Taehyung P.O.V – Flashback
“— Cuidado aí! – S/N disse, aumentando o tom de voz, enquanto segurava a escada com mais força. Eu me firmei melhor nela e suspirei. – Francamente, por que diabos seus pais te pediram retocar a pintura da casa?
— Eu não faço a mínima ideia. – resmunguei. – Mas eles disseram que iriam aumentar minha mesada, então é isso aí.
S/N riu: — Isso é bem típico seu, Tae! Aposto que você está querendo comprar um jogo novo! – palpitou minha melhor amiga. Olhei de canto do olho pra ela, sorrindo. Ela geralmente acertava tudo sobre mim, mas daquela vez, não.
— Errado! Esse sábado vai estrear o novo filme de One Piece nos cinemas! Você sabe o quão maneiro isso é? Eu nunca vi um filme de One Piece lá antes. – citei meu anime favorito. – Então... Eu preciso de dinheiro pra comprar os ingressos de qualquer jeito!
— Os ingressos? – ela franziu as sobrancelhas. Voltei meus olhos para o trabalho que eu estava executando, passando o pincel com delicadeza e esmero. Afinal, eu realmente queria fazer algo bom, para ganhar meu dinheiro de forma merecida. Ou pelo menos eu estava tentando fazer um trabalho bom, já que não entendia bulhufas sobre pintura.
— É. Pra nós dois, oras. – falei, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E realmente era. S/N ficou em silêncio por um tempo e eu estava distraído demais para olhar pra ela.
— Desculpe. – ela murmurou. – Não vou poder ir ao cinema com você, Tae.
Finalmente olhei pra ela, chocado: — Por que não?
— Vou sair com uma pessoa.
— Uma pessoa? – repeti, incrédulo. – Quem?
O rosto dela corou e ela desviou o olhar, apertando os dedos com força na escada: — Eu gosto de um garoto e ele me chamou para, sabe, sair com ele... Dar uma volta e tudo o mais...
Foi minha vez de apertar os dedos no pincel, com força. Eu sequer precisava perguntar para saber de quem ela estava falando.
— Mas... – contestei, sentindo meu ciúmes me corroer lentamente por dentro. – Seus pais realmente vão te deixar sair com outro garoto sem ser eu?
— Eu já tenho 13 anos. É óbvio que eles deixam, isso nem é nada demais.
— Ah. Entendi. – sussurrei calmamente. Mas sinceramente, eu estava com muito ódio por dentro. Vontade de pegar aquele pincel e enfiar pela goela abaixo daquele garoto, com toda a força que eu tinha. Respirei fundo, tentando ignorar aquilo e estendi o pincel para S/N. – Pode molhar ele novamente na tinta, por favor?
— Ah... Claro.”
S/N P.O.V – Atual
Acordei de um sonho simplesmente apavorante. Levantei o tronco na cama com agressividade e esfreguei os olhos, tentando acordar completamente e me dar conta de que tinha sido apenas um sonho. E embora eu soubesse disso, meu coração ainda insistia em continuar loucamente acelerado. No meu sonho, todas as pessoas importantes pra mim estavam mortas. E tudo o que eu consegui fazer foi chorar desesperadamente sobre o leite derramado.
Então, naquela manhã, eu levantei da cama num pulo determinado e corri até o balcão da cozinha. Peguei todos os ingredientes necessários e comecei a preparar um almoço para as meninas. Eu quero aproveitar todos os momentos com minhas melhores amigas, e quero valoriza-las mais, também. E... Eu acabei preparando um lanche para o Taehyung, também. Corei, me perguntando se ele iria gostar.
— Huh, o que é isso? – mamãe apareceu repentinamente do meu lado, me fazendo dar um gritinho em surpresa. Ela riu, olhando para os lanches devidamente separados sobre o balcão. – Não acredito que você fez uma coisa tão clichê dessas, S/N! Eu fazia isso na minha época com seu pai!
— Mãe! – repreendi, fazendo bico. – Eu fiz com o coração, não fica me zoando!
Ela riu mais: — Sim, sim. – e em seguida deu alguns tapinhas motivadores e leves nas minhas costas. – Tenho certeza que o seu namoradinho vai gostar.
— Não é só pra ele, tá’ legal? – resmunguei. – Eu fiz para as meninas também. Espero que elas gostem... – suspirei pra mim mesma, já imaginando o fora que Naysla me daria caso ela não gostasse. Sua sinceridade machucava um pouquinho na minoria das vezes. E machucava um montão na maioria.
