1. Spirit Fanfics >
  2. Incógnito VKook - Taekook >
  3. Um tênis

História Incógnito VKook - Taekook - Um tênis


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores amores! <3
Estou na universidade, bem no meio da semana de provas e entrega de trabalhos, mas enfim consegui terminar esse capítulo. Eu me esforcei (pakas) e espero mesmo que vocês gostem.
Sem mais delongas,

Boa leitura!

Capítulo 12 - Um tênis


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Um tênis

Um tênis.

Os all star pretos surrados de Taehyung estavam bem na porta de entrada, a confirmação de o garoto incógnito continuava no andar de cima, dormindo.

Na noite anterior, acabaram jogando videogame até tarde antes de resolverem se deitar. Ambos haviam levantado cedo para ir ao colégio, e estavam esgotados, pelo que Jeongguk foi grato. Afinal, teriam que dormir os dois em sua cama de casal, e receava que fosse ser uma situação estranha ou desconfortável, mas isso não aconteceu. Já estavam com as pálpebras se fechando de tanto sono, e apagaram por completo assim que o aparelho de videogame foi desligado.

Bem mais esquisita fora a manhã. Jeongguk já estava se revirando na cama pelo que lhe pareceram horas, e agradeceu mentalmente quando os raios de sol invadiram o quarto em feixes brilhantes através das persianas. Esperava por uma boa desculpa para se levantar, mas ainda era cedo.

Apesar de ciente até demais da presença do castanho ao seu lado na cama, precisou juntar coragem para se virar e encará-lo. Não sabia porque se sentia tão inquieto, mas pensou que talvez fosse só a aleatoriedade da situação toda. O autor do diário sobre o qual estivera obcecado nas últimas semanas dormia agora bem ao seu lado, na sua cama.

Surreal.

Quando se virou para ele, ficou constrangido ao notar que Taehyung estava com o rosto apontado em sua direção. Sentiu o peito se aquecer ao tomar o próprio tempo para uma detalhada análise de sua expressão serena, a pele dourada que parecia ser feita de porcelana. Notou que ele tinha cílios extremamente longos, e uma pintinha discreta no lábio inferior, além da já conhecida pinta na ponta do nariz. Seu rosto era tão simétrico e perfeitamente desenhado que Jeongguk levou uns milésimos de segundo para se lembrar que ele era real, até ouvir sua respiração suave e sentir seu cheiro adocicado. O cheiro dele tinha notas quase infantis, e lembrava Jeongguk de baunilha e leite.

Bonito, pensou, admitindo para si mesmo que não era nada mal observá-lo assim, enquanto parecia tão tranquilo, como se nada no mundo pudesse tocá-lo. Tentou afastar esses pensamentos sem sentido, mas não pôde evitar um sorriso bobo de escapar-lhe pelos lábios pequenos.

Taehyung estava de lado, com um braço embaixo do travesseiro e outro encolhido perto do peito, a mão fechada tocando a pele desnuda do pescoço. Jeongguk notou que ele estava com os pelos do antebraço arrepiados, e permitiu-se puxar o edredom azul para cobri-lo até os ombros, tomando cuidado para não encostar diretamente na pele acobreada.

Observou enquanto ele se aconchegava sob o cobertor com um sorriso frouxo no rosto, antes de se levantar da cama que dividiam e silenciosamente sair do quarto. Sentia o estômago revirar. Devia ser fome.

Desceu os degraus até a sala, imersa em completo silêncio. Não havia ninguém? Andou de um lado ao outro, mas não encontrou a mãe, e foi aí que deu de cara com os converses pretos na porta de entrada. Uma sensação estranha o invadiu, e como em milagrosa epifania, Jeongguk pensou em Taehyung como Taehyung. Não o incógnito, autor do diário que encontrara sob a chuva em uma segunda-feira monótona. Pela primeira vez, pensou nele apenas como seu hyung, em carne e osso, dormindo na sua casa. E sorriu com a constatação de que ele não parecia mais tão distante de si, mas bem próximo.

O cheiro acolhedor de café recém passado acordou-o de seus devaneios, e Jeongguk se dirigiu até a cozinha. Seu pai, com certeza. Sua mãe não gostava de café, já era hiperativa por natureza.

