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História Impulso - Sentenciada


Escrita por: Ixteeer

Notas do Autor


Cabritos, desculpem o atraso! Eu passei por uns maus bocados ;w; nada sério, sabe... quer dizer, FOI SUPER SÉRIO. Crise de ansiedade é séria :c mas já estou de boas, supimpa, vamos ao que interessa '^'
Relevem eventuais erros u3u
Esse é penúltimo, hein! -w-

Capítulo 35 - Sentenciada


 

É incrível como a culpa sempre vai ser da mulher, uma hora ou outra, quando o assunto é relacionamento. Basta disso! Basta dessas opiniões estúpidas que O Diário Oficial de Hargeon faz questão de entupir as bancas há anos, sem nunca serem punidos! Não importa o quanto tentem amenizar, vocês acolheram Sorano Aguria, vocês a defenderam com unhas e dentes, tenham a dignidade de admitir isso e arcar com as consequências, em vez de usarem estupidamente uma mulher para tentarem se livrar da culpa.

Gajeel Redfox estava convivendo com uma assassina fria e capaz de tudo, quem pode julga-lo por ter perdido a cabeça? Quem pode afirmar que ele já não tenha aguentado muita coisa até chegar àquele ponto? Ninguém. Ninguém, além da polícia federal pode ter certeza de algo, e ninguém tinha o direito de apedreja-lo _ coisa que vocês fizeram sem pestanejar!. Levy McGarden não é culpada de nada. Levy McGarden não suja minha imagem, e nem a de nenhuma mulher, nem desse século e nem de nenhum outro. Vocês, porém, sujam a imagem do jornalismo com suas matérias cheias de sensacionalismo barato e machismo latente. É fácil jogar tudo para cima de uma mulher, não é? Não é por acaso que não há uma sequer nessa equipe.

Desculpem o desabafo. Não haverá fofoca quente hoje. Às vezes é necessário falar sobre assuntos sérios, e esse, sem sombra de dúvidas, precisava ser posto à mesa.

 

STAR WOMAN, Diário oficial de Crocus,

04 de Maio, 2023

 

A loira desceu de seu Vectra preto, batendo a porta e guardando o molho de chaves dentro de sua bolsa. Caminhou graciosamente sobre as botas de salto, sem importar-se com a saia de tecido delicado levantando quando uma brisa mais forte soprava eventualmente. Pelo reflexo de uma vitrine, observou como seu cabelo claro ficava realmente bonito naquele rabo de cavalo alto, sorrindo para si mesma e apertando a alça da bolsa distraidamente.

Contudo, ao parar diante de uma porta de vidro, na fachada de um café modesto, seu sorriso sumiu e Lucy ficara completamente séria, inspirando três vezes antes de por fim entrar no estabelecimento. Olhou em volta, correndo os olhos desde a tevê ligada num canal de esportes ao piso outrora branco, agora num tom encardido que lhe dava um ar medíocre, quase melancólico.

Voltou a realidade de supetão ao ouvir um grito agudo vindo do que parecia ser a cozinha. Uma mulher passou correndo pela cortina de miçangas, um homem logo atrás, em seu encalço. Ele viu Lucy primeiro e parou de imediato, a outra, porém, passou pelo balcão, desesperada para se ver livre de Loke, e, por fim, ao voltar sua atenção para frente, viu a loira plantada no meio do lugar, os olhos castanhos arregalados.

Mediu-a em silêncio, dando dois passos para trás como se tivessem lhe batido no rosto. Sentiu-se envergonhada. Terrivelmente envergonhada. Lucy estava tão... linda, em todos os aspectos. Suas botas marrons de cano alto, sua saia rendada, a blusa de abotoar florida e que abraçava bem suas curvas... até mesmo o simples fato de Lucy parecer muito limpa, a envergonhava.

Para todos os efeitos, Karen Lilica estava bagunçada pra caralho. Tudo em si gritava "este ser perdeu o rumo da própria vida". Seus cabelos verdes, outrora invejáveis, estavam muito curtos, rente a orelha, de forma desregular, como se tivesse sido arte de alguma criança levada. Usava um vestido que mal lhe cobria as coxas, de tecido vagabundo e num tom horrendo de amarelo, que em contraste com seu cabelo, piorava drasticamente o ar nauseante que tinha. E, para completar o visual, a barriga despontava, saliente sob o vestido amarelo-laranja estragada, deixando explícito sua gestação de, talvez, quatro meses.

Karen baixou a cabeça, trincando o maxilar enquanto corava até os ombros. Lucy estava bem, nitidamente bem. Bem sucedida, com o futuro garantido. Podia ter certeza disso apenas ao pôr os olhos sobre ela, do mesmo modo que alguém poderia ter certeza que ela, Karen, era uma pobre coitada apenas ao olha-la.

_ O que está fazendo aqui? _ questionou entre os dentes, sem erguer os olhos do piso encardido. _ Se veio rir da minha desgraça, aviso que realmente não estou num bom dia.

Lucy abriu a boca e tornou a fechar, sem saber bem o que dizer. Descobriu por Natsu, quem mantinha contato com Rogue, que Karen estaria "trabalhando" ali. A verdade é que o Cheney não quis ser inconveniente, saindo por aí contando as mazelas de seus ex-colegas. Mas Karen não trabalhava ali, pois a mulher sequer tinha um salário ou algum tipo de remuneração. Era escrava do proprietário do café, que Rogue nem precisou dizer para Natsu sua identidade.

Lucy sabia quem era. Era a cara de Loke fazer algo como aquilo.

_ Por que não dá a droga de um salário pra ela? _ perguntou diretamente ao homem, fechando as mãos em punhos. _ Que merda, Loke, você é um maldito mimado e não tem a capacidade de pagar pelos serviços dela?!

Loke riu com escárnio.

_ Meu pai pirou, disse que eu era um vagabundo e me deserdou para que eu me virasse sozinho. _ arqueou as sobrancelhas. _ E eu não vou dar meu precioso dinheiro para ela por ter feito esse serviço de merda. _ apontou para o piso. _ Se as coisas continuarem do jeito que estão, vou transformar isso num puteiro. _ riu novamente do mesmo modo detestável. _ Garanto que ela vai ter uma serventia bem melhor.

