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História Inalcançável Você - Tempo


Escrita por: princetri

Capítulo 50 - Tempo


Fanfic / Fanfiction Inalcançável Você - Tempo

Lauren POV


 


“Esposa da filha do grande empresário Alejandro Cabello se envolve em acidente de carro, e termina em tragédia.”


 A manchete ficou rodando na minha cabeça, a reportagem era enorme, a maior parte falava da ironia em ser um acidente de carro, já que o Alejandro é dono de uma empresa de carros, em nenhum momento citava o nome de Camila, se referiam a ela apenas como “a filha” e no final ainda foi dito que ela foi detida por bater em um policial ao tentar passar pela área restrita.


 E de repente tudo começou a fazer sentido, ou pelo menos quase tudo.


— O que eu faço? Ela… ela já deve ter passado por tanta coisa. - Apoiei a cabeça nas mãos.


— Eu não sei, você não pode simplesmente dizer que estava vasculhando a vida dela na internet.


— Hoje eu disse que ela é uma pessoa terrível. - Lembrei triste, sentindo meus olhos arderem. — Eu que sou.


— Ei. - Normani segurou no meu rosto e me fez olhar pra ela. — Não se culpe, você tem razões para ter se irritado com ela, o fato da namorada dela ter morrido, não muda o que vocês vivem agora, e não muda o fato dela meio que usar você.


— Eu preciso falar com ela, Mani.


— Você quer que eu deixe você lá? Mas não posso esperar, porque meu pai vai sair no carro.


— Tudo bem. - Levantei. — Eu vou tomar um banho rápido pra tirar essa blusa. - Falei apontando pra farda do estágio.


— Certo, vou esperar aqui.


 

*****



 Levantei a mão um milhão de vezes para bater naquela porta, mas não consegui, eu já estava começando a suar frio, quando decidi bater, a porta se abriu, não vi ninguém, pelo menos não até olhar pra baixo.


— Oi, vi seu pé por debaixo da porta. - O garoto, que eu tenho quase certeza que se chama Apollo falou. — Pode entrar. - Abriu mais a porta, e subiu a calça do pijama que é claramente para uma criança mais velha do que ele.


— Hã… a Camila está? - Perguntei ainda parada na porta.


 Antes que ele pudesse responder, Camila apareceu na sala, meu coração se apertou ao vê-la com o olho levemente inchado, como se tivesse chorado.


— Vai comer, Apollo. - Disse virando o garoto em direção a cozinha.


— Tá bom, mamãe. - Ele disse e foi no mesmo instante, segurando a calça que a cada passo desce um pouco mais.


 Percebi o corpo de Camila completamente tenso, ela ficou olhando pra mim em silêncio, como se esperasse por algum pronunciamento.


— Desculpa, eu pensei que você estava sozinha. - Falei ainda olhando para o garoto que segue pelo corredor. — Eu falo com você outra hora. - Virei na intenção de ir embora dali.


— Não. - Segurou na minha mão. — Entra, só estamos nós dois.


— Eu não quero atrapalhar.


— Não vai. - Me puxou pra dentro e antes de fechar a porta olhou para o lado de fora. — Quem deixou você aqui?


— A Mani. - Respondi e ela sorriu fraco.


— Você já jantou? - Afirmei com a cabeça. — Então senta aí que eu já volto. - Mandou e foi em direção a cozinha.


 Em no máximo dez minutos ela voltou e se sentou no braço do sofá que eu estou, os pés em cima do estofado e olhando pra mim. Eu que vim até a casa dela, então eu que tenho que começar a conversa, mas o que eu digo? “Ei, me fala sobre sua namorada que morreu, porque eu preciso desesperadamente saber porque você não me dá uma chance.” tem como dizer isso sem parecer uma psicopata?


— Nós vamos mesmo ignorar o fato de que tem uma criança na sua cozinha e que ele te chamou de mamãe? - Iniciei.


— Eu preferiria. - Respondeu baixo.


 Me inclinei pra trás, apoiando as costas no sofá  


— Eu queria ter forças o suficiente pra não vir mais até você. - Soltei o ar dos pulmões. — Você sempre me deixa uma bagunça.


— Não é como se eu ficasse muito diferente. - Falou no mesmo tom baixo de antes, parece que as palavras estão saindo contra a sua vontade.


