1. Spirit Fanfics >
  2. Impulso >
  3. Corte os laços que nada te acrescenta

História Impulso - Corte os laços que nada te acrescenta


Escrita por: Ixteeer

Notas do Autor


Hello, cabritos xD não tenho o que dizer hoje, então boa leitura e leiam as notas finais u.u

Capítulo 21 - Corte os laços que nada te acrescenta


 

20 de Março, 2020

 

Levy sentiu quando seu corpo fora suspenso, mas estava sonolenta demais para abrir os olhos. Murmurou algo incompreensível, deixando-se ser carregada pelos corredores do alojamento. Havia passado toda a tarde e a noite estudando Fonética e Fonologia, e acabara adormecendo sobre alguns livros na biblioteca.

Lohan a deixou em sua cama, espreguiçando-se e bocejando longamente. Deu uma olhada na face adormecida de Levy antes de ir embora, sentindo novamente a sensação que não sabia explicar. Algo nela era muito familiar, como um rosto que não lhe é estranho, alguém que viu por acaso numa rua, mas Lohan tinha certeza que não conhecia Levy antes da mesma vir para o campus.

Por fim retirou-se do quarto, fechando a porta com cuidado a fim de evitar ruídos.

Rebecca sai do banheiro, onde esteve o tempo todo, grudada a uma fina brecha da porta. Os cabelos estavam úmidos e ela vestia uma camisola vermelha, com um decote V explicitando o busto avantajado. Ela aproximou-se da beliche a passos lentos, os olhos presos em Levy. Ficara bons 5 minutos a encarando, até que por fim subiu para a sua cama, deitando-se de peito para cima com a face séria.

Levy remexia-se constantemente. Grunhia e balbuciava coisas sem nexo, presa em mais um de seus pesadelos. Pesadelos com sua mãe aos prantos, pesadelos com seu pai triste e prostrado, e embora ela questionasse o porquê de estarem daquele modo, eles simplesmente não a ouviam e ela assistia a tudo, sem poder interferir em nada.

Ela acordou-se pela madrugada, ensopada de suor. Ergueu seu travesseiro e tateou as escuras até achar seu celular, onde rapidamente procurou o número de sua mãe e ligou para ela sem pensar duas vezes. Estava assustada, grogue e confusa. Quando sua mãe atendeu, quase um minuto depois, Levy disparou quase atropelando as palavras:

_ Mãe, vocês estão bem? Você e o papai? Por que vocês estavam chorando?

Natsumi não respondeu de imediato.

_ Azul, você bebeu? _ indaga secamente.

_ Não, eu tava estudando na biblioteca, e eu dormir, e... _ ela para, dando-se conta de que estava em sua cama _ Como eu cheguei aqui? _ se pergunta em voz alta. _ Eu estava na biblioteca uns 5 minutos atrás!

_ Azul, você parece bêbada. _ a mãe comenta com um riso abafado _ Vá dormir, amanhã estará bem melhor.

_ Eu só tive um pesadelo, mãe _ a azulada suspira _ Vocês estão bem, não é?

_ Sim, claro que sim.

Levy solta uma lufada de ar, relaxando os ombros tensos.

_ Acho que só foi um pesadelo...

_ Talvez esteja estudando demais, Azul. _ supõe severamente, como se lhe desse uma bronca. _ Não se estresse tanto. Saia um pouco, tenha alguns amigos. _ Levy suspira. Sua mãe sempre dizia isso, e sempre a alertava sobre seu remédio todas as vezes que se falavam. _ E não esqueça seu remédio, pelo amor de Deus!

_ Tudo bem, mãe. Vou tentar dormir de novo, desculpe telefonar tão tarde.

Levy virou seu travesseiro e deitou sua cabeça outra vez, inspirando profundamente enquanto repetia para si mesma que era apenas um sonho ruim. Não tardou para adormecer novamente, exausta de sua rotina de estudos. Dessa vez, ela não tivera um pesadelo. Não era sequer um sonho. Era apenas uma lembrança antiga que seu cérebro sentiu-se no direito de reviver, a lembrança do bosque.

