1. Spirit Fanfics >
  2. Impulso >
  3. Cordão umbilical

História Impulso - Cordão umbilical


Escrita por: Ixteeer

Notas do Autor


Boa noite, minna! Desculpem o atraso ;--; tenho mais duas fics, e uma delas está em reta final. Tenho que termina-la, então sejam compreensíveis. Também não quero surtar e sair postando feito uma desvairada que sou, vamos com calma -q Espero que gostem, confesso que meus olhos arderam enquanto escrevi esse capítulo, e perdoem eventuais erros ♥♥♥

Capítulo 11 - Cordão umbilical


 

_ Acha que ela vai ficar bem, mãe? _ Wendy indaga num misto de curiosidade e preocupação, acompanhando a mulher para fora do quarto. Grandeeney sorrir para a filha, abrindo a porta e permitindo que a menina passar-se primeiro, para só então ela mesma sair e fecha-la com cuidado.

_ Isso depende dela, querida. Não importa o tanto de ajuda que alguém pode ter, se ele não quiser ser ajudado, é inútil _ responde calmamente, bagunçando seus cabelos azuis e sorrindo _ Mas não se preocupe, ela parece ser uma garota inteligente, afinal. Tenho certeza que vai ser prudente.

 

- w -

 

A claridade excessiva e os barulhos alheios fizeram Levy despertar, abrindo um olho e depois outro, visualizando o teto cada vez mais nítido sobre si. Grunhi baixo, remexendo-se e sentindo o lençol macio acarinhar sua pele.

Com certeza aquela não era sua cama.

Senta-se abruptamente _ um erro. Tudo em sua volta gira e ela tomba de lado, resmungando consigo mesma. Fica daquela forma por longos minutos, inspirando e expirando, tornando a sentar novamente, dessa vez com cautela.

Ao perceber que ainda estava no quarto de Gajeel, e que, incrivelmente, o colchão agora estava muito bem forrado, Levy põe as pernas pra fora da cama e puxa ar antes de tentar levantar. Um após outro, mexi os dedos dos pés, dando-se conta de que estava descalça, e não com o par de scarpins preto que usava até onde sua mente permitia lembrar. Com outro sobressalto, agarra a enorme camisa cinza que vestia, puxando-a para frente e vendo sua própria nudez por baixo do tecido.

_ Que porra é essa... _ murmura corando, se perguntando quem lhe tirara suas roupas e o porquê. Ela ouvi os barulhos que lhe acordaram, e caminha em direção à porta lentamente, pra caso sua vertigem lhe acometesse outra vez. Vira a maçaneta devagar, pondo o rosto para fora e averiguando o recinto.

Dois empregados conversavam entre si enquanto varriam o corredor,  Levy sentiu-se mais confiante para sair de seu esconderijo e perguntar o que significava aquilo. Algo aconteceu, certo? Não era todo dia que se perdi a memória daquela forma, alguém tinha que lhe explicar o que estava havendo.

Saltando para fora e cruzando os braços, Levy assustou os dois homens, que parou o serviço e ficou a fita-la com um visível nervosismo.

_ Podem me responder o que houve comigo? _ questiona desviando o olhar pro piso _ Não lembro direito...

Eles se entreolham.

_ Você desmaiou _ responde Bob, um baixinho careca de voz afeminada.

_ E convulsionou _ completa Sol, que também tinha voz afeminada, porém era esguio como uma lança.

_ C-convulsionei? _ Ela repeti arregalando as orbes castanhas, incrédula. De repente recorda de sua discussão, das palavras de Gajeel e de ver tudo escurecer subitamente. Em sua cabeça, aquilo parecia ter ocorrido há algumas horas.

_ Mas não se preocupe, anjo. O pior já passou. Você teve muita sorte de ter uma médica por perto quando aconteceu... _ Bob suspira, trocando a vassoura para a outra mão _ Seu pai veio aqui, de novo. Uma pena não ter acordado uns quinze minutos antes.

Levy arfa, os olhos saltados pela surpresa.

_ Quanto tempo eu fiquei desacordada?

_ Dois dias.

_ E meio _ Sol corrigi o baixinho, sacudindo seu punho esquerdo e verificando os ponteiros de seu relógio de pulso.

