História Impedimento - Se

SE

Se eu soubesse
que era o último beijo
deixaria meus lábios 
no teu rosto
por muito mais tempo

Se eu soubesse
que nunca mais te abraçaria
Ficaria ali 
colada 
Não te largaria

Se eu soubesse
que nunca mais te veria
Olharia profundamente nos teus olhos
até impregnar tua alma
na retina

mas

acontece
 

que eu não 
sabia

- DAniel ARruda TEixeira

Após a porta do quarto do hotel fechar, Minseok voou nos braços de seu amante, o beijando e parabenizando por sua conquista, que não fora pouco.

Percebendo o horário, ambos decidiram dormir. E ambos dormiram sorrindo, sabendo que logo mais estariam livres para mostrar ao mundo que o amor não era restrito a apenas uma forma.

~*

O dia então havia chegado, Luhan estava entrando na pista de gelo para sua última participação. O primeiro lugar estava extremamente disputado entre ele e um russo.

Na primeira prova do dia não havia ido tão bem, ficando como segundo colocado. Durante sua apresentação, com Kiss The Rain, composição de Yiruma, duas quedas ocorreram. Ele manteve o ritmo e não se deixou abalar, mas descontos eram inevitáveis.

Mas agora começava a sua última apresentação, o chinês deveria estar mais centrado do que nunca.

Parisian Walkways, de Gary Moore, começou a tocar e com ela os movimentos precisos e caprichados do grande artista.

O corpo inteiro entrou em contato com a música, resultando numa apresentação excelente.

Diversas piruetas.

Diversos giros.

Essa coreografia deixava toda a plateia de pé abismada com as habilidades do jovem garoto que possuía potencial para se tornar um dos melhores patinadores do mundo.

Para a surpresa de todos, não somente ganhou a medalha assim como quebrou um recorde olímpico. Era o homem mais novo a quebrar um reporte olímpico.

~*

Os entrevistadores estavam por toda parte, e o bailarino não se importava de responder algumas perguntas.

- E então Luhan, como se sente? Depois de duas quedas ainda quebrar o recorde mundial... Haja coração! – O jornalista parecia estar muito entusiasmado.

- Certamente! – O patinador respondia entre risos – Eu sabia que possuía potencial, mas quebrar um recorde olímpico? Admito que estou em estado de choque ainda tentando processar as informações que me foram entregues.

- E ninguém de sua família veio lhe ver? – O homem por trás do microfone perguntou olhando para a arquibancada.

- Não, trouxe apenas um amigo mesmo... – Aquelas perguntas sempre o deixavam extremamente constrangido, pois sua família o havia abandonado num orfanato com poucos dias de vida.

- Pode chamar seu amigo para darmos uma palavrinha com ele?

- Mas claro, um segundo... MINSEOK!!!!!!!!!!

O coreano assustado por ser chamado mesmo com todas as câmeras a volta veio um tanto quanto contido, escondendo sua felicidade e vontade de beijar Luhan.

- PARABÉNS LUGE! – Ele disse não se contendo – Você foi demais, eu estou muito feliz por você – Finalizou com uma cara de bobo apaixonado extremamente fofa.

- E então... Como você se sente acompanhando seu amigo numa conquista tão importante?

- Meu amigo? Você só pode estar brincando.

- Baozi? – Luhan tinha medo do rumo que a conversa poderia tomar.

- Como assim? – O repórter parecia confuso com tudo aquilo.

- É o seguinte, ele não é meu amigo, ele é..... Meu namorado.

A multidão inteira parou, como se todos tivessem escutados.

O que Minseok esqueceu era que ainda estava no país onde homossexualidade era crime.

E ele só foi lembrar-se disso quando o casal já estava com as mãos presas atrás das costas sendo encaminhados para a delegacia.

Seu futuro era incerto.

~*

- É o seguinte – O policial começou a falar calmamente para que os dois não se perdessem em nenhuma parte – Como vocês se encontram dentro de um país em que a sexualidade de vocês é ilegal, teremos de tomar providências.

O casal temia e tremia junto, não sabiam o que lhes aconteceria. Teriam eles culpa de sentir um amor incondicional pelo outro?

- Vocês mentiram no aeroporto, na entrada alegaram não sentir atração por pessoas do mesmo sexo. E também alegaram que não haviam tido relações sexuais com pessoas do mesmo sexo – Antes de prosseguir o policial suspirou – Vocês estão condenados à pena de morte.

- O QUE? VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO, NÓS NOS AMAMOS E FIZEMOS ISSO PARA NOS PROTEGER E PROTEGER A CARREIRA DELE – As lágrimas desciam facilmente do rosto de Minseok, o sofrimento era imenso para que se preocupasse com a água que escorria de seus olhos – NÓS NÃO TEMOS CULPA DE NOS AMAR.

- Bela história de amor – Disse o policial em tom irônico – Vamos, o casal poderá morrer junto pelo menos.

Então era isso? Anos lutando para ficarem juntos e acabarem mortos por um deslize? Por um mínimo detalhe? Não era o planejado.

Enquanto caminhavam para a cadeira elétrica dupla, onde morreriam juntos, Minseok começou a cantar uma música que Luhan amava. Mesmo em toda aquela tempestade o mais velho tentava acalmar o mais novo.

“Stay for tonight (Fique por essa noite)
 

If you want to (Se você quiser)
 

I can show you (Posso te mostrar)
 

What my dreams are made of (Do que meus sonhos são feitos)
 

As I'm dreaming of your face (Enquanto eu sonho com o seu rosto)”

Ao decorrer da música os dois foram se aproximando cada vez mais da porta que os levaria para a morte. Aquilo não parecia real, não podia ser real.

Mortos por conta do amor? Será que seria assim que noticiariam a morte dos dois?

“They say that love is forever (Eles dizem que amor é para sempre
 

Your forever is all that I need (O seu para sempre é tudo que eu preciso)
 

Please, stay as long as you need (Por favor, fique o quanto precisar)
 

Can't promise that things won't be broken (Não posso prometer que coisas não vão ser difíceis)
 

But I swear that I will never leave (Mas eu juro que eu nunca vou ir embora)
 

Please, stay forever with me (Por favor, fique para sempre comigo)”

Eles já sentavam na cadeira, mas a voz de seu namorado continuava mansa, como se nada estivesse acontecendo.

“The way that we are ( O jeito que nós estamos)
 

Is the reason I stay ( É a razão para eu ficar)
 

As long as you're here with me ( Enquanto você estiver aqui comigo)
 

I know I'll be OK ( Eu sei que ficarei bem)”

Mas a voz mansa não terminou a música.

Com um “clic” duas vidas foram por água abaixo.

Uma carreira de patinador.

Uma carreira de barista.

Tudo havia acabado naquele momento, graças ao maldito preconceito.