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História Immortals - Girls just wanna have fun


Escrita por: louthesassy

Capítulo 12 - Girls just wanna have fun


 

Faltando apenas uma semana para o feriado, os Nephilim sequer conversavam com os Arcanjos, que por sua vez em maioria se focavam nos estudos: Lauren e James faziam sessões de estudo de matemática todos os dias, com o auxílio de Hugo, que por sua vez recebia ajuda de  Holly com biologia, enquanto Alice e Will sumiam quase o dia todo, aparecendo somente nas aulas e raramente dormindo nos respectivos quartos, usando a desculpa de que estavam resolvendo problemas com os pais. 

Lucinda e Jack, por sua vez, passavam os dias treinando, conversando com Hanna e com Finn e indo às aulas. Algumas vezes, durante a noite, iam ao Purgatório e jogavam sinuca, pôquer ou até mesmo se envolviam em brigas com os Anjos, que continuavam afirmando que Luce tinha trapaceado no Mata-burro.

Lucinda ainda não tinha contado seu sonho para ninguém além de Jack e Finn, principalmente para Will e Alice, que planejavam algo grande para a sua Ação de Graças. 

- Finn? - Luce disse na quinta-feira, apoiada no balcão da recepção dos Arcanjos. 

- Oi? - Finn levanta muito rápido e bate com a cabeça no tampo da mesa, fazendo Luce rir. 

- Alice e William te disseram algo sobre a Ação de Graças? 

- Não. - Finn dá de ombros e passa a mão no cabelo de um jeito fofo. - E acho que você deveria contar para eles logo o que anda planejando. Faltam dois dias. 

- É. - Luce olha para os pés e lembra de algo, dando um pulo e assustando Finn. - As passagens! 

Ela sai correndo direto até a escada, parando no primeiro degrau e mandando um beijo para Finn, que acena e sorri torto.

 

- Ah, flor... Eu estou arrasando, admita. - Jack mexe com um pandeiro nas mãos, próximo ao ouvido de Lauren, que não está com a melhor das caras. 

- Jack... - Hugo tenta falar algo mas gargalha quando o loiro se esconde atrás do pandeiro. 

- Jaqueline Barker, você vai nos deixar surdos! - Holly joga o livro que estava lendo contra Jack, mas acerta William, fazendo o ruivo derrubar uma vitamina escura na blusa branca. - Ops. 

Holly olha para outro dos muitos livros que tem espalhados pela cama, parecendo estranhamente interessada neles e faz uma pergunta baixinho para Alice, que pega um livro e começa a explicar algo.

- Por que Jaqueline? - Os ombros de Jack caem, mas ninguém responde pois a porta se escancara num estrondo e Lucinda entra arfando com papéis na mão. 

- O que é isso? - James tira seus olhos do exemplar de Saco de Ossos, de Stephen King, que estava lendo. 

- Bom. - Luce coloca o cabelo atrás da orelha e senta na mesinha da cozinha, enquanto todos se aproximam. - Não sei se vocês sabem, mas eu vivia com Lúcifer quando era bem pequenininha,  - Will levanta uma sobrancelha e Holly franze o cenho- mas um dia ele foi embora, deixando três coisas de herança: uma é minha casa no Canadá e a segunda uma fazenda no Colorado, nos Estados Unidos. Eu tive um sonho algumas semanas atrás, quando desmaiei... 

- Lembro bem... - Jack olha de soslaio para James, que fica vermelho.

- ... e acho que deveríamos ir para a fazenda. - Luce deixou de lado que quem havia pedido para irem até lá era o diabo

Estranhamente, todos toparam na hora, até mesmo William disse que seria bom irem. 

 

Canadian Thanksgiving Day - Casa de Campo dos Nightshine, Colorado. 

Lucinda já tinha passado com a mesma caminhonete azul acabada pela mesma rua de folhas secas e árvores verde-alaranjadas, mas mesmo assim abriu a janela traseira e sentou no beiral, o corpo acima da cabine. Abriu os braços, a camiseta xadrez abrindo-se grande como asas de morcego, o canto da música no rádio velho elevando-se à um uivo de alegria. O padrasto aumentou o som e sorriu, a mãe revirou os olhos âmbar iguais ao da filha e mandou ela entrar novamente, mas ela nem ouviu. 

