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História In your colours - Recontando


Escrita por: monnec

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 5 - Recontando


Fanfic / Fanfiction In your colours - Recontando

Min Yoongi

   Eu ouvia com atenção cada palavra que o mais novo contratado dos Min falava. Ao início podia sentir a apreensão que partia do mesmo, só que com o passar dos minutos, sua voz se tornou mais confiante e notavelmente o garoto foi ficando mais à vontade, apesar de a dor nunca deixar seus lábios enquanto ele relatava o trágico fim do seu último relacionamento. Infelizmente Hoseok tivera um monstro ao seu lado durante alguns meses. Ele afirmava que nada era daquela maneira no início e que por diversas vezes se pegou sorrindo sozinho enquanto pensava na pessoa que gostava, pintando cenários românticos e divertidos na sua imaginação, onde em todos eles aparecia o casal de mãos dadas, sorrindo e se amando. Eu o amava, ele disse com a voz perdida em lembranças. Jurava que um pequeno sorriso brincava em seus lábios, até o momento que Jung ficou sério, tencionando-se sobre o meu colchão à medida que a história se desenrolava.

   Foi então que a última coisa que eu pensava foi dita por ele, o rapaz confessou que, quando seu namoro estava minimamente estabilizado, a pessoa por quem tinha tanto carinho transformou em um pesadelo. A relação saudável foi convertida em uma relação abusiva, e eu juro que não pude controlar minha reação ao formar um punho com a mão esquerda no segundo que ele segredou que apanhou algumas vezes. Quem se atreveria a bater num garoto como ele?! Contudo, para minha felicidade, um anjo em forma de amigo assistiu uma das torturas e então Hoseok teve forças o suficiente para vencer as ameaças e sair daquela prisão chamada namoro.

    – Mas um dia, – ele continuou. – Eu resolvi sair para tomar um ar numa pracinha que tinha a dois quarteirões de minha casa. Eu precisava pensar, sabe? Minha avó estava morrendo, minha mãe estava entrando em depressão, minha irmã tinha mudado para a capital para prosseguir os estudos, meu pai nem mesmo queria saber de nós. Minha vida estava uma merda e ainda tinha que fugir daquele ser humano que odiava. Só que... – sua respiração ficou pesada e eu o senti mover-se na cama, sem se levantar. – Foi culpa minha, hyung. Meus amigos me avisaram para não andar por aí sozinho, mas... Eu não podia fugir pra sempre, então... – o menino fungou o nariz, denunciando as lágrimas silenciosas que poderiam ameaçar escorrer por sua face. Ele estava sentindo dor, seu coração estava apertado e o meu se apertou ao saber disso.

   – Acredito que nada tenha sido culpa sua. – murmurei, tentando falar alguma coisa prestável. – Não precisa continuar, se quiser.

   – Foi sim culpa minha. Se eu não tivesse saído por causa de um garoto... – garoto. Significava então que ele era mesmo...? – Se eu não tivesse bancado o super-homem, não teria começado aquela briga, muito menos teria colocado a vida de Kookie em perigo.

   – Kookie?

   – Sim, o amigo que me salvou no meio disso tudo. – explicou. – Ele estava passando por ali e me viu quase desmaiado nas mãos daquele canalha então não pensou duas vezes em me ajudar. Porém o imbecil do meu ex estava acompanhado e... Eles machucaram tanto aquele dongsaeng que teve de ir para o hospital! Não sabe a culpa que carrego por isso.

   – Não seja ridículo, Hoseok! Não é culpa sua. Como poderá ter culpa de algo que só monstros são capazes de fazer?

   – Tenho sim. Se eu não tivesse achado que poderia ser capaz de enfrentar meus problemas... – balbuciou.

   – Você teme que tudo volte a acontecer. – conclui, ignorando a pequena fisgada que isso causou em mim.

   – Eu... Acho que é isso. Não suportaria que mais amigos meus se machucassem por minha causa.

   Nesse momento me virei para o lado onde o garoto estava sentado. Eu não o podia ver, mas precisava que ele me encarasse. – Eu também não suportaria que você se machucasse, Seok. Digo... N-Ninguém quer que os outros se machuquem, né? – estava tudo indo tão bem, até eu ter atrapalhado nas palavras. Min idiota.

