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História Incógnito VKook - Taekook - Um louco


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores amores!
Estou com pressa, muita pressa... desculpem!
Nos vemos nas notas finais.

Boa leitura!

Capítulo 13 - Um louco


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Um louco

Um louco.

Era precisamente nisso que Kim Taehyung havia o transformado. Tinha surtado de vez.

Por mais que entendesse os motivos da própria angústia, a agonia de saber pelo que o garoto incógnito passava todos os dias e ainda assim se sentir impotente, Jeongguk notou que estava indo um pouquinho longe demais quando abriu seu tão amado cofre na manhã de domingo.

Ali estavam todas as suas economias, da vida toda. Especialmente o dinheiro que sua avó havia lhe dado de aniversário no último primeiro de setembro, e que ele planejava usar para comprar os convites caros do baile do último ano – para si mesmo e sua acompanhante.

Mas nem tinha uma acompanhante ainda, e o motivo novo que arranjou para gastar suas economias parecia muito mais urgente que o baile de formatura. Afinal, Taehyung havia sido provocado e humilhado graças à um simples tênis branco, e Jeongguk duvidava muito que alguém fosse se meter com ele na escola caso aparecesse lá com um tênis exatamente igual. Podia estar louco, e começava a pensar que realmente tinha perdido a cabeça por completo, mas decidiu que iria até a tal loja e compraria exatamente o mesmo modelo, na mesma cor. Na verdade, estava torcendo para que alguém implicasse mesmo com ele, e desse motivo para que descarregasse pelo menos metade da sua indignação.

Por sorte, Taehyung havia grampeado a etiqueta do tênis no diário. Não tinha erro. Só precisava ir na loja e comprar.

Acordou bem cedo no domingo, ansioso para adquirir logo seus novos tênis brancos. Tirou algumas fotos da etiqueta no celular, só para garantir que não iria confundir o modelo e foi até a loja de calçados mais próxima, os bolsos cheios com as notas que sua avó lhe dera.

Estava tão ansioso que nem quis experimentar o calçado. Pouco importava se era confortável ou não, apenas o queria, ou mais do que isso: precisava. Conferiu se era mesmo o exato tênis que Taehyung havia ganhado da mãe e, sem dor nem peso na consciência, entregou boa parte de suas economias, voltando para casa com o produto em mãos e um sorriso vitorioso no rosto.

Deixou a caixa de sapatos em cima da escrivaninha, apenas como garantia de que não se esqueceria de usá-los no dia seguinte, mesmo sabendo que iria lembrar deles mesmo que estivessem debaixo das meias, junto com o diário do incógnito. Estava ansioso demais para que Taehyung o visse usando os tênis para simplesmente se esquecer.

Ainda estava morrendo de raiva do tal de alma ruim, mas obrigou-se a afastar a cabeça do assunto durante a tarde de domingo, já que tinha um objetivo em mente: terminar a leitura do Grande Gatsby. Estava enrolando aquilo tempo demais. Além de ter uma prova sobre o livro muito em breve, também precisava devolvê-lo a biblioteca, e seu prazo estava se esgotando.

Era um livro interessante, de fato. Jeongguk achava aquele Jay Gatsby, o personagem principal, muito maluco. Ele tinha mudado a vida inteira só por causa do amor que sentia pela Daisy, um amor de adolescência. Chegou a se tornar um completo doido obsessivo e comprar uma casa bem em frente à dela, mesmo que a tal Daisy já estivesse casada e tivesse uma filhinha.

Que cara louco.

E lembrou-se de si mesmo, da sensação que teve logo ao acordar, do ponto de insanidade a que Taehyung o havia levado. Talvez não fosse assim tão diferente de Jay Gatsby. Mas em bem menor escala.

Sentia-se realmente angustiado. Era enlouquecedor como Taehyung conseguia invadir seus pensamentos em seja lá o que decidisse fazer. Lembrava-se do seu sorriso espontâneo quando jogava videogames, da sua pele dourada sempre que via alguém sob o sol, e mesmo quando tentava se abstrair do mundo e lia quadrinhos ou assistia televisão, ele ainda teimava em lhe atormentar a mente. Lembrava-se de Taehyung sempre que via alguém sofrendo uma injustiça, de sua postura triste e defensiva, do olhar acuado que vira pela primeira vez no refeitório algumas semanas atrás.

Eu preciso parar de pensar nisso.