Gajeel estava deitado, os cabelos negros espalhados pelo chão coberto de folhas secas, encarando-a fixamente. Levy encontrava-se sentada sobre seu tórax, sorrindo provocativa. Ao acordar, Levy sequer recordou-se de nada disso, tão pouco de seu pesadelo. Levantou-se e aprontou-se rapidamente pra mais um dia, cantarolando baixo enquanto penteava os cabelos úmidos.

Rebecca sai do banheiro em silencio, e em silencio permanece enquanto procura algo no guarda-roupa.

_ O que acha? _ Levy indaga virando-se para que ela visse sua mais nova bandana, mas Rebecca sequer a olhou ao responde-la com indiferença:

_ Tão idiota quanto as outras.

Levy abriu a boca para falar algo, mas sua colega de quarto passou por ela e saiu sem acrescentar mais nada. Ela sentiu-se estranhamente só e culpada. Não tinha razões pra sentir culpa, mas de algum modo Levy relacionava o comportamento de Rebecca com algo que ela fizera. Ela tentava e tentava, mas não lembrava de nada que pudesse ter feito de errado. Até ontem Rebecca estava agindo normalmente. Não era alguém dada a abraços e palavras amorosas _ a não ser que estivesse bêbada _ , todavia era educada e gostava de analisar as vestimentas de Levy.

Ela jogou sua mochila nas costas e saíra do quarto, trancando-o e indo para a aula ainda pensando no que poderia ter feito para irritar Rebecca. Por fim desistiu, dando de ombros e deixando que sua mente fosse preenchida apenas pela aula de Literatura Ocidental.

 

• • •

02 de Abril, 2020

 

Levy serviu mais uma mesa e foi para atrás do balcão, desligando o liquidificador e preparando o milk shake na velocidade da luz. Rebecca apareceu com uma bolsa atravessada no peito, o cabelo castanho claro num rabo de cavalo baixo e o óculos na ponta do nariz.

Sorriu fracamente, observando a azulada ir servir mais uma mesa e voltar enquanto limpava o suor da testa.

_ Hoje tá movimentado _ comentou baixinho.

A azulada assentiu. Apoiou os cotovelos sobre a bancada e encarou Rebecca de perto, analisando-a cuidadosamente antes de questiona-la.

_ E então?

Rebecca tirou os óculos e limpou a lente na barra do suéter verde musgo. Levy esperou pacientemente, tamborilando os dedos na mármore. Os cabelos azuis estavam presos no alto por uma bandana laranja, alguns fios escapavam e grudavam ao seu pescoço úmido de suor.

_ Eu não sei _ por fim responde, pondo os óculos novamente.

Levy revirou os olhos.

_ Becca, pelo amor de Deus.

Rebecca mordi o lábio inferior.

_ Acho que fui mal... _ suspira, parecendo de repente estar assustada. _ Se eu perder essa matéria...

A McGarden desci da bancada, passando uma mão pelo rosto.

_ Não entre em pânico agora, tá? Não sofra antes da hora.

A outra assenti e, antes que pudesse falar qualquer coisa, Lohan surgiu, pondo um braço sobre o ombro de Levy, um palito de dentes no canto dos lábios.

_ Que espécie de funcionária você é, Smurf? O refeitório cheio e você batendo papo.

Levy encarou seu braço como se fosse morde-lo, e então ergueu os olhos, o encarando com as orbes cerradas.

_ Cale a boca, seu...

_ O que foi? _ Lohan questiona Rebecca com os olhos fixos em sua face, de repente preocupado.

Ela corre os olhos pelo local ao responde-lo.

_ Nada, eu só acho que perdi anatomia.

_ Besteira. _ discorda imediatamente. _ Deve estar apenas estressada, acho muito difícil você perder matéria.

_ A ave rara tem razão _ Levy diz, olhando Lohan pelo canto dos olhos. Ele apenas arqueou uma sobrancelha, rindo baixo com o apelido. _ Está apenas estressada, tenho certeza que tirou uma boa nota.

Rebecca assenti para ninguém em especial, ainda olhando em volta.

_ E _ Levy continuo num tom suspeito. Lohan cerrou os olhos. _ Trate de ir tomar um banho e escolher um pijama para a festa de hoje a noite.

_ Levy, você não gosta de festa _ a outra a lembra.