   – Eu tenho medo, hyung.

   Respirei fundo, compreendendo toda sua situação. – Entendo, mas agora você tem mais alguém que poderá te proteger.

   – Yoongi, eu...

   – Hoseok, acredita em mim. Eu não quero ter que passar por mais nenhum cuidador, então irei te conservar até o momento que diga que quer suas contas. – brinquei, tentando animar um pouco o estado tristonho daquele cuja gargalhada eu adorava – Eu sei que sua vida pessoal não me diz respeito, mas exijo que sua condição mental esteja pelo menos melhor que a minha. Para depressivos já basta eu nessa casa.

   – Eu não estou depressivo! Eu só... – se defendeu, contudo foi interrompido pelo bocejar que confessava o próprio cansaço.

   – Está com sono. – completei. – Descanse, eu também irei.

   Jung se levantou da minha cama, consertando os travesseiros e cobrindo meu corpo. Rapidamente se dirigiu para a cômoda, abrindo-a para pegar algo que eu pensei que fosse o pijama, pois seus passos o levaram ao banheiro e em poucos minutos ele voltara.

   – Descanse porque amanhã seu dia será cheio. – revelou.

   – Está pensando em passear outra vez?

   – Eu prometi com o meu pescoço que não contaria nada a não ser para te deixar ansioso. Por isso minha missão já está cumprida. – sorriu sozinho, me deixando ainda mais confuso. – Boa noite, Yoongi hyung.

   Minha mente estava cansada demais para manifestar teorias sobre o que ele estaria planejando então somente escorreguei minha nuca pelo travesseiro e deixei que meu cérebro desligasse sozinho, mergulhando-me num sonho surpreendentemente calmo e sem pesadelos sobre aquele dia. Talvez o motivo disso fosse a presença de mais alguém no meu quarto, trazendo uma diferente sensação de segurança, ou talvez fosse a inusitada visita de Park. Bom, até mesmo Hana poderia contribuir para isso, mas agora o que me interessava era mesmo dormir. E era exatamente o que iria fazer.

 

 

 

   – Eu nem acredito que você conseguiu convencer esse bundão em nos ver. Estava mesmo pensando em desistir desse cara. – Jin hyung falou com a boca entupida de bolo, rendendo um invisível revirar de olhos da minha parte. Era incrível como o Kim continuava sendo a incorporação do bom senso em pessoa, mesmo depois de eu ter jurado que ele me odiava. Já que eu mesmo me odiava. Não orgulho do meu erro de tê-lo afastado, fiz errado em me isolar e fugir daqueles que por tantas vezes ficaram ao lado de um teimoso mal-humorado como eu. Pensei que, tal como a explosão de Park, ele denunciaria a raiva e a desilusão sentida por mim, proferindo frases maldosas e até mesmo um soco bem dado na minha cara. Mas não. A onda de desgosto que eu merecia foi substituída por carinho, aceitação e bastante piadas sem graça que Seokjin hyung ia buscar sei lá onde. Quero dizer, ele me tratou imensamente bem como se eu fosse um príncipe, logo após marcar minha cara com seu soco mortal. Aliás, dois socos mortais já que meu nariz ainda doía.

   – Não fui eu. – respondeu Jimin. – O mérito é todo de Hoseok hyung que fez uma lavagem cerebral nesse aí.

   – No fundo Yoongi estava morto por querer ver vocês, só estava teimando para si próprio que vocês não o iriam aceitar. – a explicação do Jung só serviu para me deixar envergonhado, mas não tanto como iria ficar a seguir.

   – Esse seu chefinho te dá muito trabalho? – Jin quis saber. – Também precisando de um assim, sabe?

   – Para de ser guloso, hyung! – Park tomou a palavra. – Esqueceu da sua ficante? Como ela se chama mesmo? Ikumi?

   – Não seja indelicado. Estou apenas fazendo um elogio ao nosso novo amigo, não posso mais?

