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História Immutationes - Sangue Metamorfo - Um dia tenso (muito tenso)


Escrita por: DonaIzzy

Capítulo 4 - Um dia tenso (muito tenso)


A água descia pelo meu corpo e respingava no azulejo verde do banheiro enquanto eu alongava todos os meus músculos. A água estava gelada e causava arrepios, mas não aumentei a temperatura. Era bom para despertar o corpo.

Cantarolei a melodia de She Wolf, da Sai, enquanto fechava os olhos, pensando apenas na letra da música e como meu corpo reagia a ela.

Abri a boca para cantar, movi os lábios, mas as palavras não saíam. Era como se eu estivesse no mudo e nenhuma palavra fluía de mim, apenas os movimentos indicando que eu acompanhava o ritmo da música. Depois dos movimentos, vinham as lágrimas, porque era isso que a nossa mente fazia: pegava uma coisa sem significado e associava a uma lembrança ruim, como se estivesse em necessidade de sofrer.

Tentei expurgar da minha cabeça a lembrança que me veio, mas algo se recusava a me permitir esquecer. Lembrei-me de algum tempo atrás, quando eu cantava para ela. Lembrei da sua voz, pedindo-me para cantar novamente. Para cantar alguma coisa que acalmasse seu espirito conturbado. Lembrei, mais nitidamente, de ter recusado seu pedido, de ter lhe negado a melodia. Se ao menos eu tivesse cantado, podia ter evitado...

Desliguei o chuveiro abruptamente, contando até vinte em espanhol em voz alta. Ditando a tabela de Linus Pauling, tentando pensar em qualquer coisa, qualquer coisa que não fosse ela.

Peguei minha toalha, me enxugando rapidamente e indo até meu quarto, que estava frio. Olhei para a janela. Estava aberta e o vento invadia o quarto. Franzi o cenho. Tinha certeza que a deixara fechada. Dei de ombros e abaixei o trinco, fechando-a. Troquei de roupas rapidamente, uma calça jeans novinha e uma camiseta azul estampada com desenhos geométricos. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo apertado e passei um batom roxo claro. Peguei meu all star e o calcei, também apertando os cadarços. Estava tudo em ordem.

- Eu estou no controle. - Repeti para o meu reflexo no espelho. - Eu estou no controle.

Desci as escadas e peguei uma maçã na fruteira. Fui até sala, onde mamãe varria o chão.

- Sabe o que eu estava pensando, mãe? - Perguntei, distraída.

- O que? - Ela parou um pouco de varrer e me olhou.

- E se a gente for tão pequeno, mas tão pequeno, que nosso planeta for apenas uma célula dentro de outro ser vivo?

- E quem seria este ser?

- Não sei. Deus? O próprio universo? Alguma força celestial que está aqui há mais tempo que nós?

- Às vezes você me confunde com essas suas ideias malucas, Samantha. - Mamãe riu.

-Mas pense nisso. Seríamos mais insignificantes do que já somos, certo?

Ela me olhou um pouco preocupada depois do que falei. Mudei de assunto.

- O papai já tirou o carro?

- Imagino que sim. - Ela disse e voltou varrer.

- Então já vou indo. Te amo! – Pisquei para ela e lhe joguei um beijo

Vi nossa caminhonete na entrada da Fazenda e meu pai, sentado à sombra.

- Vamos? - Eu o chamei. Ele se levantou e foi até o veículo.

Quando ele ligou a caminhonete e começamos a sair da fazenda, repito a mesma pergunta que fiz à mamãe.

- Eu não tenho uma resposta inteligente para isso. - Ele comentou. - Mas imagino que, pequenos ou não, a gente ainda tem o poder de fazer uma grande diferença.

- Isso foi bem filosófico. - Disse.

- Foi, não é?

Revirei os olhos e sorri.

Eram cinco quilômetros da fazenda até a escola, então completamos o percurso rapidamente. Olhei para as casas, as lojas e as praças em Farley. Era tudo tão simples, mas de certa forma, encantador. Sem muitos problemas ou preocupações. Pensei que era um bom lugar para se começar de novo. Para esquecer o que já aconteceu, digo mentalmente.

- Chegamos. - Meu pai disse enquanto parava a caminhonete.

- Até mais. - Agarrei minha bolsa. - Te amo!

Quando me aproximei do prédio, vi Alexia e seus amigos sentados nas raízes de uma árvore. Estavam conversando animadamente e demoraram meio segundo para notar minha presença.

- Oi gente. – Sorri, tímida.

- Oi Sam. - Eles disseram um por cima do outro.

Sentei-me ao lado de Alexia e tentei acompanhar a conversa do grupo, que mudava constantemente de assunto.

- Ei, Sam. - Kilye me chamou. Eu estava distraída, olhando a estrutura da escola.

- Hnm?

