam ainda mais preocupada. Alívio porque aquela era uma evidência mais confiável de que os dois realmente eram só amigos, porém, também ficava evidente que as fãs deles tinham opiniões bem concretas sobre quem seria uma boa escolha para eles. E Valéria tinha noção de quão importante elas são para os meninos. E se elas a odiassem? Isso afetaria a amizade dela com todos eles? E, pior, isso afetaria seu relac...
Valéria sacudiu a cabeça, espantando de sua mente aquela última ideia antes que ela tomasse uma forma concreta.
- Ok. Acho que consigo ver a lógica por trás disso.
Os dois ficaram em silêncio por um segundo ou dois. Havia, contudo, mais uma dúvida que rondava na cabeça de Valéria desde ontem.
- Jimin, o que o Hoseok e a Yezi são?
Ao que parece, a pergunta de Valéria não foi tão vaga quanto ela achou que seria, pois ele logo respondeu:
- Aqueles dois são orgulhosos demais pra admitirem que gostam um do outro.
- Então eles têm uma coisa?
- Essa é uma boa definição – Jimin fez a última curva antes da rua do dormitório deles. – Eles discutem quase sempre, o que, pra mim, só pode ser tensão sexual reprimida. De vez enquanto eles se pegam, mas não tem nada oficial porque nenhum dos dois quer ser o primeiro a admitir que gosta do outro.
- Foi por isso que você a convidou para vir pra cá?
Ele assentiu.
- Esporadicamente um de nós cinco tem que interferir para que eles se vejam antes que um deles fique insuportável demais por sentir muitas saudades.
- Um de vocês cinco?
- Jungkook não gosta de se envolver muito nisso. Ele diz que não gosta de interferir na vida da Yezi, mas nós sabemos que na verdade é ciúmes.
Valéria franziu a testa.
- Mas você não acabou de dizer que eles não te...
- Ciúmes de irmão, Vaah. Não precisa se preocupar.
- Eu não estou preocupada.
- Claro que não – Jimin ironizou.
- Não mesmo.
- Ok. Já chegamos – Jimin exclamou ao parar o carro na sua vaga da garagem.
Valéria revirou os olhos e abriu a porta. Jimin já estava lá a esperando para entregar suas muletas. Ela agradeceu e os dois foram para o elevador. Ao entrarem no apartamento, Jimin chamou Valéria para ver um filme, e eles decidiram chamar também Hoseok, que devia ser o único na casa, já que Jin também havia ido ver a família naquele dia, mas ao se aproximarem da porta entreaberta do quarto de Hoseok, os dois ouviram.
- ...que você quer dizer com isso? – A voz de Hope era fria, perigosamente fria.
- Exatamente o que você entendeu! – Uma voz feminina ironizou.
Valéria franziu o cenho e olhou para Jimin, uma pergunta muda nos olhos. Jimin sibilou “Yezi”. Valéria assentiu e, com uma expressão que era um misto de curiosidade e culpa, os dois viraram suas cabeças e voltaram a prestar atenção naquela conversa alheia.
- Você está ficando maluca!
- Maluca? – A voz dela foi aumentando a cada sílaba. – Não era isso que você queria?! Que eu fosse embora? Ótimo! Estou fazendo o que você quer! Eu vou embora!
- E a sua promessa? – J-Hope não subiu o tom, mas havia uma nota estridente ali. – Não disse que era uma mulher de palavra?
- Ora! Não se atreva a me questionar! – Yezi estava praticamente gritando agora. – Vou falar com Jimin. Ele vai entender. E, afinal de contas, você não queria que eu desaparecesse? Por que está criando tanto caso agora?!
- Porque não gosto de gente covarde!
- COVARDE? COVARDE? Vá se foder, Jung Hoseok! Não vou ficar aqui e fazer todo o trabalho enquanto você fica vendo filminho com a tal Oliveira!
- Ah! Então esse é o problema? Eu estar assistindo a um filme com a Vaah? E você, hein? Onde você estava? Você saiu com o Jungkook! Me deixou aqui sozinho pra sair com ele! – Na voz dele agora havia um pouco de ressentimento.
- Ele é meu amigo e precisava de mim! O que você queria que fizesse?
- QUE NÃO FOSSE CORRENDO IGUAL A UM CACHORRINHO TODA VEZ QUE ELE CHAMASSE!