   – É melhor manter sua boca fechada, então. Yoon está sendo bem ciumento em relação ao nosso novo amigo. – e foi aí que minha vontade de socar a cara bonitinha de Jimin cresceu exponencialmente. – Anteontem Seok hyung teve de resolver uns assuntos do contrato com a senhora Min Aileen e sabe quem ficou ouvindo aquele ali ficar perguntando de minuto a minuto o que a mãe tanto queria com o novo cuidador? Eu!

   – Jimin. – chamei sua atenção.

   – Você precisava de ver. “Será que a minha mãe vai despedi-lo? ”, “Não acredito que aquele moleque foi pedir contas sem me dizer nada”, “Vai lá ver o que eles tanto conversam! ”, “Porra, Jimin, já passou meia hora e ele não voltou! ”, “Eu juro que se ela o despedir eu não aceito mais ninguém como cuidador! ”. – o baixinho falava, imitando minha voz grossa e raivosa. Haveria algum buraco no qual eu pudesse me esconder nesse exato momento? – Olha só! Esses dois estão ficando vermelho demais, não acha, Jin hyung?

   – Park Jimin! – falei um pouco mais alto. Aquele garoto tinha falado demais, tinha me deixado envergonhado, acanhado, e ainda tinha dado a ilustre notícia de que eu não era o único constrangido ali. – Cala sua boca, caralho!

   Meus amigos se riram, exceto as duas pessoas em questão. No entanto a gargalhada não durou muito tempo depois do som de uma buzina os fazer acalmar. O mais velho e Hoseok se levantaram da mesa para pagar os bolos e cafés que tínhamos consumido. Sinceramente nem me lembrava como aquelas criaturas conseguiram me convencer a vir na cafeteria onde costumava fazer meus pequenos lanches sempre que passava férias no interior. Eu deveria ter mais cuidado na presença daqueles três garotos, incrivelmente eles tinham o poder de entrar na minha cabeça e manipular tanto as minhas decisões quanto o meu estado de espírito. O pior deles era o hyung, que conseguia me ler tão bem como se tratasse de uma página dum livro infantil. Seokjin sempre fora assim comigo. Talvez Jimin não pudera ainda verificar o quanto o mais velho era excepcionalmente bom em traduzir meus movimentos e isso me amedrontava, pois era certeiro que, qualquer coisa que aquele humano falasse sobre mim, iria acontecer.

   Ele poderia era ter me avisado que eu ia virar um morto vivo, pensei.

   – Jin hyung, por favor, aceita. – a voz imploradora de Hoseok se aproximando me deixou um pouco curioso.

   – Não enche, Seokie. Eu já disse.

   – Tudo bem, então pelo menos aceite o meu!

   – Não. – o mais velho respondeu, demonstrando que nada no mundo iria mudar sua opinião.

   Antes que eu perguntasse o que tinha acontecido, Jung se aproximou de mim, destravando a roda da cadeira. – Jin não me deixou pagar.

   – Ah, isso. – deixei escapar ao me sentir movimentando para fora do estabelecimento. – Normal do hyung. Se acostume. – aconselhei, sem ao menos perceber o que minhas palavras verdadeiramente significavam. Parecia que eu estava mesmo pretendo ter aquele garoto por muito tempo ao meu lado. Bom, a verdade era que pretendia mesmo já que recusaria a ter um novo cuidador.

   Em segundos estávamos ao lado do carro que tinha buzinado para nós. O pai de Jimin tinha vindo buscar o filho e o Kim para os levarem de volta para a cidade. Meu melhor amigo mais velho tinha vindo à dois dias atrás, de surpresa, para passar o fim de semana comigo. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele viria, só não imaginaria que Park e Hoseok fossem conspirar tanto contra mim a ponto de marcarem a visita do garoto sem eu mesmo saber.

   Agora, o pequeno aviso do meu cuidador fazia sentido. Descanse porque amanhã seu dia será cheio, foram suas palavras incertas e cheias de intenções. Intenções boas, sim, e que de certa forma foram responsáveis pelo sorriso que de vez em quando cruzava meu rosto.

   – A gente volta no outro fim de semana. – hyung prometeu. – Alguém aqui tem que estudar, né?

