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História In My Heart - Se a gente quiser o mundo se ajeita


Escrita por: brunacezario

Notas do Autor


E que comece o ano de altos e baixos de Vauseman! E de Jecky também porque vou te contar um caso viu, nossa senhora.

Ótima leitura!

Capítulo 25 - Se a gente quiser o mundo se ajeita


Sim meu amor

Quando a gente quer

O mundo se ajeita

- A Camisa e o Botão (Claudia Leitte)

- Uma vez eu estava nessa festa...

Piper discursava.

Com o começo do ano havia chegado também a premiação mais esperada dos jornalista do New York Times – depois do Pulitzer que só acontecia em abril. A hora de saber quem se destacou mais em suas matérias e artigos tinha chegado e Piper era a responsável de apresentar um dos ganhadores.

Paralelo a premiação, Nicky jogava pôquer no porão de um bar que ficava no centro de Nova York.

- Eu estava morrendo de fome, mas a única coisa que tinha para comer eram aqueles aperitivos que os ricos juram que enchem a barriga, mas não enchem porcaria nenhuma. – continuou, arrancando risos de todos.

Nicky bateu as cartas na mesa, irritada por ter perdido mais uma vez. O jogo já estava lhe custando 500 milhões de dólares. Por enquanto, ela ainda tinha o dinheiro para pagar, entretanto os olhares de Poussey e Bailey eram para que ela parasse agora, caso contrário, o jogo poderia acabar como da última vez que estiveram no porão daquele bar e, da mesma forma da vez passada, eles a deixariam por si só.

- Então eu virei para a Jess e disse: “Assim que sairmos daqui, nós vamos atrás de uma lanchonete para comermos um daqueles hambúrgueres cheios de bacon, pois aquilo sim é comida de verdade”.

Nicky bufou.

O que estava acontecendo que ela não conseguia ganhar uma única partida? Jogou tão bem nas noites anteriores, independentemente de ter saído no prejuízo. Pelo menos o jogo estava disputado. Dessa vez era como se ela estivesse atraindo todas as cartas ruins do baralho. Às vezes era tão absurdo o tipo de jogo que pegava que ficava até difícil disfarçar a sua cara de blefe.

- A mulher que estava do meu lado ficou tão indignada com o que eu disse que não conseguiu guardar os comentários dela somente para si mesma. – imitando a voz fresca da mulher. – “Tem gente que não nasceu mesmo para desfrutar de tudo de excelente que a culinária tem a nos oferecer”.

Poussey e Bailey tentaram sair do porão quando viram que Nicky ia perder mais uma vez, entretanto foram impedidos por um dos seguranças. Eles, assim como Nicky, já estavam marcados. Ninguém ia sair dali enquanto aquele jogo não acabasse e fosse devidamente pago.

- “Concordo”, eu respondi. “Caso contrário, todos nós estaríamos na lanchonete comendo um hambúrguer cheio de bacon, não nessa festa com esse monte de comida sem graça que se você pega um punhado para tentar saciar a sua fome as pessoas te olham como se você fosse um morto de fome”.

Algumas pessoas riram, enquanto outras batiam tímidas palmas. Amavam quando Piper apresentava uma categoria, pois ela sempre tinha uma história para cada situação e nunca deixava de levar o seu humor para todos elas.

Às vezes, muitos de seus amigos jornalistas se questionavam o motivo dela ter abandonado a coluna que a iniciou no jornal ou até mesmo não ter começado outra coluna de humor. Ela era muito boa nisso.

A verdade era que ela era boa em tudo que escrevia, então ficava até difícil competir.

- Por mais que eu leia dezenas de artigos sobre isso ou assista várias matérias sobre o assunto, eu nunca vou entender porque as pessoas se privam de comer comida de verdade.

Nicky jogou a chave de seu apartamento em cima da mesa. Essa seria sua última tentativa para recuperar tudo que perdeu, pois todos já haviam combinado que essa seria a última partida, caso contrário, terminaria pior do que a última vez e, como Nicky era uma das suas melhores apostadoras, eles não queriam correr esse risco.

