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História Impulso - A faísca que irá nos queimar vivos


Escrita por: Ixteeer

Notas do Autor


Boa noite, minna. Voltei com mais um capítulo, ENORME, eu sei. Desculpem se ficar cansativo de ler, eu realmente precisava pôr tudo aqui. Espero que gostem ç-ç ♡ ♡
Obs: leiam as notas finais.

Capítulo 12 - A faísca que irá nos queimar vivos


 

A passos lentos, o homem caminhou até sua janela e a abriu, deixando-se ser tomado pela luz ofuscando que irrompeu o quarto e quase o cegou por alguns segundos. Inspirou profundamente, soltando o ar de uma única vez enquanto caminhava para fora do cômodo.

No banheiro, Igneel encarou-se no grande espelho pregado na porta, deixando seu hobby de chambre cair e formar um amontoado de tecido cinza no piso. A empregada que acabara de preparar o banho do homem corou até a raiz dos cabelos, levantando-se e saindo do banheiro aos tropeços.

Com um sorriso de canto, Igneel livrou-se da calça de moletom _ a única roupa que ainda vestia _ , e mergulhou na água morna de sua banheira, sentindo seus músculos tensionados relaxarem completamente.

Depois do banho, que não demorara tanto como de costume, Igneel apronta-se sem demoras, descendo os degraus da longa escada e seguindo para sua sala de jantar, onde sentou-se à mesa e abriu o jornal que um de seus empregados já havia deixado em frente sua cadeira, ao lado de uma xícara de café sem açúcar.

Os cabelos ruivos ainda estavam úmidos quando uma mulher _ a mesma que preparou seu banho _ aproximou-se cautelosa, fazendo uma reverência exagerada enquanto falava, visivelmente nervosa.

_ S-seu filho acabou de chegar, senhor Dragneel!

Ele sorrir, bebericando seu café amargado e assentindo enquanto repousava a xícara novamente sobre a mesa.

_ Igneel, Kinana _ Ele a corrigi.

A mulher faz uma rápida reverência, saindo do cômodo ao mesmo tempo que Natsu adentrava o local, chocando-se contra o peito do garoto e sendo impedida de cair pelo mesmo, que segurou-a pelos cotovelos e a observou sair correndo até que sumisse no final do corredor.

_ O que você fez, pai? _ indaga indo em direção ao homem, uma pasta vermelha em uma das mãos.

Igneel dá outro gole em seu café.

_ Nasci _ responde, para sorrir em seguida enquanto o filho senta ao seu lado _ Como anda a sua mãe?

_ Bem... _ Ele responde sorrindo um pouco _ Mas ainda queria estar morando com você.

_ Só mais um pouco, Natsu. Quando tiver dezoito, vai ser dono do seu próprio nariz.

_ Eu sei _ Ele abre a pasta sobre a mesa, tirando os desenhos de possíveis embalagens de shampoo, mostrando-as ao pai.

O homem olha uma a uma enquanto termina seu café, sorrindo com a ansiedade palpável do garoto.

_ Ficou muito bom _ diz sinceramente, juntando os papeis e os guardando de volta na pasta _ Continue assim e Reedus irá ficar sem emprego.

_ Então me coloque na empresa, pai... deixe-me mostrar do que sou capaz _ Natsu pedi, desviando os olhos para a xícara vazia.

_ Natsu... sabe que sua mãe acha que quero lhe escravizar, e ela tem sua guarda, filho. Aguente só mais um pouco, okay? Só até ano que vem.

O  Dragneel mais novo queria insistir, mas sabia que era inútil. Seu pai tinha razão afinal. Não importava o quanto ele quisesse vir morar com ele em Crocus, ou tomar o que era dele por direito. Ainda tinha dezessete anos e tinha que viver sob as regras de sua mãe.

_ Tudo bem _ Ele sorrir _ Mais da metade do ano já se foi mesmo, acho que consigo aguentar um pouco mais.

_ Quando fizer dezoito, vamos ser só eu e você _ diz bagunçando os cabelos róseos do garoto.

Mesmo sem perceber, Igneel acabara por fazer daquele momento algo muito importante pro filho, praticamente uma promessa. Natsu gostava quando o homem lhe dizia coisas como aquelas, sentia-se mais seguro.

_ É _ concorda, sorrindo de orelha a orelha _ Vou comandar melhor que você, velho.

_ É mesmo? _ Ele arqueia uma sobrancelha _ Fiz da marca Dragneel a segunda melhor empresa de cosméticos desse país, rapaz.

Natsu arqueia ambas as sobrancelhas, fitando o pai de forma competitiva.

_ E eu vou fazer dela a primeira _ anuncia presunçoso _ Anota aí, o reinado dos RedFox tá com os dias contados.

O Dragneel mais velho encara o filho por alguns segundos, desviando os olhos pra pasta que o garoto trouxera e sorrindo sem mostrar os dentes.

_ Não seja presunçoso, garoto. Metalicana é durona.

_ Pode ser, velho _ Concorda enquanto observa um empregado trazer o café da manhã numa bandeja _ Pode ser. Mas ela vai se ausentar uma hora, e aquele filho dela vai pôr tudo a perder.

O ruivo fica em silêncio por longos minutos. Seu funcionário destampa a comida que trazia, revelando as frutas e as fatias de torta de limão que Natsu fechou a cara ao ver.

_ Pai, você não tá de dieta?

_ Estou _ responde enquanto apanha o garfo e a faca.

_ Então por que diabos tá comendo torta de limão?

_ Ora, garoto. Como acha que vou sustentar esses meus adoráveis um e noventa e cinco de altura? _ Ele leva o garfo a boca, ignorando o olhar reprovador do filho. _ Não fique irritadinho porque não herdou a altura do pai _ Ele zomba do rapaz, fazendo-o cerrar os punhos e apertar os lábios.

_ Ainda vou crescer! _ diz entre os dentes _ Estou em fase de crescimento...

_ Não vai passar dos um e setenta e sete.

Natsu bufa, tomando uma das fatias da bandeja repousada sobre a mesa e a enfiando na boca, mastigando afobadamente.

_ Vou ultrapassar você! Anota aí! _ promete de boca cheia, causando uma risada anasalada no mais velho.

_ Ah, Natsu... ponho minhas expectativas em você, filho _ diz, soando sério demais para uma conversa como aquela _ Espero que seja sagaz o suficiente.

Ele volta a atenção para o seu jornal, continuando a comer sua torta de limão enquanto lia as manchetes.

Metalicana RedFox consegue mais uma parceria e promete novidades dentro de alguns meses.