- Para qual atividade extracurricular vai entrar? - Ele perguntou.

- Atividade?

- Você sabe. Teatro, música, futebol e essas coisas. - Hanna explicou.

- Ah. Eu não sei ainda. Talvez faça teatro.

- Você fazia o que na sua antiga escola? - Mariana perguntou.

- Eu fazia música. - Sorri.

- E porque não faz agora? - Alexia questionou.

- Quero explorar outras coisas.

- Você canta? - Kilye perguntou.

- Um pouco.

- Canta aí para a gente ver. - Hanna pediu.

Fiz uma careta.

- Minha rinite atacou ontem. Minha voz está destruída. Talvez outro dia. - Desculpei-me.

- Hnm. Que pena. - Kilye lamentou. - Acho que vou fazer música esse semestre. Quero aprender a tocar violão.

- Isso é meio batido, não acha? - Mariana pergunta.

- Como assim? – Perguntei.

- Ah, você sabe. Parece que as pessoas querem sempre fazer as mesmas coisas. – Ela explicou. – Se você vai fazer música, porque não aprende a tocar clarinete? Sanfona? Saxofone?

- Verdade. – Alexia concordou. – Na verdade, todo mundo que está fazendo música está lá pelo violão. É até meio chato que metade da escola saiba tocar.

Kylie fez bico, pensativo.

- É um bom argumento, mas... – Ele começou a falar, mas o sinal tocou e o interrompeu.

- Quem está comigo na Física? – Mariana perguntou.

Hanna ergueu os braços.

- Você tem aula de quê agora? – Alexia perguntou para mim.

Tirei meu horário rapidamente da bolsa. Era química.

- Química. – Falei.

- Nenhum de nós tem química hoje. – Mariana disse.

- Eu tenho. – Kylie a corrigiu.

- Legal. – Alexia sorriu. – Você a acompanha então. Tenho artes agora.

Estávamos quase dentro do colégio e quando passamos pela entrada, nos dividimos para ir para nossas respectivas salas.

- Acho que você vai gostar dessa aula. – Kylie comentou. – O professor Jason é muito legal.

Sorri para ele.

- Meu último professor de química não era nada legal. – Respondi.

Chegamos à sala sete enquanto todos ainda se ajeitavam em seus lugares. A sala era um laboratório. Tinha várias bancadas para os alunos se sentarem em trios.

- Que sofisticado. – Eu disse.

- Legal, não é? – Ele se animou. – Vamos sentar aqui na frente. Vai ser melhor para você.

Duvidei disso, mas o acompanhei mesmo assim. Logo quando eu depositava meu traseiro sobre o plástico frio da cadeira o professor entrou. Ele era alto, tinha ombros largos e cabelos loiros. Seus olhos castanhos avaliavam todos na sala e pararam rapidamente em mim. Tratei de pegar o cartão de apresentação, os dedos tremendo levemente de nervosismo Enquanto eu me levantava para entregá-lo.

- Olá. – Ele sorriu para mim. – Samantha, certo?

Acenei com a cabeça.

- Pois bem. – ele escreveu o meu nome na frequência. – Acredito que você esteja um pouco nervosa, então não vou pedir que se apresente.

O professor olhava para as minhas mãos, que estavam unidas sobre a minha cintura, um jeito de disfarçar a tremedeira. Não deu certo.

- Não, tudo bem. – Sorri com confiança. Ele me deu outro sorriso.

- Alunos – ele se levantou de sua mesa. – temos uma nova aluna na nossa classe de química. Por favor, se apresente.

- Oi. – Eu disse, a voz um pouco aguda. Pigarreei um pouco. – Sou Samantha Spielberg...

Nesse momento, a porta se abriu e um rapaz adentrou na sala. Era Cam Slander.

- Está atrasado, senhor Slander. – A voz do professor se tornou hostil de repente. Tremi um pouco.

- Desculpe, professor. – Cam tentou manter seu tom neutro, mas percebi que ele também devolveu a hostilidade.

- Sente-se. – Ele ordenou. – Por favor, continue.

- Sou Samantha Spielberg e acabei de me mudar para Farley. – Eu disse rapidamente. A sala respondeu em cumprimento e o professor veio afagar meu ombro.

- Prazer em conhecê-la, Samantha. Eu sou o professor Jason. Espero que goste das minhas aulas. – Ele sorriu. Sorri em resposta.

Fui até minha cadeira, só para constar que o terceiro acento fora ocupado por ninguém mais, ninguém menos que Cam Slander. Ele sorria para mim.

Engoli em seco e me sentei, puxando a cadeira levemente para mais perto de Kylie, que olhava para frente, tenso.Respirei fundo e tentei ignorar a presença de Slander durante o resto da aula, trocando palavras com o valentão apenas quando ele pedia uma borracha ou corretor emprestado.



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