James segurou a mão dela e apertou, Holly cantou ainda mais alto e mais desafinado e Lauren se sentou ao lado da amiga, abraçando sua cintura com um braço e abrindo o outro, como Luce. Mesmo no verão, o ar que soprava era gelado. 

No final da ruela, encontrava-se uma fonte de pedra escura, desativada, e mais atrás ainda, uma casa ao estilo clássico, branca e azul de madeira. No beiral, sentavam-se Noah e Julie. 

Luce desceu da caminhonete e correu para os braços dos amigos: primeiro Julie, que começou a chorar, e em seguida Noah, que a girou no ar. 

Julie estava bem diferente: os cabelos loiro-escuros estendiam-se agora até a bunda, que estava muito maior que de costume e levemente empinada, e o sorriso no rosto estava diferente também, mais arrogante e menos divertido.

Já Noah continuava o mesmo desde criança: porte surfista, loiro-dourado de cabelos até os ombros, porém preso num coquezinho, olhos azuis que lembravam o mar num dia calmo e lábios vermelhos e carnudos. 

Julie e Noah eram irmãos, seus pais trabalhavam na Fazenda e eles estudavam numa cidade próxima dali. Apesar dos pais serem empregados dos Nightshine, eram basicamente uma família. 

A mãe de Julie veio correndo, enquanto secava as mãos num pano de louças. Ela analisou Lucinda, com água nos olhos e exclamou:

- Achei que não a veria aqui, e achei que ainda seria a minha bonequinha se chegasse a vê-la. - E abraçou a morena.

- Olá, Azazel. - Lucinda respondeu, sorrindo tanto que seu rosto parecia que ia estourar. - Estava morrendo de saudades. Onde está Raph? 

- Escolhendo um peru. - Azazel dá de ombros sorrindo.

- Um peru? - Jack levanta as sobrancelhas e solta a mala de Lauren no chão, fazendo a ruiva bufar. 

- Ele está atrasadinho, não? - Luce levanta uma sobrancelha e o padrasto ri:

- Lulu, nós reservamos uma mesa no restaurante The Airplane essa noite. - Ele sorri ainda mais quanto Luce faz cara de criança. - Mas antes, vamos nos acomodar nos quartos. 

 

James entrou no quarto atrás de Lucinda, mas o padrasto empurrou ele para fora e o dirigiu para outro quarto. 

Quando as malas estavam quase todas desfeitas (menos a de Holly que demorou muito tempo mais), Alice e William finalmente voltaram de seus "assuntos na cidade" e acabaram ficando com o único quarto que sobrara. 

Os quartos eram parecidos, os dos meninos a oeste, virado para o pomar de vidro atrás da casa, os das garotas no leste, na parte da frente da casa. Um banheiro branco com tampa de mármore, uma cama de casal com docel branco de renda, a cama de cetim, um baú branco envernizado, um armário alto de espelhos e para os quartos a leste, uma penteadeira iluminada com lâmpadas. 

O quarto de Luce era o único que possuía fotos espalhadas por todo ele, uma cama roxa e um grande akita branco, Pearl, em cima do tapete de veludo roxo e o de Julie era igual aos outros, porém em tons beges e um painel grande com a vista do quarto de Luce no Canadá pintado pela própria. 

 

Julie, Noah e Lucinda foram os primeiros a ficarem prontos. 

Julie estava com um vestido vermelho de veludo, que ia até o joelho, uma pashmina preta e uma bota preta de neve alta, enquanto Noah usava uma camisa social cinza, um trench coat preto, calça preta e uma bota mostarda e Lucinda aderiu aos óculos antigos, redondos e grandes, um moletom branco do Death Row e uma calça jeans clara, com uma mochilinha de couro nas costas e botas de neve. 

- Sempre me pergunto como minha filha ainda está viva. - O padrasto de Luce, Ethan, olha a morena de cima a baixo e sorri. 

- A culpa é do Canadá. - Luce responde em Francês. - Emma ainda não voltou do pomar, então sua reserva de onze vai ser suficiente para Pearl Jam. 

- Pearl Jam? - James põe a cabeça para dentro da sala com lareira e pisa no tapete de pelo castanho com os all-star pretos, sentando com a calça preta skinny (para variar) e o moletom cinza no sofá branco de couro. 

- Meu cachorro. Jem, você vai morrer do frio. - Lucinda levanta uma sobrancelha.

- Espero que morra. - Ethan volta os olhos para o seu exemplar de um livro do Phillippe Perrenoud. 