A azulada senti-se em ebulição. Meu trabalho, meus estudos. Deus, o meu pai comeu o quê enquanto isso? Ele comeu?

_ Preciso ir embora _ anuncia afobadamente, virando-se para abrir a porta do quarto, mas para no ato. Franzi as sobrancelhas azuis, dando-se conta de algo _ Onde está Gajeel? _ indaga olhando os homens por cima do ombro.

Eles se entreolham rapidamente, engolindo seco e sorrindo amarelo.

_ Senhor RedFox precisou sair... _ Sol responde com cautela.

_ Sair, é? _ Levy revira os olhos _ E ele deixou vocês de guarda, não foi?

_ Desculpe, senhorita... mas não vai sair daqui. Ordens dele _ Bob anuncia, parecendo realmente temeroso. Talvez ele imaginasse que a azulada desobedeceria, e ele teria de amarra-la na cama de seu patrão. Não era algo que o homem quisesse fazer, odiava violência.

Mas, para o seu alívio, Levy não tentou correr escada abaixo. Ela suspirou pesadamente, dando de ombros e virando-se para encarar os dois.

_ Já que é assim... me arrumam o que comer? _ questiona sem ânimo para relutar contra aquela decisão de seu melhor amigo idiota. Quem sabe depois de se alimentar ela não pulasse a janela do quarto e, talvez, sua queda fosse amortecida por aqueles lírios azuis? Se não, ela desejava que Gajeel se culpasse pelo resto da vida por ser um imbecil que não confiava nela.

_ Ah, claro! _ Sol escora a vassoura na parede do corredor, batendo palmas animadamente e sorrindo, visivelmente mais tranquilo _ Temos pudim de cereja, senhor RedFox pediu para Juvia fazer especialmente para a senhorita.

_ Isso é que eu chamo de sequestrador bonzinho _ Ela rir enquanto acompanha os dois _ Mas não importa, ainda vou lhe chutar onde dói quando eu vê-lo.

Eles lhe observaram o tempo todo, como se assistissem um animal exótico num zoológico. Os outros empregados tentaram, em vão, disfarçar a curiosidade, mas quando Levy erguia a cabeça sempre os flagrava dando uma boa olhada, fingindo limpar algo em seguida, com um sorriso envergonhado.

Eram 12 horas da tarde, Levy devorava aquele pudim sem modos algum. Juvia, que chegara da escola há pouco, adentra a cozinha enquanto amarra seu avental. Vê a garota se esbaldando na comida que fizera mais cedo, pondo as mãos no quadril e sorrindo.

_ Está tão bom assim?

Levy ergui a cabeça, corando e limpando o canto dos lábios rapidamente.

_ Supimpa! _ responde quando finalmente engolira o que mastigava _ Obrigada, Juvia...

A outra sorrir, dessa vez, sem mostrar os dentes.

_ Eu espero que o chocolate que irei fazer fique tão bom quanto esse pudim.

_ Chocolate? Você vende, ou algo assim?

_ Na verdade não. Irei dar de presente. Pro meu namorado...

_ Ah! _ Ela sorrir _ Tenho certeza que sim. Devia fazer pra vender, ia ganhar uma boa grana _ e com isso, volta a comer, mas dessa vez, com todo os modos que sua mãe lhe dera.

Quando acabou de se alimentar, umedecera os lábios e fitou a garota que estava sentada ao seu lado, olhando algo em seu celular.

_ Juvia... eu perdi dois de aula, sabe. Não teve nada de muito importante nesse meio tempo, teve?

Ela ergue o olhar, fitando a McGarden com um sorriso.

_ Não. Não exercícios avaliativos, se é isso o que quer saber. Mas aconteceu algumas coisas sim... _ Seus olhos ficam distante, Levy teve certeza que Juvia recordava de algo enquanto continuava a falar, visivelmente controlando o riso _ Sabe o Sting?

_ Sei sim _ Ela responde curiosa pelo que viria.

Será que alguma garota, das muitas, finalmente cumprira a promessa que Levy ouvia no banheiro feminino constantemente?