   – Ah, e você acha que eu também não tenho, senhor Estou-no-segundo ano-da-universidade? – o mais novo de nós retorquiu e perante o “ai!” que escapou de si, imaginei que esse tivesse levado um tapa. – Por falar nisso tem sua amiguinha japonesa que está te esperando.

   – Que amiguinha? – ouvimos o senhor Park perguntar desconfiado. – Já trocou? Estou achando que você não é boa influência para o meu filho, Jin... E eu pensei que fosse um aminguinho.

   – Mas pode ser também. – ele respondeu baixo. – Olha para aquela amostra de paraíso do outro lado da rua.

   Obviamente todos os rostos se viraram na direção da pessoa que roubou nossa atenção, menos o meu. Contudo, o fio de voz de Hoseok fora captado por mim.

   – Kookie? – ele permaneceu por dois segundos em silêncio, talvez tendo a certeza de que era o tal menino, já que ao fim desse tempo, chamou em voz mais alta.

   – Você o conhece? – Jin quis saber.

   – Claro. É o meu melhor amigo.

   – Puta merda, Hoseok. Me apresente a todos os seus amigos porque sinceramente se forem todos como você ou aquele ali, de certeza que eu me caso!

   – Olha a língua, Park Jimin. – o senhor Park repreendeu de novo.

   Então um silêncio nos envolveu por alguns momentos até a voz doce do meu cuidador se ouvir de novo.

   – Oi, Kookie.

   – Olá, Hobi hyung. – uma voz masculina e desconhecida, porém tranquilizante, se ouviu. Hobi? – Não sabia que estava por aqui.

   – É, eu estou trabalhando. Bom, me deixa te apresentar a eles. – Seok se virou para nós, já que sua voz se tornou mais nítida. – Esse é Min Yoongi, o...

   – O cabeça dura estonteantemente gato que você não para de falar? – Kookie o interrompeu, dizendo aquilo de forma tão natural e inocente que conseguiu arrancar uns bons risos altos dos outros homens ali.

   Nem eu mesmo pude segurar o contrair de meus lábios, ou minha pele se esquentando. Não era todo dia que ouvia alguém dizendo sobre minha aparência física estonteantemente gata, muito menos que não parava de falar de mim para outra pessoa. Se eu não tivesse paraplégico ou cego, poderia muito bem confirmar que o que aquele garoto divulgou era verdade, porém na minha atual situação só me restava ouvir e guardar minhas frustrações.

   – Jungkook, se controle, ok? – meu cuidador repreendeu demonstrando sua vergonha na voz meio alterada e continuando antes que o melhor amigo o fizesse passar mais vergonha. – Esse é Park Jimin, Kim Seokjin e o senhor Park, pai de Jimin.

   – Olá a todos. Eu sou Jeon Jungkook, melhor amigo do Hobi hyung. Muito gosto em conhecê-los.

   – Não precisa ser tão formal conosco, Kookie. – Jin se manifestou. Era tão óbvio que estava interessado no novo conhecido que, se eu pudesse, teria pisado no pé dele.

   – O hyung tem razão. – dessa vez Jimin falou. – Na próxima vez que viermos vamos combinar lancharmos todos juntos. Que acham?

   – Acho uma ótima ideia porque agora temos que ir. – senhor Park se pronunciou.

   Os minutos a seguir foram de despedidas, piadas, risos e promessas do que iríamos fazer no outro fim de semana; isso sem contar no arrepio que percorreu meu corpo quando hyung sussurrou um “temos de conversar a sério, Min Yoongi”.

   Jungkook também se despediu, alegando ter presa antes que a mãe dele o puxasse pelas orelhas. E com isso, minutos depois estávamos sozinhos na frente da cafeteria.

   – O tempo está tão fechado... – Jung comentou, apressando a velocidade com que me empurrava. – Temos de nos apressar se não queremos pegar chuva.

   – Tarde demais. – assobiei, sentindo as gotas respingando em minha face, tornando-se maiores e mais frequentes.

   – Que droga! – o mais novo resmungou e então deu meia volta com a cadeira, virando-a para um lugar que eu não podia ver. – Estamos um pouco afastados de sua casa ainda. Vamos ter que voltar para a cafeteria.

[...]