Karen encolheu os ombros, apertando o antebraço com uma mão trêmula.

_ Ela tá grávida! _ guinchou a loira, descendo o olhar horrorizada para a barriga da esverdeada.

_ E daí? _ Loke deu de ombros. _ Não é meu filho mesmo, foda-se.

_ É claro que é seu! _ Karen rebateu, virando-se com o peito subindo e descendo, descompassado. _ Sabe que é! Sabe que ninguém mais... _ engoliu em seco, as lágrimas escorrendo pelas bochechas muito vermelhas. _ Ninguém mais me teve como você.

Loke coçou o ouvido com o mindinho, não dando a mínima para o desabafo da outra.

_ Aham. _ limpou o dedo na calça jeans, voltando sua atenção para Lucy. Olhou-a minuciosamente, como já havia feito assim que a tinha visto. _ Você tá bem conservada, hein. _ saiu de detrás do balcão, aproximando-se. Lucy não se mexeu, sustentou o olhar duro, sem se deixar intimidar. _ Andou trepando? Dizem que mulher quando anda bonita demais é porque tá distribuindo.

Lucy desviou os olhos para Karen, que observava encolhida como um cachorrinho com frio.

_ Venha. _ murmurou estendendo uma mão.

Loke olhou para a mão como se fosse morde-la.

_ Não fode, Lucy...

_ Venha, vamos dar um jeito nisso. _ acrescentou, ignorando o homem totalmente. Loke olhou para Karen, que parecia estar numa guerra interna. Viu que ela estava confusa, considerando a ideia.

_ Sabe que ninguém vai querer sustentar você e sua cria. _ comentou num tom ameaçador. _ Que vai terminar dando num beco de Oshibana por míseros cem Jewels, isso se pagarem! _ virou-se totalmente para Karen, ficando de frente para ela, que ergueu o olhar e encolheu-se ao encontrar o de Loke. _ Ao menos te dou um teto e comida. Se as coisas não saírem como planejei, você terá seu pagamento, ou eu vou quebrar os dentes do caloteiro. Sabe que puta de rua não tem ninguém para garantir que os clientes paguem.

_ Não o ouça, isso é manipulação barata. _ Karen desviou o olhar para Lucy. _ Venha, confie em mim. Não vim rir de você, sabe que não. _ a loira franziu a testa suavemente sob a franja. _ Você era minha melhor amiga. Pode ter se passado quatro anos, mas ainda gosto de você, Karen. Gosto mesmo. Não quero vê-la nessa situação. Isso não é vida nem pra cachorro.

A esverdeada engoliu em seco. Olhou para Loke, que tinha um olhar fulminante, depois para Lucy, que a fitava quase que com carinho maternal, talvez. Seja o que significasse aquilo, fazia-lhe sentir uma pontadinha de esperança lá no fundo. Fazia-lhe sentir que tinha uma chance, mesmo que pequena, de ter um futuro, de ter algo promissor a esperando, que não terminaria como uma maldita prostituta grávida rezando para que seu bebê não fosse uma garota.

Agarrou a mão de Lucy, sentindo as lágrimas molharem sua face novamente. Dessa vez, porém, soluçara e mordeu o lábio inferior, o feto se agitando dentro do ventre por conta da gama de emoções da mãe.

_ Se você me aparecer aqui de novo, não vou te aceitar, ouviu? _ falou parecendo desesperado, assistindo Lucy levar Karen consigo. _ Sua maldita sanguessuga!

 

 

_ Ufa! _ Lucy respirou o ar fresco da rua movimentada.

Karen permaneceu em silêncio, de repente sentindo uma terrível sensação de abandono. Fungou, o coração apertando mais à medida que se afastavam do café. Haviam passado por tanta coisa... estavam juntos desde o colegial! Ele largara Lucy por ela, e sempre dizia que seus cabelos verdes floresciam o amor dentro dele... Engoliu em seco.

Há quanto tempo Loke não lhe dizia isso? Três anos? A quanto tempo não lhe dizia algo bonito e gentil? Algo que a fizesse se sentir feliz e amada? Parecia bastante tempo desde a última vez... Parecia que o homem a tratava como uma "coisa" há séculos, mesmo que tivesse consciência de que estava com Loke há apenas quatro anos.

_ Vou falar com o Natsu. _ Lucy disse ao abrir a bolsa e tirar as chaves. _ Vou tentar arrumar algo que não exija esforço físico. _ acrescentou, abrindo a porta e olhando para Karen. _ Para não fazer mal ao bebê, sabe...

Karen piscou e passou para dentro, sentando no banco ao lado do motorista. Lucy a seguiu logo após, batendo a porta do carro e passando o cinto de segurança. Encarou a esverdeada até ela fazer o mesmo, e então puxou a bolsa e a arremessou no banco do passageiro. De relance, viu as unhas de Karen, curtíssimas e sem esmalte algum. Era assombroso. Lembrava muito bem de como as unhas de Karen eram grandes. Às vezes tinha um pouco de inveja, as suas nunca cresciam tanto como as dela.

E seu cabelo... céus.

_ Foi ele que fez isso? _ questionou enquanto dava partida. _ Com o seu cabelo?

_ Não. _ comprimiu as mãos, fechando-as em punhos sobre as coxas expostas. _ Fui eu. Ele puxava muito, achei que cortando ele ia parar. _ riu sem mostrar os dentes, os olhos fixos no vidro fumê da janela. _ Ele me espancou por isso. Disse que fiquei muito feia e que ninguém ia querer comer uma puta feia.

Lucy umedeceu os lábios sem desviar os olhos da estrada.

_ Ele é um saco de merda. _ murmurou. _ Sempre foi. Não sei o que tínhamos na cabeça ao dar uma chance para ele. De nos deixar levar... _ meneou a cabeça. _ Loke não é gente para se querer ter por perto.