O jeito era resolver logo o problema. Jeongguk chegou a conclusão de que só conseguiria tirar o castanho da cabeça quando tivesse certeza de que ele não sofria nenhum tipo de agressão, fosse física, moral ou psicológica. Só assim poderia deitar a cabeça no travesseiro e dormir bem à noite, e depois voltaria a pensar nas coisas comuns de sua vida tediosa.

O próximo campeonato de luta. A prova que precisava estudar. A festa de aniversário de algum amigo. A garota que convidaria para o baile.

Teve certeza de que esses temas retornariam à sua rotina assim que garantisse a segurança de Taehyung.

Esforçou-se, mesmo, e deu o máximo de si para não se perder em pensamentos aleatórios até que terminasse o livro. Ao chegar nos capítulos finais nem precisou se esforçar tanto, e foi finalmente capturado pelos eventos esquisitíssimos que encerram a trama.

Ficou agradecido por ter insistido na leitura. Quanto tempo tinha passado? Uma, duas horas? Havia ficado completamente imerso no livro, e tinha gostado.

Então era assim que Taehyung se sentia, pensou, lembrando-se do que ele havia dito quando foram à biblioteca municipal. Teve que concordar que era mesmo meio mágico, de certa forma, se deixar ser inteiramente sugado por um mundo que nada se parecia com o seu.

Por algumas horas, viveu nos Estados Unidos dos anos 1920, junto com Daisy e Gatsby.

Jeongguk fechou o livro e abriu um sorriso de satisfação.

Desvendara um pouco mais do universo incógnito de Taehyung, e estava animado para poder contar a ele como fora a experiência. Pensou em voltar com ele no ônibus no dia seguinte, então iria até a biblioteca e entregaria o livro. Os dois podiam conversar no caminho, à sós.

Decidiu que era uma ótima ideia. Ia matar dois coelhos com uma cajadada só, mas pensou que Taehyung não teria gostado nada dessa analogia com o assassinato de coelhos. Ele próprio não gostava muito. De qualquer forma, conseguiria conciliar uma vontade e um dever: comentar sobre o livro e devolvê-lo à biblioteca. Podia se encontrar com o castanho no dia seguinte e sugerir sua ideia na hora do almoço, mas ficou tão eufórico com a repentina descoberta literária que sentiu necessidade de falar com ele de imediato.

Rapidamente tirou o celular do bolso e buscou o nome do garoto incógnito.

Hyung?

Terminei de ler O Grande Gatsby.

Oiii :)

Mesmo?

E o que você achou?

Ainda estou em choque!!

Podemos conversar no ônibus amanhã?

Preciso devolver o livro.

Hm....

Amanhã não posso

Tenho coisa pra fazer a tarde

Desculpa T-T

Ah, é. Que idiota! Tinha se esquecido que Taehyung tinha algum compromisso nas segundas. Ficou curioso para saber o que era, lembrando-se de que ele nunca havia citado nada sobre isso no diário, mas pensou que seria abusado demais perguntar. Se ele quisesse, provavelmente já teria dito algo.

Não sabia o que responder, e os segundos que se seguiram foram desconfortáveis, mesmo que à distância. Pensou em algo para dizer que fosse amenizar o clima estranho, mas logo em seguida viu que Taehyung estava digitando.

Podemos ir terça

Tem problema se você devolver terça?

Acho que não

Então

Posso até te ajudar a estudar um pouco

Já que vamos estar por lá

Sério?

Aish! Tinha que respondê-lo de forma ávida e impensada até por mensagens? Parece que até os próprios dedos estavam contra si.

Obrigou-se a contar pelo menos até três antes de digitar.

Ia ser ótimo

Um, dois, três. Respira.

Se não for te atrapalhar

Sem problemas!

Um. Dois. Três.

Obrigado, hyung.

:)

Devia enviar uma carinha também? Não, não. Isso seria idiota. Melhor deixar assim mesmo.

Até porque tinha medo de recomeçar um assunto sem querer e acabar falando alguma bobagem. Jeongguk não conseguia tirar o sorriso do rosto, tão eufórico pelo simples fato de que Taehyung havia se oferecido para o ajudar com os estudos. Pensou que ele não fosse fazer isso, por algum motivo, e agora estava se sentindo ansioso.

Sempre ficava ansioso para passar algum tempo sozinho com Taehyung. Era estranho e Jeongguk tinha dúvidas a respeito do por quê. Não era o mesmo de quando estavam com as outras pessoas, e fazia seu estômago se revirar de forma engraçada, como se estivesse prestes a assistir o último episódio de seu anime favorito, aquele que estivera esperando por muito tempo.

