História In Front Of Me - Cinquenta e Sete

Harry odiava o silêncio da sua mãe. 

Ele preferia que ela gritasse, desse uma bronca, surtasse. 

Mas ela estava em silêncio. 

Ele já havia tomado seu banho e estava pronto para dormir. Tinha se cansado de dirigir por horas. 

Tudo que ela disse durante todo o tempo em que ele estava em casa fora:

  - Se estiver com fome, a comida está na geladeira. 

Harry odiava tanto isso. 

A mãe estava chateada, ele entendia. Saiu sem dizer nada, deixando apenas um bilhete. Não era algo muito perdoável, não para Anne que se preocupava muito com ele. Principalmente quando o carro estava envolvido. 

Ela não gostava de "Harry" e "Carro" na mesma frase. 

Mas, poxa, ela precisava mudar isso. 

Ele já tinha dezoito anos. 

Decidiu se calar também. Ele sabia que ela não ia ceder tão fácil. Então só foi para o quarto. 

Eles podiam esclarecer as coisas no outro dia. 

•••

Louis encontrou a mãe sentada no sofá com Lottie dormindo em seu colo. 

Ela não disse nada, mas a troca de olhares foi significativa. 

Jay não parecia brava, mas também não estava feliz. 

Ele suspirou rolando os olhos quando percebeu que ela saiu do sofá e o seguiu pela escada em silêncio. 

Ele entrou no quarto e deixou a mochila na cama. Virou para encarar sua mãe encostada no batente da porta com um olhar curioso. 

  - Olha, se você não falar alguma coisa... - Ele começou. 

  - Por que não me avisou? - Foi o que ela perguntou, interrompendo-o. Parecia calma, mas seu semblante era sério, até demais. 

  - Não achei que precisasse. - Louis deu de ombros. 

  - Não achou? - Ela levantou uma sobrancelha - Louis, eu fiquei preocupada quando não o encontrei em casa. 

  - Ficou, é? - Debochou o garoto. 

  - Louis, - Ela andou até ele, mantendo uma distância menor - eu sou sua mãe. Sabe, eu me preocupo com você e com a sua irmã. Principalmente com você. 

Louis engoliu em seco. 

  - Você não sai de casa e, inexplicavelmente, você esteve fora por dois dias. - Ela juntou as sobrancelhas - Não que eu não goste de vê-lo assim, mais livre desse quarto. - Sorriu - Anne me avisou, mas eu queria que você ao menos me ligasse. 

  - E por que você não me ligou? - Louis perguntou irritado. 

Ela podia ter feito isso se estava tão preocupada assim. 

  - Eu não liguei porque eu não sabia como você iria reagir. - Ela disse em um tom embargado - Porque sempre que eu ligo você não atende. É sempre assim. Quantas vezes eu tive de me virar com Lottie porque você não atendia minhas ligações, Louis?

Louis não soube responder. 

Porque ela estava certa. 

E um silêncio ruim pairou sobre o quarto. 

Jay não era uma péssima mãe. Deus, ela dava tanto carinho para os dois filhos. Mas com Louis não era mais fácil como antes. Ele não se abria para ela e a mesma não sabia o que fazer sobre isso. 

Só queria seu filho de volta. 

O menininho que ela criou com tanto amor. 

Mas era tão difícil. 

Louis era tão difícil. 

Não que ela havia desistido dele, mas assim que percebeu o quanto sua presença o deixava irritado depois de todo o surto que ele teve, ela decidiu se afastar, dar a ele o espaço que tanto queria. Mas não totalmente. Porque mesmo longe, ela estava ali com ele e sempre estaria. 

Jay suspirou cansada, desistindo de obter alguma palavra do filho. 

  - Eu vou... Vou preparar o jantar. - Disse saindo do quarto lentamente. 

Louis, pela primeira vez, teve vontade de ir atrás dela e pedir desculpas por tudo o que havia dito ou feito que a deixou magoada. 

Mas ele não foi. 

Porque ele tinha medo. 

Mas não sabia exatamente qual era seu medo. 

Ele queria ser como Harry. 

Queria não ser inseguro sobre dizer algo sentimental para a mãe. Porque ele podia não demonstrar, mas ele gostava dela. 

Só não gostava de dizer isso em voz alta. 

E se nem com a mãe era fácil mostrar seus sentimentos, não seria fácil com mais ninguém. 

•••

Harry não conseguia nomear o que ele tinha com Louis. 

O que eram, afinal? 

Amigos? 

Só amigos? 

Eles haviam feito sexo. 

Não podiam ser somente amigos. 

Mas Louis concordou em fingir que nada havia acontecido. Então, assim seria. Só que Harry não conseguia parar de pensar sobre isso. 

Não fora somente um beijo. 

Deus, eles haviam transado. 

Óbvio que as coisas ficariam estranhas daí em diante, mas ele não queria isso. Ele não queria ficar desconfortável perto de Louis e não queria que o garoto sentisse o mesmo. 

Não se arrependia de ter passado dos limites naquela noite, mas também não se sentia seguro sobre isso. 

Porque fazer sexo com Louis não foi bom. Porque "bom" era uma palavra muito simples para descrever. 

O sexo com Louis foi incrível. 

Incrível. Ótimo. Novo. Gostoso. 

Harry não sabia se era realmente gay. Isso o deixou pensativo. Talvez fosse como Liam havia dito quando Harry perguntou se ele era gay. 

Harry não se imaginava transando com outro cara, mas se enxergava transando com Louis muitas vezes mais. 

Porque ele com certeza faria de novo se Louis quizesse.