Karen recostou-se melhor no assento, repousando a cabeça no encosto. Suspirou, parecendo muito cansada. Quando Lucy a olhou, estranhando o silêncio que se estendeu, viu que ela estava quase dormindo.

_ Karen.

_ Hm.

_ Quero que faça algo. _ sorriu um pouco. _ Mas não é por mim.

A outra remexeu-se, virando o rosto para encarar Lucy.

_ O que é? _ perguntou insegura.

_ Nesse sábado, irei dar uma festa na minha casa. _ contou sem muito alarde, atenta ao semáforo. Estacionou, esperando ele ficar verde. _ Convidei praticamente toda a nossa antiga sala.

Karen se agitou ainda mais. Imaginou os outros vendo-a do modo que estava, julgando-a, rindo dela...

_ Não se preocupe, vamos tentar salvar seu cabelo. _ acrescentou, percebendo o desconforto da outra. _ Vamos cuidar bem de você, vai ficar nova em folha. _ agitou a cabeça, encarando Karen. _ Não está feia e nem nada. Isso é coisa do Loke, ele é estúpido e te depreciava para te fazer acreditar  nas merdas que ele dizia, pra não o largar. Por medo de ficar sozinho. _ virou-se para frente, constatando que o sinal estava novamente aberto. _ Vai estar linda na festa de sábado, prometo. Ninguém vai rir de você ou achar que passou por uns maus bocados.

Karen relaxou no banco. Recostou a cabeça novamente, inspirando e expirando antes de falar mais descontraída:

_ Certo. O que tenho que fazer?

_ Lembra de Levy McGarden? _ questionou cuidadosamente. Esperou que ela assentisse, e quando assentiu, continuou no mesmo tom cauteloso. _ Quero que peça desculpas para ela.

Karen piscou duas vezes.

_ Em frente a todos?

_ Em frente a todos. _ Lucy confirmou.

A esverdeada voltou sua atenção para o vidro fumê, pensativa. Sabia que não estava em posição de retrucar, de dizer que era injusto ou ridículo demais, porque ela própria vivia humilhando Levy McGarden, vivia depreciando-a, incentivando Lucy a continuar o Bullying, mesmo quando ela, Lucy, começou a deixar claro que queria deixar Levy em paz.

Karen cavou a própria cova. Trilhou o próprio caminho. Outros poderiam dizer até mesmo que estava pagando pelo sofrimento alheio que semeou. Talvez estivessem certos. Talvez estivesse mesmo pagando por seus atos. Ela não negava que fora alguém detestável, que fizera coisas abomináveis, porém, agora ela apenas pensava naquela criança... que não tinha culpa alguma de seu passado sujo. Se fosse apenas ela, e apenas por ela... teria ficado com Loke. Pouco lhe importava sua própria vida. Mas aquele bebê não podia sofrer por seus pecados. Ele merecia nascer num lugar melhor, merecia ter um futuro.

_ Tá bom. _ por fim respondeu, sentindo as pálpebras pesadas de sono. _ Eu peço.

 

- X -

 

_ Jack Sparrow, Gajeel? _ a azulada questionou o moreno, arqueando as sobrancelhas em descrença. Não que a visão de seu namorado vestido de pirata a incomodasse, pelo contrário. Só era algo que você precisaria olhar uma, duas, dez vezes para poder se acostumar com a visão.

_ Capitão Jack Sparrow. _ o Redfox a corrigiu, pondo o chapéu sobre os cabelos. Levy não soube bem o porquê, mas algo naquilo a excitava, e muito. Engoliu em seco, sorrindo nervosamente para Cassidy, que a observava com uma sobrancelha mais arqueada que o comum.

_ Vamos, odeio me atrasar! _ puxou Gajeel pela mão, caminhando em direção à porta a passos largos. No entanto, antes que enfim saísse arrastando o homem, virou-se com um sorriso um tanto estranho, como se tivesse lembrado de algo de repente. _ Ahn... não me esperem acordados, acho que não volto hoje. _ avisou de uma vez, evitando os olhos perspicazes de sua mãe.

Ren se virou para encara-la. Estava assistindo tevê com seu irmão mais velho, Daichi, e ao ouvir sua filha, foi como se tivesse sido puxado de volta para a realidade de supetão.

_ Você volta amanhã, não é? _ perguntou com a voz insegura, alternando o olhar entre a bruxa e o pirata. Levy conhecia o pai bem o suficiente para ter certeza do que se passava por sua cabeça. O homem provavelmente estava imaginando-a fugindo de casa com o namorado, com uma mala pronta esperando-os no jipe de Gajeel, talvez saindo do país por algumas semanas. Essa gente tem dinheiro, isso deve ser tão banal quanto escovar os dentes.

_ Claro. _ franziu o cenho, aproximando-se para depositar um único beijo em sua testa.

_ Ele vai perder. _ Daichi murmurou, completamente inerte ao pequeno diálogo ou qualquer outra coisa além da disputa acirrada que se estendia desde cedo.

Jura Neekis, candidato a presidente, permanecia pouco abaixo de Warrod Sequen, outro também candidato. Fora Jura quem fizera sugestões polêmicas para resolver a baixa natalidade do país, e ao que tudo apontava, Fiore estava acolhendo Warrod.

Levy juntou as sobrancelhas pintadas de preto, meneando a cabeça como quem tenta afastar algum pensamento muito recorrente. Deu um estalado tapa na nuca do tio, afastando-se antes que o mesmo pudesse alcança-la e tortura-la _ vulgo sessão de cócegas, bastante conhecida por ela.

_ Foge mesmo, sua... _ parou, voltando a atenção para a tevê com os olhos ansiosos. Bufou quando a repórter apenas informou a situação atual da disputa, pela quinta vez, só naquele começo de noite. _ Diabos, por que não anunciam logo de uma vez?!

Levy revirou os olhos. Por um momento, se sentiu estranha por não estar vidrada naquilo como seu tio e o resto de sua família _ e provavelmente o resto de Fiore também. Era muito estranho ela não ligar para política?