   – Tem certeza que está bem, hyung?

   – Dá para parar de perguntar isso?! Se eu tiver precisando de algo eu falo, porra!

   Hoseok não respondeu já e ainda bem.

   A chuvada tinha se tornado num temporal com trovões e relâmpagos, tão assustadores para alguns mas confortantes para outros. Sendo que eu fazia parte do último grupo de pessoas, as quais adoravam o barulho alto dos relâmpagos e o brilho intenso dos raios.

   Já estava tarde e nada do tempo acalmar, o que rendeu umas quinhentas ligações dos meus pais, querendo saber onde eu estava, no entanto meu celular acabou descarregando e Hoseok utilizou o seu aparelho para tranquilizar os Min, contudo uma empregada desastrada colidiu com o garoto e o smartphone escapou de seus dedos, caindo justamente no balde que a mesma usava para passar pano no chão da cafeteria. O mais novo aceitou o pedido de desculpas mas eu a xinguei de tudo que me veio na mente e no fim ainda exigi que emprestasse o celular dela para comunicar com os meus pais. A mulher não relutou e em meio a milhões de pedido de desculpas nos emprestou, porém no momento em que dava o segundo toque, enquanto eu aguardava que omma atendesse, a ligação caiu.

   – Ficamos sem sinal. – Seok declarou, tomando o aparelho das minhas mãos e devolvendo. –Seus pais vão ficar muito preocupados. – Ele suspirou. – Eu vou nos levar para casa, fique aqui enquanto eu arranjo um táxi lá fora.

   – Ficou maluco? Não há nenhum táxi zanzando aqui nessa chuvarada.

   – Não tem problema, eu sei de um ponto de táxi aqui perto.

   Eu tentei o impedir, coisa que foi impossível já que o mesmo desapareceu, me deixando sozinho na mesa, tendo uma empregada chata que continuava se desculpando. Demorou infindáveis dez minutos até que ele tivesse voltado, anunciando que tinha um táxi para nós lá fora.

   Agora, de banho tomado e no quente da minha cama, parecia que todos os mínimos detalhes desagradáveis do dia tinham bombeado minha mente. O facto dos meus amigos terem me visto nessa condição sem sequer comentarem algo ruim me fez ter raiva. Era notável o quão fracassado havia me tornado então porque eles simplesmente agiram como se minhas pernas e meus olhos ainda funcionassem? Porque continuavam mentindo que estava tudo bem e que nada tinha mudado? Estava mais que patente o meu trágico e triste estado, então porque ninguém falava sobre isso? Não podiam simplesmente ignorar que agora Hoseok andava comigo como se fosse minha babá e pior ainda, que eu precisava realmente de uma babá. Jin e Jimin viram bem no que me tornei, eles não poderiam simplesmente ultrapassar e se conformar com a minha nova pessoa. Nem mesmo eu tinha me conformado!

   – Não. Você não irá falar.

   – Então se não falar é porque não preciso, não acha?! – Jung respirou fundo. Seus passos se aproximaram da cama, sentando. – Eu não deixei que você sentasse.

   – Tudo bem. – se levantou, mas permaneceu ali já que eu sentia o cheiro de hortelã que emanava daquele garoto.

   – Você não vai cansar de tentar me animar? Entenda que eu não quero a pena de ninguém.

   – Mas eu não tenho pena de você. – sua declaração séria e crua causou uma invisível tontura em mim, me fazendo contrair os dedos até esses formarem um punho fechado. – O que ouviu de Jungkookie hoje é exatamente o que acho de você e em nenhum momento aquele dongsaeng falou em pena. – “cabeça dura estonteantemente gato”, recordei. – Também ouvi quando Jimin disse que tinha ficado... Uhm... Preocupado? Quando eu demorei conversando com a senhora Min Aileen. Não é minha intenção deixar esse emprego mas gostaria que você me aceitasse. – sem minha autorização ele voltou a sentar-se na cama. O par de mãos alheio tocou no meu pulso em posição perigosa e, tão calmamente, Hoseok foi esticando meus dedos, desfazendo o punho e, momentaneamente, a minha raiva. – É difícil pra você mas também está sendo difícil para mim, hyung. Eu tenho fé e depositei toda a minha fé em você.