- Não existe essa baboseira que algumas pessoas nascem com o paladar mais sofisticado. Algumas pessoas nascem frescas, é bem diferente.

Muitos concordaram com um acenar de cabeça enquanto riam. Alguns cochicharam, também concordando. Alex só sorria, olhando a namorada com uma enorme admiração. Sabia que ela era boa em discursos, mas essa era a primeira vez que estava vendo a jornalista discursar com seus próprios olhos.

- Ninguém escolhe comer vieira com molho de não sei o que depois de ter provado aquele frango frito que deixa a mão toda lambuzada. – para a surpresa de todos, Piper tirou de trás do púlpito um balde de frango frito. – Alguém quer?

O salão inteiro riu quando ela deu uma mordida no frango. Essa era uma das formas mais espontâneas de Piper fazer um discurso. Gloria amava isso nela, tanto que todo ano era de lei colocá-la para apresentar uma das categorias, pois sabia que a jornalista jamais decepcionaria.

Jess estava apreciando o discurso da melhor amiga também, mas uma hora ou outra ela não deixava de olhar para a entrada do salão, ainda na esperança de Nicky chegar.

- Ninguém escolhe comer aquelas partes do boi que ninguém conhece ou aquelas comidas com uns nomes tão feios quanto o prato em si depois de ter provado um verdadeiro x-bacon.

Nicky jogou todo o seu peso para trás da cadeira, absorta. Como aquilo tinha acabado de acontecer?

- Comer não é nenhuma obrigação. – fez uma pausa, pensando no que tinha acabado de dizer. – Bom... Isso depende, mas falando no geral, não é. Então, por que cozinhar deveria ser? Muitos hoje em dia cozinham por status, somente para agradar esse pessoal que não sabe como é bom comer uma pizza inteira de calabresa, mas ainda existem pessoas que cozinham por amor. E essa matéria aqui... – Piper ergueu a revista com a matéria de Jess. – É a prova disso. Portanto, o prêmio de melhor matéria vai para a minha melhor amiga, irmã e a Lane da Chapman, Jessica Lane.

Todos levantaram para a aplaudir Jess. A matéria da jornalista estava mesmo excelente, todos sentiram vontade de comer melhor após terem lido tudo que Lee disse sobre culinária.

Emocionada, a morena subiu no pequeno palco e antes mesmo que Piper pudesse lhe entregar o seu prêmio, ela abraçou a melhor amiga, agradecendo dezenas de vezes em seu ouvido por ter sido ela a entregar aquele prêmio. Deixava tudo tão mais especial. E essa era a intenção desde o começo quando Gloria pediu para que Piper apresentasse essa categoria, ela sabia como seria importante para Jess receber o prêmio das mãos da melhor amiga.

- Eu ainda acho que o camarão que eu encontrei no meu cabelo quando saímos daquela festa foi aquela mulher que colocou. – começou o seu discurso, arrancando risos de todos. Abriu um largo sorriso ao ver a forma orgulhosa que Carol estava a olhando. O brilho nos olhos azuis da mãe postiça sempre era o seu maior prêmio. – Eu juro que pensei que ia ser demitida antes de conseguir começar essa matéria. – mais risadas, pois todos pensaram que era mais uma das piadas de Jess. – Eu estou falando sério. Nos currículos que eu fiz para começar a distribuir assim que a Gloria me demitisse, no meu objetivo profissional estava “Não fracassar de novo”. – disse em tom descontraído, novamente arrancando risadas de seus colegas jornalista. – Se eu ganhei esse prêmio hoje – balançou a estatueta em sua mão – é por causa da Chapman da Lane. – olhou para a melhor amiga que havia voltado ao seu lugar na mesa ao lado de Alex. – Ela sempre acreditou em mim, ela me deu uma direção. Obrigada, P. Eu te amo.

Piper retribuiu o “eu te amo” sem emitir som.

Todos aplaudiram Jess. Sabiam que não iam conseguir arrancar um discurso mais longo da jornalista, caso contrário, ela cairia em lágrimas como já havia acontecido em anos anteriores.