_ Bem, tem um boato correndo que ele vai ser pai. E você sabe que ele é meio... _ Juvia franzi o cenho, dando um olhar sugestivo. Levy assenti, entendendo perfeitamente _ E os garotos tão fazendo apostas grandes, pra descobrir quem é a sortuda _ Juvia funga, voltando sua atenção pro celular, o canto dos lábios tremendo suavemente _ Eu sou muito cruel de achar isso engraçado?

Levy pisca um par de vezes, se perdendo em seus próprios pensamentos. Sting? Me ausento por dois dias e esse idiota engravida alguém.

_ Há quem diga que seja a Kagura, por ela está xingando ele o tempo todo. Mas eu duvido, tenho a leve impressão que ela o odeio por outros motivos... sei lá, pode ser só impressão também. Afinal, é o Sting...

Ela parece louca... porque tipo, isso não é coisa de gente normal, é? Chutar as pessoas sem mais nem menos. Isso não é coisa de Deus. As palavras de Rogue de repente lhe veio à mente, como um assobio baixo e suave. Os olhares no corredor, quando a garota passara por ele... Por qual razão Kagura odiaria tanto o Sting, ao ponto de descontar no irmão, que nada tinha a ver com seu comportamento indecente? Tinha algo mais naquilo, bem mais. Não era um rancor nutrido por uma possível traição, como o das outras meninas que Levy ouvia no banheiro feminino repetidas vezes.

Não.

Levy puxa ar com urgência, sentindo a maldita vertigem lhe acometer outra vez. Massageia a têmpora, obrigando-se a dar um descanso a sua mente.

_ Quem começou com isso? _ questiona calmamente.

_ Não sei, mas foi no banheiro feminino. Sabe como as coisas rolam lá, aquilo é um verdadeiro meio de comunicação.

_ Eu... eu vou me deitar um pouco _ Levy anuncia, levantando-se com cuidado e forçando um sorriso _ Me sinto um pouco cansada, acho que preciso deitar.

Gray surgi, atrasado, como de praxe. Inclina a cabeça para o lado, olhando a pequena azulada de forma surpresa.

_ Ei, que bom que está viva... achei que tivesse batido as botas, sabe. Não foi um negocio bonito de presenciar.

Muitas coisas lhe vem à mente. As manchetes do jornal que seu pai lia pela manhã, os noticiários. Um quilo de maconha. Dirigindo a cem quilômetros com um quilo maconha no banco da moto.

_ Eu vou lá _ Levy faz menção de dar a volta na mesa e sair da cozinha, mas para no ato e encara a azulada, que ainda estava sentada, ignorando a existência do Fullbuster _ Hã... Juvia, quem trocou a minha roupa mesmo?

A garota pisca um par de vezes, franzindo o cenho.

_ Minha mãe e minha irmã.

_ Ah! _ Ela assenti, sorrindo e afastando-se da mesa e da azulada que lhe observava ir embora com um olhar confuso. Virar-se, para dar uma explicação decente _ Só pra saber. Eu meio que estou com uma lista de motivos para bater no seu... hã, patrão?

Juvia rir gostosamente, cruzando as pernas e pondo seu celular dentro do bolso do avental.

_ O Gajeel? Não, Gajeel não é meu patrão não. É mais como um irmão de criação mesmo.

_ Você tipo... _ Levy tossi suavemente, percebendo que sua voz saíra exaltada demais _ Tipo mora aqui?

_ É... _ responde assentindo lentamente, seu sorriso murchando um pouco.

_ Hum, certo. Supimpa _ dando as costas novamente, recomeça a andar, tendo consciência dos olhares em suas costas. Eu acho que ela é  biruta, ela ouvi o Fullbuster sussurrar, Só está cansada, lhe der um tempo, Juvia a defende.

Levy continua seu caminho, encontrando Sol e Bob na sala de estar, como dois guardas costas, apenas lhe esperando aparecer para lhe acompanhar até o quarto, ou cativeiro.

_ Onde está a mãe e a irmã da Juvia? _ questiona enquanto segui pra escada, sentindo-se cada vez mais tonta, porém não queria alarmar ninguém.

_ Wendy foi pra escola, e a Grandeeney acompanhou o senhor RedFox _ Bob lhe responde, andando junto demais para o gosto da azulada.

O homem realmente estava esperando uma tentativa de fuga, e estava preparado para caso ela ocorresse. Pela forma que ele estava empenhado em cumprir as ordens, com toda certeza ganhara uma gorda recompensa adiantada.