- Enfim... - Luce revira os olhos: - Emma sempre amou o pomar, mas 11 lugares? Você e mamãe não vão? 

- Emma? - Alice e William entram na sala também, Ali com um vestido preto rodado de mangas longas e com pelos nos punhos, na gola e na barra uma bota com salto agulha, Will com um tricot branco e botas de neve parecidas com as de Noah, porém beges e uma calça vinho.

- Nunca vou conseguir terminar de falar sem que alguém me interrompa? - Ethan revira os olhos. 

- Death Row? Accept? - Jem finalmente repara no moletom de Luce. 

- Fases. - Luce dá de ombros. 

- A melhor delas... - Noah olha de soslaio para Luce, que fica vermelha, fazendo Julie revirar os olhos e Jem trincar o maxilar. 

- Sua mãe e eu não vamos. - Ethan sorri para Luce e para Noah. Sempre gostei desse, pensa ele, embora a própria mãe dela achasse que não deveria.

- Ah. - Lucinda baixa os olhos até os pés e suspira alto. - Só temos que esperar as outras damas.

Como uma marcação de teatro, Lauren, Hugo e Jack entram juntos rindo. Lauren com um trench coat preto acinturado até a metade das coxas e botas até os joelhos, Jack com uma jaqueta de inverno chumbo, um tênis branco uma calça preta skinny. 

- Roubou minha calça? - Jem fala espantado, fazendo todos os jovens rirem. 

Hugo arruma o blazer preto por cima do suéter bege, coloca uma mão no bolso da calça social e estica o braço, pegando a mão de Holly e puxando ela para a sala, usando uma bota Ugg, uma calça bege grossa, uma básica branca com um casaco preto de lã fria por cima, com a gola de pelos e um batom vermelho emoldurando a boca. 

- Você é uma bonequinha! - Lucinda levanta e vai até a porta. Mexendo com uma chave na mão. 

- Você vai dirigir? - William levanta uma sobrancelha ruiva.

- Aham. - Luce sorri. 

- Estamos mortos. 

Antes de sair, Luce gira a chave no dedo e conduz todos para fora. 

 

William preferiu pegar a caminhonete de Ethan emprestada, dando carona para Alice, Hugo, Holly, Lauren e Jack, enchendo o carro e obrigando Jem a ir com Lucinda, no seu Oldsmobile 442 de 71, preto e com o ronco que "parecia uma canção de ninar" como dizia Luce. Noah e Julie não pensaram duas vezes antes de entrar no carro de Luce. 

- Quanta confiança. - Jem se espreme no banco de trás, prende o cinto e agarra a porta. 

- Lucinda é a melhor motorista de Dawson. Ela sempre ganha em corridas. 

- Vocês andam a mais de 35 km/h no Canadá? -  Jem pergunta surpreso para Luce. 

- Jem... - Luce faz a curva e revira os olhos, colocando uma fita no rádio. - Eu sou do Canadá e não de...

- Tatooine. - Noah, Julie e Luce falam juntos e riem, no mesmo momento que John Fogerty começa a cantar Travellin' Band. 

- Que século você vive? 

- Antes dos anos 80! - Luce grita e depois canta junto.

 

Lucinda estacionou primeiro e Will paralelo a ela, com a caminhonete azul-bebê. 

O restaurante tinha a forma de um avião da Força Aérea Americana e Noah explicou que era um Boing KC-97. 

Entrando, mesinhas com sofás se estendiam pelo avião, com uma turbina e uma asa passando por cima do barzinho de madeira polida e banquetas altas, com miniaturas de aviões penduradas no teto. 

- LULUUU! - A barista grita e pula por cima do balcão de madeira e abraça Luce: - A luz de Colorado Springs voltou! 

- Ah... Também senti saudades Sally... - Lucinda fala com o sotaque canadense diminuindo e falando exatamente como quem morava em Colorado Springs. 

- Como vai a Inglaterra? E Ethan? Ah, JUAAAAN! - Sally grita para a cozinha. - Coloque aquela música! - depois mais baixo: - Venham a mesa de vocês é lá atrás. 

Lookin' Out My Back Door começou a tocar baixinho e Luce sentiu paz, depois de muitas semanas tumultuadas: estava no berço de seus dois melhores amigos, no lugar onde a independência surgiu e a inocência sumiu. O lugar que criou Lucinda. 