Assim que Jess olhou para frente para ser fotografada, seu olhar encontrou com o de Nicky. A namorada estava parada na entrada do salão com um imenso sorriso orgulhoso no rosto. Ela sorriu também. Por um momento acreditou que havia encontrado uma namorada igual a sua mãe: que sempre a deixaria em segundo plano.

Se ela soubesse...

- Eu acho que o meu pai está mais feliz do que você. – comentou Alex após o fim da premiação. Estavam todas reunidas em uma rodinha em um canto do salão. – Agora que ele vai esfregar mesmo a revista autografada que você deu a ele na cara de todo mundo que ele encontrar na rua.

Jess riu imaginando a cena.

- Seu pai tem um excelente gosto para ídolos. – Nicky deu um beijo na bochecha da namorada, orgulhosa. – E eu tenho um excelente gosto para namorada.

- Eu não sei se posso dizer o mesmo. – disse Jess. – Por que você demorou para chegar? Alex disse que você saiu antes dela do hospital.

- Me perdoa amor, - coçou a nuca. - eu queria ter chegado aqui na hora, mas... – balançou a cabeça, visivelmente indignada com a situação. – Estourou uns canos no andar de cima, bem na parte que fica o banheiro do meu quarto, se eu tivesse demorado mais cinco minutos no banho o teto teria caído na minha cabeça.

- Meu Deus, Nicky! – Jess exclamou, horrorizada. – Está tudo bem?

- Comigo está, mas com meu apartamento eu não posso dizer o mesmo. Está uma zona só naquela porra. Eles falaram que em menos de um mês não conseguem arrumar todo o estrago. – soltou um longo suspiro, brava. – Vou ter que viver em um hotel até lá.

- De jeito nenhum! Você vai ficar no meu apartamento enquanto isso. – Piper pigarreou. Ainda não tinha se mudado de vez. – Nosso apartamento. – corrigiu, mesmo achando que não tinha necessidade nenhuma, pois nos últimos 15 dias Piper só havia dormido uns três dias no apartamento. – Pior coisa que existe é viver em hotel. Pode pegando suas coisas e indo lá para casa hoje mesmo.

- Você tem certeza?

Jess balançou a cabeça em positivo, beijando a namorada. Não fazia ideia do que ia fazer caso alguma coisa tivesse acontecido com Nicky. Só de imaginar o teto do banheiro caindo sua espinha congelava.

Se ela soubesse que não tinha acidente nenhum e que, na verdade, Nicky tinha perdido o seu apartamento que valia um milhão de dólares em um jogo de pôquer, provavelmente ela não se importaria caso a namorada dissesse que teria que dormir na rua somente por causa das várias mentiras que vinha ouvindo nos últimos dias.

***

- Você está pensando em se mudar de vez para cá? – questionou Alex ao entrar no apartamento com uma última caixa nas mãos. – Pensei que você só fosse ficar um mês aqui.

- Eu tenho certeza que tem muito mais coisas da Chapman em seu apartamento – tirou a caixa das mãos de Alex – e ela nem mora com você ainda. Bom... Pelo menos é o que ela diz.

- Eu ainda não me mudei.

Jess riu.

Às vezes parecia que a melhor amiga precisava constantemente inventar algum tipo de mentira para ela mesma somente para não entrar em crise. Pelo menos agora era mais engraçado do que estressante. Piper estava muito empenhada a fazer o namoro dar certo ao invés de sabotá-lo a cada passo que dava.

- Eu não sabia que sem querer eu acabei me maquiando de palhaça hoje de manhã. – disse Piper sem paciência por causa da risada da melhor amiga. – Nicky nem mudou para cá e já está destruindo a nossa amizade.

- Chapman, eu não preciso destruir a amizade de vocês, você faz isso muito bem sozinha.

- Olha... – respirou fundo. – Eu não vou dizer o que acabou de passar pela minha cabeça porque a Jess e a Alex te amam.