 

*  *  *

Com um suspiro pesado, Levy deixou seu fusca azul e atravessou a rua, caminhando para dentro da Fairy Tail enquanto apertava a alça de sua bolsa. Sabia o que iria enfrentar, e não estava nenhum pouco preparada.

Nem bem ela ultrapassou o pátio e a avalanche viera até ela.

_ Levy! _ Lisanna berrou, correndo em direção à azulada enquanto Cana vinha logo atrás, com um sorriso de canto.

Todos pararam para olhar o motivo da Strauss berrar daquela forma.

_ Lis... _ Levy diz sem mover os lábios, o seu maxilar trincado. A albina a abraça apertado, prendendo seus dois braços enquanto tentava, em vão, a erguer do chão.

_ Oh, Levy... eu pensei... _ funga ainda apertando a azulada _ Pensei que...

_ Lê!

Levy arfa ao ver os três garotos correndo em sua direção, indo juntar-se a Lisanna e apertando-a ainda mais.

_ Sting, eu vou te matar... _ sibila de forma ameaçadora.

_ Ele tem ouvido isso com bastante frequência os últimos dias _ Rogue diz risonho.

_ Fico feliz de vê-la bem... _ Jet confessa, apertando mais os Cheney, que apertavam Lisanna, que por sua vez apertava a McGarden.

Como se não tivesse gente demais, Droy surgi acompanhado de Natsu, indo juntar-se aos outros animadamente.

_ Vocês... eu... não consigo respirar... _ tenta dizer.

_ Natsu, o que tá me cutucando é o que acho que é? _ Sting indaga de repente, fazendo a azulada corar e praticamente empurrar Lisanna para longe.

_ Chega disso! _ resmunga arisca. Dirigi o olhar para o loiro, estreitando os olhos castanhos _ E você, seu... desmiolado, que diabos de boato é esse que engravidou alguém?

Sting coça a nuca, dando seu melhor sorriso cafajeste.

_ Fofoca.

Levy trinca o maxilar.

_ E se for verdade?

_ Não é _ retruca.

_ Mas e se for?

_ Não é, Levy. _ Ele encara o rosado ao seu lado, pondo uma mão atrás da nuca e sorrindo novamente daquela forma sacana _ É mais fácil o Natsu está esperando um filho meu.

_ Tem tanta certeza assim, rapaz? _ Cana indaga de repente, arqueando uma sobrancelha. _ Eu não teria se fosse você.

Antes que Sting respondesse qualquer coisa, o sinal tocara estridente, avisando que o tempo para conversa fiada acabara. Levy não estava convencida de que seu amigo tinha certeza do que disse, mas era idiota o suficiente para simplesmente ignorar a possibilidade.

Aquele conseguia a façanha de ser mais inconsequente que Gajeel RedFox.

Ao adentrar a sala de aula, Levy teve consciência dos vários pares de olhos diferentes lhe observando ir para o seu canto de sempre, porém, como vinha fazendo desde os últimos seis meses, ela simplesmente ignorou esse fato e acomodou-se em sua cadeira.

_ E, olha lá, e não é que ela voltou mesmo _ Karen comenta baixinho.

Lucy continua cerrando suas longas unhas tingidas de azul, sem sequer desviar seus olhos do que fazia ao responder:

_ Deixa a Maria do bairro ter o minuto de fama dela.

A esverdeada encara a Heartfilia.

_ Vai ter revanche, não vai? Não me diga que vai deixar ela simplesmente se safar? _ Karen cospe as palavras _ Ela te humilhou, Lucy! Faça algo antes que os outros pensem que podem fazer o mesmo.

Lucy ergue o olhar para a amiga.

_ Acha que devo fazer? Talvez nem lembram mais...

_ Nem lembram mais? _ Ela repeti incrédula _ É claro que lembram!

_ Tudo bem... _ Ela volta sua atenção para as unhas.

_ Na aula de natação? _ sugeri.

_ Não, na aula de natação não! _ responde rápido demais para o gosto da esverdeada.

Karen arqueia uma sobrancelha.

_ Vai me dizer que é uma sereia e tem que guardar segredo da sociedade?

_ Não é isso... _ Ela aperta os lábios, erguendo a face e forçando seu melhor sorriso fútil _ Eu só não quero estragar meu cabelo por causa dela.

_ Ah, entendo! _ Karen assenti, também sorrindo. _ Vou falar com o Loki, ele com certeza vai pensar em algo brilhante!

Lucy pisca um par de vezes, incomodada com a forma que sua melhor amiga falara de seu namorado. Ao virar-se para tirar os livros da bolsa pendurada de lado em sua cadeira, encontrou o olhar de Natsu, fixo e não deixando dúvidas que ele estava olhando para ela. Não era para alguém por ventura atrás ou do lado, Lucy moveu-se incomodada e Natsu acompanhou o movimento com os olhos.

Ele lhe encarava, e ouviu a rápida conversa. Lucy teve a impressão que ele estava irritado, como quando ela se escondia bem demais e ele não conseguia acha-la. Franziu as sobrancelhas, voltando-se para frente rapidamente.

A lembrança lhe atordoou.

_ O Loki tem ideias tão brilhantes, ele é demais... _ Karen continua seu discurso de jubilo. _ Tenho certeza que ele pensará em algo perfeito!

Lucy assenti, sorrindo minimamente. Encara a capa de seu caderno, ficando séria enquanto o abria. Controlou o ímpeto de soltar um suspiro aliviado quando a professora Evergreen adentrara a sala de aula, tomando a atenção de sua amiga.

Levy ergueu o olhar, vendo a mulher fechar a porta. Ali, a desinibida garçonete transforma-se naquela professora séria e de olhar severo, uma mudança que fazia a McGarden rir internamente. De uma forma esquisita, ela parecia se inspirar em Mirajane para cumprir seu papel com êxito.

_ Acho que vai ter prova surpresa... _ Droy murmura junto da garota.

Ela arregala os olhos.

_ E você me diz isso agora? _ sussurra virando-se para encara-lo.

_ Eu não tive pra...

_ Parem de flertar! _ Evergreen interrompe os argumentos do moreno.

Enquanto virar-se novamente para frente, Levy corou com os risinhos abafados dos outros alunos. No entanto, a zombaria não demorara mais que um minuto para cessar.

_ Guardem os cadernos, hoje teremos prova surpresa.

Levy fecha os olhos lentamente, inspirando e expirando, buscando acalmar os nervos ao fazer tal ato. Enquanto os abria novamente, teve certeza absoluta de que aquele era um de seus dias de cão.

Aqueles que tinha certeza de que estava pagando algum carma.

_ Onde vai? _ Ele indagou quando a garota fez menção de seguir um caminho diferente.

_ Pro banheiro... _ responde simplesmente.