- O QUÊ? QUER SABER?! EU VOU EMBORA. VOCÊ ESTÁ SENDO RIDÍCULO!
Jimin e Valéria pularam de susto e tentaram se afastar da porta quando passos pesados começaram a vir direção deles. Os dois não se moveram rápido o suficiente, contudo, porque logo Yezi apareceu na linha de visão deles. Por sorte ela não pareceu perceber que eles estavam ali, pois estava de cabeça baixa e resmungando. Hoseok apareceu logo depois dela e imediatamente segurou o pulso da garota, fazendo com que ela desse a volta e a prensou contra a parede. Valéria desviou o olhar quando eles começaram a se beijar ardorosamente.
- Acho que isso responde a suas perguntas – Jimin sussurrou, rindo ao puxar a porta para fechá-la discreta e silenciosamente a fim de não os perturbar e proporcionar mais privacidade.
Valéria revirou os olhos, mas secretamente estava um pouco mais aliviada. Afinal, Yezi não iria ficar com Jungkook enquanto estivesse com Hoseok.
- Vamos lá, senhorita não-mais-rabugenta, vamos ver aquele filme.
Valéria não pode evitar dar um sorriso.
[...] Quebra de Tempo [...]
Depois daquele momento “intromissão na vida alheia”, Valéria precisava confessar que estava mais leve e aquele nó no estômago que havia lhe acompanhado durante todo o dia se desfez. Depois de ver um filme com Jimin, decidiu aproveitar as horas de silêncio na casa para estudar tudo que tinha ficado atrasado. E era na sua escrivaninha que se encontrava quando ouviu a porta da frente abrir. Ela levantou-se e foi atrás do som que vinha da cozinha. Torceu para ser Jungkook. Queria conversar e consertar a situação esquisita que tinha ficado entre eles. Valéria encontrou-o de costas para ela, mexendo em alguma coisa sobre a pia.
- Pensei ter ouvido você chegando. – Ela se pronunciou.
Jungkook se virou e encarou Valéria sem qualquer tipo de expressão.
- Desculpe. Não sabia que você estava em casa – Ele disse e voltou a ficar de costas para ela.
- Sem problemas. Estava só estudando – Valéria deu alguns passos na direção dele.
- Então atrapalhei de novo, né? – Jungkook resmungou baixinho.
Valéria soltou um suspiro frustrado e decidiu ignorar aquelas palavras.
- Então.... Conseguiu fazer o que você precisava fazer hoje de manhã?
- O qu- Ah! Sim, sim. Deu tudo certo.
Valéria mordeu o lábio inferior e tentou começar um assunto neutro, torcendo para encontrar uma abertura a fim de não entrar com o assunto desagradável de uma vez.
- Como foi seu dia?
Jungkook resmungou alguma coisa em resposta, sem ao menos se virar para olhá-la ou parar de fazer o que quer que estivesse fazendo. Valéria fez mais uma tentativa:
- Precisa de ajuda aí?
Ela deu a volta na ilha e encostou-se a ela, ficando mais perto dele. Colocou as muletas encostadas ao seu lado, pretendendo deixar as mãos livres para ajudar.
- Não, obrigado.
“Ok. Do jeito difícil então”, Valéria pensou.
- Nós precisamos conversar.
- Sobre? – As costas de Jungkook ficaram ainda mais tensas.
- Você sabe muito bem sobre o quê.
- Sabe, acho que ontem nós já conversamos demais.
- Verdade! Na conversa de ontem você me acusou de agir como criança. Meio hipócrita isso, não?
Isso fez com que ele se virasse para Valéria, e algo faiscou nos olhos dele. Ele estava com raiva. Ótimo! Porque agora Valéria também estava.
- Como é que é? – Jungkook arrastou as palavras.
- Você me ouviu muito bem. Está agindo como um hipócrita. Fala que eu ajo igual criança, mas depois se esconde no quarto, se recusa a falar comigo e hoje me ignora!
Agora não era mais só raiva no rosto dele. Era algo perigoso. Valéria imediatamente lembrou-se daquele dia com os paparazzi. E, como daquela vez, Jungkook estava muito gostoso. O único ponto ruim era que agora ela era o alvo de seu temperamento divergente.