_ Ah, por favor, Becca, será no apartamento de Risley Law. Não terá nada além de garotas e chocolate de panela.

_ Só garotas? _ Lohan indaga desconfiado.

_ Claro _ Levy o responde dando de ombros. Então sorrir diabolicamente, apertando o laço do avental que estava frouxo _ Maaaas, isso não significa que não vamos falar de homens.

Aquilo pareceu incomodar Lohan, que murmurou algo incompreensível e encarou Rebecca de rabo de olho. Rebecca apenas endireitou os óculos de grau, ainda séria com a possibilidade de ter perdido uma matéria.

Uma senhora sai de dentro da cozinha, pondo as mãos nos quadris e encarando as costas de Levy.

_ Já pro trabalho! _ Poluscka praticamente lati, e Levy arrepia-se como um gato assustado. Poluscka conseguia ser mais exigente que Mirajane Strauss, e mais assustadora também.

_ Essa velha é medonha _ Lohan comenta quando ela volta para a cozinha.

_ Totalmente _ Rebecca concorda.

Levy apenas inspira profundamente, soltando o ar de uma vez e abaixando-se para pegar um pano e o vidro de detergente embaixo da bancada.

_ Medonha ou não, tenho que terminar logo isso.

Rebecca mordi o lábio inferior, como sempre fazia quando pensava seriamente em algo.

_ Isso é tão estressante. Você só vivi trabalhando, trabalhando, trabalhando...

_ Pois é. Ou você vai fazer compras sozinha, sozinha, sozinha. _ Levy cantarola sem parar de esfregar o pano com detergente sobre uma mesa. _ Vá. _ ela virar-se para encara-la _ Pode ir. Eu termino daqui a pouco.

Rebecca assenti e ergui o óculos que estava na ponta de seu nariz, virando nos calcanhares e saindo do refeitório. Lohan a observou ir, depois encarou Levy, que já se ocupava com outra mesa.

_ E você?

Ela arqueia uma sobrancelha sem parar seu trabalho.

_ Eu o que?

_ Acha que perdeu alguma matéria?

Levy rir com escárnio, endireitando-se e jogando o pano sobre um ombro.

_ Eu? Já perdi muita coisa nessa vida, mas matéria, não.

Depois de seu expediente, Levy fora até seu dormitório. Encontrou Rebecca de frente para o guarda-roupa velho que dividiam, parecendo refletir seriamente em algo. Enfiou-se no banheiro, querendo se livrar do cheiro de desinfetante e poupa de fruta.

_ Tem certeza que quer ir? _ Rebecca indagou quando a azulada saiu de seu demorado banho gelado.

Levy a encarou. Ela estava sentada na beirada de sua cama, as pernas penduradas para fora, esperando por sua resposta.

_ Porque isso fica em Melbourne, sabe como as coisas funcionam...

_ Bobagem _ Levy discorda com um abanado de mão _ As coisas não estão tão ruins como antes. É só não sairmos gritando aos quatro ventos que somos da Sydney.

Rebecca assenti e salta da cama.

_ Certo, se vamos, vamos decentemente.

A azulada revira os olhos e bufa.

_ Becca, é uma festa do pijama! _ a outra sequer a responde, decidida _ Certo _ ela se rendi, correndo os olhos pelas roupas dobradas no guarda-roupa. _ Tenho certeza que temos algo aprópiado.

_ Não temos nada _ a outra discorda, amarrando os cabelos rapidamente com uma caneta que estava largada sobre sua cama e virando-se para encarar Levy _ Compras.

Levy arria os ombros.

_ Nem me olhe com esses olhos de cachorro de rua, você também precisa de algo decente! _ argumenta ao notar que Levy recusava a ideia.

_ É uma festa do pijama... _ geme como se tivesse com uma terrível dor de dente.

_ Não importa! Além do mais _ pega a chave de sua caminhonete _ Precisamos comprar shampoo, pasta de dente e umas blusas pra você.

_ Mas as minhas estão perfeitas! _ guincha, inconformada com a declaração da outra.

_ Estão velhas. _ guarda a chave dentro de sua bolsa _ Você não compra uma peça de roupa desde que chegou.

_ Porque estão perfeitas!