_ Você está bem? _ Jet indaga ao lado de Droy, com a mesmíssima expressão.

_ Supimpa.

Levy não estava supimpa, estava incerta sobre o resultado da prova.

Ao virar a maçaneta, três garotas passaram apressadas, parecendo assustadas ou, quem sabe, muito atrasadas para algo. Levy apostou na primeira opção assim que pôs os pés dentro do banheiro e viu a Alberona, sentada no chão, manuseando um baralho.

Quando abriu a boca para falar algo, um barulho lhe parou. Um gemido.

_ Ah, sempre do mesmo jeito _ a morena diz de repente, sem desviar os olhos de seu precioso baralho.

Levy encara o boxe em que a garota estava sentada ao lado, estreitando os olhos em confusão.

_ O que tá acontecendo aqui? _ indaga soando mais histérica do que gostaria _ Por que diabos aquelas meninas saíram galopando? _ continua, apontando para a porta.

_ Nada demais, só quiseram brincar um pouco e não gostou do que o barulho mostrou _ Cana respondi abanando uma mão, como se o fato não valer-se a pena ser discutido.

Lentamente, a porta do boxe abri, revelando a figura lânguida de Yukino Aguria.

_ Yuki... _ Levy balbucia _ Yukino?

Ela sorrir fracamente. Usava um casaco com o brasão da Fairy tail, e enquanto saia de dentro do boxe, Levy percebeu que a menina estava desorientada, pois andava segurando-se nas paredes.

_ Intoxicação alimentar _ explica quando finalmente chega até a pia de mármore, abrindo uma torneira e lavando o rosto com a água corrente.

Levy analisa a garota rapidamente com os olhos, chegando a conclusão que tinha algo muito errado. Parecia ter engordado sutilmente, estava inchada e com uma aparência fragilizada. Não seria grande surpresa Yukino cair desmaiada a qualquer momento.

Cana tinha uma perna esparramada no piso, enquanto a outra estava dobrada. Encarava as costas da albina enquanto continuava manuseando seu baralho, arqueando as sobrancelhas ao mesmo tempo que desviava os olhos para Levy.

_ O que faz aqui?

_ Bem, eu... acho que fui mal na prova surpresa e estou puta demais para ficar no refeitório _ diz, escolhendo ser sincera _ Meio que correria o risco de socar a cara de alguém que ficasse me olhando por tempo demais, e... muita gente tá fazendo exatamente isso hoje.

_ Hoje. _ a morena repeti em tom de ironia.

Ela levanta do chão, caminhando até a pia e abrindo a necessaire que deixou sobre a mármore.

_ Sinto-me na obrigação de ajuda-la _ diz enquanto acha o que queria. _ Parece uma moribunda, garota.

Yukino sorrir nervosamente.

_ Vomitar me deixa mal _ Ela aceita o blush que Cana lhe oferece, começando a colorir as bochechas enquanto continua sua explicação _ É chato pra caramba... às vezes acho que vou vomitar até os pulmões.

Vomitar. Algo estala dentro da mente da McGarden.

_ Intoxicação alimentar? _ repeti curiosa, aproximando-se também. _ Você tem muitas vezes?

_ Sim, muitas! _ responde rapidamente, evitando olhar a azulada pelo reflexo do espelho.

A porta abre de rompante, fazendo Yukino se sobressaltar.

Kagura e Minerva param por um momento, adentrando o banheiro feminino poucos segundos depois de averiguar a situação.

_ Desculpe a demora, não tinha suco de pêssego e você anda enjoando os de uva. _ Kagura diz, erguendo a garrafinha que tinha em mãos.

A albina assenti veementemente, olhando a amiga de forma sugestiva pelo reflexo do espelho, atitude que não passou despercebida por Cana.

_ Aqui _ Ela devolve a maquiagem para a Alberona _ Obrigada, eu acho...

Levy e Cana observam as três saírem.

_ Intoxicação alimentar... _ murmura consigo mesma, cruzando os braços enquanto refletia sobre aquilo.

A morena sorrir enquanto fecha novamente sua necessaire.

_ Porra nenhuma _ rir anasalado, voltando a manusear o baralho _ Acho que vou ganhar uma boa grana apostando nessa aí.

Foi como se finalmente tivesse encaixado uma peça daquele imenso quebra-cabeça desconexo. Seus olhos saltaram para fora das órbitas, seus lábios ficaram entreabertos enquanto ela arfava por quase um minuto completo.

_ É isso! _ grunhi fitando a garota de forma jubilosa _ Céus, você é divina, Cana!

_ Oi? _ a garota murmura rindo um pouco _ Que diabos deu em você, branquela?

_ Mas é claro, agora faz todo o sentido... _ pensa alto. _ Eu te devo uma, Cana!

As últimas três aulas passaram devagar demais. Levy se perguntava quando o tempo passou a se arrastar daquela forma, até que, finalmente, pôde sair às pressas da sala de aula, esbarrando nos outros alunos tanto quanto Lisanna esbarraria.

_ Eu não estou ficando louca... eu não estou ficando louca... _ cantarolava o caminho inteiro, e quando adentrou sua casa, correndo até seu quarto e arremessando sua bolsa sobre a cama, ainda cantarolava para si mesma _ Eu não estou ficando louca...

Sentou-se na beirada da cama, abrindo o papel já gasto.

_ Eu. Não estou. Ficando louca! _ repeti entre os dentes ao relê-lo, o maxilar trincado enquanto apanhava sua bolsa e a sacudia de ponta a cabeça, despejando seus matérias sobre o colchão e rapidamente preenchendo-a com algumas mudas de roupa.

Para de repente, arfando enquanto desliza por seu guarda-roupa até cair sentada no chão. Aperta a bolsa contra o peito, lutando para acalmar os batimentos cardíacos.

_ É o sangue da Yukino... ela usou o sangue da irmã... Yukino tá grávida do Sting, por isso Kagura odeio os Cheney _ Ela inclina a cabeça para trás, batendo na madeira dura do móvel, fazendo o mesmo repetidas vezes, até tudo ao seu redor girar e ela cair de lado, grunhindo baixo.

Talvez passou-se apenas alguns minutos, talvez uma hora inteira, mas quando Levy sentou-se novamente, estava relativamente calma e com a cabeça nos eixos. Ela puxa ar, expirando pela boca.

_ Ela usou a irmã dela o tempo todo, os remédios que mostrou pro Gajeel são da Yukino _ concluí ao levantar apoiando-se no guarda-roupa, começando a tirar as roupas que pôs dentro da bolsa _ Não surta, Levy. Vai resolver isso, o que ela poderá fazer, afinal?