- É mesmo? – Jungkook falou baixinho e deu um passo na direção dela. – Foi isso que eu fiz, Noona? – Ele deu mais um passo. – E agora vai quer conversar sobre isso?
Jungkook parou na frente de Valéria, muito perto. Ele esticou os braços e os apoiou sobre a bancada em que ela estava encostada, um de cada lado, cercando Valéria e a prendendo ali. Valéria arregalou os olhos, surpresa, mas não tentou se afastar. Não conseguia. Ela limitou-se a jogar a cabeça para trás a fim de olhá-lo nos olhos.
- O que vo-você... que é v-você fazendo... você...
Valéria gaguejou inutilmente, tentando formular uma frase, mas aquela proximidade em que eles estavam, a deixava tonta. Valéria apoiou as mãos sobre os ombros dele. Jungkook soltou uma gargalhada baixinha e rouca.
- O que estou fazendo?
Ele chegou mais perto ainda. Agora estava prensando Valéria contra a bancada.
- Estou conversando com você. Era isso que você queria, não? – Jungkook abaixou a cabeça e seu hálito de menta bateu nos lábios de Valéria. – Conversar. Vamos conversar. Qual o assunto? O fato de que você me considera um estorvo ou que você e Hoseok estavam todos aconchegados ontem? Quer falar sobre isso? Sobre quão adorável aquela cena foi?
As palavras dele penetravam no cérebro de Valéria, mas faziam pouco sentido, pois Jungkook havia se aproximado tanto que seus lábios tocavam de leve os de Valéria a cada nova sílaba. E a sensação era tão boa que deixava ela sem reação. Valéria só conseguia ficar ali, parada, sentido os choques deliciosos, mesmo sabendo que deveria reagir, que precisava responder.
- Eu saí chateado. Queria um pouco de espaço, queria te dar espaço.
Jungkook apertou Valéria ainda mais contra a bancada, colocando uma de suas pernas entre as dela, mas tomando cuidado para não atingir o gesso. Em nenhum minuto seus olhos deixaram os dela.
- Mas você não precisava de espaço, não é mesmo? – Jungkook sussurrava cada letra contra a boca de Valéria. - Não queria ficar sozinha...
Valéria viu suas mãos passearem pelos ombros de Jungkook até se unirem ao redor do pescoço dele. Não se lembrava de tê-las mexido. Era como se seu corpo tivesse vontade própria, a qual era clara: ficar o mais perto possível de Jungkook.
- Mas talvez eu devesse ter percebido que o problema era comigo. Hoseok não parece atrapalhar você. Não é mesmo, Oliveira?
O uso de seu sobrenome disparou um alarme no cérebro de Valéria. E finalmente ela compreendeu as palavras dele. Sentindo a raiva substituir todo aquele sentimento gostoso de segundos atrás, Valéria apoiou suas mãos espalmadas sobre o tórax forte de Jungkook e o empurrou. Jungkook cambaleou para trás ao ser pego de surpresa pela súbita mudança de atitude de Valéria.
- Que você pensa que está fazendo? – Valéria cuspiu as palavras, fervendo de raiva. – Tá achando que isso é algum tipo de brincadeira? Pois saiba que não sou uma das suas amiguinhas, nem uma dessas fãzinhas que você pega durante os shows. Você nunca mais vai falar assim comigo! Eu exijo respeito!
Jungkook piscou várias vezes, olhando Valéria incrédulo. Seu rosto então se suavizou e toda frieza ali presente desapareceu, sendo quase imediatamente substituída por um legítimo desespero.
- Noona, e-eu... eu sinto muito.
Jungkook menção de dar um passo pra frente, mas desistiu. Provavelmente a expressão de Valéria denunciava o quão pouco bem-vindo aquele gesto seria. Ela estava tremendo de raiva.
- Desculpe. Não queria ter dito nada disso. Não podia ter... – Jungkook passou a mão sobre o cabelo. – É que eu estava tão...
- Tão o quê, hein? O que é que você pensa que te dá o direito de falar assim comigo? Como se eu fosse um brinquedinho para você manipular, COMO SE EU FOSSE UMA QUALQUER! – Valéria berrou, batendo a mão sobre a bancada. - VOCÊ PASSOU DOS LIMITES E...
O desabafo furioso de Valéria foi interrompido por uma voz conhecida vindo da porta da cozinha:
- O que é que está acontecendo aqui?
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