História Long Fic Jungkook - Paper Hearts - Rumos diferentes...

Endireitei-me na poltrona ao ouvir que o avião estava se preparando para pousar. Com um nó na garganta, arrisquei olhar pela janela, de baixo e toda São Paulo me saldava, não consegui ignorar ou engolir o bolo que se formou em minha garganta.

Engoli em seco, a mulher ao meu lado sorriu para mim, interpretando, muito provavelmente, que eu tinha medo de avião, mal sabia ela... O caminho de volta pareceu interminável, mas varias horas depois o avião finalmente pousou em solo brasileiro. Olhei em volta no longo terminal do aeroporto de Guarulhos e senti São Paulo me trazer de volta para a realidade. Eu fazia parte daquela terra e ela fazia parte de mim. Permito-me sentir um pouco de contentamento, afinal eu iria encontrar minha família novamente depois de quase seis meses. Era bom estar em casa.

Milena e Miguel desceram os degraus pra fora do avião logo atrás de mim e ficamos instantes em silencio absorvendo o ambiente familiar. Saindo para a sala do desembarque após toda aquela burocracia.

- MILENA! – Um grito não muito distante de nós ecoou e nos viramos ao mesmo tempo para ver quem era.

- Mãe! – Minha amiga respondeu para ninguém em particular, e correu para os braços da mulher que a aguardava, abraçando-a com força. Miguel a seguiu de perto cumprimentado a sogra. Fui até eles e a cumprimentei de forma educada.

Olhei em volta em busca de rostos conhecidos por mim, e de repente os vi. Meu irmão estava ao lado da minha mãe e meu padrasto, os longos braços se agitando no ar em busca da minha atenção. Despedi-me de Milena, Miguel e a mãe dela que acenavam pra minha família e corri em direção a eles.

Eu não sei se foi por causa de esgotamento da longa viagem, a saudade, ou toda a situação com Jungkook e os meninos, mas assim que eu estou nos braços da minha mãe, eu me encontro num choro desenfreado.

- Oh meu amor. Você deve estar tão cansada. – Ela olha ansiosamente para André, meu padrasto e meu irmão, que me lançava um olhar que dizia que eu tinha muito que explicar.

- Não mãe, é só que... Eu estou tão contente em ver vocês. – Eu a abraço fortemente. Relutantemente, eu a solto e abraço meu padrasto, que me dava tapinhas nas costas. Meu irmão, Vinicius, me dá um abraço desajeitado.

- Bem-vinda de volta. Continua chorona? – Ele pergunta rindo. Eu olho fixamente para cima, para seu bonito rosto com mandíbula quadrada, e seus brilhantes olhos negros que olham para mim com carinho e uma preocupação velada.

- É bom ver você também, idiota.

Ele toma minha mochila e junto com minha mãe, os dois põem seus braços ao redor de mim enquanto meu padrasto se encarrega da minha mala e nos dirigirmos ao estacionamento. Eles tagarelavam sobre tudo o que eu havia perdido nesses meses.

- Mas, e aí, como é a Coréia? Quase seis meses lá... – Vinicius disse.

Comecei a contar sobre tudo o que fiz em Seul enquanto entrávamos no carro e meu padrasto dirigia em direção a minha casa.

Depois disso o assunto morreu, eles ainda conversaram entre eles, mas eu estava cansada e continuei olhando a paisagem, queria apenas dormir e não pensar no que havia deixado pra trás.

No banco de trás do carro com Vinny ao meu lado, eu escrevo um rápido SMS para os meninos.

“Chegada em casa com segurança. Já sinto saudades...”.

Meus pensamentos se perdem brevemente em Jungkook antes que eu apertasse enviar, em meio a minha fadiga, eu imagino a reação deles com esse SMS. Eu estremeço diante do pensamento, e então apago isto, sem enviar. Eu lidarei com isso mais tarde. Agora mesmo eu vou apreciar a companhia da minha família.

- Falei com sua avó e está todo mundo esperando pra te ver, mas você deve estar cansada. Você quer dormir quando nós chegamos em casa?

- Não, mãe. Eu quero ver todo mundo também.

[...] Quebra de Tempo [...]

A movimentação foi intensa na casa naquela noite, todos vieram me visitar, desde parentes até meus amigos. Estava feliz com aquelas visitas e sentia saudades de todos, mas depois de algum tempo já não estava mais com animo ou paciência pra nada daquilo, eu queria ficar sozinha, então com o cansaço como justificativa me retirei para meu quarto.

E ele estava exatamente da forma como eu o havia deixado, com uma bagunça que era muita característica do meu ser. Foi estranho entrar ali de novo. Tanta coisa tinha mudado, eu tinha mudado e a sensação de estar em casa não estava ali. O quarto está dolorosamente vazio e mesmo sendo exatamente igual parecia desconhecido. Eu vivi longe daqui por tempo suficiente para não me sentir como em casa.

Coloquei as três malas que eu trouxera comigo em cima da cama, desfaria as malas antes de tentar dormir. Abri o guarda-roupa e vi que um lado dele estava totalmente vazio, então comecei a arrumar minhas roupas ali. Eu havia mudado totalmente meu guarda-roupa durante minha estadia em Seul, felizmente a maioria das peças combinava com os climas do Brasil.

A última mala era a pior de todas, lá havia várias caixas de variados tamanhos, uma delas eram um perigo total para mim, as outras eram apenas recordações que eu levara comigo para Seul e, por fim, uma delas era de minha recente vida na Coréia, nela havia pequenas coisas que serviam para memorizar meus dias ao lado deles. Abri a caixa e tirei o mural que os meninos fizeram. As fotos ali já não eram as que eu havia levado do Brasil, eram agora as que eu pouco a pouco fui substituindo enquanto estava na Coreia, eram imagens das memórias que aos poucos eu fui construindo com eles. Tirei também uma camiseta que havia usurpado de Jungkook em nossa ultima noite juntos, era uma das inúmeras camisetas básicas que ele tinha em seu armário, ele provavelmente nem daria pela falta. Sorri com o pensamento, e levei a camiseta próxima ao rosto, respirando profundamente. O cheiro dele ainda estava impregnado no tecido, seu aroma preenchendo meus sentidos.

Embrulhei-me na camiseta, incapaz de segurar por mais tempo. Deixei-me cair em um canto e não impedi as lagrimas ou a dor que dilacerava meu peito e me tirava o fôlego. Encolhida como uma bola num canto do quarto. Repassei em minha cabeça cada instante do que passei com Jungkook, como um filme.

Comecei a soluçar incontrolavelmente, me encolhi em um canto do quarto e ali fiquei, queria sumir e nunca mais aparecer, queria esquecer tudo e todos, queria voltar ao passado e mudar tudo, queria que tudo fosse diferente. Mas não tinha volta, eu nunca mais poderia voltar e mudar minhas escolhas.

Bem no fundo, o pensamento desagradável e sem ser solicitado me atinge em cheio. Jungkook tinha razão, iríamos acabar tomando rumos diferentes. Qualquer dor física não é nada, nada comparado com essa constatação. Eu me enrolo, desesperadamente agarrando a camiseta, e me entrego a minha dor.