A verdade é que a descoberta foi o estopim. Levy estava pilhada e precisava apenas de um empurrãozinho para explodir. Desejava fugir para longe, pra algum lugar que nada poderia lhe alcançar e não teria que fazer aquelas decisões.

Ela esforçou-se para não pensar em nada além do almoço enquanto o preparava antes de se arrumar para ir trabalhar. Procurou tomar um banho demorado, mas seu nervosismo fez com que o processo fosse rápido demais para que ela relaxasse debaixo do chuveiro.

Quando adentrou seu fusco azul, encarou-se no pequeno espelho e suspirou pesadamente.

_ Vai ficar tudo bem, só tem que ir lá e trabalhar como tem feito há seis meses _ diz pra si mesma _ Apenas isso.

Todavia, seu alto controlo durou até ela pôr os pés no elevador, tendo consciência que a mulher estaria lá, em seu canto, e Levy não tinha certeza se conseguiria encara-la. Não sabia se Gajeel havia conversado com ela, faziam exatos cinco dias que não o via. Algo lhe dizia que Sorano sabia que ela entendia mais do que deveria, que algo estava lhe esperando, algo grande.

Um passo de cada vez, repetia mentalmente. Felizmente, a mesa de Sorano encontrava-se vazia e não tardou para a porta da direção ser aberta, fazendo a azulada passar para dentro ligeira. No entanto, ao virar-se com um suspiro aliviado, prendeu a respiração por alguns segundos de tensão.

Sorano ergueu o olhar da agenda que folheava, arqueando uma sobrancelha enquanto devolvia o gesto.

_ Ah, Levy, que bom que chegou _ diz, soando exageradamente gentil.

_ Onde está Metalicana? _ indaga irrequieta.

_ Numa reunião.

_ E ela te deixou no lugar dela?

Algo no timbre de voz da garota fez Sorano irritar-se profundamente.

_ O idiota do filho dela sumiu novamente, então, ela confiou em mim. _ explica, caminhando em direção à mesa e largando-se na cadeira, cruzando as pernas e baixando o olhar para sua agenda. _ Muito melhor, não acha?

Levy aperta os lábios.

_ Aquele idiota não servi pra nada mesmo _ continua, sabendo exatamente o que estava fazendo.

_ Não é verdade... _ diz, antes que conseguisse se conter.

_ Não? _ Ela ergue o olhar, virando a página da agenda com as sobrancelhas arqueadas _ Peculiar, peculiar...

A azulada troca o peso de uma perna para outra, extremamente incomodada com a situação. O modo que Sorano se portava quando estava longe das vistas dos outros era totalmente diferente de quando estava em público.

_ Então, quer dizer que você não o acha um inútil? _ pergunta sorrindo de canto.

_ Não. _ responde com clareza.

_ Gosta dele? _ indaga fitando a garota de soslaio.

Levy engole seco.

_ G-gosto, como um irmão mais velho.

_ Irmão mais velho _ Ela repeti, fechando a agenda e levantando-se bruscamente.

O som do salto contra o piso fez Levy recuar, como se o barulho ferisse seus ouvidos.

_ Você é uma garota irritante _ diz, abaixando-se um pouco para ficar cara a cara com a azulada _ E eu não tenho paciência com crianças, sabia?

Levy trinca o maxilar, obrigando-se a se recompor às pressas.

_ Não sou nenhuma criança _ sibila.

_ Ah, não?

_ Não. _ repeti entre os dentes.

_ Gajeel por acaso transou com você, Levy?

Ela pisca um par de vezes, apertando os lábios.

_ Não? _ continua em tom de zombaria _ E você já se perguntou o porquê? Conhece ele há seis meses? Conheço há anos, garota. Quer que eu te diga o motivo?

_ Porque somos amigos _ responde baixo demais, se amaldiçoando por abaixar a cabeça enquanto proferia as palavras.

_ Errado _ Sorano sorrir, erguendo o queixo da McGarden _ Ele não transa com você porque você é indesejável, porque você não passa de uma criança chata e que ele permiti por perto por sentir culpa.

_ Está mentindo... _ sussurra recusando-se a olhar nos olhos escuros e frios.

_ Não, querida, não estou. Então, se não quiser se magoar como todas as outras, esqueça o Gajeel. Ele estava comigo antes de você aparecer, é assim que deve ser.

Levy ergue o olhar, estreitando os olhos enquanto afastava a mão que ainda apertava seu queixo.

_ Não. Não abandono meus amigos.

Sorano sorrir.

Afastar-se da azulada, voltando-se para a mesa. Abre a bolsa que estava repousada sobre o móvel, virando-se com uma bandana laranja.

A bandana que Levy esqueceu na casa dos RedFox.

_ Tome _ diz, estendendo a adereço _ Ela foi muito útil, Gajeel me amarrou à cama dele com isso ontem.

Mesmo se odiando por isso, Levy deu alguns passos para trás enquanto chacoalhava a cabeça negativamente.

_ Disse que Gajeel sumiu...

_ Sim _ concorda _ Logo depois que transamos.

Sem refletir, sem sequer dar-se conta do que estava fazendo, Levy simplesmente virou-se e abriu a porta, saindo em disparada da sala, deixando-a aberta. Tinha consciência de que parou todo o setor enquanto corria até o elevador, porém, sequer virou-se para comprovar isso, e quando as portas fecharam, Levy puxou ar com urgência, resmungando consigo mesma por sua falta de profissionalismo. Mas não conseguiria permanecer naquela sala com aquela mulher, ouvindo-a sem acertar um soco em seu rosto angelical.

Caminha até seu carro, adentrando-o e sentindo-se abrigada. Pensa em voltar, porém desisti da ideia na mesma hora, o estômago embrulhando só de lembrar da mulher manipuladora até os ossos.

_ Foda-se _ murmura enquanto liga o motor, decidida a ir para casa, ignorando uma parte de seu subconsciente lhe acusando de irresponsabilidade. Não estava em seu juízo perfeito, afinal.

Levy ainda não havia se recuperado da noite anterior, as palavras de seu pai ainda estavam frescas em sua mente caótica. Era como estar num sonho inquietante do qual você não consegue despertar. Desesperador, angustiante. Levy sabia o que queria, mas passara tanto tempo abafando os próprios desejos que desaprendeu como era sonhar. Sentia-se torturada, estava em seu último ano escolar, e em seu íntimo, mesmo que não confessasse em voz alta, ela sabia que tinha potência para ganhar uma bolsa. Estava tão perto, e era tão tentador poder sonhar outra vez. Mas por outro lado... Levy sentia-se traindo seus pais por sequer pensar sobre aquilo. Não deveria ser um fardo dar o melhor de si por sua família, mas, mesmo que ela se negasse a acreditar, de fato era.