— Por que você complica tanto? - Questionei. — Tenho a sensação que poderia ser bem mais fácil, basta você querer.


 Ela baixou o olhar para as mãos, onde como sempre se encontra uma aliança.


— Eu não posso, eu não posso simplesmente ficar com você, Lauren, eu não posso seguir a minha vida como se ela nunca tivesse existido, eu não posso colocar outra pessoa no lugar dela. - Falou com a voz embargada, sem olhar pra mim em nenhum momento.


— De quem você está falando? - Perguntei e ela negou com a cabeça, me aproximei. — Camz, por favor, me conta sobre essa pessoa, me dá pelo menos uma explicação plausível pra você não me aceitar, porque aí talvez seja mais fácil de te esquecer.


— Você vai me odiar se eu contar. - Disse com os olhos cheios de lágrimas.


— Eu prometo que não vou julgar você em nenhum momento.


— Você também prometeu que não ia se apaixonar por mim.


 Fiz uma careta e ri fraco.


— Ah, mas eu já estava apaixonada, então foi uma promessa inválida.


— Já? - Perguntou, olhando nos meus olhos. 


— Aham, mas isso não vem ao caso agora. - Segurei nas suas mãos e a fiz sair do braço do sofá para sentar no espaço a minha frente. — Me convença a te deixar ir. - Falei em tom de brincadeira, ela não riu, apenas negou com a cabeça.


— Eu não sei por onde começar.


— Começa pela criança que está em sua cozinha.


— Ele é filho da mulher com a qual namorei por quase dez anos. - Ela fez uma pausa, provavelmente esperando alguma reação minha, talvez se eu não soubesse um pouco da história teria realmente ficado surpresa. — Eu a amava, acho que ela é a pessoa que mais amei na vida. - Certo, ouvir isso não foi agradável, não dá pra controlar. — A nossa vida era perfeita, mas ela sempre foi muito impulsiva, em um desses impulsos ela fez uma inseminação artificial, eu tinha apenas 20 anos e tive que começar a ser mãe, ela era ótima nisso, mas eu não, nunca fui, nem sou, nossa relação foi se desgastando, porque enquanto ela estava vivendo um sonho, eu estava vivendo um pesadelo, eu nunca deixei de amar ela, mas internamente eu a culpava pela vida que eu estava levando. - Levei uma mão até o rosto dela e sequei a lágrima que desceu silenciosamente, o que fez ela sorrir fraco. — No aniversário dela estávamos só nós em casa, resolvemos descer pra piscina do prédio. - Ela começou a gesticular enquanto falava, e eu já estava começando a me sentir mal por fazer ela falar sobre algo que claramente ainda a machuca. — A gente brigou, eu falei coisas terríveis pra ela, terríveis, mandei ela embora, e ela foi, quando eu mais precisei que ela não me ouvisse, ela me ouviu, eu acordei de madrugada com uma sensação ruim, e quando eu liguei pra ela… ela, ela tinha sofrido um acidente, e ela morreu, Lauren, ela morreu e a culpa é toda minha, se eu não tivesse mandado ela embora, se eu não fosse tão egoísta, tão mimada, ela ainda estaria aqui, ela teria se formado, ela estaria trabalhando rodeada de animais, como era o sonho dela, ela estaria vendo o filho dela crescer, mas eu matei ela. - As palavras saiam da sua boca com um certo desespero, ela colocou o rosto entre as mãos e deixou o choro fluir. — Eu que a matei, e eu nunca vou me perdoar por isso.


 Camila continuou falando, detalhes que só de ouvir me doeram por dentro, ao todo, ela passou quase uns 50 minutos falando, tudo, ela contou tudo.


 Eu não sabia o que falar, eu não sabia se deveria falar, eu só sei que é horrível a sensação de inutilidade que sentimos ao ver alguém sofrendo e não ser capaz de ajudar, me inclinei na direção dela e a abracei.


— Eu sinto muito, Camz, eu sinto muito por você ter passado por tudo isso. - Falei, sentindo um nó na garganta. 


— Agora você me acha ainda mais terrível, né? Me perdoa. - Pediu, com os olhos opacos, neles só fletem dor.


 Senti um aperto no coração ao lembrar que mais cedo eu falei isso. Me afastei e segurei o rosto dela entre as mãos.