Como esperado, encontrou o pai de pé ao lado do balcão, vestido com um conjunto esportivo e parecendo prestes a sair para fazer os exercícios matinais. Devia ter puxado dele o gosto por esportes, já que mesmo com a rotina corrida de trabalho, Jeongguk não se lembrava de uma única vez em que seu pai tivesse dispensado seus exercícios de fim de semana por preguiça. Ele estava com uma caneca de café em uma mão e meia maçã comida na outra.

- Levantou cedo. – Ele comentou, com os olhos propositalmente arregalados em uma expressão forçada de surpresa, que fez Jeongguk rir – Seu amigo novo dormiu aqui, não foi? Uma pena que não o conheci.

- Aham. – Confirmou com a cabeça – Onde você estava?

Jeongguk nunca sabia onde o pai estava. Ele era uma dessas pessoas que não aparentavam a própria idade, e sempre estava arrumando coisas novas para fazer. Se auto denominava um “pai descolado”, e até que era mesmo, mas Jeongguk não gostava nada de o ouvir se chamando assim, porque era bem ridículo. O lado ruim era que passavam pouco tempo juntos, entre a carga horária pesada de trabalho e a programação com os amigos no tempo livre. Mas era um cara legal.

- Assistindo ao jogo de futebol na casa do Hyunbin, tomamos umas cervejas e acabamos ficando lá até tarde. – Jogou os restos da maçã no lixo e colocou a caneca vazia na pia – Mas quando eu cheguei sua mãe ficou meia hora só falando de como seu amigo é bonito. Fiquei até com ciúmes.

Ele fez um bico vergonhoso e Jeongguk revirou os olhos, sem conseguir segurar uma risada soprada. Seus pais deviam ser o casal mais esquisito e linguarudo do mundo, não perdiam uma oportunidade de deixá-lo constrangido.

- Seu amigo vai ficar para o almoço? – Perguntou, já de saída – Quero conhecer esse tal deus grego. Quem sabe não é sua mãe quem vai precisar ter ciúmes?

- Pai, menos. Bem menos. Se controle.

Observou o pai rir de forma divertida da sua advertência. Ele podia até achar que era brincadeira, mas Jeongguk estava falando muito sério.

- E eu já te envergonhei alguma vez na sua vida? Não se preocupe, vou ser bonzinho. Nos vemos no almoço!

E saiu porta a fora, para o próprio alívio. Pensou que seu pai já tinha dito coisas constrangedoras aos seus amigos tantas vezes que perdera as contas.

Sentiu-se grato por estar sozinho em casa com Taehyung, e pensou que esta era a oportunidade perfeita para que tomassem café da manhã sem serem incomodados por comentários desagradáveis dos seus pais.

É, não podia deixar essa chance ir embora. Precisava acordar o garoto incógnito logo, antes que sua mãe voltasse para casa.

Deixou a mesa de café arrumada e subiu as escadas, determinado a chamar Taehyung para comerem. A porta do quarto rangeu a abrir, e Jeongguk fez uma careta de desagrado, preocupado que o barulho pudesse acordar o garoto, mesmo que fosse exatamente essa sua intenção.

Ele ainda estava completamente imerso no sono, e a expressão em seu rosto era tranquila e pacífica. Sentou-se ao seu lado na cama e por um momento ficou com pena de interromper seu descanso, cogitando a possibilidade de deixá-lo dormir mais um pouco.

Mas não podia fazer isso. Se ficasse muito tarde, correria a o risco de serem ambos abordados pelas perguntas indiscretas de sua mãe, e Jeongguk se obrigou a tocar-lhe o ombro, chacoalhando de leve o corpo imóvel de Taehyung.

- Hyung? – Praticamente sussurrou, ainda repleto de dó por ter de acordá-lo.

O castanho se remexeu no lugar, e sua boca se contorceu em um bico.

- Shh… Você vai espantá-los…

Jeongguk sentiu todos os pelos do corpo se arrepiarem ao ouvi-lo. A voz dele soou áspera, mais rouca e grave do que habitualmente, por ter acabado de acordar.

Mas do que diabos ele estava falando? Devia estar sonhando ainda, constatou, e abriu um sorriso largo. Tinha que ser mesmo o garoto incógnito, devaneando sobre os próprios sonhos enquanto ainda estava meio dormindo, meio acordado. Era único até enquanto dormia.

Resolveu se aproveitar da situação para tentar desvendar mais sobre o que ele estava sonhando, e respondeu-o em sussurros, a fim de não o acordar de vez.