No entanto, antes que os três subissem o primeiro degrau, a porta foi aberta, revelando Gajeel e Grandeeney. O moreno encara a azulada de imediato, sorrindo enquanto aproximar-se a passos largos. Levy percebera seu primeiro olhar, durara pouco mais que dois segundos, mas ela tinha certeza do que viu. Preocupação, culpa, novamente preocupação e então um sorriso pra disfarçar o que deixara transparecer. Ela conhecia aquele comportamento muito bem. Bem demais.

Rapidamente, desci seu olhar, vendo sua bolsa vermelha nas mãos do homem. O olha novamente, dessa vez com as orbes estreitas.

_ Essa é a minha bolsa?

_ Sim _ responde parcamente, passando um braço por baixo de seus joelhos e a erguendo do chão. Levy queria lhe bater. Levy queria lhe dizer o quanto suas palavras machucaram seus sentimentos. Também queria exigir que ele lhe desse suas roupas de volta, para enfim ir pra casa. Mas Levy o conhecia o suficiente para saber que não havia palavras que lhe fariam parar. Porque Gajeel era um homem que fazia o que bem queria, e se fosse seu desejo que a azulada ficasse mais um pouco, ela ficaria mais um pouco.

Estava exausta demais para discussões bobas, afinal.

_ Idiota... nem me deu tempo de agradecer a mulher dignamente _ murmura baixinho quando o RedFox a repousa em sua cama.

_ Depois _ responde simplesmente, afastando-se e sentando ao seu lado. Abre a bolsa em seu colo, causando uma grande surpresa na azulada.

_ Ei! _ Ela se esgueira sobre ele, tentando tomar o objeto, mas o homem a impedi de prosseguir com um dos braços, enquanto que com o outro continua o vasculhando _ Isso não é legal, sabia? Não devia mexer nas coisas dos outros assim _ resmunga desistindo. Ajoelhar-se no colchão, esperando pelo o que ele tanto queria tirar dali.

_ Eu achei isso, no seu porta-luvas _ diz enquanto tira o papel dobrado de dentro da bolsa. Levy desvia os olhos rapidamente, encarando o coturno sujo de lama.

Franzi as sobrancelhas, confusa.

_ Onde você foi pra ter sujado ele assim?

_ Na sua casa _ responde sem olha-la _ Choveu bastante pela madrugada, deve saber o que acontece por aquelas ruas quando chove muito.

Ela o encara, surpresa e aturdida.

_ N-na minha c-casa?

_ Sim. Fui buscar seu remédio.

Levy arria os ombros, massageando a têmpora e umedecendo os lábios.

_ Posso saber pra quê?

_ Tomei a liberdade de mostra-lo a Grandeeney _ Ela arregala os olhos _ E também respondi duas mensagens suas. Seus amigos ficaram preocupados _ agora ela estreitava as orbes, ficando possessa _ E, claro, trouxe umas mudas de roupa. Tá lá embaixo, Juvia vai traze-las quando você for tomar banho.

Toda sua raiva estoura, como uma panela de pressão. Investi contra o homem com toda sua força, sentindo seus batimentos cardíacos subirem rápido demais. Gajeel segura suas mãos sem dificuldade alguma, a trazendo pra perto com um puxão e a abraçando fortemente, fazendo-a parar imediatamente.

_ Me desculpe... a culpa foi toda minha você ter quase morrido, de novo.

Levy ouvi em silêncio, sentindo um nó se formar em sua garganta e seus olhos arderem. Arfa, pondo as mãos no peito do homem e fazendo menção de se afastar, mas ele lhe aperta mais, sabendo o que ela queria fazer. O de sempre: afastar-se e engolir seus sentimentos, deixando para chorar sozinha, sem plateia, apenas ela e seu coração.

Lentamente, seu abraço de aço afrouxa, tornando-se aconchegante, propenso ao choro que queria explodir de dentro da McGarden. Ela ergue-se ainda ajoelhada sobre a cama, ficando da altura do RedFox e passando os braços em seu pescoço. Repousa a cabeça em seu ombro, sentindo-o apertar sua cintura.