   – Você não sabe o que diz.

   – Sei. Eu sei o que digo. Eu pensei que tudo estava perdido na minha vida quando tinha apenas oito anos. – suas mãos continuavam em contato com a minha, aquecendo aquela área. – Minha primeira tentativa de suicídio foi falha quando completei dez anos. Sabe o quão grave é uma criança de dez anos tentar tirar a própria vida?

   – Porque está me contando isso?

   No entanto o garoto me ignorou, continuando.

   – Eu apanhava na escola por crianças muito maiores que eu, eu apanhava em casa pelo meu pai e mais tarde passei a apanhar do cara que dizia que me amava. Tem ideia do quão doloroso era não conseguir deitar na cama para dormir porque o corpo doía tanto que até era possível confundir a dor do corpo com a dor da alma? – ele sorriu sozinho, desprovido de qualquer graça. – Eu não fui raptado por ninguém, mas posso garantir que fui torturado de tantas maneiras que... Afogamento, cortes, beliscões com alicate, socos até me fazer desmaiar, queimaduras, até pauladas, imagina? Eu só desejava que uma bala perdida atravessasse meu crânio a cada vez que saía na rua. Eu só queria que parassem de me bater tanto. – meus dedos se contraíram novamente em raiva. Nunca na minha vida imaginaria que o rapaz tímido e contido em palavras tivesse sofrido tanto, se eu pudesse iria atrás de cada um que causou dor e faria o triplo ou o quíntuplo com eles. – Calma, hyung. – ele folgou meus dedos, sentindo a tensão perigosamente mergulhada em cólera que partia de mim. – Está tudo bem, agora. Tudo o que resta são pequenas cicatrizes, já que as maiores foram escondidas com tatuagem. – ele era tatuado? – Sempre que olho para os traços abstratos em volta da fênix na minha costela orgulho de mim próprio por ter sido forte o suficiente, já que eu quase morri quando cheguei ao hospital com duas costelas quebradas. Appa gostava de beisebol então não mediu sua força em mim com aquele taco. Mas felizmente ultrapassei. E é por isso que te digo que toda a minha fé foi depositada em você, Yoongi. Eu confio em você para continuar, igual eu fiz.

   Não fui capaz de proferir uma única palavra. Passaram-se dois, cinco, dez minutos e o silêncio nos rodeava naquele quarto. Uma perigosa mistura de raiva, adrenalina e decepção era a única coisa que me preenchia naquele momento. Aquele garoto tinha passado por mais do que ao menos desconfiava. Ele tinha sido um verdadeiro herói dos seus pesadelos e agora estava começando a ser meu herói secreto também.

   O menino soltou minhas mãos com um suspiro pesado, fazendo menção de levantar da cama, contudo foi surpreendido quando meus dedos agarraram o fino pulso, impedindo-o.

   – Fique.

   – Hyung...

   – Apenas fique, Hoseok. Por favor. – reparando que o garoto iria ficar exatamente naquela posição sentada, o puxei na minha direção. Ele entendeu o que eu quis fazer porque logo apagou a luz e pousou a cabeça em meu colo, esticando as pernas sobre a cama e puxando o cobertor para mim.

   Meus dedos se emaranharam no cabelo surpreendentemente macio, fazendo um tipo de massagem bem reconfortante por sinal.

   A melodia calma das nossas respirações era tudo o que existia de som naquele cômodo. Minha mão esquerda brincava nos fios lisos do menino deitado em meu colo enquanto o sono demorava a me alcançar. Apesar disso eu estava cansado, tanto fisicamente como psicologicamente, embora não mais que Jung já que nesse exato momento o garoto ressonava tão baixinho quanto uma criança.

   – Seok? – sussurrei, tendo a confirmação que ele já tinha adormecido. – Espero que esses pesadelos não atrapalhem seu sonho... – desejei, falando ainda em sussurros para não o acordar.

   Me ajeitei nos travesseiros e, ainda mexendo no cabelo do coreano, acabei por cair no sono.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, mas e aí? E essas teorias sobre Hoseok? Alguém acertou kkkk
Um beijo!


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