- Espantar quem?

- Ora, os pombos… – Disse, quase que num suspiro, e Jeongguk precisou segurar a respiração e colocar uma mão sobre a boca para impedir a risada de sair.  

- Pombos?

- Eu e Jeongguk estamos alimentando os pombos...

Sentiu o estômago se afundar, e o coração passou a bater mais rápido. Ele estava sonhando consigo? Foi invadido por uma onda de euforia, e suas bochechas doeram de tanto sorrir. Taehyung estava mesmo sonhando consigo, ainda que os dois apenas alimentassem pombos juntos. Sentiu a mente ficar confusa ao ser invadido por um turbilhão de questões sem resposta. Onde será que estavam? Sobre o que conversavam? Estariam sozinhos?

Quis saber mais. Mordeu o lábio inferior, curioso, e obrigou-se a respirar fundo a fim de tentar controlar os batimentos acelerados. Tinha que falar baixo, ou iria acordá-lo. Quem sabe Taehyung não responderia a mais uma ou duas perguntas, enquanto ainda estava naquele estágio intermediário entre sonho e mundo real?

- Você gosta da companhia dele?

Sua voz soou ridiculamente falha e trêmula, e Jeongguk agradeceu por ninguém ter escutado. Não sabia bem porque tinha feito aquela pergunta em específico, mas ela apenas saiu sem permissão. Gostava tanto de passar tempo com o mais velho que não pôde evitar questionar se ele pensava da mesma forma.

Ainda tinha uma das mãos sobre o ombro de Taehyung, e ficou nervoso ao senti-lo se remexer sob seu toque, afastando rápido sua mão dele. E se ele acordasse? Céus, seria vergonhoso. Mas ele pareceu continuar a dormir, e murmurou um longo “hm”, os lábios curvados em um sorriso discreto.

- Ele é bem legal... – Entoou em sua voz rouca, e Jeongguk sentiu vontade de dar pulinhos na cama, um sorriso enorme estampado no rosto.

Bem legal?

Tudo bem, não era muita coisa, mas fora o suficiente para deixá-lo feliz. Desde que aquela história toda do diário começara, Jeongguk não fazia ideia da imagem que estava passando ao mais velho, e isso às vezes o preocupava. Pensou que pudesse ser visto como um garoto chato, que força a amizade, ou até como alguém meio esquentadinho demais, depois do incidente com Seo Bokjo.

“Bem legal” podia não ser muito, mas era bom.

- Estão se divertindo? – Perguntou, a adrenalina correndo depressa pelo sangue, deixando-o ansioso. Mas sua curiosidade falou mais alto que o medo de ser pego.

Pensou que ele realmente tivesse acordado dessa vez, ao notar o sorriso em seu rosto se expandir e uma risada rouca e frouxa escapar de seus lábios.

- Jeongguk está comendo toda a pipoca…

Não conseguiu segurar o riso, rapidamente tapando a boca com uma das mãos. As borboletas no estômago bateram asas incessantes e Jeongguk sentiu o rosto se esquentar. Por mais que tivesse conseguido sufocar o som, Taehyung se revirou preguiçosamente na cama, prestes a acordar.

- Hyung?

Ele ainda estava com um sorriso sonolento ao abrir os olhos preguiçosos. Merda, como podia ser sempre tão adorável? Jeongguk tinha certeza que suas bochechas estavam cor de rosa, mas ainda assim não conseguia parar de sorrir.

Taehyung o observou por alguns segundos, ainda abstraído da realidade, antes dos olhos castanhos se arregalarem numa expressão surpresa. Ele se sentou de sobressalto na cama.

- Jeongguk?! – Perguntou, confuso, e o mais novo riu abertamente de sua reação exagerada.

- Você dormiu aqui, esqueceu?

- Hãn? – Sua boca se contorceu em uma careta, e logo em seguida ele ergueu as sobrancelhas, parecendo finalmente entender o que estava acontecendo – Ah! Desculpe.

Jeongguk negou com a cabeça, o sorriso insistente ainda estampado no rosto.

- Você realmente ama se desculpar. – Disse, e Taehyung abriu a boca para dizer algo, mas Jeongguk foi mais rápido – Não vai se desculpar por se desculpar, vai?

O castanho imediatamente fechou a boca, e Jeongguk soltou uma risada soprada.

- Acho que ainda estou sonhando.