_ Me desculpe _ repeti, perto demais de seu ouvido. Mas ela não se importou, sentia-se reconfortada de alguma forma, como se tivesse finalmente saído de um temporal e estivesse vestindo seu suéter velho favorito. Essa era a sensação, conforto. Gajeel lhe trazia sensações boas em meio a tantos sentimentos negativos que ela guardava dentro de si. Não conseguira afasta-lo, não dessa vez que estava tão próximo.

Em contra partida, o moreno sentia-se estranho. Nunca esteve daquela forma com uma mulher, nem mesmo com Juvia, que considerava uma irmã caçula. Estava sendo afetivo demais, mas ao mesmo tempo não conseguia deixar de querer Levy de uma forma que ele estava bastante acostumado a conhecer as mulheres. Jamais achou que um corpo tão pequeno fosse despertar algo daquele calibre, mas ali estava ele, divagando entre querer pôr as mãos debaixo daquela camisa para sentir sua pele, e preservar aquele momento e aquele sentimento estranho que nutria por Levy McGarden. Talvez se ele tentasse algo, e ela retribuísse, tudo aquilo terminaria como terminou das outras vezes.

Ele perderia o interesse e então a azulada seria as botas que não lhe servem mais, que o aperta e que ele trocaria por outras novas rapidamente.

Não.

Gajeel não entendia, mas não queria que seu sentimento se tornasse algo banal, que Levy se tornasse mais uma de sua lista extensa de mulheres que já teve. Ele a queria, mas de um modo diferente. Não tinha culpa se seu corpo não entendia que a McGarden era especial.

Apenas quando sentiu necessidade de fungar é que a azulada percebera que chorava silenciosamente. Afastou-se constrangida, limpando o nariz com o dorso da mão rapidamente e fitando o moreno com os lábios apertados.

_ Não conte pra ninguém que me viu chorar _ pedi baixinho, quase sussurrando.

_ Não vou contar.

_ Promete? _ Ela estendi seu mindinho, fazendo o homem sorrir e estender o seu, entrelaçando-os.

_ Prometo.

Levy senti uma estranha inquietação em seu estômago. Não era como se estivesse com fome, na verdade, estava bastante saciada. Seu coração ainda encontrava-se agitado, mas, estranhamente, era uma inquietação positiva. Não compreendia o que estava sentindo, e por não compreender, odiava a situação.

Ela inspira profundamente, soltando o ar de uma vez. Baixa o olhar, recusando-se a continuar encarando Gajeel tão de perto. Talvez fosse isso, talvez se desacostumou a ter um homem tão perto de si. Fazia longos dois anos desde a última vez que esteve perto assim de um.

O pensamento a fez chacoalhar a cabeça, surpresa com o que a acabara de supor. Gajeel não é como Droy, jamais vai ser. 

_ Você tá bem, baixinha? _ indaga a observando divagar consigo mesma. Ela assenti, sorrindo ainda com o olhar baixo. Ao sentir as mãos na lateral de sua face, seu coração falha duas batidas, mas Gajeel não beijou-lhe os lábios, como ela achou que faria, e sim sua testa, demorando-se longos segundos antes de sorrir com algum pensamento _ Qual a graça? _ seu tom de voz saiu mais ríspido do que pretendia, mas Gajeel não se afetou. Já estava acostumado.

_ Eu só pensei que você daria uma boa música.

_ Uma música? _ repeti confusa _ Dá pra fazer algum sentido, por favor?

_ Eu nunca comentei isso, porque já faz muito tempo, mas eu tinha uma banda... na adolescência _ Ele sorrir com um olhar nostálgico _ Bons tempos.

_ Ah, é mesmo, às vezes até esqueço que você não é um pivete de quinze anos, transbordando hormônios e rebeldia.

Gajeel queria lhe responder que melhor é um adulto com espírito de adolescente, que o contrário. Queria soltar alguma provocação, lhe irritar também. Porém, ele para.

Fita a garota à sua frente, sua mente sendo preenchida pelas memórias inquietantes de dois atrás, quando ela simplesmente esquentou como um ferro de passar roupas e saiu de órbita, deixando-o desnorteado enquanto assistia Grandeeney fazendo tudo ao seu alcance para traze-la de volta. Depois do velório de seu avô, aquela era a memória mais angustiante que ele tinha.