Ao chegar em casa, a azulada largou-se em sua cama, sendo vencida por uma exaustão que não tivera consciência até que o colchão de sua cama mostrou-se incrivelmente convidativo. Sonhara coisas inquietantes, mesclas de momentos de seu dia, vozes, aquele som estridente do salto de Sorano contra o piso e seu sorriso.

Aquele sorriso fajuto e que mascarava a personalidade manipuladora e calculista.

_ Humm _ Ela grunhi, trocando de posição.

Estava quase mergulhando no sono outra vez quando seu celular tocou alto e estridente, lhe fazendo sentar às pressas e olhar em volta, desnorteada. Depois de quase um minuto, coça um olho enquanto apanha sua bolsa, a abrindo e procurando pelo aparelho.

_ Levy?!

Ela pisca um par de vezes, ficando rapidamente apreensiva com o tom de voz da outra.

_ Lis?

_ Ah, Levy! _ Ela choraminga _ Levy, Levy, Levy...

_ Você tá bêbada, Lisanna?!

_ Eu não sei...

_ Onde é que você tá?! _ pergunta olhando de relance para os seus pés e percebendo que dormira de sapatos.

_ Eu não sei!

_ O que aconteceu? _ indaga entre os dentes, lutando para manter o tom de voz baixo.

_ Papai... ele...

_ Ele o quê?

O silêncio se prolonga.

Levy arfa, preocupada com a falta de resposta.

_ Lis?

E então batidas na porta se iniciam urgentes, fazendo a McGarden sobressaltar-se de susto.

_ Levy! Levy! 

Ela estreita os olhos, encerrando a ligação e deixando seu celular sobre a cama, livrando-se do scarpin preto e indo até a sala, onde abriu a porta e Lisanna caiu para dentro.

_ Que porra é essa, Lisanna?

A albina sentar-se, espalmando as duas mãos no piso e choramingando como uma criança.

_ Le...vy...

_ Vai me dizer o que houve? _ pergunta enquanto se abaixa para pegar o celular que a garota deixou cair.

_ Meu... pai... _ diz aos soluços. _ Casamento... papai...

_ Quem te deu bebida? _ pergunta evitando mais informações sobre aquilo.

_ Minha mesada... puft _ Ela deitar-se no chão, apertando os joelhos contra os seios e balançando-se enquanto continuava chorando, falando coisas sem nexo algum.

_ Levanta daí, anda! _ Levy diz num misto de irritação e preocupação. Jamais vira sua amiga bebendo álcool, ou desnorteada daquela forma. Pensou em ir até o bar Strauss, porém se deteve.

Mirajane seria capaz de ir até sua antiga casa e se meter em outra confusão, obrigando o noivo a fazer algumas dívidas para custear sua fiança.

_ Está frio, Le-vy, muito frio _ Ela diz de forma arrastada, fazendo Levy virar a face ao sentir seu hálito.

_ Meu Deus, você tá fedendo como aqueles velhos que frequenta o bar da sua irmã _ guincha enquanto empurra a garota pra sua cama. Ela cai estatelada sobre colchão e Levy começa a desamarrar o cadarço de seu tênis enquanto continuava, num tom quase inaudível _ Sinto que sou sua segunda mãe, Lis, e não sei se te amo ou te odeio. _ Ela levantar-se, deixando o par de tênis de lado _ Talvez os dois _ concluí.

Lisanna dormia com os lábios entreabertos, ressonando baixinho, sem dar sinal que despertaria nem tão cedo. Levy concluiu que era uma boa hora para tomar um banho e depois comer algo. Sentia-se nauseada, seu estômago queimava e lhe fazia querer vomitar.

A sensação melhorara quando ela finalmente estava limpa e com os cabelos úmidos, indo para a cozinha a passos lentos enquanto ouvia a chuva despencar lá fora, reproduzindo um grande ruído sobre o telhado da casa.

Ela se estica para abrir a porta do armário, parando no ato. Semicerra os olhos, ouvindo os barulhos. Agora, eram exatamente nove da noite. Seu pai estava de plantão no hospital, Lisanna encontrava-se mergulhada em seu sono alcoólico e, se Levy não estava finalmente enlouquecendo pelo estresse, ela podia jurar que ouvira um grunhido. Sem perder mais tempo com seus devaneios, ela cata a frigideira repousada sobre o escorredor de pratos e vai averiguar. O som provinha de seu quarto, a porta estava entreaberta, e, num baque surdo, Levy a escancarou, sobressaltando-se e deixando a panela cair.

Apesar do barulho, Lisanna sequer se mexeu.

Levy arfa, adentrando o cômodo como se não acreditasse no que seus olhos viam.

Gajeel sorrir torto.

_ Oi.

_ Oi? Você some por cinco dias e diz oi? _ Ela se aproxima o suficiente para lhe acertar um tapa, ou tentar. _ Por que diabos você desapareceu, Gajeel? E por que você pulou a minha janela? Não sabe bater na porcaria de uma porta?

_ Achei que seu pai pudesse estar em casa _ tenta explicar em meio as investidas da azulada.

Ela desisti. Para, e por quase um minuto, o único som que podia ser ouvido era o de sua respiração entrecortada e o ronco baixo de Lisanna.

_ Eu fiquei preocupada... _ confessa quase num sussurro _ Você sequer deixou uma porcaria de mensagem...

_ Desculpe _ diz, como se aquilo pudesse amenizar todo o atrito.

_ Eu precisava de você, Gajeel, e você não estava por perto...

Ele franzi o cenho, apertando os lábios de forma tensa. Estava encharcado até os ossos, a roupa grudada ao físico esguio e musculoso, o maxilar trincado de frio.

_ O que houve? _ pergunta por fim.

Levy sorrir, mas, pra inquietação do RedFox, seus olhos estavam úmidos e angustiados.

_ O que houve? _ repeti desdenhosamente, soando amargurada. _ Tudo, Gajeel.

_ Juro que tenho um bom motivo _ promete ele.

_ Ah, é? O que esteve fazendo? Bebeu demais? Foi para uma festinha do tipo que Gray estava indo quando foi pego no pulo?

_ Não _ responde entre os dentes _ Droga, Levy, não.

Ela caminha lentamente até sua cama, sentando-se na beirada e cruzando as pernas com um sorriso fajuto.

_ Ah, claro que não. Estava com Sorano _ Ela dá um tapinha em sua testa _ Me esqueci, desculpe.

Gajeel arregala os olhos de surpresa, deixando cair a sacola que tinha em uma mão.

_ Como você... _ Ele se agacha para recuperar a sacola, suspirando pesadamente enquanto se respondia a sua própria pergunta incompleta _ É claro que ela falou.