— É claro que vão gostar! Você aprendeu essas maravilhosas técnicas com a sua maravilhosa mãe. – mamãe sorriu, cruzando os braços e assentindo presunçosamente para si mesma, o que me fez rir.
— Mas é claro.
-
— Huh? O Taehyung não veio hoje? – questionei confusa, olhando para os lados. Meus olhos vagaram pelo local diversas vezes, na esperança de que Taehyung fosse aparecer no meu campo de visão. No entanto, Jimin suspirou e balançou a cabeça negativamente.
— Ele não estava se sentindo muito bem hoje, e por isso resolveu não vir. – Jungkook explicou, colocando os braços por trás da cabeça de forma desleixada. – O que é muito estranho, porque o Hyung sempre vem pra escola, não importando o quão doente esteja.
— Pois é, por isso estranhei tanto. – Jimin fez bico, descontente. – A gente conhece ele o suficiente pra saber que ele não faltaria se não fosse algo extremamente grave.
— Não deve ser nada demais... – Helen tentou acalmar a situação, afagando o ombro de Jimin.
“Bem, ainda há muitas coisas que vocês não sabem sobre ele”, constatei em pensamento, começando a me preocupar também. Se ele sequer tinha dado explicação sobre a morte de seus pais, imagine uma coisa dessas...
Ah, Taehyung, por que você tem que ser tão enigmático assim?
— Bom, não é hora para se preocupar com isso. Vamos comer! – Maria anunciou, animadamente, provocando risadas de todos nós. Claro, quando seu colega super gostoso some misticamente, obviamente você deve ignorar tudo na existência e comer um bom lanche no intervalo. Faz sentido. Maria é uma grande poeta e pensadora contemporânea.
Então eu animadamente aproveitei a deixa e mostrei aos outros os lanches que fiz, mantendo todo o cuidado em guardar tristemente o lanche de Taehyung. Quando a aula terminou, as meninas me propuseram para irmos dar uma passada numa sorveteria e jogar papo fora, mas eu as lembrei que tinha trabalho na casa do nosso colega desaparecido.
— Que? Você vai mesmo lá? Tá’ maluca? – Naysla me olhou com cara de total desprezo. – Cê’ nem sabe se o garoto tá’ bem ou vomitando pelas tripas. Você por acaso quer que ele vomite em cima de você?! – ela segurou meus ombros e começou a me chacoalhar.
— Calma, Naysla, misericórdia! Olha... Se ele estiver mal, isso significa que eu devo mesmo ir lá ver como ele está, não acha? Acima de tudo, eu sou a babá da irmã dele, e nesses momentos ela deve precisar de mim. – argumentei.
— Patético. Fala a verdade, você quer mesmo é ver o Taehyung, não quer? – encarou-me, ajeitando os óculos com a maior cara de “Eu sei o que você fez no verão passado”.
Dando um sorrisinho sem graça, respondi na cara de pau: — Isso também.
— Aproveita e dá uns pegas logo nele garota, ninguém aguenta mais. – Maria resmungou sobre sabe-se-lá-o-quê, fazendo Helen lhe dar uma cotovelada discreta.
— Todo mundo tem seu tempo, gente. Não é tão fácil assim. – ela engoliu o seco, e eu sabia do que ela estava se referindo. Boa por ficar do meu lado, Helen! – Claro que... Ela tá demorando até demais, né.
Péssima, Helen!
Nos viramos para Julia, que estava mexendo no celular, distante como sempre. Ela levantou os olhos em nossa direção e suspirou: — Ultimamente eu ando com um pressentimento estranho sobre o Taehyung, então sei não.
— Pressentimento estranho? – franzi as sobrancelhas. Ela então guardou o celular e deu de ombros.
— Nah, deixa pra lá.
O assunto morreu por ali e eu segui o caminho até a casa de Taehyung, me sentindo apreensiva com o que Julia tinha dito. O que exatamente aquilo deveria significar? Será que ele estava com uma namorada ou algo do tipo e eu não estava sabendo? Não, elas certamente me diriam algo... Então, o quê?
Quando bati na porta, fui rapidamente atendida. Pelo próprio Taehyung. Contudo, por algum motivo, tudo o que consegui fazer ao ver seu sorriso psicodélico foi estreitar os olhos, com o coração batendo. E ao contrário das outras vezes em que eu me encontrava em meus devaneios apaixonados, não era no bom sentido.
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