Agitou a cabeça, perguntando-se quando começou a divagar tanto, de um minuto para outro.

_ Vamos. _ virou-se novamente para Gajeel, que observava tudo torcendo o bigode falso. Enquanto se acomodava no banco ao lado do motorista e passava o cinto de segurança, parou para pensar em sua mãe. Tão quieta... como se maquinasse algo.

_ Tudo bem? Levy ergueu o olhar, encarando Gajeel com a testa vincada.

_ Não sei... Gajeel parou imediatamente, largando a marcha para apanhar o rosto da mulher com ambas as mãos.

_ Petit...

_ Acho que só estou... agitada demais, sei lá. _ tocou o dorso da mão do homem, sorrindo um pouco. _ E preocupada com minha mãe. _ o sorriso sumiu. _ Ela não é quieta. Ela não é nenhum pouco quieta...

_ O que acha que é? _ Gajeel a questionou, de repente preocupado também.

_ Não sei, mas com certeza tem algo. _ suspirou. _ Vamos, já estamos atrasados...

Gajeel ainda ficou a encarando por quase um minuto inteiro até por fim voltar-se para a direção do carro. Durante todo o trajeto, Levy tagarelou sobre tantos assuntos que Gajeel parou de prestar atenção depois de meia hora tentando acompanha-la. Quando finalmente chegaram a Crocus, estavam muito atrasados, e Levy continuou falando e falando, como se esse fosse o seu talento...

_ O que acha? _ virou-se para o moreno, esperando sua resposta. Quando ela não veio, franziu a testa e inspirou. _ Gajeel. _ o homem a olhou no mesmo instante com o semblante confuso.

_ O que foi?

_ O que acha?

Gajeel sentiu uma gotinha de suor escorrendo em suas costas. Ele bem sabia como o humor de Levy andava oscilando, sempre instável, como uma caixinha de surpresas. Não que tivesse medo da baixinha, longe disso... só tinha receio de uma possível discussão dos diabos por algo tão bobo.

_ Sobre o quê? _ perguntou corajosamente, preparando-se para seja lá qual fosse a reação que Levy teria. A mulher mudava tanto de humor nos últimos tempos que Gajeel estava se acostumando a adrenalina de nunca saber o que viria em seguida. Soltou o ar que prendia ao ver um sorrisinho brincar nos cantos dos lábios de Levy.

_ Eu tô um pé no saco com essa falaria sem sentindo. _ Gajeel abriu a boca para falar algo, mas tornou a fechar ao perceber que não era uma pergunta. Levy inspirou outra vez, meneando a cabeça com os olhos fixos no para-brisa. _ O que acha de Alba? _ sorriu amarelo. _ Sabe, se nosso primeiro bebê for uma garota... ? _ voltou-se para Gajeel, que alternava o olhar entre a estrada e ela. _ Eu sei que é muito cedo para isso... mas acho que eu ficaria menos ansiosa se conversássemos sobre.

Gajeel pensou um pouco, a boca abrindo e fechando várias e várias vezes até que ele por fim respondeu, num tom que deixava pouco provável que estava confiante numa reação positiva da parte de Levy.

_ Alba? _ ecoou, os pinos que substituíam suas sobrancelhas quase alcançando a raiz dos cabelos. _ Daria um excelente nome para uma marca de sabonetes líquidos. _ riu, chacoalhando a cabeça. _ Mas tem um lado positivo de decidirmos que será Alba... _ fez silêncio por alguns segundos, não ousando espiar Levy pela visão periférica. _ Se for um garoto, poderemos chamar de Álbum. _ esperou pela enxurrada de palavrões ou até mesmo pelo bom e velho puxão de orelha, mas tudo o que recebeu foi um silêncio gritante. Lentamente, virou-se para a encarar, sobressaltando-se ao ver Levy o encarando de volta com os olhos marejados.

_ M-mas A-Alba é tão b-bonito... _ murmurou inconsolável, o peito subindo e descendo com os soluços que ameaçavam vir. Assustou-se de repente ao perceber que estava chorando a ponto de soluçar, tocando as lágrimas como se não acreditasse no que estava lhe acontecendo. _ Q-que d-droga!

_ Calma... _ disse Gajeel, mais para si do que para Levy. Já havia visto a azulada mudar de estado de espírito num segundo, de seu comportamento normal a um completamente agressivo, mas nunca ocorreu de Levy se debulhar em lágrimas! Era assombroso... Levy não era de chorar, ela odiava chorar em frente aos outros e era muito boa em guardar bem as lágrimas!

_ Eu n-não e-estou gostando d-disso. _ guinchou constrangida, virando o rosto para a janela aberta. Inspirou, puxando ar fresco para os pulmões que judiavam sua caixa toráxica.

Gajeel acalmou-se um pouco. Já podia ouvir, mesmo que superficialmente, os barulhos que provavelmente provinham da mansão dos Heartfilia. Parecia ser algo muito agitado, algo que tocaria com toda certeza em uma discoteca. Muito delicadamente _ ao menos para alguém como Gajeel _ , o Redfox fingiu uma tosse e olhou Levy, constatando que ela também já estava mais calma e apenas refletia em silêncio.

Ela se virou e o encarou de volta, a testa franzida sob a franja da peruca preta. Foi de relance que Levy viu seu próprio reflexo no espelho retangular, saltando sem sair do lugar ao se deparar com suas bochechas sujas de maquiagem e seus olhos completamente borrados, dando-lhe um ar mais macabro do que pretendia com sua fantasia de bruxa.

_ Caralho! _ soltou, e então inesperadamente sorriu de orelha a orelha. _ Ficou melhor assim, não ficou?

Gajeel afastou uma mão do volante para torcer seu bigode falso.

_ Uma mentira só é uma boa mentira quando até você acredita nela. _ recitou, gesticulando com a mão livre. Levy sorriu, para logo então rir e finalmente gargalhar alto, chacoalhando-se inteira no banco. Gajeel passou a roçar o polegar e o indicador de forma teatral, gesto que Levy observou atentamente, acalmando-se até estar apenas sorrindo minimamente, sem desviar o olhar em momento algum dos dedos.