- Com pombos? – Perguntou, e as sobrancelhas de Taehyung automaticamente se juntaram em dúvida, fazendo Jeongguk gargalhar – Anda, tem café na cozinha. Quem sabe assim você não acorda?

Ele continuou com aquela expressão pasma no rosto, mas concordou com um aceno de cabeça e afastou o edredom para se levantar. Jeongguk ainda sentia as borboletas voando no estômago enquanto ele ajeitava os fios de cabelo castanhos, mas elas pareciam estar se acalmando, mesmo que bem lentamente. Pensou que logo passaria.

Desceram as escadas em silêncio. Jeongguk espiou o garoto incógnito pelo canto do olho pôde ver a expressão no rosto de Taehyung se iluminar assim que alcançaram a sala. Ele inspirou o ar com vontade, sorrindo de olhos fechados.

- Eu amo o cheiro de café pela manhã.

Café. Jeongguk já sabia disso! Lembrou-se da passagem do diário em que ele dizia gostar do cheiro de café e sentiu-se estúpido por não ter recordado antes.

“Eu gosto de chocolate ao leite bem doce, daquele cheio de leite mesmo. Gosto de andar por aí sem rumo e me perder nos meus pensamentos aleatórios sobre um bando de coisas nada importantes e que eu vou com certeza me esquecer logo em seguida. Gosto de ramén, do cheiro de café fresco de manhã, de ouvir músicas tristes mesmo quando eu me sinto feliz.”

Era uma passagem antiga do diário, a mesma passagem em que Taehyung se autodenominava incógnito, e na época Jeongguk nem tinha descoberto seu nome ainda. Pareciam meses desde que havia lido aquilo, mas faziam apenas algumas semanas. E agora ali estava ele, usando seus pijamas.

Sentiu-se estranho, vestígios daquele conhecido peso na consciência por estar lendo o diário sem permissão repentinamente voltando para assombrá-lo. Observou o rosto de Taehyung, seu olhar satisfeito e ignorante do segredo que guardava. Era culpa, reconheceu. Talvez devesse contar que estava com o diário de uma vez, e aguentar as consequências.

Estava com o estômago embrulhado e um gosto amargo na boca.

- Hyung, eu…

- Como sabia que eu estava sonhando com pombos? – Taehyung interrompeu-o assim que entraram na cozinha, e Jeongguk pensou que devia ser um sinal.

Estivera mesmo prestes a confidenciar que lera o diário? Não podia fazer isso. Corria um risco muito alto apenas para apaziguar a dor na consciência.

Poderia perder Taehyung no processo.

- Você me contou. – Admitiu, determinado a tirar aqueles pensamentos imprudentes da cabeça – Quer café?

Encarou o mais velho e viu algo de diferente em seu rosto, mais uma de suas feições expressivas, apesar de não conseguir distinguir muito bem o que ele estaria sentindo. Parecia preocupado, talvez, os lábios entreabertos e sobrancelhas franzidas, mas seus olhos eram vagos e distantes.

- Eu falei dormindo? – Perguntou, e Jeongguk lhe ofereceu uma xícara de café, mesmo que ele não tivesse respondido à pergunta. – O que foi que eu disse?

Ele parecia apreensivo agora, e Jeongguk abriu um sorriso tranquilizador.

- Disse que estava alimentando os pombos, só isso.

Notou Taehyung suspirar antes de afirmar com a cabeça e dar um gole em sua bebida.

Não tinha por que contar tudo o que realmente havia sido dito. Aquilo apenas serviria para constranger, não apenas seu hyung, mas a si próprio também. Jeongguk decidiu que era melhor guardar tal diálogo só para si, mas ainda tinha uma coisa que queria perguntar.

- Você se lembra do sonho?

Ele ficou em silêncio por um segundo, o olhar perdido no conteúdo da xícara de café.

- Ahn, lembro sim. Sempre lembro dos meus sonhos. – Levantou os olhos até o moreno, erguendo as sobrancelhas, como se tivesse recordado de algo importante – Dessa vez eu só estava dando pipoca pra uns pombos, e foi até bem normal, mas às vezes eu tenho uns sonhos muito estranhos! Uma vez sonhei que as galinhas estavam tentando dominar o mundo e nós tínhamos que lutar contra elas, armados com arcos e flechas!