— Eu só estava irritada com você, me perdoa por ter dito isso, você é incrível, Camz, incrível. - Puxei ela pra dentro dos meus braços novamente, eu só quero que ela pare de chorar.


— Mamãe lava minhas mãos. - A voz do Apollo na sala se fez presente.


 Camila se afastou de mim e secou o rosto com as mãos.


— Você quer que eu vá? - Perguntei.


— Você não se importa?


— Não, fica aí. - Me levantei e fui em direção ao garoto, acabamos indo pra pia da cozinha mesmo, levantei ele e aproximei da torneira, ele ficou mexendo com as mãos debaixo da água, enquanto o sabão não saía. — Agora passa na boca.  - Mandei e assim ele fez. — Pronto. - Coloquei ele no chão novamente. — Tá limpinho.


— Obrigado. - Disse com as mãos paradas pra cima, peguei o papel toalha em cima do balcão e dei um pedaço pra ele, enquanto ele secava as mãos a calça do pijama que ele parou de segurar desceu, o rosto dele ficou tão vermelho, que me segurei pra não rir.


— Deixa eu ajudar você. - Me abaixei na frente dele, esse pijama deve ser pra crianças de dez anos, não é possível, dobrei as pernas e na cintura eu tive que amarrar atrás com o elástico de cabelo que estava no meu braço. — Melhorou?


— Muito. - Analisou a roupa. — Agora não preciso mais segurar.


— É verdade, agora vamos que a Camila está sozinha.


— Como é o seu nome? - Perguntou enquanto voltávamos pra sala.


— Lauren, e o seu?


— Apollo, igual o deus do sol. - Disse empolgado e eu sorri.


 Camila está sentada no mesmo lugar, ela observa a gente se aproximando, agradeci mentalmente por ela ter parado de chorar, eu não sei lidar com situações assim.


— O que eu vou fazer agora? - Apollo perguntou olhando pra ela.


— Não sei. - Ela disse e olhou pra mim durante alguns segundos. — O que você faz em casa essa hora?


— Essa hora eu já estou dormindo, vovó não me deixa ficar acordado até tarde.


— Onze horas é tarde? - Ela perguntou com o cenho franzindo olhando pra ele.


— Ela diz que é. - Respondeu simples. — Vamos brincar de carro? Eu deixo você ficar com o vermelho.


— Eu acho melhor você ir dormir. - Falou e ele fez uma expressão triste.


— Mas eu queria brincar. - Contestou.


 Camila soltou o ar dos pulmões e olhou pra mim, senti vontade de rir ao imaginar Camila sentada no chão brincando de carrinho.


— Que tal você jogar no meu celular, você gosta? - Perguntei puxando o celular do bolso, e eu juro que os olhos daquele menino brilharam.


— Eu posso baixar um de carro? - Perguntou empolgado.


— Você sabe? - Perguntei sem acreditar e ele afirmou com a cabeça. — Essa geração nasceu um passo à frente da nossa. - Entreguei meu celular pra ele e ele saiu com a cara grudada na tela, dizendo que vai jogar na cama.


— Eu diria uns vinte passos à nossa frente. - Camila disse.


 Me sentei novamente no sofá, só que dessa vez um pouco mais distante, eu ainda preciso conversar com ela, só não sei como começar, ela não respeitou o espaço que impus entre nós, saiu de onde estava e veio pra perto de mim, se deitou colocando a cabeça no meu colo.


— Ela veio pra ficar?


— Quem? - Perguntei confusa.


— Sua ex namorada, eu não sabia que vocês ainda tinham contato.


— Não tínhamos, ela veio pra cidade esses dias, a gente acabou se encontrando, e… no meu subconsciente eu acreditava nutrir raiva por ela, mas não, eu não sinto, e é estranho porque teve uma época que nos conhecíamos como ninguém, e agora não sei nem onde ela mora.


— Ela parece arrependida?


— Um pouco.


— Eu acho que ela está querendo reconquistar você.


— Talvez. - Falei simples e ela fez uma careta.


— Você daria outra chance pra ela?


— Quem sabe, talvez. - Menti, definitivamente não tem a menor chance de eu voltar a namorar com Emmy, mas eu queria ver a reação dela ao ouvir isso, ela abriu a boca para falar, mas nada saiu, então resolvi prosseguir. — Estou solteira, e ela também…


— Pois eu acho que você não deveria.


— Por que não?