Rebecca apenas faz que não com o indicador, e Levy soube que não havia conversa.

_ Droga _ resmunga ao sair do quarto, cruzando os braços enquanto a espera trancar a porta. O celular vidra dentro de sua bolsa, e ela a abre ainda emburrada, porém gela ao ver o nome de Gajeel na tela acesa. Leva o aparelho para junto do ouvido lentamente, a respiração ofegante e ruidosa.

Rebeca franziu a testa, a observando em silencio.

_ Levy _ ele fala do outro lado, e ela engole em seco, os olhos enchendo d'água num segundo. Abri os lábios para falar algo, mas os fecha novamente ao perceber que não sabia o que falar. _ Levy! _ repeti, a voz ficando mais urgente.

_ O que foi? _ por fim consegui falar, e uma lágrima solitária pinga em sua bochecha.

Ele não responde de imediato, e Levy podia ouvir sua respiração ficando alterada também, as lufadas de ar acertando o fone e causando ruídos abafados.

_ Como você está?

Levy encara Rebecca e ela assenti, abrindo a porta novamente e passando para dentro logo após a azulada disparar na frente.

_ Por que só agora ligou pra mim? _ indaga ressentida, andando em círculos pelo pequeno espaço _ Por que ficou 6 meses sem me dá sinal de vida? Por quê? Por que, Gajeel?

_ Porque só agora tive certeza de que poderia falar com você sem correr o risco de fazer alguma loucura.

_ Tipo? _ pergunta como se duvidasse da veracidade de suas palavras.

_ Tipo largar tudo aqui e ir até aí. _ responde, parecendo muito irritado. _ Minha mãe tinha a mim quando precisava se ausentar, mas eu não tenho ninguém _ Levy sentiu as pernas enfraquecerem, as palavras de Gajeel eram como chutes em suas canelas _ Ela largou tudo comigo, Levy! Metalicana simplesmente largou tudo comigo e foi embora...

Levy engole em seco antes de tentar falar, a garganta dolorosamente seca. Já sabia disso, mas era a primeira vez que Gajeel tocava no assunto.

_ Você sabe onde ela está?

Gajeel rir sem humor.

_ Não sei, ela simplesmente foi embora sem explicação alguma. Acordei e não havia sinal dela, suas roupas não estavam no guarda-roupa e havia apenas uma carta sobre sua cama. Ela fugiu e largou essa merda toda comigo.

A McGarden tateou ao seu redor e sentou-se na beirada de sua cama, muito ereta. Rebecca estava plantada em frente a porta, roendo a unha do polegar.

_ Eu... _ ela diria que sentia muito, mas aquelas palavras soavam superficiais demais. Já faziam 3 anos desde que saiu de Fiore, parecia uma eternidade. De repente imaginou Gajeel sozinho, tendo de dirigir a empresa do avô que ele certamente odiava, casado com a mulher que destruiu seus sonhos e suportando toda essa situação sem ela por perto... era angustiante apenas de imaginar.

Não, ela não quero mandar ele ficar bem. Ele queria fazê-lo ficar bem. Queria estar ao seu lado, e afugentar todos os seus demônios internos.

_ Irei estar com você.

_ Levy...

_ Em dois anos_ continua, antes que ele desatasse a falar sobre os motivos que a levaram a ir para a Austrália _ Dois anos, Gaj. _ recapitula estalando a junta dos dedos _ Nós vamos sobreviver até lá.

Ele riu do outro lado, baixo e rouco.

_ Eu vou tentar.

_ Não! _ ela arfa _ Você vai sobreviver!

_ Petit. _ Levy aperta os lábios, os olhos ficando marejados novamente _ As coisas estão difíceis. Eu estou conseguindo segurar as pontas, porém as vendas caíram e Sorano tá virando a empresa do avesso. Erza foi despedida, o setor dela tá sendo dirigido por Millianna, e Millianna está fazendo um péssimo trabalho. _ ele inspira profundamente _ Jellal também foi embora.

_ Pra onde eles foram?

_ Jellal não levou a Erza, Levy. Ele foi embora sozinho.

_ Tem certeza? Não é mais uma viajem de trabalho?