Sorriu ao vê-lo tão animado com um assunto, mas não deixou passar despercebida sua tentativa de mudar o rumo da conversa. Se Taehyung se lembrava do sonho, então sabia que Jeongguk estava lá, junto dele. Talvez estivesse sem graça, e por isso começara a falar sobre as galinhas mutantes.

Mas ao mesmo tempo, desvendar o garoto incógnito não era nada fácil, e ele tinha mesmo aquela mania de pular de um assunto para o outro em questão de segundos, sem nenhum motivo aparente.

- Tomara que você não seja um desses videntes que sonham com o futuro então. Eu não espero participar de uma guerra contra galinhas, acho que a Coreia do Norte já é ameaça suficiente, obrigado.

Taehyung gargalhou alto, mesmo que aquele assunto não devesse ser engraçado. Jeongguk sentiu o retorno das borboletas no estômago enquanto o observava se contorcer de tanto rir, o sorriso excêntrico em formato retangular que tanto o fascinava presente no rosto.

Pensou que poderia assisti-lo rir daquele jeito barulhento e espontâneo por horas, mas foi interrompido pelos estampidos familiares – e assustadores – dos sapatos de salto batendo sobre o piso de madeira.

Oh não. Ela chegou.

- Posso saber do que estão rindo? – Sua mãe apareceu, se enfiando no meio do assunto. Tinha algumas sacolas nas mãos, que Jeongguk reconheceu serem da padaria – Também quero rir! Eu trouxe um monte de coisas pra gente comer, não tem nada nessa casa. Pensei que ainda estariam dormindo, vocês acordaram cedo.

Ela chegou tão repentinamente que mal deixou tempo para reagirem, já colocando as sacolas em cima da mesa da cozinha e fazendo sua costumeira bateria de perguntas matinais.

- Bom dia pra você também. - Disse, fazendo com que a mulher hiperativa parasse por um segundo e o observasse dos pés à cabeça.

- Coelhinho! Fica tão fofo com essa carinha de sono, me lembra quando era pequeno. – Ela virou o rosto para encarar o castanho – Aliás, vocês dois estão com os olhos inchados. Ficaram jogando até de madrugada, aposto.

Jeongguk fez uma careta de desagrado. Aish, como ela conseguia ser tão inconveniente? Coelhinho? Na frente de Taehyung? Pensou em procurar um buraco onde pudesse enfiar a própria cabeça.

Crispou os lábios e olhou para a mãe de forma cúmplice, como num aviso mudo para que ela parasse com as bobagens. Então, ouviu de novo a risada alta de Taehyung ao seu lado, e vislumbrou outra vez o sorriso único de formato retangular. Como num milagre, sentiu a raiva se esvair de si, e deixou que um sorriso frouxo e tímido lhe escapasse os lábios.

- Sua mãe tem razão, Jeongguk. Você parece mesmo… – Bocejou adoravelmente no meio da frase, e o moreno nem se importou em disfarçar seu encantamento com a cena fofa, alargando o sorriso – Um coelho.

O menino-coelho, se lembrou, e um arrepio intenso percorreu sua espinha.

“Nunca conheci um menino-coelho. Na verdade eu bem que gostaria de conhecer um, imagina só um menino tão fofo quanto um coelho?”

- Olha só quem fala! – Ouviu a voz bem–humorada da mãe – Taehyung boceja feito um gatinho.

Contemplou as bochechas de Taehyung instantaneamente corarem, e ele desviou o olhar para a xícara de café sobre a mesa, um sorriso tímido nos lábios.

Como ele consegue ser tão adorável o tempo todo?

~x~

Precisou insistir para que Taehyung aceitasse outra camisa e não voltasse para casa vestindo o uniforme. Ele disse que não poderia ficar para o almoço, já que os fins de semana eram a única oportunidade de reunir sua família para uma refeição, e sua mãe ficaria chateada caso ele não estivesse lá. Jeongguk entendeu e concordou, se dispondo a levá-lo em casa são e salvo, como havia prometido no dia anterior.

Mas ele tinha que aceitar pelo menos uma camisa limpa.

- Tudo bem, hyung. Depois você devolve.

- Tem certeza que não estou incomodando?

Jeongguk revirou os olhos de forma dramática, a fim de deixar bem claro que não deixaria que o castanho negasse o empréstimo. Já estava deixando ele voltar com as calças grafite do uniforme escolar.

Antes que saíssem de casa, Jeongguk lhe estendeu um casaco de moletom vermelho.