_ Então é verdade... _ murmura sentindo o bolo em sua garganta quase lhe deixar muda.

_ Que eu transei com ela? Sim. Mas não pelos motivos que acha.

Levy finalmente perdi a paciência e o resto de sensatez que tinha. Levantou-se num pulo, cerrando os punhos e trincando o maxilar o suficiente para seus dentes rangerem audivelmente.

_ Claro, claro. Óbvio que ela lhe seduziu, óbvio. Você é tão tolo, coitado. Mas é engraçado que em vez dela te amarrar com minha bandana, foi você que amarrou ela! _ cospe as palavras, sentindo as lágrimas queimarem seus olhos.

_ Amarrar? Eu não amarrei ninguém!

_ Sorano disse que você usou a minha bandana pra amarrar ela em sua cama _ conta, sentindo-se ridiculamente infantil.

_ Na minha cama? Qual parte de "não levo mulheres pra minha casa" você ainda não entendeu? _ vocifera, fitando-a de forma tão dura que ela se encolheu. _ Você acreditou nessa vadia e não em mim, Levy! _ lhe acusa.

Ela recua.

_ Você também não confia em mim! _ continua no mesmo tom inquisitório _ Acha que só penso em comer alguém e beber até meu fígado estar fodido, não é? _ Ele avança, subindo o tom de voz.

Lisanna vira a face para o outro lado, franzindo as sobrancelhas inconscientemente.

_ Eu vir aqui por você, eu estou nesse estado por você, deixei minha mãe histérica me acusando de várias coisas diferentes por você!

Levy tinha os olhos baixos. Encarou o par de coturnos sujos de lama, recusando-se a encarar o homem.

_ Desculpe, Gaj. Eu só estou tendo dias difíceis _ diz e senti novas lágrimas atrapalharem sua visão. Mas ela não tentou para-las, sequer ergueu a mão para limpar os vestígios, como se estivesse exausta demais para isso.

Gajeel percebi que se excedeu, aproximando-se para segurar a face miúda entre suas mãos. Sua pele estava quente, as bochechas vermelhas pela maré de emoções.

Abaixando-se para ficar de sua altura, Gajeel pressiona seus lábios, sentindo-a arfar de surpresa em primeiro momento. No entanto, no decorrer dos segundos, Levy envolveu seu pescoço com os braços finos, acariciando as costas largas e descendo as mãos inquietas até onde podiam ir, arranhado-o no caminho de volta.

_ Desculpe pela grosseria... _ diz ao se afastar com algum esforço.

_ Me beijou por culpa? _ pergunta sem conseguir se conter.

Gajeel estreita os olhos, fazendo a azulada se arrepender de ter aberto a boca.

_ Culpa? Droga, Levy, que ideia é essa?

_ Desculpe _ Ela o puxa novamente pra si e o homem não oferece resistência em nenhum momento. Ele apertava sua cintura veementemente, trazendo-a pra junto do seu corpo enquanto usufruía de seus lábios macios. Em determinado momento, o beijo tornou-se mais intenso e profundo, o que fez o homem se obrigar a se afastar, arfando com um sorriso que deixava seus caninos expostos.

_ Acha mesmo que isso é culpa? _ indaga afastando uma mecha de seu cabelo para atrás da orelha _ Não consigo me sentir culpando, petit. Não conseguir quando lhe beijei na empresa, e não conseguirei me culpar por esse também.

Ela cora. Mesmo sentindo-se idiota, infantil e tola, ela cora até os ombros.

Também não conseguira se culpar por retribuir seu beijo, ele era tão terno e ao mesmo tempo tão árduo que Levy não conseguia sentir outra coisa se não aquela agitação estranha em seu estômago e em seu coração.

_ E o que a gente faz agora? _ pergunta baixando o olhar, como se pra esconder o rubor.

Ele rir, erguendo seu queixo e tendo certeza que a McGarden corada era a coisa mais adorável que vira aquele dia.

_ Agora você ouvi minhas explicações. _ Ele pincela seu nariz _ Sua pequena linguaruda.

Levy estava desnorteada. Sabia o que deveria fazer, mas agora, seus ideias estavam bagunçados e tudo que ela tinha certeza é de que sentira falta de Gajeel mais do que gostaria. Ele é apenas meu melhor amigo, repetia para si mesma, meu melhor amigo que beijo de vez em quando.

_ O correto é pôr o leite antes da água, assim ele dissolve melhor _ Gajeel diz observando a garota.

Ela revira os olhos.

_ Fica quieto, Gaj _ Levy despeja o leite sobre a vasilha de cereal _ Estou esperando sua explicação.

O homem suspira pesadamente, abrindo a sacola que repousara sobre a mesa e tirando uma caixa de veludo preto em formato retangular.

_ Que é isso? _ indaga de cenho franzido.

_ Já chego lá _ murmura carrancudo _ Estive com um amigo esses últimos cinco dias, ele é advogado. Jellal Fernandes.

_ Erza... _ Ela pensa alto, recordando de sua colega de trabalho pronunciar aquele nome dentro do banheiro dos funcionários, em meio as suas ligações no fim de seu expediente.

_ Sim, ele é noivo da Scarlet. _ anuncia sem rodeios _ Porém, ele viaja muito, além de advogado também é detetive. E bem, Erza não faz o tipo de mulher que segue um homem cegamente, se não fosse por esse fato, já haviam se casado há uns três anos atrás. _ Gajeel não lhe dá tempo para ponderar sobre aquilo, continuando com seu objetivo de explicar toda a situação, o mais claro possível _ O fato é que Sorano fingiu tá grávida e me difamou, além de que me entregou um enxame falso e me ameaçou diversas vezes. Procurei Jellal para resolver isso, mas Levy, o que ele descobriu foi realmente comprometedor.

Ela larga-se na cadeira ao lado, mexendo a vasilha de cereal com a colher.

_ Continue _ pedi seriamente, os olhos fixos nos do RedFox, analisando-o.

_ Sorano veio pra Fiore junto com a irmã em 2009, antes disso moravam na Suécia. No entanto, quando ela tinha dezesseis, a casa dos Aguria foi invadida por ladrões e os pais dela foram assassinados. Ela alegou que os viu perfurarem eles com um canivete de prata, um objeto de família que era guardado junto com algum dinheiro num cofre. Na época, ela trabalhava como garçonete em um café no mesmo bairro em que morava, e ela mudou-se pra Fiore no mesmo ano.

Levy estava paralisada. Piscou um par de vezes, franzido a testa e voltando a mexer a vasilha de cereal.

_ Isso é tão...

_ Eu sei. Mas essa não é a pior parte _ Gajeel anuncia, fazendo-a esquecer a vasilha e soltar a colher ruidosamente.