— Porque ela deixou você, ela é uma idiota, Lauren, você não deveria nem falar com ela.


— Ela parece arrependida, todo mundo merece uma segunda chance.


 Ela suspirou e se sentou, olhou pra mim por alguns segundos antes de levantar e ir em direção a cozinha. Droga de garota difícil. Esperei cinco, dez, quinze minutos e ela não retornou, me levantei e fui atrás dela, ela está sentada na mesa, com um copo cheio de um líquido marrom, que eu julgo ser bebida.


— Eu não acredito que você me deixou sozinha pra vir beber, Camila.


— É chá. - Respondeu balançando o líquido do copo. — E sua conversa não estava me agradando.


 Me aproximei e puxei uma cadeira pra sentar também.


— Você quem perguntou, e você complica as coisas.


— É tudo eu, né? - Perguntou aparentemente irritada.


— Só não sou eu, Camila, na última vez que eu vim aqui na sua casa, quando eu passei por aquela porta, eu tentei enfiar na minha cabeça que não voltaria mais aqui, porque naquele dia eu perdi toda a minha dignidade, implorando pela merda da sua atenção, e mesmo assim você não deu a mínima, mas aqui estou eu de novo, fazendo a mesma coisa, insistindo de novo, então definitivamente não sou eu que complico as coisas.


— O que você quer de mim, Lauren? Eu… eu… - Suspirou e apoiou os braços na mesa, colocando o rosto entre as mãos.


— Eu só quero uma posição sua, Camila, eu me sinto um objeto pra você, porque quando estamos juntas você é incrível comigo, mas depois você age como se não nos conhecêssemos, você muda drasticamente, e eu não preciso ficar passando por isso.


— Eu não estou pronta pra uma relação, eu não estou pronta pra te assumir, e sinceramente? Eu também não sei se um dia vou estar, porque eu também acho incrível estar com você, mas depois eu me sinto a pior pessoa do mundo, eu acho que a cada vez que eu faço isso eu gosto ainda menos de mim, você não sabe o que eu sinto.


—Eu respeito a sua dor, não vou dizer que sei o que você sente, porque eu não sei, mas eu não concordo que você pare a sua vida por causa do que aconteceu, ela com certeza não iria gostar que você fizesse isso.


— Você não a conhecia, você não sabe o que está falando! - Empurrou a xícara na mesa e se levantou, indo parar perto do balcão e ficando de costas pra mim.


— Não, eu não conhecia, mas eu amo você, como acredito que ela também amou, então se fosse eu, com certeza eu não iria querer te ver afundar assim.


— Eu vivo a minha vida, eu não me deixei afundar… eu… eu prometi que viveria minha vida, e é o que eu estou fazendo.


— Desculpa, Camila, mas você vive uma vida superficial, qualquer coisa que tenha a chance de florescer, você corta, você não se permite ser feliz, você vai vivendo as coisas boas, mas se elas têm a chance de serem ótimas, aí você corta elas, você se priva das coisas, você…


— Cala a boca, Lauren!


— Você deveria tent...


— CALA A BOCA! - Falou em um tom de voz mais alto do que o necessário.


— Tá louca, Camila? - Me levantei. — Eu não estou surda, pode falar baixo.


— Você só está falando merda, você não sabe da minha vida.


— Sei o suficiente pra saber que tudo que eu falei é verdade.


— Por favor, vai embora.


— Você é assim, né? Não encara nada de frente.


— Eu tô pedindo pra você ir embora, porra.


— Mas eu não vou. - Falei firme. — Eu não vou sair daqui sem uma resposta sua, eu preciso passar por aquela porta sabendo o que vai ser de nós. - Fui na direção dela, ao notar isso ela foi afastando para trás, até encostar no balcão, quando eu já estava bem perto ela desviou a atenção e não olhou para o meu rosto. — Olha pra mim. - Pedi, mas ela continuou olhando para o outro lado, levei uma mão até o seu queixo e a fiz erguer a cabeça. — Eu preciso de uma resposta sua. - Ela ficou calada, tentou virar o rosto, mas segurei com mais firmeza. — Eu preciso de uma resposta sua.


 Os olhos dela lacrimejaram, ela rapidamente levou a mão até o rosto e secou, ela permaneceu calada, esperei, mas nada veio, soltei o seu rosto. Vencida. 