Lucinda pediu o que pedia desde os 6 anos de idade, um Flying Chicken Florentine, e uma cerveja artesanal da cidade, Pikes Peak, para cada um. Alice pediu o mesmo que Lucinda, por prevenção. William e Holly pediram um Salmão Neptune, enquanto Hugo, Julie e Noah pediram um prato com carne de búfalo. Lauren e Jack uma carne ao mesmo estilo Neptune e James, excêntrico como sempre, pediu um Catfish & Hushpuppies, mais pelo nome do que pelos acompanhamentos. 

 

Quando foram embora, estavam tão estufados quanto só um estrangeiro fica ao sair de um restaurante americano e foram direto para casa, colocaram seus pijamas e se reuniram na sala da lareira. 

- Luluu! - Grita uma vozinha assim que eles entram na casa. Uma cabecinha loira vem correndo e pula em Lucinda, quase derrubando a garota no chão. 

Emma tinha sete anos e tanto amor para dar que Lucinda tinha medo do dia que descobrisse o quão ruim o mundo podia ser. Queria proteger a irmãzinha, seus cachos loiro-dourados e seus olhos cinzentos abraçando-a e nunca mais soltando. 

- Emmmm... - Luce fala pegando a irmã no colo e colocando o rosto no meio do cabelo dela. 

Doía antes saber que eram de pais diferentes, agora doía pois eram de raças diferentes. Emma era tão divina quanto qualquer criança poderia ser, pura e inocente, livre do terror que corria logo no quarto ao lado, nas veias da primogênita de sua mãe. Lucinda, por outro lado, era corrompida antes mesmo de nascer, amaldiçoada com a visão dos milhares de erros que cometeu através dos séculos, odiada pela pior entidade que se podia receber ódio: Deus. 

- Mamãe disse que tenho que dormir. - Emma faz biquinho e Luce sorri docilmente.

- Acho que você deveria obedecer, nenê. 

- Aaah, mas eu acabei de te ver! E não me chame de nenê! - Emma olha para o lado e Luce perde sua atenção: - Você que é o namorado da Lulu? 

Emma fala a palavra "namorado" como se fosse segredo e a mãe chama ela do segundo andar, então Lucinda dá um beijo na irmã e a põe no chão, então ela da um tchauzinho constrangido para Jem, que retribui, e corre escada acima. 

- Vamos. - Lucinda indica o sofá com a mão e vai até a cozinha, mas é parada por Jack e Lauren no meio do caminho. 

- Luce, nós podemos subir? - Jack fala e fica levemente ruborizado. 

- Claro... - Luce ri. - Ma maison est votre maison

- Que? - Lauren franze o cenho. 

- Mi casa es tu casa. Boa noite, pombinhos. - Luce faz uma careta suspeita e entra na cozinha, a porta vermelha vai-e-vem batendo atrás de si. 

 

Alice faz círculos entre o polegar e o punho de William, enquanto esse analisa o rosto que já conhece detalhadamente, mas nunca se cansaria de olhar. 

- No que você está pensando? - Alice pergunta sem nem precisar olhar para o ruivo para saber que este o encarava. 

- Que você é linda. - Will fala dócil e Alice olha espantada para ele. - É a mais pura verdade e não sei o que seria de mim sem você. 

Alice sorri, afinal, Will nunca tinha falado algo tão verdadeiro e valioso quanto isso, inclinando-se para dar um beijo longo e profundo no ruivo, segurando a nuca dela contra ela.

- Owwm. - Lucinda entra na sala com uma bandeja e fica encantada diante da cena fofa.

- Aah, que isso? - Hugo se aproxima e pega um dos copos altos, com um líquido marrom-claro, com flocos negros, muito chantilly e uma bolacha recheada escura. O moreno toma um gole. - Hmm. Hmmmmmmmm. O que é isso e de que planeta veio? 

- É chocolate quente. - Lucinda dá de ombros depois pisca: - Receita especial dos Nightshine-Bailey. 

- Bailey? - Jem tira os olhos da lareira e olha para a namorada.

- Ethan e Emma são Bailey. Mamãe também, agora. 

- Legal. - Hugo pega mais uma bebida e leva até Holly, que sorri para o namorado e toma um gole.

- Hm... Lucinda vocês deveriam patentear isso e vender litros pelo mundo. 