- Nem tente… – Avisou, já prevendo que o castanho tentaria recusar a peça – Eu já reparei que você sente muito frio.

Ele se rendeu rápido dessa vez, e vestiu o casaco antes de colocar a mochila nos ombros.
            - Hm... Obrigado. Eu prometo que te devolvo depressa.

Ficaram alguns minutos no conhecido ponto de ônibus na rua do colégio, e conversaram confortavelmente sobre temas aleatórios. Estava frio, e Jeongguk notou o castanho tremendo de leve sempre que a brisa batia, ainda que vestisse seu casaco. Apesar da baixa temperatura, era um dia bonito de céu limpo e as ruas estavam vazias.

Sentaram-se juntos no banco do ônibus e Taehyung ocupou o lugar ao lado da janela. Quando o sol entrava através do vidro o cabelo dele brilhava no que pareciam centenas de cores, entre tons de caramelo, castanho e cobre, deixando Jeongguk distraído por um momento enquanto as cores iam se alternando. Do lado de fora passavam rápido as habituais construções cinzentas de cimento, tediosos como sempre, mas ao redor do cabelo de Taehyung o azul vivo do céu decidira formar uma auréola.

Ele não parava de falar, mil expressões vivas passando pelo rosto ao mesmo tempo, mas Jeongguk deixou-se afastar por um segundo, alheio ao significado real das palavras e captando apenas seu timbre rouco, incomumente grave para sua idade. Mas pensou que mesmo assim a voz combinava com ele, o que era estranho, levando em conta como Taehyung era fofo quase que o tempo todo.

O quê em Kim Taehyung não era estranho?

- Jeongguk? – Chamou, levantando-se do lugar e empurrando-o de leve, para que saísse do caminho – Vai dar mais uma volta de ônibus?

Acordou repentinamente de seus devaneios, só então notando que já haviam chegado ao destino. Andava mesmo avoado.

- Achei que tinha te perdido. – Taehyung riu, enquanto caminhavam lado a lado na calçada – Você deu uma viajada. Por onde andou?

- Ahn, lugar nenhum. Só pensando no tanto que vou ter que estudar hoje. – Disse, propositalmente mudando de assunto – Se eu não for bem nos testes posso acabar fora da equipe de luta ano que vem.

- Jura? Isso seria bem ruim, né? Você gosta da luta.

Jeongguk afirmou vagamente com a cabeça, pensando no assunto por um segundo. Nunca havia ficado sem a luta, e nem sabia como seria.

- Gosto. Mas o problema mesmo é que a equipe é minha melhor chance de entrar numa faculdade boa. Minhas notas não são das melhores.

Alcançaram a entrada da casa amarela de Taehyung, e ele lhe sorriu de lábios cerrados antes de se despedir.

- Ahn, obrigado pelas roupas e por me trazer em casa. – Disse, Jeongguk sentiu o clima ficar estranho assim que pararam de caminhar. Isso sempre parecia acontecer quando o levava na porta de casa – E boa sorte hoje com os estudos.

- Tchau, hyung. Nos vemos segunda.

Antes de virar as costas e entrar pelo portão, Taehyung lhe presenteou com outro de seus sorrisos retangulares, e por um segundo Jeongguk não quis deixá-lo ir embora.

Não queria admitir, mas se sentiu um pouco decepcionado. Por mais que pudesse soar tolo, esperava que Taehyung lhe oferecesse ajuda com os estudos. Ele era bom nisso, não era? Jimin disse que sempre tinha notas ótimas.

Obrigou-se a afastar essas bobeiras da cabeça. Ele estava no último ano, devia ter um monte de coisas com o que se preocupar, e provavelmente não tinha tempo para ser tutor de alguém do segundo ano.

No fim da contas, devia apenas ser grato por ter se aproximado tanto do garoto incógnito.

Mesmo que uma vozinha irritante dentro de si teimasse em dizer que não era próximo o suficiente.

~x~

Jeongguk passou o resto do dia se esforçando para estudar, e por fim considerou que tinha feito um bom trabalho. Tirando esporádicos devaneios sobre Seo Bokjo, meninos-coelhos e pombos, conseguira adiantar boa parte de seus deveres e sentiu-se orgulhoso de si mesmo.