- Que o teto deveria ter caído na minha cabeça? – disse tranquilamente. – Sabia que pensamentos são mais poderosos do que palavras? – seu tom de voz era cínico. - Eu espero que você morra de remorso quando a Jess te ligar dizendo que eu morri porque um teto caiu na minha cabeça.

- O que deu em vocês duas hoje? – indagou Jess. – Tudo isso é ciúmes porque a Nicky está vindo passar alguns dias aqui? – cruzou os braços, com um sorrisinho divertido. – Não precisa disso Piper, ela não vai me roubar de você.

- Jessica, eu não tenho mais 16 anos para ficar com ciúmes das suas namoradinhas, tudo bem? – disse, aborrecida. – Só não quero que você me dê o troco.

- Eu nunca vou te dar o troco. – Jess respondeu com um sorriso complacente. – Isso aqui – bateu com o indicador em uma própria cabeça. – funciona mil vezes melhor do que a sua.

Piper sorriu, mais tranquila.

- Tudo bem... Eu acabei de me perder. – disse Nicky.

- Normalmente eu nunca entendo mesmo. – confessou Alex. A morena olhou a hora em seu celular. – Vamos? Senão vamos acabar nos atrasando.

- Vamos para onde? – Piper perguntou, confusa.

- Como assim vamos para onde? – perguntou incrédula. – Você tem uma consulta daqui 40 minutos. – cruzou os braços, seu olhar era de repreensão. – Quer dizer que se eu não estivesse aqui você ia esquecer da sua consulta?

- Claro que não! – riu, amava ver Alex brava. – Será que vai chegar o dia que vocês vão levar a sério o fato de eu estar levando a minha doença a sério? – mostrou seu celular para Alex. Bem visível na tela tinha o lembrete de sua consulta. – Viu? Eu não esqueci. Eu só gosto de te irritar mesmo. – deu um beijo na bochecha de Alex. – Vamos? Quero saber se a minha médica é mais bem humorada do que você.

- Acredite em mim... – passou sua mão pela cintura da Piper, direcionando-a para fora do apartamento. – Ela não é.

- Agora que elas já foram... – Nicky fechou a porta do apartamento. – Será que podemos estrear minha mudança temporária com sexo?

- Só se for no quarto da Piper. – disse com um sorriso malicioso.

- Se não for para estrear minha mudança temporária fazendo sexo no quarto da Piper, melhor nem estrear então.

***

Alex entrou no consultório com a atenção voltada a ficha de Piper que estava em suas mãos. Ela fechou a porta atrás de si, ainda olhando para a ficha, mas não disse uma única palavra.

Piper que estava sentada em cima da maca, começou a se incomodar com todo o silêncio. Imaginava que não teria boas notícias referente a sua doença, mas não imaginou que teria que lidar com a expressão de péssimas notícias de Alex novamente.

- Eu já disse que odeio a sua cara de más notícias? – Piper perguntou, tentando quebrar aquele silêncio horrível.

Ela estava inquieta e, por mais que tentasse não transparecer sua inquietude, não tinha certeza se estava tendo sucesso.

- Eu também não sou muito fã da minha cara de más notícias – caminhou até o monitor que ficava na parede ao lado da maca. - porque normalmente ela é acompanhada de más notícias. – ligou o monitor, mostrando o ecocardiograma do coração de Piper que fizeram no começo da consulta.

- Os remédios não estão ajudando, não é?

- Ainda não. Está vendo o ventrículo esquerdo aqui? – apontou no monitor. Piper assentiu. – Ele está mais dilatado do que da última vez. – trocou a imagem, mostrando um antes e depois do coração de Piper. Estava nítida a diferença entre o coração quando descobriram a doença para o coração dessa nova consulta. – Eu vou aumentar a dosagem dos seus remédios e passar mais dois para ver se até a próxima consulta não ocorre mais nenhuma mudança.

- Por que você não me coloca logo no seu estudo? – perguntou, séria. - Eu sou uma ótima candidata. Nem perto de entrar na lista de transplantes eu estou ainda.