- Assim não teria graça ser um Nightshine-Bailey. - Luce dá de ombros e senta num puf. James senta no chão a sua frente e apoia a cabeça em seu colo, enquanto ela faz carinho devagar. 

Em dado momento, Holly enfia o nariz no chantilly e Hugo lambe, fazendo ela rir.

Assim, com carinhos aqui, abraços de William e Alice, e beijos de Holly e Hugo conversam até tarde. Até o Sol quase raiar.

 

- Por que você quis subir, flor? - Jack pergunta, esperançoso. 

- Só estou com sono. E não gosto de estar aqui. 

- Como? - Jack franze o cenho e olha para Lauren. Ela está sentada na cama, olhando para Jack com aquele rosto travesso que só ela conseguia fazer. 

- Eu não gosto desse trench coat. Nem dessas botas. - Ela tira as botas e joga elas num canto do quarto e, por mais incrível que pareça, elas caem sem barulho nenhum. Ela se aproxima de Jack e abre o zíper de seu casaco e o tira devagar, em seguida abre o zíper da calça. Lau tira o cinto da cintura e desabotoa os dois primeiros botões do casaco, somente de sutiã rendado e vermelho por baixo. 

- Eu também não. - Jack começa a suar frio e se aproxima de Lauren, beijando de leve sua boca e terminando de desabotoar o casaco. Joga-o ao lado das botas e segura Lauren pelas coxas. - Só gosto de uma coisa que está agora em você, e não é sua roupa íntima. 

- E o que é? 

- Você sem ela.

 

James acordou sem saber onde estava.

Ao sentir a seda contra a pele lembrou: na casa de Luce. 

Era estranho pensar que lá embaixo estavam as pessoas que criaram ela e sua irmãzinha, que se ela falou duas vezes foi demais. 

Meio cambaleante, Jem tirou o pijama chumbo e colocou um moletom qualquer, uma calça de moletom também e tênis clássicos da Nike, preto e branco. Abriu a porta só quando ouviu vozes e seguiu até a cozinha, de onde vinha um cheiro maravilhoso de waffles, chocolate, café e frutas. 

- Bon jour, monsieur. - Emma fala, como se francês fosse a coisa mais normal do mundo. Mas é a coisa mais normal do mundo, Jem chacoalha a cabeça, franceses só falam francês.

- Bon jour, madbmousele Emma. - Noah entra na cozinha, beija o topo cabeça de Emma, a bochecha da mãe de Luce, pega um waffle e sai da cozinha. 

- Bóôun jóur, Emma. - Tenta James, sabendo que erraria em madbmousele. 

- Quase. - Emma sorri para James e fica vermelha, então olha para a mãe: - Mamãe.

- Sim querida? 

- Je besoin plus waffles. 

- N'a pas besoin, de petite, ne veut. 

- Oui, mama. 

- Isso é francês? - James tenta entender o que acontece na sua frente. 

- Sim. - Emma diz como se fosse óbvio, James senta ao seu lado e se serve de laranjada. - Mama, Jem est beau.

- Também acho querida. Sabe, querido? - a mãe diz enquanto coloca um waffle coberto de chocolate e frutas vermelhas para James.

- Sim? Muito obrigado. - Ele prova. - Está divino, como tudo o que sai dessa cozinha. 

- Obrigada. - Lauren entra na cozinha, dá um beijo nas outras duas e se senta ao lado de Jem. 

- Continuando... - a mãe sorri para Lauren e serve café quente e um pedaço generoso de bolo de chocolate branco e preto. - Quando Lucinda namorou Noah, Ethan e eu fomos um pouco contra. Luce resistiu no começo mas ela viu que Noah jamais seria alguém com quem se poderia ter um futuro. Uma Nightshine não se casa com um americano. Principalmente um Smith. - ela diz o nome com veneno. - Mas eu gosto de você. 

- Eu também! - Emma exclama limpando o chocolate do bolo do canto da boca. A mãe sorri. 

- Ah. - James ruboriza e olha para o próprio prato, como se fosse uma pedra preciosa. - Obrigado, eu acho. Aonde está Luce agora? 

A mãe dá de ombros e faz um não com a cabeça.

- No pomar. - Lauren fala e assusta Jem, pois ela já está na segunda fatia de bolo.

- Posso levar? - Jem levanta o waffle e a mãe assente. 