Estava pronto para aproveitar a noite de sábado na boa companhia de seu videogame, mas Taehyung teimava em visitar sua cabeça. A forma como ele se comportou perto de Seo Bokjo ainda infernizava os pensamentos, e Jeongguk lembrou-se da última passagem lida do diário, aquele poema sobre o pássaro azul. O incógnito tinha brigado com o objeto, por causa do tal de Hobi, e Jeongguk não sabia como as coisas haviam se desenrolado depois disso.

Sentiu a já conhecida curiosidade tomar conta de si, e soube que não tinha escapatória. Ia ter que ler. Não estava mais gostando tanto daquela coisa de continuar a ler o diário escondido, e quanto mais conhecia Taehyung pessoalmente, mais culpado se sentia pela invasão de privacidade.

Talvez tivesse puxado um número maior de características de sua mãe do que gostaria de admitir.

Mas não estava fazendo por mal, convenceu-se, já retirando o caderno de seu novo esconderijo embaixo das meias. Poderia ajudar Taehyung se soubesse de uma vez quem era o tal do alma ruim, ou se confirmasse suas suspeitas no garoto ruivo e branquelo do dia anterior.

Tenho que cuidar dele, afirmou para si mesmo, e um calafrio perpassou sua espinha ao abrir outra vez as conhecidas páginas amarelas.

Não tão querido Diário,

Brincadeira! Você ainda é querido. Eu estava chateado, mas acho que deveríamos fazer as pazes. Eu não vou falar nada do Hobi nem do alma ruim, vou contar sobre uma coisa muito legal que aconteceu pra amenizar o clima e nós ficarmos bem de novo.

Minha mãezinha amada andava reclamando das minhas notas de biologia, porque minha irmã mais nova é um gênio da natureza e eu não. Mas sempre falo que o erro é dela de ficar comparando, e oi? Minha irmã está no fundamental, é claro que as notas dela são ótimas.

Mas, enfim, minha nota de biologia aumentou muito (graças ao trabalho dos coelhos – obrigado coelhinhos felpudos) e ela me deu de presente o tênis branco que eu tanto queria. Pois é, assim, do nada! Estou muito feliz, vou usar ele na escola amanhã!

Tá, pode não ser a coisa mais interessante do mundo, mas eu estou realmente feliz. É um tênis caro e eu pensei que ela não fosse me dar.

Mas então estamos de bem agora, certo?

Jeongguk sorriu com a passagem, feliz que ele tinha feito as pazes com o diário, e lembrando-se de como era bom ler trechos em que Taehyung estava feliz. Sentia o coração se esquentar.

Grampeada no papel havia uma etiqueta, notou, uma dessas que costumam vir com tênis de marca, contendo fotos do produto e todas as informações sobre ele, além do prazo de garantia. Achou que era mesmo um tênis bem legal e combinava com a personalidade do garoto incógnito, mas logo em seguida se deu conta de algo que fez o sorriso alegre sumir do rosto.

Taehyung não usava tênis brancos. Desde que o havia conhecido, ele sempre calçara aquele par de converses desbotados. Lembrava-se de ter notado os all stars da primeira vez que o vira, no refeitório, e no dia seguinte o reconhecera pelos pés dentro do banheiro masculino. Tinha certeza de que nunca o vira com outros sapatos, e não teve um bom pressentimento.

Mordeu o lábio inferior, ansioso, antes de virar a página e ir para a próxima passagem, sem nem pensar duas vezes.

A segunda linha já fez seu estômago se revirar desconfortável, e não foi do jeito bom como quando estava perto de Taehyung.

Querido Diário,

EU ESTOU MUITO PUTO.

Passei a tarde toda chorando desde que voltei da escola porque estava triste. Triste de verdade, sorte que a minha mãe não viu porque eu fiz questão de entrar correndo no quarto, trancar a porta e ligar uma música alta pra ela não me escutar. Seria ainda mais deprimente se ela soubesse. Mas agora minhas lágrimas acabaram e eu não estou mais chorando, só que estou com TANTA RAIVA. Acho que nunca estive tão puto na vida, juro.

Deixa eu explicar. Lembra ontem? Pois então, eu fiquei super animado com meu tênis novo, branquinho, lindo e caro. Eu queria muito esse tênis e não estava me aguentando de vontade de ir pra escola com ele. Mas, claro, o alma ruim e sua TRUPE DO INFERNO tinham que aparecer e acabar com a minha alegria.