- O estudo para as pessoas com cardiomiopatia ainda é inconclusivo. – disse com seriedade. - Eu não vou arriscar.

- Por que? O que pode acontecer de pior? Eu morrer? Isso vai acontecer de qualquer jeito.

- Jura? – desligou o monitor, irritada. – Você virou cardiologista agora?

- Alex, eu fiz uma matéria com você, esqueceu? – seu tom de voz era sereno, sabia que tinha irritado a namorada, mesmo sem querer, com o seu comentário, mas ela precisava mostrar o seu ponto de vista. - Eu sei quantas pessoas você curou com remédio.

- Cada caso é um caso. – respondeu, rude. – E seria mais fácil eu te curar com remédio se você não ficasse omitindo todos os seus sintomas! – esbravejou, jogando a ficha de Piper em cima da mesa.

Alex jogou os cabelos para trás, amaldiçoando-se mentalmente por ter estourado daquela forma, mas Piper precisava entender que era frustrante os resultados que ela estava vendo em sua frente e era mais frustrante ainda a namorada fazendo piada como se não tivesse mesmo as chances dela morrer caso o tratamento não funcionasse e ela não conseguisse um coração a tempo.

Piper entreabriu a boca algumas vezes, pensando em como responder aquilo, mas estava muito incrédula para formar uma frase decente. Soltou um riso, extravasando sua incredulidade, conseguindo colocar seus pensamentos em ordem.

- Você nem pense em me acusar de estar sendo negligente com a minha doença! – exclamou, possessa. Seus olhos azuis emanavam fogo, ela estava horrorizada com a insinuação de Alex. – Se você fosse só a minha médica nós não estaríamos aqui tendo essa discussão. – desceu da maca. – Com quantos pacientes você ficou irritada por não terem te ligado quando sentiu um sintoma diferente? Por ter esperado o dia da consulta para contar como estava se sentindo? Nós temos um acordo, Alex. – caminhou até a porta do consultório. – Mas se você não sabe ser a minha namorada e a minha médica, então eu acho melhor aceitar o conselho da Sophia de ser atendida por outra cirurgiã cardiotorácica. – abriu a porta. – Por que eu não sou obrigada a ficar aguentando isso!

Piper saiu, batendo a porta atrás de si.

Alex ficou olhando para a porta branca fechada sem esboçar reação nenhuma. Ela havia mesmo passado dos limites. Só restava saber se aquilo custaria seu namoro, sua paciente ou as duas.

***

- Você já desejou brigar como duas pessoas normais com a Nicky? – Piper perguntou, sentando-se em sua mesa que ficava de frente para a mesa de Jess. – Brigar como um casal normal?

- Eu e a Nicky brigamos como um casal normal. – respondeu Jess, incerta sobre o motivo daquele assunto. – Por que vocês duas brigaram dessa vez?

- A Alex não sabe ser minha namorada e minha médica. – jogou todo o seu peso no encosto da poltrona. – Quem você escolheria? – pegou duas canetas no porta-canetas que tinha em cima da sua mesa. – A namorada que te faz feliz e te ajudaria a passar por toda essa doença maldita? – mostrou a caneta de cor vermelha. – Ou a médica que pode encontrar a cura para essa doença maldita? – mostrou a caneta azul.

- Você não está mesmo me perguntando isso. – disse Jess, chocando-se com o fato de ainda conseguir ficar chocada com certas perguntas da melhor amiga. – Piper, não começa. – arrancou as duas canetas das mãos da melhor amiga. - Você está indo tão bem.

- Você fala de um jeito como se eu fosse uma viciada em recuperação. – disse, ofendida. – Eu estou falando sério Jess. – soltou um longo suspiro. – Eu tenho medo desse namoro morrer antes de mim.

- Se você fez algum comentário desse tipo na consulta, eu não me surpreendo vocês terem brigado. – Jess abriu um sorrisinho. Ela amava ver a expressão de contrariada da melhor amiga sempre que ela tomava partido da Alex, mesmo que muitas vezes nem fosse sério. – Você vai me contar como foi a consulta ou eu posso voltar a trabalhar?