_ Não _ e seu tom deixou explicito o quanto ele queria que fosse o caso _ Ele deixou a aliança sobre a cama, junto com um bilhete. Quando Erza foi até seu escritório, foi avisada que ele se demitiu. Ele foi embora pra proteger ela, a casa deles foi incendiada em outubro.

Levy para de respirar por alguns segundos.

_ E é claro que é obra da Sorano _ ele continua, falando entre os dentes _ Ela queria queimar as provas que ele tinha contra ela, e quase matou a Erza no processo.

_ Meu Deus _ murmura, sem ter nada além que isso para comentar sobre _ Ela está bem?

_ Está viva. Felizmente sabia como proceder e conseguiu quebrar a janela antes que inalasse muita fumaça. O casal de idosos que morava ao lado não teve a mesma sorte. _ suspira pesado. _ Preciso desligar, petit.

Ela umedeceu os lábios, um nó se formando na garganta. Sentiu-se atordoada pelo casal de idosos, atordoada por Jellal ter deixado Erza, atordoada em ouvi-lo depois de 6 meses. Queria continuar o ouvindo, queria ouvi-lo pelo resto do dia, sobre qualquer assunto que for, apenas pelo prazer de imagina-lo falando, imaginar seus lábios movendo-se a cada palavra dita.

_ Levy?

Ela tossi, obrigando-se a recuperar a voz.

_ Está certo. _ por fim diz _ Me ligue quando puder.

Ele fica em silencio por mais de um minuto, e Levy conseguia ouvir sua respiração baixa e muito lenta, como se inspirasse profundamente. Não parecia em pânico, ou fora de controle, apenas receoso em encerrar a ligação.

_ Petit. _ diz de repente, e Levy aperta os lábios numa linha tensa. _ Eu amo você.

A azulada brinca com um fiapo do jeans surrado, abrindo e fechando a boca várias vezes, sem saber bem o que responder.

_ Também o amo, Gaj. _ por fim o responde.

_ Ligo assim que der _ promete.

Rebecca já estava roendo o mindinho quando viu Levy finalmente afastar o celular da orelha e o repousar no colo. Voou para o seu lado, sentando-se afobadamente.

_ Conta. _ exigi autoritária. _ Quem era?

Levy revira os olhos.

_ Gajeel. _ responde dando de ombros, como se não tivesse tanta importância assim.

_ E quem é esse? _ insisti, ardendo de curiosidade.

Levy McGarden nunca demonstrou um pingo de interesse em ninguém, e sempre se justificava dizendo que precisava focar em seus estudos. Mas Rebecca sempre sentiu que esse motivo era superficial demais, que a verdade era bem mais complexa.

_ Meu melhor amigo _ baixa o olhar, segurando o pingente de coração de sua pulseira entre os dedos. _ E algo mais.

Levy e Rebecca haviam acabado de sair do apartamento de Risley Law, em Melbourne. Rebecca havia ingerido dois copos de cerveja de cidra, o suficiente para ficar enjoada e ter de voltarem. Levy não se importou, a "pequena" festinha do pijama havia mais mulheres do que presumiu, o que não lhe agradou nenhum pouco.

Lohan fora buscar as duas às 10 horas da noite, com seu Bel Air 1955, e com o rádio automotivo tocando uma música da banda The Clash no último volume.

_ Abaixa isso, Lohan! _ Rebecca berrou acima do barulho, porém o homem continuou cantando desafinado, chacoalhando a cabeça de um lado a outro.

A música termina e quando a próxima da lista começa, Levy a reconheci imediatamente. Sua mente é preenchida por memórias de seu tio Daichi bêbado no natal, cantando em plenos pulmões, e sua mulher ameaçando quebrar o aparelho de som com um martelinho de amaciar carne.

_ Darling you gotta let me know, should I stay or should I go? If you say that you are mine _ Levy canta tão desafinada quanto Lohan, e ele se apressa a cantar a próxima parte.

_ I'll be here 'til the end of time, so you got to let me know. Should I stay or should I go?

Eles se encaram, rindo, esperando o ápice da música chegar, e quanto ele chega, ambos cantam mais alto que o CD, alguns cachorros latindo pelas ruas desertas de Sydney.

 

Should I stay or should I go now?