_ O que foi, bebê RedFox, não tem argumentos contra isso? _ indaga sorrindo de forma provocativa.

Gajeel puxa o cobertor cuidadosamente dobrado por Wendy, o desdobrando enquanto resmungava consigo mesmo.

_ Deite-se pra descansar, foi tenso o que aconteceu _ diz seriamente, fazendo-a pisca um par de vezes e apertar os lábios.

Gajeel a desarmou, fazia parte de seu teatro rotineiro contornar as situações indesejadas com sarcasmo ou provocação, mas ele não vestiu o personagem daquela vez. Levy percebi, enquanto se senta, que Gajeel a conhecia muito bem, mais do que ela gostaria. Apenas seus pais a conheciam ao ponto de desarma-la, se assim eles quisessem.

Não gostou nada daquilo.

_ Petit?

Ela o olha, ainda distraída com seus pensamentos.

_ Não tá usando nada por baixo dessa camisa, não é?

Com um sobressalto, Levy percebi o olhar baixo do homem, o seguindo e vendo que a camisa subira demais, e que, se não fosse por suas duas mãos cruzadas em frente sua virilha, provavelmente ela estaria na altura de seu ventre, denunciando sua nudez.

_ Não interessa! _ berra constrangida, puxando o cobertor que ele segurava e cobrido-se rápido _ Pervertido...

_ Já falei, petit, você não tá no ponto ainda. É uma franguinha, precisa comer mais bolinho de arroz.

_ Muito engraçado... _ murmura ainda corada, o olhar baixo, encarando as luvas sem dedos que o homem usava. Franzi o cenho, erguendo olhar rapidamente _ Por que não tira isso? Você nem tem moto.

_ Isso? _ Ele ergue uma mão, sorrindo torto _ Ah, depois conto a história disso aqui, baixinha. Mas agora, você vai dormir.

Ela bufa, porém não insisti. Estava realmente exausta, ao ponto de sentir suas pálpebras pesadas e de bocejar diversas vezes.

_ Eu vou te obedecer _ murmura sonolenta, erguendo indicador e estreitando os olhos minimamente _ Só hoje _ e virar-se pro lado do criado-mudo, deixando-se vencer pelo cansaço.

O moreno sorrir, de uma forma que não faria com alguém presenciando. Dá uma última olhada na figura adormecida de Levy e encara o papel esquecido, ao lado da bolsa vermelha. O abri lentamente, como se tivesse feito aquela mesma ação várias e várias vezes. Reler, massageando a têmpora com sua mão livre, enquanto que com a outra apertava o papel com mais força do que seria necessário.

Levy estava certa, não mentira ou agira de forma infantil. Talvez, lá no fundo, ela sentisse ciúmes, mas não foi motivada por ciúmes que ela chegara tão fundo em sua investigação. Fiz porque sou sua melhor amiga, e é isso que amigos fazem... não é?

Não importava o quanto ela se mostrar-se forte, o quanto ela conseguisse reprimir as próprias lágrimas, ou o tanto de fardos que tivesse. Ainda era uma adolescente de dezessete anos e mentia pra si mesma e pros outros o tempo todo. Apenas aprendeu a atuar muito bem, porém, na realidade ela era extremamente quebradiça, frágil e doce. O RedFox agora entendia a sensação de ver pássaros presos quando olhava em seus olhos por tempo suficiente, era a própria Levy que estava aprisionada dentro dela mesma.

Não é um problema de extrema urgência... mas ainda assim, deve-se ter cuidado. Até mesmo uma simples gripe pode evoluir para uma pneumonia, se não lhe é dada a devida atenção. Levy tem que levar uma vida tranquila, sem excessos físicos, sem exigir demais de seu corpo. Com isso não quero dizer que a menina tem que viver exilada e incapacitada, mas que ela deve se atentar aos riscos, porque eles existem, mesmo que razoáveis, e pelo que percebi ela simplesmente tapo os olhos e deixou-se chegar a esse ponto.

_ Idiota... já que não quer se cuidar, então cuido eu.

 

*  *  *

 

_ Você esqueceu de tomar seu remédio?

_ Não...

_ Arrumou um segundo emprego e eu não soube?

_ Não, pai... 

