História (In) decente - Change

Eu sempre fui muito próxima de meu irmão mais velho, quando crianças éramos inseparáveis, até os meus 10 anos fazíamos tudo juntos, dormíamos, acordavamos, brincávamos, tomávamos banho, o que pudesse se imaginar. Mamãe brincava que éramos praticamente a mesma pessoa, como gêmeos siamesas, e nem parecia que Christian era 3 anos mais velho. Nós éramos seres sem malícia alguma, tudo que fazíamos era com pura inocência e amor fraternal.
     Mas nossas vidas juntos acabou depois que nossa mãe e nosso pai se divorciaram.

     Comecei a viver com meu pai em outra cidade, e Christian ficou com mamãe. As casas ficavam em cidades muito distantes, (Christian ficou com mamãe pois estava ingressando no ensino médio e as escolas de lá eram melhores e mais perto, e papai mudou-se de cidade por conta de uma oferta de trabalho) e nas férias revezavamos quem ia para onde. Então nós dois nunca paramos de nos ver, eu acompanhei todas as suas mudanças, vi ele crescer e amadurecer e eu não fiquei para trás, sempre estava olhando-o, porém, fomos perdendo o contato e a intimidade aos poucos.
     No começo foi muito difícil para eu me acostumar a minha nova vida, a ficar longe de meu irmão e de minha mãe, mas com o tempo, novas escolas e novos amigos, eu fui me adaptando e me acostumando a chamar este novo lugar de lar.
     E quando minha vida estava estabilizada novamente, recebemos uma notícia que nos pegou completamente de surpresa: Minha mãe havia falecido..
Eu entrei em choque quando meu pai me contou, ele tentava me explicar o que tivera ocorrido, porém eu não prestava atenção em nada, apenas lembrava de seu rosto, da conversa da noite passada que haviamos tido por telefone, eu lembrava exatamente de cada palavra
"filha, estou tão feliz que logo você virá pra cá e nos veremos novamente, estou morrendo de saudades suas"
Minhas lágrimas começaram a correr quentes pelo meu rosto pálido. Então finalmente acordei do meu transe e prestei atenção em que meu pai estava falando:

- Foi um motorista bêbado, furou o sinal vermelho e a atropelou enquanto ela atravessava a rua. - ele chegou mais perto de mim e me abraçou tentando me confortar - isso vai passar meu amor, vai passar. Peguei no sono após passar horas chorando.

     No dia seguinte acordei com o rosto todo inchado, por um momento esqueço tudo que havia ouvido na noite anterior, porém os pensamentos me tomam a cabeça novamente. Tudo que vejo em minha volta perdeu a cor, a graça, a magia. Nesse momento lembro-me de meu irmão. Como pude esquece-lo??? Ele está na mesma situação que eu! Então pego meu celular e ligo para ele no mesmo instante.

- Alô?! - ouço a voz sonolenta a desnorteada.
- C-christian.... - eu não sei o que lhe falar.
- Gen? - dessa vez a voz sonolenta deu espaço a uma tom de surpresa.
- Como você está? - eu pergunto sem jeito, faz tanto tempo que eu não falo com ele.
- Olha, não precisa fazer isso, ta? Eu sei que você estava cagando para nós, então não precisa sentir pena de mim! - ele está claramente alterado, eu não entendo o motivo de sua agressividade, mas começo a chorar.
- Eu não deveria ter ligado, sinto muito - falo rapidamente
- Gen?? Desc.. - não o deixo terminar, tiro o telefone da orelha e o desligo. Não quero falar com mais ninguém por hoje.

     Não entendo porque Christin falou aquilo para mim, talvez ele ainda esteja em choque, ou simplesmente pense aquilo mesmo. Eu falava com mamãe todos os dias, e sempre perguntava dele, ele se tornou uma pessoa muito diferente, e a distância me fez esquecer como lidar com ele. Talvez ele pensasse que foi porque eu quis assim. Mas ele nunca veio atrás de mim também! Eu tento afastar por um segundo esses pensamentos de minha cabeça, não adianta se estressar por isso, não agora.