Should I stay or should I go now?

If I go there will be trouble

An' if I stay it will be double

So come on and let me know

 

Rebecca esteve quieta durante o resto do trajeto. Observo-os cantarem o resto do álbum Combat Rock com o maxilar trincado. Quando por fim chegaram ao Campus, ela saltou para fora do Bel Air e praticamente correu para o alojamento, deixando a porta do carro aberta.

Levy correu atrás dela, Lohan as seguiu mandando Rebecca parar, mas ela não parou.

_ Becca, qual o seu problema?! _ a azulada questionou ao passar pela porta escancarada. A outra chorava, andando em círculos. Quando Lohan também adentrou o cômodo, ela parou e o encarou, parecendo prestes a avançar sobre ele.

_ Entra _ o homem murmurou abrindo a porta do banheiro e gesticulando para Levy ir pra lá. Ela engoliu em seco, obedecendo. Quando a porta fora fechada, Rebecca começou a gritar em meio a soluços que dificultavam entender o que ela dizia, mas Levy entendeu tudo.

_ Você gosta dela, não gosta?

_ É claro que eu gosto, ela é minha amiga! _ ele a respondeu também aos gritos _ Sua amiga também!

_ Não parece gostar como uma amiga! _ retruca num tom acusatório.

Levy fora até o canto do banheiro, fechando a cortina e sentando-se no piso com os joelhos junto ao peito acelerado. Estava sentindo-se culpada e triste, tinha certeza absoluta de que Lohan não enxergava outra mulher além de sua colega de quarto, e lhe doía ver como Rebecca não confiava nela, como achava que Levy a trairia na primeira oportunidade que tivesse.

_ O que tá insinuando? _ indaga secamente _ Rebecca, ela é 11 anos mais nova do que eu! Você sabe que eu não sou esse tipo de cara, se eu fosse ficar outra mulher, não seria com uma 11 anos mais nova!

Agora Levy balançava-se para frente e para trás, o coração cada vez mais descompassado. O banheiro não tinha sequer uma janela, a porta estava fechada e ela sentia o ar cada vez mais abafado. Sabia que tinha de sair dali, rápido, antes que sua pressão aumentasse e ela sequer conseguisse tentar andar sem cair debilmente.

_ Vai se foder!

_ Pra mim já deu! _ Lohan diz decidido. _ Já deu, eu vou passar por aquela porta e nunca mais vou tentar reconstruir essa porcaria de relacionamento de merda!

Rebecca fica em silencio por quase um minuto, Levy podia ouvir sua respiração alta e fora do ritmo.

_ Não... _ ela murmura _ Não desista assim tão rápido...

_ Tão rápido? _ ele ecoa com a voz carregada de sarcasmo _ Eu estou tentando salvar isso há 3 malditos anos! E você sempre não dá a mínima pras minhas tentativas, e sempre está bêbada e arrumando motivos para brigarmos! Deu, Rebecca. Você é o sapato que quero muito ter, mas não importa o quanto eu queira, não encaixa no meu pé e eu estou cansando de negar isso. Estou cansado dessas suas cenas idiotas, e dessas porcarias de garrafas de bebida _  Levy se encolhe ao ouvir o som estridente de vidro espatifando-se.

_ E a carta? E a carta, Lohan? Você não se importa mais com aquelas coisas que eu disse pra você quando nos conhecemos?

_ Você não é mais aquela mulher. _ responde ácidamente. _ E sinceramente, duvido que um dia tenha sido.

Levy levantar-se atrapalhadamente, chegando até a porta e virando a maçaneta. Rebecca estava de um lado do quarto, havia vidro por todo o perímetro e o cheiro de álcool impregnava o ar.

_ Eu... eu não estou bem. _ murmura pra ninguém em especial, apenas queria justificar sua aparição no meio da briga.

_ Ah, você não tá bem? _ Rebecca repeti a encarando com os olhos cerrados _ Será que você pensa em alguém além de você?

_ Cala a boca, Rebecca. _ Lohan fala entre os dentes, e naquele momento Levy teve certeza que não havia volta.

Lohan e sua colega de quarto estavam oficialmente separados.