_ Quanto tempo estamos atrasados? _ perguntou baixinho, como se não quisesse realmente saber a resposta. Gajeel sacudiu o pulso, checando seu relógio inexistente.

_ Muito.

O cantos dos lábios de Levy se erguerem um pouco mais.

_ Que custa nos atrasar um pouco mais, não é...

Gajeel voltou-se para Levy com a testa franzida de confusão, porém, bastou um olhar para o homem saber suas intenções. Até as mais profundas e ocultas.

 

[...]

 

_ Juvia!

A loira olhou por todo o perímetro, procurando algum sinal dos fios azuis da mulher em meio as várias cabeças. A última vez que a vira estava detonando um Red Label... o resultado de certo que não deveria ter sido positivo, e ela precisava estar sóbria para ouvi-la, oras!

_ Juvia! _ desceu os degraus de dois em dois, finalmente avistando algo do lado de fora, através das portas de vidro. Algo muito parecido com uma Juvia de calcinha e sutiã.

Lucy queria falar com Juvia sobre Gray. Não lembrava de tê-lo convidado, e, Lucy soube de fontes confiáveis que o homem estava perambulando nu, assim, como se fosse a coisa mais normal do mundo!

_ Juv... _ antes que pudesse terminar de chama-la, a mulher já havia se jogado na piscina, fazendo água salpicar para todos os lados e molhar os desavisados que conversavam sentados na borda. A loira manteve uma distancia aceitável, espichando-se para ver o que se passava dentro do lugar. E, com um arfar de descrença, constatou que havia um Gray ali, completamente nu, nadando com as nádegas à vista.

Ela tocou a própria testa, sentindo-se tonta por um momento.

_ Pensei que não vinha mais. _ Lucy ouviu atrás de si. _ Fico feliz em vê-la...

Virou-se e viu Levy parada em frente Droy, que estava magro como um calango, comparado ao porte físico que sempre tivera.

_ Igualmente. _ respondeu de forma muito educada, sorrindo fraco e olhando por cima do ombro de Droy. Ao ver Lucy um pouco mais afastada, encarando-a, correra até ela com um sorriso enorme, abraçando-a, desajeitada.

_ Isso é que eu chamo de levar algo a sério. _ Lucy elogiou Levy, mediando-a dos pés a cabeça.

_ Você também tá muito boa... _ comentou ao analisar rapidamente a fantasia de Cinderela que Lucy usava. Mas a verdade é que Lucy não estava "muito boa", e sim excelente; os cabelos loiros impecavelmente arrumados, o vestido, os sapatos, tudo fazia-lhe parecer que saíra do conto de fadas.

De relance, Lucy viu Gajeel sondando a área em volta da piscina, querendo provar a si mesmo que não estava vendo demais, e que, sim, Juvia estava mesmo nadando bêbada, com o namorado despido _ e de certo que bêbado também.

Num segundo de devaneio, Lucy se perguntou quantas pessoas estavam ali sem terem sido devidamente convidadas. Ela não se lembrava de ter convidado tanta gente assim, parecia ter o dobro, se não o triplo, do número que ela estipulou.

Levy, muito sutilmente, tratou de trazer o namorado para perto antes que o mesmo pulasse na piscina como o impulsivo que era. Ele relutou, e de repente o foco não era mais Gray ou Juvia, tampouco as bebidas ou a música alta. No fim, Jet brotou de algum lugar e ajudou a azulada a afastar Gajeel de perto da piscina, onde Juvia respondia aos seus xingamentos num tom arrastado e que deixava nítido sua embriaguez.

_ Gajeel! _ Levy o repreendeu já dentro de casa, onde os sóbrios olhavam curiosos a cena. _ Ela só está bêbada...

Gajeel parou de se debater e encarou Levy de um jeito que a fez rir internamente.

_ Ela tá nadando pelada!

_ Seminua... _ corrigiu.

_ Que seja! _ esfregou a testa, de repente constrangido com toda a atenção que atraiu. Voltou-se para Jet, que o encarava ainda alerta. _ Fantasia legal.

Jet coçou a nuca, sorrindo amarelo.

_ Valeu.

_ Eu tava sendo irônico.

_ Ah...

Levy olhou de um a outro como alguém assistindo uma partida de tênis. Chacoalhou a cabeça, semicerrando os olhos em Gajeel.

_ Vai beber alguma coisa. _ murmurou impaciente, praticamente o empurrando para a mesa abarrotada de drinques. Ele fingiu indignação, o que a fez rir, mesmo querendo se manter irritada por conta de seu comportamento infantil. _ Você deveria saber que não combina com roupa verde. _ riu com escárnio. _ Muito menos com calças apertadas. Junte suas pernas finas delineadas nisso e o seu cabelo, e você arrasaria como um sabugo de milho.

Jet bufou.

_ Aham. Falou A garota da moda.

Levy meneou a cabeça e suspirou.

_ O que houve com o Droy? Sabe, pra ele emagrecer desse jeito?

Os dois olharam na mesma direção, vendo o homem do lado de fora, observando a algazarra alheia.

_ Acho que tá numa fase diferente... _ ele respondeu baixinho. _ Tem passado muito tempo sozinho, refletindo, suponho. _ franziu a testa minimamente. _ Ainda não tenho certeza se é algo positivo.

A azulada suspirou outra vez e encarou Gajeel, que mexia com um dedo uma bebida rosa berrante que chamava atenção dentro de um cálice. Olhou em volta, depois Droy, que permanecia do mesmo modo alheio, e finalmente Jet, que estava distraído com as falarias de Laki Olietta, uma das poucas sóbrias, sentada no sofá num canto extremo da sala, ao lado do que parecia ser Kagura.

_ Okay, okay. _ sorriu forçadamente. _ "Super Levy" entra em ação.

Jet a encarou ao ouvi-la, arqueando uma sobrancelha enquanto prendia o riso.

_ Certo, nada de "Super Levy".