Piper contou o que Jess já imaginava. Foi Jessica que ajudou a melhor amiga na primeira vertigem. Nesse dia a loira contou sobre os sintomas e a suspeita sobre os remédios não estarem dando resultado. Mesmo assim não deixou de ser doloroso ouvir a confirmação. Afinal, de acordo com muitos artigos, esse só era o começo do caminho para o topo da lista de transplante.

Sem se importar com o maldito acordo, Jess abraçou a melhor amiga. Todo mundo sabia o quanto Jess era uma pessoa positiva, entretanto ela não vivia em um mundo paralelo onde coisas ruins não aconteciam, portanto levando em consideração o pior somente por alguns segundos, ela jurou para si mesma que abraçaria a melhor amiga mais vezes do que costumava abraçar. Precisava aproveitar enquanto tinha todas essas chances.

***

- Amor, - Jessica percorreu todo o caminho da mesa que, teoricamente, era para ser o escritório dela e de Piper no apartamento, mas o móvel só servia para acumular pó, papel e sustentar a impressora, com um papel na mão. – você vai vender o seu apartamento? – estendeu o papel para Nicky. – Desculpa, eu não estava mexendo nas suas coisas, mas é que estava lá na impressora...

- Jess, - riu do nervosismo da namorada. – não tem problema. – pegou o papel na mão dela. – Na verdade, - coçou a nuca – eu já vendi. Esse é somente o papel de transferência. Não tem sentido eu gastar um absurdo de condomínio em um apartamento que vale um milhão de dólares para o teto quase cair na minha cabeça. – colocou o papel em cima da mesa de centro. – Amanhã vou começar a procurar um novo apartamento.

- Ou... – Jess sentou no colo da namorada, entrelaçando seus braços no pescoço dela. – Você pode morar aqui. Eu sei que não é nenhum apartamento de dois andares, mas eu acho que minha companhia é melhor, não é? – deu um beijo em Nicky.

- Sua companhia é melhor até se morássemos debaixo da ponte. – sentou a namorada no sofá. Precisava falar algo sério, mesmo depois das diversas mentiras. – Mas eu não sei se é uma boa ideia, Jess. – cruzou as pernas em cima do sofá, sua expressão era receosa. – Eu tenho medo de morarmos juntas, você descobrir quem eu sou de verdade e nós terminarmos.

- Nicky... – ergueu o queixo da namorada, com um sorrisinho divertido. A médica era tão confiante referente a tudo que nas vezes que ela se mostrava vulnerável e até mesmo sentimental era de encher o coração de Jess com mais amor. – A não ser que você seja uma serial killer, eu acho muito difícil descobrir algo sobre você que faça com que eu deixe de te amar. – abriu um sorriso, dessa vez terno. – Eu amo tudo sobre você.

Nicky esboçou um sorriso e a beijou.

A maior parte do tempo sentia-se realmente mal por todas as mentiras que contava para Jess por causa do seu vício em jogos. Ela acreditava que se contasse para a namorada agora, as duas acabariam terminando porque Jess não merecia ser enganada daquela forma. Seria totalmente compreensível, afinal, quantas vezes ela não teve a oportunidade de contar a verdade? Entretanto, ela tinha voltado ao seu nível de vício que estava quase impossível ir buscar ajuda e, como seu namoro com Jess ainda não estava ameaçado, ela não via necessidade de ir buscar ajuda novamente.

Em sua cabeça, tudo estava sob o controle, assim como ela achou que estava na viagem para Vegas, da mesma forma que ela achou também que estava quando apostou o seu apartamento na noite anterior e perdeu. Portanto, sempre que Nicky se sentia mal por causa das diversas mentiras que vinha contando, ela colocava em sua cabeça que estava fazendo para o bem do seu namoro, assim ela conseguia agir normalmente, como se sua vida não pudesse se transformar em um caos a qualquer momento.

- Nós podemos fazer assim, então. – Nicky apoiou as mãos nas pernas da namorada, falando olhando em seus olhos. - Se nós sobrevivermos aos 30 dias que eu já ia ficar aqui mesmo, nós moramos juntas, senão só quando casarmos, tudo bem?