— O silêncio também é uma resposta, né? Eu vou embora, e vou torcer pra você se perdoar, porque ninguém merece carregar tanta culpa assim. - Dei um beijo demorado no topo da sua cabeça. 


 Quando eu tentei me afastar ela me impediu, olhei para as suas mãos segurando com firmeza na barra da minha blusa, e subi meu olhar pra ela novamente.


— Pra poder ir eu preciso que você me solte. - Falei e ela apertou ainda mais as mãos na minha blusa. — Você está me ouvindo?


 Tive a certeza que sim porque ela tirou as mãos da minha blusa e em menos de segundos me abraçou, eu realmente não esperava por isso, minhas mãos ficaram suspensas no ar, eu não sabia se também deveria abraçá-la.


— Me dá só um tempo, eu preciso organizar umas coisas, eu não vou conseguir lidar com isso agora.


— Hã… - Passei uma mão pelas costas dela. — Tudo bem.


 Só espero que não demore muito.


— Obrigada. - Disse com a voz baixa.


 Nos afastei um pouco e dei um passo pra trás.


— Eu acho melhor eu ir agora, antes que fique muito tarde.


— O que? Não! Você disse que vai esperar. - Falou em um certo desespero, e eu sei que não deveria, mas gostei.


— E vou.


— Então por que vai embora?


— Porque já está tarde.


— Não vai, dorme aqui, fica comigo.


— Eu acho melhor nã…


— É realmente dormir comigo, só dormir. - Pediu e acariciou meu rosto com o polegar. — Por favor.


 Fechei os olhos sentindo o dedo dela passar por toda a extensão do meu rosto, nariz, olhos, sobrancelhas, abri os olhos novamente e fiz que sim com a cabeça, ela sorriu e selou nossos lábios.


— Incrível essa capacidade de irmos a dois extremos tão rapidamente. - Falei quando ela se afastou.


— Eu estava pensando exatamente nisso, a gente sobe e depois despenca.


A gente sobe e depois você pula. - Deixei sair sem querer, ela abriu a boca pra falar, mas nada saiu. — Desculpa, as palavras saíram automaticamente.


— Não é como se fosse mentira.


 O clima ficou um pouco tenso durante alguns minutos, mas nada duradouro. Quando fomos até o quarto pegar meu celular, Apollo já estava dormindo todo encolhido na cama, que é dez vezes o tamanho dele, aparentemente é um quarto de hóspedes, acredito que o dele seja o anterior, que parece em fase de montagem. Camila foi até a cama e pegou meu celular que se encontra completamente descarregado, depois ela simplesmente apagou a luz e já estava fazendo o caminho em direção a porta.


— Camila. - Chamei, e ela parou. — Faz frio durante a noite, ele precisa de um cobertor.


 Ela olhou na direção da cama.


— Tem razão, esqueci. - Foi até o guarda-roupa e pegou um edredom, colocando sobre ele logo em seguida. — Pronto.


 Por dentro eu estava com uma enorme interrogação, como ela pode ser fria até com o filho? Tá bom que não é de sangue, mas é filho, resolvi não questionar aquilo agora e fui atrás dela que já tinha saído do quarto.


— Você quer uma roupa? - Perguntou quando entramos no seu quarto.


— E um carregador.


— Na próxima vai pensar duas vezes antes de deixar ele com seu celular, né? - Perguntou enquanto abria as portas do guarda roupa.


— Ah, não tem problema. - Respondi.


 Ela jogou uma camisa preta e um short branco de algodão na minha direção.


— Carregador tem aí na primeira gaveta do criado mudo, eu vou tomar um banho, mas é rápido.


 Afirmei com a cabeça, antes de sair ela veio até mim e me deu um selinho. Me segurei pra não ficar sorrindo igual idiota na frente dela. Tirei a roupa que eu estava e coloquei a que ela me deu, fazendo uma careta para o short que parece ter faltado pano na hora de fazer. Fui até a gaveta que ela indicou, porém está vazia, abri a de baixo e têm duas fotos soltas lá dentro, as duas estão viradas para baixo, travei uma batalha interna, entre virar ou não, peguei a de cima e virei, uma garota, com certeza é a mãe do menino, e ela é terrivelmente linda, ou pelo menos era, loira, olhos claro, e aparenta ser aquelas pessoas de bem com a vida, peguei a outra mas me arrependi no mesmo instante, nessa ela estava na praia com Camila, e na foto elas estão se beijando, soltei novamente as fotos lá dentro e fechei a gaveta, resolvi desistir do carregador, tirei o edredom da cama, como sei que Camila faz e depois me deitei, ela não demorou muito pra voltar, quando vi que ela tinha vindo só de roupas íntimas coloquei um braço sobre o rosto, o que os olhos não veem o corpo não deseja.