_ Eu preciso de ar _ faz menção de atravessar o quarto e chegar até a porta que parecia tão convidativa aquele momento, porém não tinha certeza se soltar o batente da porta do banheiro era boa ideia. Não queria cair e parecer doente.

Lohan tira o celular do bolso do casaco verde militar, sério e concentrado. Fala com alguém chamado Cassidy, e novamente guarda o aparelho enquanto corre os olhos pelo chão do quarto.

_ Cassie mora num apartamento, é pequeno, mas cabe vocês duas sem problema. _ encara o guarda-roupa velho _ Se quiser sair daqui...

_ O que você tá fazendo? _ Rebecca rosna. _ A Levy não vai a lugar algum!

A azulada troca o peso de uma perna para outra, puxando ar.

_ Na verdade, não acho uma ideia ruim. _ Levy diz, encarando seu coturno. Havia o comprado  na semana passada com Rebecca, e ela havia lhe dito que ele era grosseiro demais para Levy. Ela não lhe deu ouvidos, e agora essa lembrança parecia motivar uma crise de choro. De repente estava pensando em seus 2 anos convivendo com Rebecca, nas compras constantes, nas noites que passavam acordadas falando sobre trivialidades, e por um momento pensou em desistir da ideia de sair dali, do lugar onde esteve desde que chegara a Austrália.

_ Você vai mesmo me abandonar? _ Rebecca a questiona com um olhar incrédulo. Levy larga o batente da porta, caminhando até o guarda-roupa e abrindo as portas. Seu coração já batia num ritmo mais calmo e aos poucos a dormência em seus pulsos diminua.

_ Vai encontrar alguém logo logo _ afirma tirando suas roupas que estavam cuidadosamente dobradas e as colocando sobre sua cama. _ É melhor assim.

Rebecca a observou ir de um lado a outro, entrar no banheiro e voltar com alguns frascos de shampoo, catar seus sapatos e enfia tudo dentro de sua mala velha _ a mesma que havia chegado ao Campus. Mordia o lábio inferior tensamente, ainda sem crer no que estava acontecendo.

_ Levy... desculpa _ a mulher fala com a voz embargada, plantada na soleira da porta. A azulada virar-se para encara-la, e por um segundo de alivio Rebecca achou que ela fosse sorrir e voltar para dentro do quarto. Mas Levy apenas suspirou, virando-se novamente para frente e arrastando sua mala consigo ao se afastar a passos largos.

Levy não havia voltado nem mesmo para Gajeel RedFox no dia em que entrou naquele avião.

Não voltaria para Rebecca Lerolan.

• • •

Cassidy estava em frente ao prédio. Quando Levy saiu do Bel Air, tentou enxerga-la, mas tudo que conseguiu ver foi sua grande estatura. Lohan abriu o porta-malas e puxou a bagagem da azulada para fora, tornando a fecha-lo com um baque surdo.

_ Vá. _ murmurou dando um empurrãozinho em suas costas. Levy virou-se para encara-lo, mas ele já entrava novamente em seu carro. Inspirou profundamente, apanhando a mala deixada ao seu lado e caminhando em direção a mulher.

_ Quantos quartos tem o apartamento? _ ela questionou enquanto passavam pelo hall.

Levy finalmente pôde vê-la com clareza, e chegou a rápida conclusão de que Cassidy não tinha cara de quem falava muito. Era muito magra e alta, os cabelos pretos e cortados rente a orelha. A pele mais branca que a sua e as sobrancelhas sempre arqueadas e negras.

_ Dois. _ a mulher respondeu dentro do elevador.

Levy assentiu, encarando-a pelo canto dos olhos. Seu celular toca em seu bolso, alto e estridente.

Era Lisanna.

_ Liss?

_ Mira tá em trabalho de parto! _ anuncia sem fôlego _ Estou tão nervosa, precisava conversar com alguém.

A porta abri e Levy arrasta sua mala para fora.

_ Quanto tempo faz?

_ Ela tá na sala desde às 9 da manhã. _ responde receosa _ Ninguém aparece, ninguém dá notícias. É tão angustiante...

_ Onde está Laxus? _ para quando Cassidy tira um molho de chaves do bolso diante da porta 12.

Estavam no primeiro andar.

_ Com ela, na sala de parto.