A azulada engole seco, percebendo que mentia. Mas bem, não podia dizer para o homem que andou se servindo de detetive pra sua patroa. Sabia que ele lhe falaria que era perigoso, que poderia se meter com pessoas realmente perigosas e entre outras coisas que Levy não estava em clima pra ouvir.

_ Então... _ Ren virar-se pra encarar a filha, estreitando os olhos castanhos _ Foi ele que provocou isso? O que diabos ele fez?

_ Não! Não aconteceu nada... _ Levy aperta os lábios por ter que mentir tanto pro seu próprio pai. Uma parte dela queria ser um livro aberto, dizer tudo o que sentia, chorar em seu colo e ser acarinhada. Mas ela se julgava grandinha demais pra algo assim, além de que, o homem já tinha preocupações demais para ter que lidar com uma filha frágil.

Em seu íntimo, ela sabia que de fato era, mas ninguém precisava saber disso. Bom... ninguém além de Gajeel.

_ Não minta pra mim, Levy... _ Ren virar-se novamente, recomeçando a cortar as batatas _ Não minta pra mim... lhe conheço desde que saiu do ventre da sua mãe, sei que algo aconteceu.

_ Pai, foi consequência do traumatismo craniano _ Ela diz rapidamente, esperando que ele simplesmente desistisse daquela conversa.

Ren a olha por cima do ombro.

_ Quer mesmo convencer um enfermeiro experiente disso? _ Ele volta sua atenção pras batatas, cortando-as de forma desregular e grossas demais _ Em partes foi, mas não foi isso, Levy. Sua pressão estava alta demais, seus batimentos cardíacos acima do aceitável e, juntando isso com seu outro problema recente, você ficou naquele estado. Mas por que sua pressão tava tão alta? Estava num nível de estresse elevado, falei com Metalicana, com seus colegas de trabalho, com os seguranças do prédio. Todos eles disseram o mesmo. Gajeel lhe arrastou para fora de seu trabalho, sabe-se lá Deus por qual motivo.

Levy arfa com a informação. Senti-se um pouco tonta, porém permaneci quieta, ouvindo sua própria respiração.

_ Pai... desculpe. Eu não queria ter te preocupado tanto... _ Ela engole seco, levantando-se e aproximando-se do homem, que continuava cortando as batatas em silencio _ Estou aqui, não estou?

_ É, está _ concorda sem emoção _ Mas foi por pouco. Se não tivesse alguém que entendesse a situação, seria tarde. Eu iria lhe buscar morta, e você tem noção do quanto isso iria me destruir? Como isso ia matar a sua mãe mais do que um câncer?

A garota abraça seu tórax, repousando sua cabeça nas costas do homem e suspirando pesadamente.

_ Eu não ia simplesmente morrer, pai.

_ Ia.

_ Não posso simplesmente ir embora, sabe disso.

Ren entende os dois sentidos e isso o faz parar o que fazia e puxa ar devagar, buscando se acalmar. Assim como a filha, não gostava de transparecer seu estado de espírito.

_ Sobre isso, eu e sua mãe tivemos uma conversa semana passada.

Ela espera, largando-o inconscientemente e encarando suas costas enquanto sentia-se nervosa pelo que viria. No fundo, já sabia do que se tratava e seu nervosismo só aumentava com o silencio prolongado.

Seus pais nunca falaram sobre aquilo, embora Levy também nunca tenha se rebelado contra seu futuro proposto pela situação dos McGarden.

_ Vai fazer as provas em outubro _ anuncia seriamente, largando a faca na bancada e virando-se pra encarar a filha.

A azulada estava paralisada, fitando-o com os olhos saltados, um nó se formando na garganta.

_ Claro que vou, pai.

_ Pro exterior _ Continua _ Como você queria, lembra?

_ Pai... eu não posso deixar você e a mamãe pra brincar de intercambio _ Diz sorrindo, mas seus olhos estavam marejados _ Não posso.

_ Levy, é verdade que nossa situação não é fácil _ Ren esfrega as mãos no jeans nervosamente, como se lhe doesse falar aquilo _ Mas quando digo "nossa", me refiro a eu e sua mãe. Não tem que pagar por dívidas que não fez.

