Narrador
Três horas passaram desde que Olívia chegara à casa de Justin. Ao contrário do que ela esperava, a companhia dele havia sido muito agradável. Era paciente e atencioso. Explicou a ela tudo calmamente e sanara boa parte de suas dúvidas.
Claro que havia tido que parar algumas vezes para bronqueá-lo por olhar para suas pernas, ou até mesmo, tocá-las. Ele era incrivelmente petulante e cara de pau, na opinião da garota. Era incrível a maneira como falava algumas coisas sem sequer importar-se de estar acompanhado. Entretanto, aquela era uma das melhores qualidades que via nele. Estava convicta de que a maneira como era incrivelmente sincero, era algo bom, tendo em vista que durante toda a vida teve que conviver com a falsidade alheia dentro da própria casa.
Olívia ria das bobagens que ele dizia. Vez ou outra revirava os olhos quando se tratava de mulheres e suas experiências sexuais com elas. Mas, apesar de tudo, estava se divertindo muito com aquela companhia. Poderia passar mais três horas ali, apenas “estudando” com Bieber. Aquele Bieber. Aquele que a cantava sim, mas que fazia aquilo com o mínimo de classe e não todo rude. Gostava do verdadeiro Bieber. Aquele que a fazia sorrir e a fazia ter frio na barriga quando a tocava involuntariamente.
— Acho que está na hora de ir pra casa — ela disse fechando o livro que tinha em sua frente. Estava sentindo-se tão confortável na presença do garoto, que ousou deitar de bruços na cama dele, ao seu lado.
— São apenas nove e meia. — Agitou o IPhone diante dos olhos da garota. — Fique mais um pouco.
— Eu podia até dizer não, mas acontece que não quero voltar pra aquele lugar. — Ela sorriu falsamente.
— O que foi, marrentinha? — Tocou-lhe o ombro, algo como um leve empurrão. — Anda! Diga! Somos ou não somos namorados?
— Não somos!
— Só nós dois, os caras e a Tess sabemos.
— Isso não torna nosso relacionamento real.
— Então nada de amassos e rapidinhas na sala do zelador? — fez-se de decepcionado.
— Você é nojento, sabia? — Ela franziu o nariz fazendo-o gargalhar. — Aliás, vai ter que aprender a controlar o Jerry, porque já que fingiremos no colégio, nada de garotas!
— Você só pode estar brincando! — Ele ergueu uma das sobrancelhas a encarando duvidoso. Riu sem humor ao vê-la negar. — Não vai me dar e também não posso comer ninguém?
— Exatamente! — Ela agitou a cabeça levemente. — Não posso ficar com fama de corna.
— Então trate de se afastar do Beadles.
— Somos amigos.
— Ele quer te comer, Liv! Como eu, Ryan e setenta por cento dos caras do colégio — disse como se aquilo fosse algo comum. — Os que não querem ou não curtem mulher, ou apenas fingem pra namorada. — A garota não pode segurar a vontade de rir que a dominara. — Você é carne nova. Um verdadeiro filé mignon.
Olívia sentiu-se constrangida ao ver o rapaz percorrer os olhos por seu corpo, enquanto a língua passeava despreocupadamente pelos lábios. Sabia que era atraente, mas ver os rapazes a comendo com os olhos sempre a assustava.
— Pare.
— Não estou mentindo. — Ele sentou-se na cama, encostando-se à cabeceira. — Era assim com Tess antes. Ela vivia rodeada por marmanjos, cheia de cartinhas de amor dentro do armário, vários convites pra encontros, mas sempre foi fiel a mim. É como você deve ser, pelo menos enquanto todos acharem que somos um casal.
— A Tereza come na sua mão, mas não pense que será assim comigo.
— Se a conhecesse saberia que ela é a única garota que me tem a seus pés, sem o mínimo esforço, e não o contrário, pois ela é a única que realmente vale a pena.
Justin levantou-se da cama caminhando rumo ao banheiro, permitindo a Liv refletir sobre suas palavras. Algo naqueles vocábulos, carregados de ressentimento, a fez pensar que talvez houvesse um motivo para Bieber portasse daquele jeito perante todas as garotas, mas ser completamente desarmado por um sorriso de Tereza. Que ele a amava era fato, contudo, havia algo além disso. O discurso do rapaz parecia sofrido. Soava como alguém magoado.