_ Vai ficar tudo bem, Mira não teve nenhuma complicação durante a gravidez. _ garante enquanto entra no apartamento _ Essas coisas demoram mesmo, Liss. É normal, tenho certeza que logo chegará noticias.

Lisanna suspira do outro lado, acalmando-se um pouco.

_ Desculpe ligar tão tarde, vou ver como Elfman está.

_ Ele passou mal? _ Levy supõe revirando os olhos, inevitavelmente rindo.

_ Sim, foi sedado. Entrou em pânico e começou a gritar, papai ficou uma fera com ele por ter chamado atenção de uns colunistas que estavam presentes.

Levy riu mais ainda, imaginando a cena.

_ Vai ficar tudo bem, Liss. Sua irmã é durona. _ olha em volta, sentando-se na beira do sofá _ Vou desligar agora, qualquer noticia você me avisa.

_ Certo, vamos deixar algumas coisas claras. _ Cassidy diz assim que a azulada encerra a ligação, sobressaltando Levy. _ O meu quarto, é o meu quarto, não entre lá sem que eu dê autorização. _ a azulada assenti rapidamente. _ Vai colaborar com cinquenta porcento das despesas e é responsável pela limpeza do seu quarto. _ Levy assenti novamente, estalando as juntas dos dedos. _ E pode trazer homens, mas que fique avisada que não vou ficar ouvindo os barulhos que fizerem.

Levy queria dizer que ela não precisava se preocupar com a última regra, porém Cassidy virou nos calcanhares e sumiu no corredor. Ela suspira, levantando-se e arrastando sua mala consigo. Virou a maçaneta e a porta não abriu; estava trancada.

_ Cassidy. _ murmura junto a porta da mulher. _ Minha chave, você esqueceu de entrega-la.

_ Está sobre a mesa _ ela responde de lá de dentro. Levy assenti, mesmo que a outra não pudesse ver.

A cozinha era pequena, como o resto dos cômodos do apartamento. Havia um frigobar, um fogão de duas bocas sobre o frigobar, um armário velho pregado na parede abarrotado de panelas e louça e, finalmente, a chave de seu quarto sobre uma tábua repousada em cima de um baú. Escrito num pedaço de fita crepe, Levy leu com as sobrancelhas arqueadas: MESA.

Riu enquanto enfiava a chave na fechadura, imaginando uma mulher daquele tamanho jantando na MESA. Tudo naquele apartamento parecia bagunçado e improvisado, como se Cassidy tivesse de mudado a pouco tempo e estivesse evitando arrumar as mobílias.

Pôs a mala para dentro, trancando o quarto e tateando a parede até achar o interruptor.

Havia apenas uma cama e uma cômoda, nada mais.

_ Perfeito. _ murmurou jogando-se sobre o colchão fino e permanecendo de bruços. Puxou ar depois de alguns minutos na mesma posição, virando-se e encarando o teto cheio de teias de aranha. Repassou todo o seu dia em sua mente; sua rotina de trabalho, as compras, a festa em Melbourne, a discussão, as palavras de sua ex-colega de quarto, e por fim, como se deixando a melhor _ ou pior _ parte por último, a ligação de Gajeel.

Suspirou, sentando-se e apanhando seu celular guardado em seu bolso. Não havia ligações ou mensagens, e ela sentiu-se muito tentada a ligar para ele, como quem não quer nada. Mas decidiu que era melhor deixa-lo com suas obrigações, quando tivesse tempo ligaria para ela com certeza.

_ Dois anos. _ diz pra si mesma enquanto abri sua mala _ Só mais dois anos, Gaj.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Cês perceberam que o capítulo ficou gradin, neh? Então, aconteceu que a autora aqui não suporta mais manter Gajeel e Levy separados e tipo, até o capítulo 26 a Levy ainda estaria na Austrália. Por isso, eu resumi pra caramba todos os acontecimentos desses próximos 6 capítulos em 2, ou seja, vai ter o próximo e no capítulo 23 a Levy já de volta novamente!
E eu fico por aqui çuç espero que tenham gostado e até o próximo <3
Música que Levy canta: https://www.youtube.com/watch?v=lO2nJ1nuRo0


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...