 

Quando Holly chegou na escada, Hugo saiu do quarto e a acompanhou. Chegando na cozinha deu bom dia a todos. Estavam todos ali, exceto Jem, Luce e Jack. 

- Bolo? - Ethan oferece um bolo naked de chocolate branco e preto, mas Holly nem os vê.

- Ai, meu pai! Isso são macarons em forma de...

- Unicórnios! - Emma grita e a mãe olha atravessado para ela, que murmura um desculpe baixinho. 

E eram mesmo: a massa branco perolada, os chifres dourados e os focinhos bem detalhados. 

- Pode pegar. - Ethan fala baixo, como se fosse um segredo. - São de Lucinda mas ela já comeu mais da metade. 

Holly come um. Depois mais dois. Depois acaba com os macarons do pratinho. 

Enquanto isso Hugo come uma torre de panquecas com mel e um chocolate quente. 

- Uau, senhora Nightshine, você é um arraso. 

- Ah, obrigada, mas por favor me chame de... - nesse momento ela se vira e tromba com Jack, que anda meio dormindo até a mesa. Ele sorri de um jeito exagerado e a mãe só gargalha. - Lucinda tem os melhores amigos do mundo. 

 

James silenciosamente entrou no pomar. Lá dentro estava relativamente mais quente, então o moreno tirou o moletom e ficou só com uma t-shirt do Joy Divison. O pomar tinha o chão de grama fina perfeitamente aparada, sem nenhum matinho sequer, árvores frutíferas altas e até mesmo alguns pássaros. Mas o som que se destacava não eram os pássaros e sim um piano e risadas. 

A música era clara para James: Sweet Caroline. 

E quem cantava eram Lucinda e Noah.

Jem se aproximou devagar, sem saber se ficava com ciúmes ou feliz, pois nunca ouvira Luce nem tocar e muito menos cantar. 

Exatamente no meio do pomar, um piso branco polido contrastava com um piano de calda preto. O Sol entrava a leste dando um brilho excepcional para a pele pálida de Luce, sentada em frente ao piano, com uma xícara de chocolate em cima, e a pele bronzeada de Noah, que estava dividindo o banquinho com Lucinda, porém virado de costas para o piano, tocando um violão. 

James ficou ali, atrás do pé de goiabas, até a música acabar. Então se preparou para aplaudir, mas parou. 

- Você continua sendo a melhor pianista que eu conheço. - Noah diz e se inclina com um beijo, que Luce faz com que acerte sua bochecha. 

- Você conhece um melhor, só nunca o viu tocar. - Luce dá o seu melhor sorriso.

James 1 x 0 Noah 

- Ah, aquela garotinha? Por favor, ele parece o Dracula daquele filme ruim. 

James 1 x 1 Noah

- Ele é meu namorado, Noah. - Luce fala um pouco mais alto e alterada. 

James 2 x 1 Noah

- Eu também era. 

James 2 x 2000 Noah 

- Conjugação correta do verbo. - Luce pega o waffle e dá uma mordida. 

James 5000 x 2000 Noah. 

E, antes que o placar mental de Jem o colocasse na retaguarda novamente:

- Bom dia, pessoal! - James chega mais perto do piano e Noah levanta, dá mais um beijo na bochecha de Lucinda e vai embora sem dizer uma palavra. - Tchau, Noah! 

- Não se preocupe, - Luce dá de ombros e revira os olhos: - Noah adora um draminha. Então, hoje no almoço mamãe disse que iremos ao Sandy's! - Os olhos de Luce brilham. 

- Sandy's? Tem cara de ponto de encontro entre os adolescentes de cidade pequena. - Jem faz cara feia e Luce desfere um soquinho leve no braço dele. - Ei! 

- Nem todos vivem na capital! 

- Mas você nunca viveu aqui. 

- Aqui é o único lugar que lembro de meu pai, o biológico, onde tenho os dois amigos mais verdadeiros do mundo e principalmente, aqui é mais fácil ser um adolescente rebelde! 

Os dois gargalham e James franze o cenho. 

- Por quê?

- Porque no Canadá é tão frio que você não consegue nem sair de casa sem morrer. 

 

Quando chega o horário do almoço, todos estão tão cheios do café ainda que pensam em desistir, mas Lucinda parece tão animada com o fato de ir ao Sandy's que todos fazem um esforço, colocam casacos compridos e grossos e entram na caminhonete e no Oldsmobile, dessa vez com Emma (que fizera um escândalo para ir junto). 