- O que te faz pensar que casadas nós vamos aguentar a viver debaixo do mesmo teto?

- Eu não sei. – ergueu os ombros. - Alguém precisa acreditar no milagre do casamento, certo? – finalizou, divertida.

Jessi riu, beijando Nicky.

- Ah a Piper vai me matar tanto. – soltou um suspiro, lembrando da conversa de mais cedo. – Eu acho que dei o troco sem querer. – riu.

- Toda aquela conversa ainda era sobre a Piper ir morar com a Alex sem te avisar antes? – Jess fez um positivo com a cabeça. – A amizade de vocês duas precisa ser estudada. Isso, de alguma forma, deve ser doentio já. – Jess deu um tapa no braço de Nicky, repreendendo-a pelo comentário. A loira riu. – Imagina quando ela descobrir que fizemos sexo no quarto dela.

- Duas vezes. – disse Jess, levantando-se do sofá.

- Nós não fizemos sexo duas vezes no quarto...

Nicky parou de falar ao ver que a namorada já estava parada no corredor que dava até os quartos. Ela abriu um sorriso, malicioso. Ela ia ter feito sexo duas vezes no quarto da Piper dentro de alguns minutos.

***

Alex mal conseguiu acreditar que aquele dia havia chegado ao fim assim que entrou no apartamento. Ela estava exausta emocionalmente devido a discussão com Piper e ter duas cirurgias de risco, quase perdendo os pacientes, não ajudou nenhum pouco para que o seu dia fosse um pouco melhor.

Por causa do dia estressante foi difícil até enviar uma mensagem pedindo para que Piper fosse dormir em casa. Por causa da briga, ela tinha quase certeza que a namorada estava preferindo dormir na rua do que no mesmo ambiente que ela. Queria que fosse diferente, mas não era como se Piper fosse começar a lidar com os problemas das duas de uma forma diferente do dia para a noite.

- Tem suflê de legumes dentro do forno.

Alex parou de desenrolar o cachecol que estava em seu pescoço e virou-se para ter a visão da sala. Precisava ter certeza de que não estava ouvindo coisas. Quis esboçar um sorriso ao ver Piper sentada no sofá com o notebook no colo, provavelmente terminando algum trabalho, mas se sentiu mal por duvidar da maturidade da namorada e também por causa da forma que falou com ela mais cedo.

- Você fez um suflê de legumes? – perguntou, voltando a desenrolar o cachecol de seu pescoço.

- Bom... – começou, sem tirar a atenção de seu notebook. – Não é bem um suflê de legumes. Está mais para uma torta. No dia que eu não estiver morrendo de fome eu arrisco fazer um suflê de verdade.

- Me desculpa. – as duas falaram juntas. Elas abriram um pequeno sorriso, afetado por causa da sintonia. – Deixa eu ir primeiro, por favor. – pediu Alex.

Piper fechou o notebook, colocando-o em cima da mesa de centro. Ela se afastou mais para o lado no sofá, dando a entender que era para a namorada sentar ao seu lado, entretanto Alex preferiu permanecer em pé.

- Você está certa. – soltou todo o ar que guardava em seu pulmão. - Até hoje somente dois pacientes meu se curaram com remédio porque eu descobri a doença no começo. – olhou para o chão, tentando não manter contato visual com Piper. Estava envergonhada pelo modo que agiu mais cedo. – Me desculpa por ter estourado com você daquela forma, Pipes. – teve que olhar para a namorada. Seus olhos verdes estavam carregados de arrependimento. – Mas eu ouço tanto as pessoas dizendo que vão morrer de qualquer jeito que as vezes eu me questiono se eu sou tão boa assim como dizem. Afinal, se você está sendo tratado por uma ótima médica por que vai ficar dizendo que vai morrer, certo? Eu sei. – interrompeu os pensamentos de Piper e tirou os óculos. Ela fechou os olhos, espremendo-o com os dedos, tentando alinhas os seus pensamentos, mas estava tão exausta para isso. – Eu sei que muitas vezes não é sério, mas... – ergueu os ombros. – Você está certa. Eu não consigo ser sua médica e sua namorada, eu não consigo ser imparcial quando o assunto é você e o meu estudo, então se você quiser mesmo mudar de médica, amanhã a primeira coisa que eu vou fazer quando chegar no hospital é conversar com a Flaca.