_ Não é? O que mais descobriram?

_ Ela tinha dezesseis anos, trabalhava de garçonete e teve dinheiro pra vir pra Fiore com a irmã caçula sem ajuda alguma. Jellal não engoliu isso e pediu para eu dar um jeito de conversar sobre com ela, fazê-la falar sobre aquela época. Então eu fui até sua casa e disse o que ela tanto queria ouvir _ Levy desvia os olhos, recusando-se a pensar sobre o que seria. Não importava, afinal _ E depois cozinhei algo pra um jantar "em família", mas acho que exagerei no tempero especial, porque a irmã dela também dormiu como uma pedra. Ela apagou depois do sexo e eu não pude tentar arrancar nenhuma informação _ Ele chacoalha a caixa no ar, fazendo a azulada olha-la com expectativa _ Maaas, revirei a casa dela. Estava quase desistindo e prestes a ir embora quando percebi que a madeira do guarda-roupa soou oca quando batuquei. Tinha um buraco atrás do móvel, é uma das coisas que você aprendi quando anda com detetives, e essa beleza _ Ele chacoalha novamente _ Estava lá.

Gajeel estende o objeto para a McGarden, que o pega de imediato. Ela respira profundamente antes de abri-lo, supondo do que tratava. Quando Levy destampou a caixa, arfou baixo, pegando o objeto como se para ter certeza que não estava alucinando.

Uma coisa era você supor, outra era ter certeza.

O canivete reluzia sob a claridade da cozinha, afiado, e, no cabo, Levy pôde ler o sobrenome dos Aguria entalhado na prataria.

_ Ele é lindo... _ murmura absorta demais na beleza do objeto.

_ Sorano alegou que os ladrões roubaram todo o conteúdo do cofre dos pais dela, inclusive, a arma do crime. Os vizinhos disseram ver dois homens saindo da casa dos Aguria, a câmera de segurança registrou eles fazerem o percurso até um carro estacionado na esquina. Porém... _ Ele baixa o olhar, também encarando-o _ Ele nunca foi achado, os ladrões também não.

Os dois ficam olhando para o canivete, os pensamentos conectados.

_ Contratou alguém pra fazer o trabalho sujo e veio para Fiore com o dinheiro dos pais _ Ela diz, percorrendo toda a extensão do objeto com a ponta do indicador.

Gajeel franzi a testa, tomando o canivete e o guardando de volta na caixa.

_ É o que tudo aponta. Bem, ela que se explique com a justiça, porque eu vou expor isso, ah, eu vou.

A azulada suspira, pegando a colher que largou na madeira velha da mesa e observando seu cereal girar dentro da vasilha cheia de leite _ agora frio.

_ Por quê? O que a levaria a querer os próprios pais mortos?

_ Jellal viajou hoje de manhã, pra Suécia, com certeza ele volta com novidades.

_ Pra Suécia? _ Ela repeti exasperada _ Até parece que ela é bem aqui do lado! Pra Suécia... se eu fosse a Erza eu dava um ultimato...

Gajeel arqueia as sobrancelhas compostas por piercings, surpreso com a reação.

_ As coisas não são simples assim, baixinha. Jellal ama o que faz e a Erza jamais o privaria disso. Porém, a Scarlet é independe e orgulhosa demais pra viajar com ele todas as vezes que ele precisar ir, de modo que Jellal também não a forçará a segui-lo _ Ele brinca com uma mecha de seu cabelo, sorrindo um pouco _ De alguma forma, o relacionamento deles dá certo desse modo, então não se preocupe.

A azulada cora, desistindo de tentar comer seu cereal com leite frio e encarando o RedFox de forma retraída. Estava cheia, transbordando de motivos para arremessar aquela vasilha na parede. Sentia-se numa avalanche, sendo soterrada cada vez mais. Seus pais, seus sonhos, seu futuro, o passado de Sorano vindo à tona, seus sentimentos confusos por seu melhor amigo, tudo era, de algum modo, uma nova camada de neve que a sufocava.

_ O que a Strauss tá fazendo na sua cama? _ indaga de repente, como se de repente tivesse lembrado da menina.

Levy entreabre os lábios, sem disfarçar a surpresa.

_ Como... como você sabe quem ela é?

O homem dá de ombros, como se fosse algo óbvio demais para ser explicado.

_ Os Strauss são donos de muitas terras nortistas. Estranho seria eu não saber quem ela é.

Levy arria os ombros, percebendo que fizera uma pergunta idiota.

_ Ah... tem razão.

_ Então, o que ela tá fazendo na sua cama?

_ Bem, a Lis encheu a cara e veio bater aqui _ responde sem muito emoção _ Só que estava bêbada demais para explicar o que houve. Graças a Deus que ela conseguiu vir até minha casa... _ Ela arqueia as sobrancelhas _ Mesmo não reconhecendo-a. Seria realmente perigoso ela cair numa rua qualquer, largada, sem amigos pra protege-la.

_ E com um bando de abutres querendo ganhar uma mixaria vendendo as fotos dela nesse estado _ Ele crispa os lábios, deixando claro o quanto abominava os ditos cujos _ Levando em consideração a fuga da mais velha e o problema do único herdeiro homem, isso daria muita repercussão _ concluí, deixando os cabelos da menina e desviando os olhos pra vasilha esquecida _ Não vai comer?

Ela inspira profundamente, soltando de uma vez.

_ Perdi a fome _ admite com pesar.

_ Não se preocupe. Eu vou resolver isso, petit, eu vou fazê-la se arrepender de ter me feito acreditar que seria pai. Ela sabe o quanto esse lance mexi comigo, e cutucou bem onde dói... _ Ele guarda a caixinha retangular de volta na sacola, puxando ar e permanecendo em silencio por quase um minuto inteiro, apenas encarando um ponto imaginário na mesa.

Levy senti-se incomodada. Percebera que não gostava nenhum pouco de ver o RedFox daquela forma, frustrado e, mesmo que não demonstrasse com clareza, melancólico.

Num movimento rápido e que chamou a atenção do homem de imediato, ela levanta e leva a vasilha para a geladeira, guardo-a e virando-se com um olhar tímido.

_ Vou buscar uma camisa do meu pai pra você _ diz ao caminhar para fora da cozinha, tendo consciência que Gajeel lhe seguia com o olhar.

Levy entra no quarto dos pais deixando a porta entreaberta, indo até o guarda-roupa no canto do cômodo e vasculhando os cabides agilmente com as mãos e com os olhos. Enquanto procurava por algo que coubesse no RedFox, criava sua desculpa perfeita para quando seu pai indagasse sobre a peça de roupa, mas não importava o quanto tentasse, qualquer coisa soava como uma mentira deslavada. Então, ela chegou a conclusão que lavaria a roupa assim que o RedFox se fosse e a secaria com o secador de sua mãe _ enfiado em algum lugar daquele enorme e velho guarda-roupa.