_ Sensato. _ assentiu.

Levy o empurrou de leve e se afastou, desviando de um Sting bêbado e falastrão, para logo depois trombar com Rogue _ ao menos lhe pareceu ser ele. Não teve tempo para ponderar sobre, o homem afastou-se rapidamente, parecendo ter pressa para algo.

Seguiu para fora da casa, acenando para Lucy, que falava com alguém atrás de umas mesas viradas. Se perguntou se era obra de Natsu e onde ele estaria naquele cenário.

Largado numa cadeira dobrável, Droy bebia quieto, pensativo. Ao notar Levy aproximando-se, levantou-se abruptamente e derrubou a bebida na grama aparada, molhando a barra do jeans. Como se não tivesse notado nada disso, Levy sentou na cadeira ao lado e suspirou, encarando-o até ele sentar novamente, meio desajeitado. Ficaram em silêncio por mais de um minuto, observando o movimento ao redor da piscina, até que Gray nadou até a borda e se ergueu sobre os braços, fazendo várias mulheres guincharem e correrem para longe.

Levy desviou o olhar rapidamente, remexendo-se no assento.

_ Certo. _ encarou Droy com o semblante sério. _ Seja o que for que estiver o deixando... _ mediu-o rapidamente. _ Assim, quero que saiba que se martirizar não vai resolver problema algum.

_ Me desculpe... _ ele soltou parecendo precisar falar aquilo, como se sua vida dependesse disso. _ Me desculpe por ter sido um...

_ Cala a boca, Droy. _ Levy rosnou. Droy engoliu em seco, mas assentiu. _ Certo... _ inspirou. _ Certo. Você é um idiota e fez muitas coisas idiotas, e eu não vou ser a pessoa que vai negar isso para fazer você sentir menos culpa. _ Droy se encolheu como se tivessem o acoitado. _ Mas eu também fui idiota, Droy... muitas vezes. _ agitou a cabeça, desviando o olhar para os seus próprios pés. _ Há muitas coisas que eu não gostaria de ter dito ou feito. Mas as coisas são assim... elas acontecem, ponto. Ficar se martirizando não vai te ajudar em nada. Não vai ajudar ninguém em nada. _ voltou a encara-lo, suspirando. Dessa vez, mais de apreensão do que de cansaço. _ Em algum momento, todo mundo vai ser idiota. Você entende isso?

Droy permaneceu em silêncio até perceber que Levy esperava uma resposta sua. Remexeu-se nervosamente.

_ Sinceramente, não. Quer dizer, eu sei que é normal fazer merda, mas eu fiz muita merda. _ riu sem humor. _ Eu falei muita merda pra você... _ encolheu-se um pouco. _ Por muito tempo aquela lembrança ficou me assombrando, sabe... a dor que eu vi em você, em seus olhos. A dor que eu causei.

Levy pensou um pouco. Relembrou daquele dia deveras agitado, sorrindo consigo mesma do quanto era ingênua e não fazia ideia do que iria viver nos próximos quatro anos que se seguiriam.

_ Droy, aquele dia foi um dos melhores dias da minha vida. _ confessou, cutucando sua pulseira sob a manga comprida da roupa. _ É verdade que me machucou muito naquele dia, mas Gajeel me fez lembrar dele como algo bom... _ sorriu timidamente. _ Como algo que não me partiria o coração lembrar. _ comprimiu os lábios _ Então eu não quero as suas desculpas. Eu nem mesmo estou chateada com você. Apenas supere isso, porque eu superei naquele mesmo dia, quando Gajeel estava comigo e me fez parar de me sentir mal.

Droy engoliu em seco novamente, correndo os olhos pela mesa em busca de uma possível bebida largada por ali.

_ Não sei o que está acontecendo. _ ele por fim admitiu, ainda fingindo procurar por algo para não ter que encarar Levy. _ Acho que só estou um pouco perdido... _ parou de repente, encarando um ponto inexistente da mesa. _ Eu observo os outros e vejo como eles estão mudando... crescendo, avançando. _ meneou a cabeça. _ Eu estou me arrastando enquanto eles caminham, e eu não estou chegando a lugar algum.

_ Tudo bem se sentir perdido...

_ É fácil pra você falar isso... _ a cortou-o, brusco. _  Você não conhece essa sensação. Não sabe como é acordar para a realidade e perceber que todas as suas certezas, tudo o que você havia planejado, era uma farsa. Nada era como achava. Nada. E a culpa não é de ninguém além de você, foi você que criou a farsa. É duro se dar conta disso. _ coçou a nuca, percebendo o tom de voz demasiadamente rude que estava usando. _ É duro, Lê...

Levy, ao contrário do que Droy achara, não levantou e chutou o balde de uma vez. Sorriu, como alguém sorriria pra uma criança boba demais.

_ Na verdade, eu conheço bem demais, Droy. Mais do que eu gostaria. Eu vi muita coisa mudar do dia pra noite... _ literalmente... _ Vi minhas convicções tornarem-se dúvidas, e as dúvidas se tornarem minhas convicções. Aos dezessete, eu tinha certeza de muita coisa... Mas ao longo dos anos, eu vi minhas certezas caírem uma após outra, até restar apenas uma. _ sorriu. Um sorriso doce que reservava apenas a uma pessoa. _ Eu amo o Gajeel, e isso é tudo o que eu sei. Embora muitas coisas tenham acontecido, coisas que você não faz noção da proporção, meu amor por ele foi a única certeza que tive... e tenho.

Ao erguer o olhar, flagrou Droy boquiaberto, parecendo assombrado. Ele, ao perceber que Levy estava o encarando, fechou a boca e endireitou-se, corando um pouco sob seu olhar gentil.

_ Minha nossa... _ por fim conseguiu falar algo, e por um momento, pareceu que isso seria tudo o que diria. _ Onde aprendeu a falar desse jeito?

_ Eu irei ser escritora, Droy. Que tipo de escritora eu seria se não soubesse elaborar um discurso melodramático e que induzisse os outros a sentirem empatia por meus dramas?