- Luceee... - Emma fala com voz pidona. - Coloca aquela música legal? 

- Claro. - Luce revira os olhos e sorri, colocando uma fita no radio, que toca As Long As You Love Me, do Backstreet Boys.

 

Saindo da grande estrada de folhas secas que levava até a casa de campo dos Nightshine, entravam numa "principal" de asfalto velho e desgastado e andavam por duas milhas e meia no sentido do centro da cidade, aonde viravam no segundo semáforo numa casinha de madeira branca simples, com um letreiro que indicava "Sandy's restaurant" em vermelho.

Lucinda entrou e foi cumprimentada por quase todos (menos os carrancudos de Colorado Springs) e se sentou perto da janela e embaixo da roda de madeira, seguida de perto pelos amigos. Todos pediram um sanduíche, exceto por Noah que insistiu em pegar um prato enorme com cebolas empanadas, torradas frescas, muita maionese e carne de panela (embora levemente dura). 

- Se você passar mal essa Ação de Graças novamente, - ameaçou Julie - eu jogo todos os remédios fora e deixo você morrer.

 

Noah não passou mal.

Inclusive, quando chegou a hora da ceia de Ação de Graças, Noah logo se posicionou. Não acostumado com visitas vestiu logo uma calça jeans rasgada e um moletom largo e, com os cabelos louros bagunçados, parecia uma versão levemente mais atlética de Kurt Cobain. 

Quando Lucinda desceu até a sala com um vestido longo e preto, de cetim, e um colar curto de brilhantes e lhe falou tal coisa, Noah ficou vermelho dos pés à cabeça e sorriu como um bobo. Então, ao ver James descendo logo atrás dela, ficou sereno novamente: como sempre Jem parecia um astro de cinema dos anos 50, com seu cabelo escuro penteado para trás, as sobrancelhas grossas e a blusa branca com minúsculas florzinhas pretas e tão lisa quanto uma camisa pode ser. 

- Uaaaaau. - Lauren apareceu na sala de jantar também, olhando James dos pés a cabeça: - Trouxeram Montgomery Clift para jantar conosco e ninguém me avisou! 

- Quando sou eu, pessoal - Jack revira os olhos, mas sorri - Ela diz que é o Peter Pan, cada vez. Agora o Jem é a cada dia um galã de cinema diferente: Marlon, James, Harrison, John e agora o Montgomery. 

Lauren então virou e deu um selinho em seu namorado e, ao fazê-lo, rodou em seu vestido de veludo azul-royal, de um ombro só e justo. Combinava com seus cabelos ruivos e com a blusa bordô de Jack, que por sua vez combinava com os cabelos loiro-dourados. 

Alice e Will vem logo atrás e, como era de se esperar, William vestia um smoking completo, com uma gravata borboleta, e Alice um vestido branco e comprido, de alças finas e com uma tira ao redor do pescoço.

- Oii! - a mãe de Luce entra cantarolando. - Aparentemente Hugo e Holly ainda estão ocupados. 

Todos dão de ombros e Lucinda pega Emma no colo, com seu vestidinho rodado vermelho-sangue. O pai entra e ajeita a gota da blusa, dobrada por cima do suéter e pega Emma nos próprios braços no momento em que Hugo aparece sem fôlego na porta, com um tweed bege e uma blusa branca básica, com calças combinando, diz as garotas que Holly precisa de ajuda e cai sem fôlego na cadeira ao lado de William. 

 

Lucinda, Lauren, Alice e até a pequena Emma correm escada acima, encontrando Julie e Holly tentando fazer algo em frente ao espelho. 

- Oi? - Luce abre a porta delicadamente e enfia a cabeça para dentro do quarto. A cama de lençóis brancos estava desarrumada e o painel de flores da parede tinha como moldura roupas intimas e vestidos jogados nela. 

- Aí está tudo errado! - Holly choraminga e Julie solta tudo o que estava segurando: um colar, o zíper do vestido e o cabelo da outra loira. 

- De acordo com Holly o vestido não cabe, o bracelete não fecha, o sutiã está largo e o cabelo está feio. - Julie reporta, levemente emburrada.

- Ah. - Lauren e Emma dizem ao mesmo tempo e Lau continua: - Mas você está linda! Seu sutiã dá um up, o vestido lhe cai super bem e o bracelete está lindo. 