_ Pare _ Ela engole seco, limpando rapidamente uma lágrima que deixou cair _ Pare, pai. Está cansado, só isso. Durma um pouco, vai acordar melhor... vamos esquecer que disse isso.

_ Não, azul... _ Ele sorrir, puxando-a pra um abraço desajeitado.

Levy senti todas as paredes que construiu ao longo dos anos trincarem, ameaçando ruírem.

_ Era mais fácil te deixar destruir seus sonhos, porque assim você sempre ficaria por perto... eu sabia desde o início que conseguia sem você, mas eu queria te manter ao meu alcance, filha, pra cuidar de você e não deixar que nada te machucasse. Mas você se machucou de qualquer forma _ Ele acaricia os curtos cabelos azuis, sentindo a garota apertar sua cintura com os braços finos e tremer sutilmente _ Você vem se machucando desde muito tempo, e eu não pude fazer nada sobre isso. Você era tão pequena quando nasceu, Levy, e mesmo agora, ainda é. E às vezes tudo que quero é te pôr no colo, como fazia quando ainda era um bebê. Você costumava ter pesadelos e acordava chorando em plenos pulmões _ Ren afastar-se para segurar a face delicada da filha, vendo que ela soluçava enquanto mordia os lábios numa falha tentativa de conter o choro _ E eu te pegava em meu colo e você se acalmava tão rápido. Era tão mais simples naquela época, Levy. E eu tive que lhe ver crescer, e te pôr no colo não era mais suficiente. E aí veio o Droy. Você era tão jovem, e mesmo que tivesse trinta anos, ainda seria jovem demais pro seu primeiro namorado. E era jovem demais pra sofrer da forma que vi sofrer, jovem demais pra desistir de todos os seus sonhos e se torna adulta antes da hora. 

Levy não tentava mais conter seu choro. Podia recordar daquela época como se ainda tivesse quinze anos e estivesse fazendo aquelas escolhas aquele exato momento. Não faça isso comigo. Pelo amor de Deus, nós vamos nos casar quando acabarmos o ensino médio. Lembra? Nós planejamos isso, Lê! _ Droy argumentara, segurando suas mãos nas suas e a encarando, incrédulo em suas palavras _ Desculpe... mas meus planos mudaram. Eu sinto muito, Droy, não posso me casar com você porque espera isso de mim.

Uma parte dela sabia que estava fazendo aquilo por seu sentimento ter desaparecido, e se tornado outro. Talvez o amor não morreu afinal, apenas mudou de forma. Levy não desejava mais seu namorado do mesmo modo que ele, o beijava, e _ quando surgia ocasiões favoráveis _ transava com ele para deixa-lo feliz, todavia, aquela situação a deixava cada dia pior por saber que estava mentindo para ele e para si. De certa forma, ter que terminar aquilo com argumentos tão bons foi reconfortante. Doera muito assistir Droy sofrer por meses, tentando engolir a situação, mas doeria bem mais se ela tivesse que dizer que não o amava mais, e por isso não dava pra continuar o relacionamento.

_ Apesar de ter sido sua mãe quem lhe carregou no ventre _ Ele continua, sorrindo apesar de seu coração doer com o que estava dizendo _ Fui eu que me mantive ligado a você durante todos esses anos, filha.

Levy queria dizer muitas coisas. Que ele provavelmente enlouqueceu, que aquilo era sem sentido, que era tarde pra ela simplesmente recomeçar a sonhar. Mas sentia-se tão frágil e cativa de suas próprias emoções que não fez nada além de continuar chorando, como se para compensar todo o tempo que guardou aquelas lágrimas. Sabia que seu pai não enlouqueceu coisa alguma, e que se ele estava falando, aquilo já não era um pensamento ou ideia que estava passando por sua mente.

Era uma decisão.

_ E chegou a hora de cortar o cordão umbilical, azul.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Ai, eu não sei vocês, mas eu fiquei sensível enquanto escrevia o dialogo do pai da Levy ;-; nas minhas outras duas fics, a Levy não tinha um bom relacionamento paterno, mas aqui eu resolvi que vou explorar bastante esse quesito.
Tá, chega de viadagem, o que acharam do capítulo? Muito gay _ adoron _ , algo que preciso melhorar? Dialoguem comigo, quero ouvir o que vocês estão achando. ♥♥


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...