Ren McGarden era perspicaz e observador, Levy não queria ter que dizer que Gajeel esteve ali, levando em consideração a forma que o homem falara dele quando ela voltara para casa e de o considerar culpado pelo incidente na casa dos RedFox.

_ Não é querendo ser mal-educado, mas acho que seu pai é meio... franzino pras roupas dele caberem em mim _ Gajeel comenta, adentrando o cômodo a passos cautelosos.

Levy vira-se para manda-lo ficar quieto enquanto ela procurasse por algo, porém, ela prendi a respiração ao vê-lo de peito nu pela primeira vez. Inconscientemente, desci o olhar pelo peitoral e o tórax trabalhado, observando o percurso dos pelos escuros em linha reta e que terminava no cós da calça jeans. Refaz o trajeto de volta, corando absurdamente e a ver que ele lhe observava atentamente, sorrindo presunçoso demais para o seu gosto.

_ Fique aí mesmo! _ diz rapidamente ao se virar outra vez pro guarda-roupa.

Mas Gajeel não lhe ouvi, cortando a distância entre eles com poucos passos. Envolve sua cintura com os braços, beijando sua bochecha ruborizada, ainda sorrindo.

_ Eu vi a forma que me olhou, petit, não tente disfarçar _ Ele beija sua bochecha novamente, virando-a devagar e encarando os olhos cor de âmbar.

Levy estava corada, tímida, retraída demais para fazer algo além que devolver o olhar com alguma dificuldade. Novamente, seu coração estava acelerado daquela forma curiosa e seu estômago parecia ter criado vida própria, ficando inquieto e lhe proporcionando a sensação de ter milhares de borboletas batendo asas dentro de si.

_ Desculpe _ diz por fim, desviando os olhos pros pés descalços do homem. Ele havia retirado o coturno para não sujar a casa de lama, pondo-os ao lado da cama da McGarden. _ Acho que não sei mais me comportar perto de um homem próximo demais, faz um tempo desde a última vez que estive assim com um.

O moreno resmunga baixo, fazendo-a erguer o olhar.

_ Droga, você acaba com meu autocontrole quando faz essas coisas _ lhe acusa apertando sua cintura com as duas mãos e colando sua testa a dela.

_ Mas o que foi que eu fiz? _ pergunta exasperada, arfando pela incompreensão.

_ Fica falando desse jeito, parece tão certa pra alguém como eu.

_ Alguém como você? _ repeti com um riso de canto _ Eu não tolero dividir meus parceiros, só pra inicio de conversa.

_ Gosto de garotas que corram comigo, não atrás ou na frente. Nunca ocorreu de eu achar alguma assim.

_ Não dá pra eu correr com você _ diz, sorrindo como quem tem uma carta na manga _ Você tem pernas longas demais.

_ Idiota _ murmura, mas também sorrir do que ela dissera.

Dobrar-se pra ficar de sua altura, pressionando seus lábios num beijo lento e terno, o que fez Levy rapidamente envolver seu pescoço com os braços e devolver o gesto da mesma maneira, deixando claro que sentia o mesmo. Eles se afastam calmamente, Levy espalma as mãos no peitoral do RedFox e o moreno leva as suas até os curtos cabelos azuis, escovando-os com os dedos.

_ O que vamos fazer sobre isso? _ Ela pergunta parecendo atordoada _ Sabe que não será nada bom pra você ser flagrado com uma menor de idade.

Gajeel dá de ombros, como se a resposta fosse óbvia. Aproxima o rosto mais uma vez, sorrindo torto.

_ Ótimo, então não seremos flagrados _ E a beija novamente, não lhe dando chances de ponderar sobre.

A azulada entendia o que aquilo significava, entendia que o que aquilo poderia acarretar na vida de ambos. Todavia, estava absorta demais nas sensações de ter o RedFox tão próximo de si, sentir seus lábios novamente e sentir as costas largas com suas mãos tímidas.

Seja qual fosse sua obrigação ou código de conduta, não era páreo para aquela faísca que sempre ameaçava crescer quando estavam perigosamente próximos.

E no fim, Gajeel foi embora de peito nu, saindo pela janela do quarto da McGarden novamente, para não ser visto por seus vizinhos.

Levy deitou-se em sua cama, fitando o corpo inerte de Lisanna Strauss

_ Ah, Lis... que merda eu to fazendo? _ pergunta enquanto apoia a bochecha na palma da mão e afunda o cotovelo no colchão, porém era uma pergunta retórica.

Levy sabia o que estava acontecendo, não era nenhuma leiga. Podia ter tido apenas um relacionamento na vida, porém compreendia, no fundo, os motivos que levavam seu coração e seu estômago a ficarem tão irrequietos com o mais simples dos atos vindo do RedFox. Não importava o quanto ela mentisse pra si mesma, tentasse _ em vão _ maquiar aquilo, tentar boicotar os próprios sentimentos.

As mudanças estão acontecendo rápidas demais, mal consigo acompanha-las _ pensava enquanto secava a camisa de Gajeel com um secador de cabelo, não querendo simplesmente se desfazer da peça, embora fosse o sensato a se fazer _ De estranhos pra conhecidos, de conhecidos pra melhores amigos, e de melhores amigos pra não sei mais o que diabos somos. Talvez um dia essa faísca cresça demais e nos queime vivos, e isso sequer está me fazendo recuar _ Ela termina de secar a camisa, desplugando a tomada e largando-se na cerâmica fria do quarto.

Abraça a peça, inalando-a e sentindo a fragrância masculina misturada ao calor que o secador ocasionou.

Eu finalmente, decididamente, perdi o juízo _ concluí.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Então, muita gente da minha outra fic Gale _ amor nada convencional _ é meu leitor aqui também. Bora lá. Eu não excluir minha fic, ela foi denunciada por apologia à drogas. Alguém, ou algumas pessoas, se acharam no direito de fiscalizar meus capítulos e ir denunciando vários, até ela finalmente cair. To triste? Demais! O que mais me chateou é que faltava bem pouco pra encerrar, e eu já estava há MESES escrevendo a fic. Pensei seriamente em abandonar o site, porém se eu fizesse isso faria exatamente o que essa gente quer, então foda-se!
Meu irmão caçula tem epilepsia e está tendo crise essa semana, não queiram nem imaginar o inferno que isso é, de modo que fiquei sem cabeça para escrever. Então, se eu demorar bem mais que uma semana, vocês já sabem o motivo.
Enfim, é isso :/
Até o próximo <33


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