- Sim. - Luce continua, se aproximando de Holly e ajeitando tudo nela. - Inclusive seu cabelo, mas posso prende-lo se quiser. 

- Eu queria... - Emma diz se aproximando e com um olhar sonhador: - Ser bonita igual vocês.

- Awwn! - exclamaram as cinco outras garotas. 

O vestido de Holly era sem duvida o mais bonito: era brilhante e vermelho, frente única e levemente sereia, contrastando com o bracelete prateado ao redor dos bíceps e os brincos compridos também prateados ela parecia uma boneca da Marylin Monroe, porém com menos decote e mais classe. 

Luce pegou Emma no colo e a jogou na cama, enquanto ela gritava e ria. Depois de tempo, todas as seis estavam sobre a cama e o chão, caídas e gargalhando, cansadas de tanto pular e rir. 

- Acho que temos que descer. - Julie disse enquanto se levantava e cobria o vestido preto de paetês, com uma blusa branca por baixo, com um casaquinho amarelo. 

 

Quando a mãe de Lucinda colocou o porco na mesa, todos abaixaram a cabeça e agradeceram a quem quer que quisessem (especialmente aos próprios pais mundanos por terem sido os verdadeiros anjos, ou demônios, deles) atacaram tudo: lasanhas, frutas, grãos, risotos, molhos, porco e até a maçã da boca do porco. 

Depois do primeiro round de comida, Lucinda e Julie buscaram os doces: pavês (com algumas piadinhas em francês a parte), pudins, chocolates e um grande bolo vermelho e branco. 

Comeram e riram e conversaram por tanto tempo e, por mais que tentassem depois, não lembravam sobre o que conversaram aquela noite, mas em determinado momento os pais saíram e voltaram com algumas caixinhas. 

- Vocês não estarão aqui no Natal, - começou a mãe - e como sei que com os estudos e os esportes e, bem, o preço das passagens, ainda demorarão muito a voltarem. Então primeiro queremos presentear o nosso mais novo genro, com algo que Emma escolheu.

James pegou o pacotinho e agradeceu (e se desculpou também, por não trazer nada) mil vezes, até que abriu o pequeno embrulho e descobriu um relógio grande, com pulseira de couro e fundo pretos e ponteiros prateados. 

- Agora, para Holly. - um pequeno anel prateado com um coração cheio de brilhantes. 

E assim foi. Lauren ganhou um colar comprido com um delicado dragão de pingente, Jack uma pulseira de couro grossa com uma bruta estrela, Alice um anel também, mas com uma fileira de quartzos, Hugo um par de abotoaduras, Willian um jogo de lenços de bolso de seda. Por fim, a mãe trouxe um embrulho ainda maior e deu para a filha. 

- Uaaaaaau! - Lucinda exclamou como uma criança pequena. Abriu com tanta empolgação que a mãe teve medo que ela quebrasse o que estava dentro. Quando viu o que era parou. 

Ficou próximo de 3 minutos sem falar nada, só encarando o presente. Todos já se esticavam para ver o que era, enquanto ela não esboçava reação nenhuma. 

- Não acredito. - Disse ela ainda sem reação. Colocou os braços dentro do embrulho e tirou. Era uma espada e um escudo. - Você guardou? Quer dizer, ele deixou para trás?

- Sim. Estava esperando você ter idade para entender. 

Lucinda desabou em choro e logo todos os amigos entenderam: aquilo fora de seu pai. O escudo de um metal tão negro quanto um buraco negro, porém tão brilhante quanto o Sol, com um desenho de um rosto em agonia e ao mesmo tempo raiva e ódio, com cobras no lugar dos cabelos e pedras mais verdes que a mais verde das esmeraldas nos olhos, a bainha longa de couro negro também, com costuras tão rijas que nem mesmo Davi seria capaz de rompê-las, com o cabo perfeito para a mão delicada e comprida de Luce, com o mesmo metal negro, porém com a cabeça de uma monstruosa serpente-do-mar tão antiga quanto as próprias águas dos oceanos e a alma de milhões de anjos e demônios ceifados, presos em agonia e guerra eterna dentro de tais objetos tão pequenos e delicados porém ao mesmo tempo tão mortais e venenosos como aquilo ali. Aqueles objetos tinham pertencido ao Demônio dos Demônios, o anjo mais bonito do Céu e o pai da garota: Lúcifer. 

 

 

 



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