— Desistiu de colocar pra carregar?


— É, eu coloco em casa, não vou usar mesmo. - Respondi ainda sem olhar pra ela, espero que ela já esteja vestindo uma roupa.


— O nome disso é preguiça. - Falou e ouvi os passos dela mais perto, ela abriu a gaveta, só que do criado mudo do outro lado da cama, o que eu não tinha aberto. — Cadê o celular?


— Aqui do outro lado.


— Por que você está com o braço no rosto?


— A luz está fazendo meus olhos arderem. - Falei a primeira coisa que veio na minha mente.


— Ah, foi mal, vou colocar seu celular no carregador e apago. - Se afastou novamente. — E esse não é o seu lado.


— Como assim? - Tive que olhar pra ela.


— O lado da cama. - Respondeu simples.


— Eu não sabia que eu tinha um lado. - Falei e ela olhou pra mim.


— Não tem, eu que tenho, então automaticamente o seu é o outro.


— Tomei distraída. - Falei rolando para o outro lado da cama, o que fez ela rir.


 Ela pegou um frasco de creme, e apagou a luz, deixando apenas as dos abajures ligados, o que deixou o quarto no meio termo entre claro e escuro, se sentou na beirada da cama, de costas pra mim, enquanto espalha o creme pelo corpo, aproveitando que ela não está olhando foi impossível meus olhos não percorrerem o seu corpo parcialmente iluminado, balancei a cabeça para dispersar os pensamentos e fixei meu olhar no teto.


— Esse cheiro é ótimo. - Comentei.


 É o cheiro que ela está todos os dias, o cheiro que ela deixa na minha roupa, no meu corpo, na minha cama, na minha casa, na minha vida .

 

— Você acha?


— Uhum.


 Ela olhou pra mim por cima do ombro.


— Tira a camisa.


— Que? - Perguntei confusa.


— A camisa, tira ela e deita de bruços, vou passar em você.


— Não, não, eu não quero.


— Ah, deixa de ser chata, é só uma passadinha de creme. - Balançou ele no ar. — Nada mais.


— Hã… você não está cansada? - Tentei desconversar, tudo que menos preciso é de Camila me alisando agora, ela semicerrou os olhos e subiu na cama, ficando mais perto de mim, colocou a mão na barra da minha blusa e puxou pra cima. — Deixa que eu tiro. - Segurei a mão dela e eu mesma tirei minha blusa.


— Agora vira. - Fez um gesto com a mão.


 Fiquei como ela pediu, de bruços, e não sei de onde ela tirou que ficar em cima de mim seria uma boa ideia, ela colocou um joelho de cada lado do meu corpo e começou a espalhar o creme pelas minhas costas, realmente estava sendo só uma passadinha de creme sem nada mais, mas isso durou uns 10 minutos, porque agora toda vez que ela vai descer com as mãos pela minhas costas, sinto o sexo dela roçando levemente na minha bunda, e eu não sei se ela está fazendo isso na inocência ou de propósito, minha mente que pode está sendo obscena.


— Tá bom? - A voz dela me tirou dos meus pensamentos.


— Tá ótimo. - Respondi baixo, eu sinceramente estou com medo de ser denunciada pela minha própria voz.


— Você tá bem quente. - Disse ainda massageando minhas costas.


 Resolvi mandar o bom senso para o inferno, com uma certa dificuldade consegui me virar embaixo dela, agora ela está sentada na altura do meu sexo.


— Como não ficar com você se esfregando em mim desse jeito? - Segurei na sua coxa e ela sorriu, agora tenho certeza que aqueles movimentos dela foram propositais. — Me beija. - Mandei.


 Ela soltou o creme no lado vazio da cama e se curvou sobre mim, roçou os lábios nos meus e sorriu.


— Ainda bem que você é tão fraca quanto eu. - Falou antes juntar nossos lábios.


 


“Mas e se eu te disser, que eu quero aprender a me amar, e te amar também ao mesmo tempo? Você teria tempo?”



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