Primeiro, eles começaram com aquela brincadeira de “tênis-novo-vou-sujar-porque-sou-um-imbecil” e pisotearam meu pé sem dó nem piedade, sujando TODO o meu tênis branco. Só isso já me deu vontade de chorar, porque eu não ganho coisas bonitas e caras com muita frequência, então costumo cuidar bem das poucas que eu tenho. Mas até aí, ok, era só eu chegar em casa e limpar o tênis.

Só que depois eles começaram a me aporrinhar dizendo que meu tênis era de menininha, que eu devia ter comprado na seção feminina, que eu seguia a moda das garotas e outras coisas idiotas e dolorosas. Tive que fingir que não me importava com o que eles diziam, mas no fundo eu estava prestes a começar a chorar. Parece que, desde aquele dia do coelho, quando o alma ruim disse que eu gostava de garotos, qualquer coisa que eu faço vira um motivo pra me chamar de gay.

E mesmo se eu for gay, isso não é da conta deles!

Eu não quero que fiquem tirando sarro de mim dia após dia na escola, então agora vou ter que parar de usar meu tênis branco. EU ESTOU COM TANTO ÓDIO! Queria que todos esses idiotas desaparecessem para sempre e me deixassem em paz.

Merda, não posso usar nem um tênis branco? ELE SÓ É BRANCO! Se fosse rosa com brilhos e arco-íris eu entenderia, mas O QUE TEM DE GAY NUM TÊNIS BRANCO?

Eu só quero que esse ano acabe logo. O ensino médio é um inferno, mal posso esperar pra nunca mais ter que pisar naquela merda de colégio.

Queria poder viajar no tempo e pular os próximos meses.

Vou procurar na internet “como construir uma máquina do tempo” e ver o que eu acho.

Jeongguk sentiu os olhos marejarem e sua visão ficar turva. Apertou os punhos com força até os nós de seus dedos ficarem brancos, e sentiu tanta raiva daqueles imbecis que implicavam com Taehyung que sua vontade era correr até a casa dele e demandar todos os nomes e endereços para que pudesse dar logo um jeito nisso.

Não era de seu feitio querer sair por aí batendo nas pessoas, mas sua paciência havia se esgotado. Como assim não deixaram que usasse um simples tênis branco? Era tão absurdo que nem parecia real, e Jeongguk pensou que devia ser muito otário para nunca ter percebido que esse tipo de coisa estava acontecendo todos os dias. Como era burro!

Fechou os olhos e gemeu de raiva e tristeza quando algumas lágrimas escorreram pelas suas bochechas. Não é possível que Taehyung estava guardando aquilo só para si, era? Ele devia contar essas coisas para alguém, para Hyeyeon, ou Liz, ou até mesmo aquele tal de Hobi. Só de pensar que seu hyung poderia estar guardando tudo para si mesmo fazia com que Jeongguk sentisse o coração bater na garganta.

Estava tão angustiado que quis correr até Taehyung e contar logo tudo de uma vez. Dizer que sabia sobre o diário, sobre o alma ruim, o Hobi, tudo. Então o apertaria bem forte entre os braços e diria que ele ficaria bem, que escutaria todas as atrocidades, que não julgaria uma palavra do que ele dissesse. Queria garantir a Taehyung que não importava a imagem que tinha, ou se gostava de garotos, ou se sentia medo dos outros garotos. Jeongguk ia entender. Ia ficar ao lado dele.

Quis correr até Taehyung e dizer todas essas coisas, mas não pôde.


Notas Finais


E aí, o que acharam?? Ficou imenso, eu sei, perdão. Não quis cortar nada, nem dividir dessa vez. Vamos andar com a história, não é? Não dá pra prolongar mais!
Mesmo com a minha lentidão, espero que estejam gostando. Peço que me deem muito amorzinho hoje, porque estou mesmo precisando disso e me virei do avesso para conseguir terminar esse capítulo. Estou com saudades de vocês, e vocês só aparecem quando eu atualizo, então aqui estou eu hahah.
Não vai ter como responder aos comentários agora porque estou saindo para a aula, mas prometo que responderei a todos. Vocês se superam nos comentários a cada capítulo e me deixam muito feliz, rindo feito boba mesmo. Obrigada de coração.
Então por favor me contem o que estão achando!

E venham falar comigo:
twitter @ btsnoona_
curiouscat / btsnoona
instagram @ larissalair

Amo muito vocês <3
Beijocas amoras,

~BtsNoona


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...