Tarde da noite, pleno breu
Você já deitou, pois deve dormir
(deve, mas não pode,
mas não quer)
Olhos abertos, ouvidos atentos
O silêncio grita,
mas não grita mais que sua
alma, criatura inquieta,
Um serzinho engaiolado que você não deve libertar
(não deve, mas precisa)
Seu pulso diz que você vive,
E mesmo assim você se sente morto
Levado embora pela apatia
pela frieza
Levado embora porque nada do que você faz parece ter propósito
e porque você sabe o que pode fazer
Mas suas desventuras te impedem,
Mas as desilusões te esmagam,
Mas a exaustão cotidiana te segura para trás
Contudo, não à noite
Pois é na profunda escuridão que sua mente ganha luz
É no breu que seus olhos não podem simplesmente cerrar
sem que antes você pegue papel e caneta
E deixe vazar, junto da tinta,
as angústias, as tristezas, as inseguranças
(e um pedaço da sua alma)
E você escreve, apaga e reescreve
Faz e desfaz e refaz
Compõe, descompõe, recompõe
E sua percepção de tempo, de mundo, de vida –
Tudo muda
E é como se o mundo se resumisse ao papel e à caneta e a você
(que assume o papel de criador dessa compacta imensidão)
Não é perfeito, quase não chega a ser bom
Mas é seu, e é isso que importa
E é (só) aí que você tem a profunda consciência
De que é isso que te faz viver
E que o contrário de morte
Não é vida,
É arte.
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