Droy cerrou os olhos, repassando mentalmente tudo o que Levy acabara de dizer, várias e várias vezes, até por fim falar o que era mais sensato, ao menos para ele.

_ Hein?!

A McGarden sorriu.

_ Siga em frente, porque eu estou seguindo com certeza. Não quero vê-lo parecendo um condenado. E eu não estou chateada com você. _ levantou-se, alisando a barra do vestido. _ Só... pare de se martirizar, okay? Tenho certeza que todas essas pessoas que você está observando estão passando por uns maus bocados. Não ache que é o único perdido, porque não é, e está longe de ser. _ sorriu uma última vez, virando-se para caminhar de volta para dentro da casa. Contudo, bateu contra o peito de alguém e não custou para descobrir que se tratava de Gajeel.

Ele segurou sua face com as duas mãos, analisando bem seu rosto. Ao ter certeza que Levy não estava chorando, deu uma boa olhada em Droy, que fingia limpar uma sujeira do jeans.

_ Não brigamos, se é isso que quer saber. _ revirou os olhos, passando um braço em sua cintura para caminhar junto dele. _ Só dei um choque de realidade nele.

_ Então ainda não enjoou de mim? _ perguntou ele.

_ Nããão... _ respondeu ela, fingindo estar pensativa. _ Ainda não.

_ Espero que demore muito pra esse dia chegar.

Levy ergueu a cabeça para olha-lo.

_ Por que você tá tão dramático? _ cerrou os olhos, começando a rir de leve. _ Você tá bêbado?

_ Bêbado? _ ecoou parecendo sentido. _ Não estou bêbado, okay?

_ Ah, você está sim. _ Levy insistiu arqueando as sobrancelhas e rindo mais ainda em ver Gajeel daquele jeito. Jamais achou que era daquele modo que o homem ficava quando embriagado. _ Vamos pra casa, você precisa deitar e... _ bocejou longamente. _ Eu também.

O homem começou a protestar sobre ele não estar bêbado e ela não o levar a sério, porém a presença de Karen o calou. Os dois já estavam dentro de casa, precisamente na sala, quando a esverdeada aproximou-se parecendo muito nervosa. Por alguma razão, Levy procurou com os olhos a dona da casa.

_ Levy... _ a azulada a olhou com os olhos levemente arregalados, incapaz de falar algo. _ Eu... me desculpe! _ dobrou-se um pouco, abaixando a cabeça num misto de vergonha e medo de ouvir poucas e boas da McGarden.

Levy arriou os ombros, se perguntando quantas pessoas diriam aquela mesma frase aquela noite.

_ Me desculpe... não espero por seu perdão, eu só precisava dizer isso. _ e realmente não esperou por nada. Correra para longe, lívida como um papel.

A azulada sorriu nervosamente para os ex-colegas que a encaravam atônitos, talvez se perguntando se Levy simplesmente não reagiria àquilo. Então ela deu-se conta de que Gajeel não estava ao seu lado, como a instantes atrás, e que ele bebia um drinque verde-limão, recostado numa parede.

_ Gajeel... _ suspirou.

_ O que foi? Lembrou que eu existo, McGarden? _ falou distraidamente, para logo depois virar o resto do conteúdo numa golada. _ Mc-Gar-den...

Levy o encarava com o semblante inexpressivo, as sobrancelhas juntas, os lábios comprimidos.

_ Não vai falar nada, Mc-Gar-den? _ trocou o corpo descartável vazio de uma mão a outra, ato que Levy acompanhou com o olhar, ainda com seu semblante obliquo. _ Ótimo, pode continuar, eu estou de boas com isso.

Até mesmo Rogue e Kagura, dando uns amassos no primeiro andar, ouviram a gargalhada estridente de Levy. A azulada rira tanto que seus olhos arderam e ela perdera a voz momentaneamente, continuando a rir sem emitir som algum. No fim, Natsu deu o ar da graça, com suas roupas rotineiras e com cara de quem dormira a tarde toda, e ajudou Levy a colocar Gajeel dentro do jipe, respondendo aos seus xingamentos enquanto praticamente o carregava sobre as costas.

Levy suspirou, passando o cinto de segurança enquanto preparava-se mentalmente para dirigir até Hargeon.

_ Que do caralho esse volante. _ Gajeel falou de repente, numa voz arrastada e quase impossível de entender.

A azulada controlou arduamente o riso.

_ Ótimo, continue me dando gelo, Mc-Gar-den. _ se remexeu, olhando-a de seu canto. Estava praticamente deitado no banco ao lado, com os pés sobre o painel. Franziu a testa, inclinando a cabeça para um lado com o olhar fixo no busto da mulher. Ela permaneceu em silêncio, prestando atenção na estrada, sobressaltando-se quando Gajeel cobriu um de seus seios com uma mão. _ Tá maior.

A mulher desceu o olhar para os seios, cerrando os olhos em descrença.

_ Acha mesmo? Pra mim tá normal...

Gajeel sorriu cínico, começando a mastigar um fiapo da camisa.

_ Conheço seu corpo como a palma da minha mão. _ e em seguida resmungou sobre Álbuns e sabonetes líquidos, recostando-se melhor no apoio do assento e para por fim cochilar.

Levy apenas sorriu, baixando o olhar para o ventre coberto pelas camadas de tecido.

 

- X -

 

Depois de muitas discussões acaloradas, bate-bocas e inúmeras audiências desmarcadas, finalmente decidiu-se o futuro de Sorano Aguria, quem simplesmente cedeu e assinou o divórcio ainda dentro da penitenciaria provisória, como se não desse a mínima para o assunto. Logo depois do feito, fora mandada de volta para Suécia, sua terra natal, para ser julgada por lá. Acredito que ela não vá para um presídio, Jellal tentara explicar a situação, Estão dizendo que ela não está apta à conviver com outras detentas. Em outras palavras, acham que ela vá tocar fogo em colchões, queimar os cabelos das outras e usar o gás de cozinha para outras coisas além de cozinhar.

Jellal não poderia estar mais certo.