— Justin — ela chamou-o com um tom ameno. Não demorou muito até o rapaz aparecer na porta despido do quadril para cima. A garota distraiu-se por alguns segundos, permitindo que os olhos vagassem pelo tronco esculpido do rapaz. — Eu… Eu… Eu não me lembro o que ia dizer.
— Imagino o porquê. — Ele sorriu, caminhando em direção à cama, vestindo nada além de um moletom cinza escuro, que proporcionava a garota a visão do cós de sua cueca preta. — Você está me querendo — caçoou. — Pode dormir comigo hoje à noite.
— Eu não posso — Olívia sequer disfarçava. Os olhos estavam completamente vidrados naquela figura de cabelos loiros escuros e corpo coberto por algumas tatuagens desconexas.
— Dorme comigo? — indagou a olhando de maneira sugestiva, com seu típico sorriso maroto escapando pelo canto dos lábios. — Responda!
— Minha mãe vai me matar.
— Vai nada! — Ele ajoelhou-se ao lado da garota que naquele momento já não estava mais deitada de bruços, e sim sentada no meio da cama. — Anda, gatinha. — Justin deslizou a mão direita pela nuca dela, entrelaçando os dedos nos fios próximos ao local. — Dorme comigo.
— Você está muito convincente hoje. — Piscou algumas vezes caindo em si. — Mas não vai rolar, gatinho.
Ele riu afastando sua mão da moça.
— Você é durona. — Liv sorriu timidamente enquanto o rapaz deitava na cama novamente. — Apaga essa luz e deita aí!
— Mas a minha mãe…
— Acha que namoramos e namorados dormem juntos — disse como se fosse a coisa a mais simples do mundo, mas não para Liv. — Se quiser eu ligo pra ela e aviso.
— Por que quer eu durma aqui?
— Fazer companhia. — Ele colocou ambas as mãos debaixo da cabeça. Fitava o teto distraído, vagando por sua mente misteriosa, aos olhos da garota. — Eu gosto de dormir acompanhado.
— Sei...
Olivia franziu a testa o encarando duvidosa. Sorriu ao vê-lo desviar os olhos do gesso branco do forro, voltando a atenção toda para ela.
— Duvida de mim, Prescot?
—Você está muito estranho hoje — ignorou a pergunta deitando-se de lado, próxima a ele. — Todo amorzinho.
— Preciso de você — disse baixo como se fosse só para si. — Estou tentando ser simpático.
— Está sendo — sorriu. — Você é sempre muito distante. Sempre foi assim?
— Não sou distante. Só não acho que minha vida particular é da conta de alguém além de mim.
— Mas você é diferente com Tereza. Por quê? — sondou.
— Ela é especial — ele disse virando-se para o lado oposto a Olivia, dando-a as costas.
— Tem certeza que são só amigos? — a garota estreitou os olhos, como se o garoto pudesse vê-la, quando na verdade, não. Não demorou três segundos, para que Justin se levantasse da cama em um pulo. — Você mudou desde que Chaz a beijou.
— É complicado, Olívia — disse virando-se para ela, encarando-a com cara de poucos amigos. — Eu não gosto de falar sobre minha vida particular.
— Somos um casal, baby.
— Não somos.
Ele negou em um movimento leve das mãos, sendo-se na beirada da cama de costas para a garota. Como ela odiava aquilo, falar com alguém sem olhar nos olhos.
— Finja que somos. — Sorriu de canto em uma tentativa falha de incentivá-lo a falar. — Você precisa desabafar.
— Se o que eu te disser sair desse quarto…
— Não vai. — A garota ajoelhou-se na cama, tocando os ombros do rapaz, que espasmou levemente ao sentir o toque de suas mãos quentes. — Fale.
— Eu não gosto da ideia de dividir Tess. — Ele suspirou passando as mãos pelo rosto e pelos cabelos em seguida. — Eu não quero que ela se afaste de mim por outro cara.
— Justin. — Suspirou calmamente. — Tereza te ama. Ela jamais faria isso.
— Mas aconteceu uma vez. Quando Caitlin morava aqui. Eu não posso correr o risco de acontecer novamente.
— Não vai. — Ela sorriu de canto. Achava esse Justin tão meigo.
— O que me garante? — Ele levantou os olhos, virando a cabeça um pouco para o lado a fim de vê-la.
— Eu. — Alargou o sorriso. — Eu estou aqui agora, Justin. Sua vida nunca mais será a mesma.
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