- Al... – seu tom de voz era doce, os olhos azuis eram complacentes. Sabia o quanto a namorada deveria estar chateada por causa de toda a discussão, mas não imaginava que era naquela proporção. – Por favor. – chamou a namorada com a mão, pedindo para que ela sentasse ao seu lado, então assim Alex o fez. – Você é a melhor médica que eu conheço. – cruzou as pernas em cima do sofá, ficando de frente para Alex. – E você está certa. O estudo ainda é inconclusivo para quem tem cardiomiopatia dilatada, não tem sentido você colocar mais pessoas nele enquanto não der resultado. Diferente de quem teve infarto, os resultados estão sendo incríveis.

- Você... – ergueu uma sobrancelha, confusa. - Você ainda está acompanhando o meu estudo?

- Claro que eu estou. – respondeu com um pequeno sorriso. – Seu trabalho continua me interessando mesmo depois de termos terminado a matéria porque você é uma excelente médica, Alex Vause. E, me desculpa se minhas piadas sobre morte fazem você duvidar disso, mas para quem escrevia uma coluna de comédia e tem um humor negro como o meu, não faz sentido nenhum ter uma doença dessas e não fazer piada sobre morte. Mas são só piadas, eu acredito em você, eu acredito em seu estudo, eu acredito que você vai continuar fazendo de tudo para que eu permaneça viva. E, não... – interrompeu os pensamentos de Alex. – Eu não estou colocando muita fé em você porque eu passei cinco meses vendo tudo que você é capaz de fazer com isso aqui – levou a mão até a cabeça de Alex, lentamente desceu a mão até o rosto da namorada, deixando um carinho por ali, arrancando um sorriso afetado da morena. – e com isso aqui. – pegou as duas mãos de Alex e as beijou. – A Flaca é excelente, mas eu não quero outra médica.

- Isso significa que você quer outra namorada? – queria que a pergunta tivesse soado mais como brincadeira do que preocupação, mas quando viu já tinha saído. – Porque, de verdade, eu não sei se vou conseguir separar a médica da namorada.

- Eu consigo conviver com isso, contanto que você continue respeitando o nosso acordo e não fique sendo grossa comigo sem necessidade nas consultas. Eu prometo que vou maneirar nas piadas para tornar isso mais fácil, tudo bem?

Alex assentiu, com um pequeno sorriso e abraçou a namorada, aliviada pela conversa ter saído mil vezes melhor do que ela imaginou. Precisava começar a levar a sério também que Piper estava realmente comprometida naquele namoro e que ela não fugiria por qualquer bobagem.

- Nós estamos nessa juntas. – disse Piper. – Mas, caso você ache que não consegue ser imparcial, eu não vou ligar de ter você e a Flaca como as minhas médicas. – abriu um sorrisinho sugestivo.

Alex riu.

Essa era a primeira vez que seu desgaste emocional não estava tomando tudo de si e a vontade que tinha de deitar na cama e acordar somente três dias depois não existia mais. Talvez Piper fosse tudo que ela precisasse para recuperar um pouco de suas energias.

- Seu sonho de princesa, né?

Piper ergueu os ombros, soltando uma sonora gargalhada.

Alex sorriu, apaixonada por aquele som e avançou nos lábios da namorada, fazendo com que ela risse mais ainda entre os beijos.

Sabe aquele ditado: “Se a gente quiser o mundo se ajeita”? Elas dariam um jeito de ajeitar o mundo, contanto que tivessem uma a outra.


Notas Finais


Adivinha quem vai comemorar seu primeiro dia dos namorados no próximo capítulo?

Até lá <3


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