No dia dois de Janeiro de 2024, Sorano Aguria fora declarada como "Réu inimputável". Contudo, por conta da gravidade de todos os fatos delatados nos testemunhos contra a mulher _ principalmente o de sua cúmplice, "Virgo", quem a conhecia desde sua adolescência _ , julgaram melhor isolar a mulher, a fim de evitar novas tragédias. Se ela fora capaz de matar os próprios pais, quem poderia garantir que não mataria a irmã, o ex-marido ou até sua cúmplice, e amante, Virgo?

Vai ficar tudo bem, ainda tenho o Mest, dizia para si mesma, Ainda tenho uma carta na manga. Sorriu enquanto entrava em uma viatura sob xingamentos de baixo escalão. Viu quando uma pedra acertou o vidro e ele trincou, mas não se assustou ou entrou em pânico em momento algum.

Estava completamente plena de sua convicção.

Ao parar em frente a enorme propriedade que se estendia atrás de um muro alto com cerca elétrica, e ver dois homens armados em frente o lugar, sentiu sua confiança vacilar.

A viatura recebeu permissão para entrar, e uma vez dentro, Sorano se perguntou como Mest ia conseguir encontrar um furo em uma segurança daquele calibre. Quando saiu de dentro da viatura, olhou para o alto, vendo um helicóptero sobrevoando a uma boa distancia, mas ainda assim, numa distancia que não impediria de que a localizassem facilmente. Talvez até atirassem na cabeça dela caso tentasse correr aquele momento, e se tentasse, o que diabos iria fazer? Tentar subir o muro? Cair carbonizada, depois de ser eletrocutada na cerca? Isso se conseguisse chegar ao muro. Os homens não desgrudavam dela, e todos estavam armados até os dentes.

À medida que adentrava o lugar, a realidade começava a pesar sobre os ombros de Sorano e, quando a largaram dentro de uma sala minúscula, com duas mulheres que a esperavam, tivera pela primeira vez o ímpeto de gritar. No entanto, ainda assim, estendeu o braço sem espernear e não fizera careta quando a agulha perfurou sua pele.

Ao ser entregue novamente para os homens, que esperavam do lado de fora, sentiu-se tonta e tudo a sua volta lhe pareceu fora do lugar. As duas enfermeiras, que vinham um pouco atrás com mais remédio para caso se fizesse necessário, agarraram, cada uma, um braço de Sorano, e foi antes de adentrar a porta dupla no final do extenso corredor que ela os viu. Seus pais, do mesmo jeito que estavam no dia que morreram, um em frente cada porta.

Sorano relutou, as enfermeiras a puxaram mais bruscamente, e então ela finalmente gritou, tentando correr para longe. A cada passo dado, ela se aproximava mais deles e seu pânico crescia. Eles não faziam nada... apenas sustentavam o olhar sério e mordaz, completamente intocados, como se aquele dia nunca tivesse acontecido. E então, quando dois homens abriram a porta e deram passagem para as enfermeiras arrastarem Sorano para dentro, eles gritaram, tão alto que a Aguria sentiu seus tímpanos furarem e o sangue ensopar suas vestes.

Mas os outros não viam o sangue, ou os Aguria. Apenas Sorano os via, como que fosse seu inferno particular.

Quando as portas se fecharam, Sorano virou-se e constatou que os dois ainda estavam lá, espiando do lado de fora pela janela de vidro. Agora, já não estavam intocados. Estavam do modo que ela os deixou.

_ Eu não sou louca, o meu lugar é num presidio! _ tentou dizer enquanto era deitada numa cama dobrável. _ Eu não sou louca! Vocês estão ouvido?!

Os homens observavam o trabalho das enfermeiras, prontos para receberem a ordem de retirada. Quando por fim as mulheres conseguiram imobiliza-la, deixando-a amarrada à várias faixas presas à cama, ele finalmente se retiraram sem olhar para atrás.

_ O doutor está a caminho. _ umas das mulheres dissera. _ É melhor ser uma boa garota. _ e então saiu juntamente com a colega, passando pela porta dupla e pelos Aguria.

Sorano debateu-se por longos minutos, grunhindo com os esforços vãos. Quando a porta tornou a abrir, parou e a encarou imediatamente, acompanhando com o olhar o homem de estatura média entrar. Ele não lhe deu atenção, parara diante de uma mesa no canto extremo da sala. Ficara por lá quase um minuto inteiro, até que virou-se lentamente, aproximando-se mais lentamente ainda.

Foi nesse momento que ela percebera a pequena garota no outro extremo da sala. Ela chorara aos soluços em primeiro momento, mas à medida que o homem se aproximara de Sorano, seu choro transformou-se num risinho baixo, para logo em seguida se tornar uma gargalhada que arrepiara até o último fio de cabelo da mulher, o vestido, outrora branco e limpo, tornando-se encardido e sujo, com uma enorme poça de sangue sobre seu coração, onde o canivete de prata jazia, tal como Sorano o deixara em Mavis.

E então, com os Aguria a espiando da janelinha e Mavis gargalhando como uma criança levada, o médico finalmente parou bem diante dela, baixando a máscara descartável e sorrindo largamente, de orelha a orelha, os olhos verdes cintilando como duas jades.

Sorano meneou a cabeça, a única coisa que podia mover de seu corpo, se recusando a acreditar. Como se lendo seus pensamentos atribulados, Lacarde ergueu uma mão que segurava um bisturi, baixando a fronte até estar cara a cara com aquela que ceifou a vida de sua irmã, a qual jurou vingança.

Inspirou, como alguém admirando um trabalho concluído a muito custo.

_ Garotas más não vão pro céu, Angel.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


"Chamando doutor ranchucrutes" KKKKKKKKKKK perdoem minhas demências e não desistam de mim <333 eu tinha planos de ter mais um hentai nesse capítulo, só que assim, eu tive que escolher entre um hentai e o desfecho da Sorano, ou o capítulo ia ficar fodidamente grande e eu realmente morro de medo de cansar vocês ;w; então ficará para o próximo -u- <33


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