Devia ser só porque queria que ele se abrisse consigo. Talvez tivesse mesmo essa impressão, de que o garoto incógnito lhe mostraria seu lado vulnerável se não tivesse ninguém por perto para julgá-lo. Devia ser isso.

Agora que já tinha terminado de ler O Grande Gatsby e colocar as matérias em dia, Jeongguk não tinha mais nada para fazer e suas mãos foram automaticamente atraídas até a gaveta de meias, à procura do diário. Sabia que poderia ler alguma coisa que o fizesse sentir raiva ou angústia, mas não conseguia ignorar a existência do objeto e pensou que era sempre bom conhecer mais a fundo o garoto incógnito, mesmo que se deparasse com algum episódio desagradável de injustiça.

Além disso, ainda procurava por pistas de quem poderia ser o alma ruim, já que ninguém parecia querer lhe contar de boa vontade.

Sentiu borboletas no estômago ao encarar a caligrafia bonita de Taehyung. Tinha criado certa afeição com aquela letra, e toda vez que abria o caderno de couro algo dentro de si se esquentava de um jeito acolhedor.

Tomara que seja uma coisa boa, pensou, antes de começar sua leitura.

Querido diário,

Voltei a usar meu tênis preto velho e surrado. Mas deixei o branco bem limpinho e guardei numa caixa pra quando eu terminar o colégio e for pra faculdade. Tenho a impressão que na faculdade os caras não vão achar ele gay, e se acharem eu duvido que digam alguma coisa.

Pelo menos, assim espero.

Mas enquanto isso a vida continua normal. Fui bem mal na prova de matemática, simplesmente não consigo me concentrar e decorar as fórmulas. Não adianta, sou de humanas. Em literatura eu mandei muito bem, obrigado.

Aliás, fui tão bem em literatura que o professor me dispensou da aula hoje. Estavam todos fazendo trabalho para ganhar pontos extras na média, e ele disse que eu não tinha ponto extra nenhum pra ganhar porque já estava com dez e me mandou passear. E bom, estou passeando.

Saí da sala e fiquei andando sem rumo um tempo, aí resolvi vir aqui pra quadra de grama pegar um solzinho, já que o sol de hoje não está tão forte. Eu realmente amo ficar no sol, é tão acolhedor e quentinho. Parece um abraço gostoso.

Tem uns garotos do segundo ano correndo de um lado para o outro sem parar, acho que é o pessoal da equipe de luta. Tadinhos, correr debaixo de sol não é muito agradável, eles estão todos pingando suor...

Nossa.

Um deles é muito bonito, uow.

Acho que é o garoto mais bonito que eu já vi! O QUÊ? Ele é grande demais pra estar no segundo ano, merda, ele é maior que eu!

Argh! Eu nunca quis tanto saber desenhar em toda a minha vida! Vou tentar.

Ficou um lixo, não faz jus ao menino bonito. Nem um pouquinho! Nem a 30 metros de distância!

Eu estou certo de que poderia observar esse garoto correr de um lado pro outro feito uma barata tonta pro resto da minha vida.

Os cabelos, tão pretinhos...

O que eu tô pensando? Controle-se. Hora de voltar pra próxima aula.

Terminou a leitura e notou que sua respiração estava ofegante. Não podia ser, podia? O calafrio na espinha era tão forte que Jeongguk tremeu os ombros em reprovação, chegava a incomodar de verdade e todos os pelos de seu corpo estavam arrepiados, como se tivesse levado um choque. Um garoto do segundo ano, de cabelos pretos, da equipe de luta…

“Maior.”

Era. Só podia ser. Taehyung estava mesmo falando sobre si naquele pedaço, e Jeongguk releu a passagem uma centena de vezes só para ter certeza. Pensou em todo mundo que estava na equipe de luta, sendo golpeado pela confirmação de que não tinha outra opção, e a descrição do garoto incógnito não havia deixado espaço para enganos. Era mesmo ele. Taehyung escrevera sobre si.

Oh, céus. Taehyung escreveu sobre mim.

Não conseguia nem acreditar que aquilo era verdade. Então a primeira vez que o castanho o vira não foi aquele dia no ponto de ônibus. Já tinha sido notado antes durante os treinos, provavelmente todo suado e descabelado enquanto praticava os exercícios no sol quente do verão. Taehyung já o tinha visto.

Mais do que isso, ele sentiu necessidade de colocar no papel o que estava vendo. Podia muito bem ter reparado em Jeongguk antes e não escrever nada sobre o assunto no diário. Mas não, estava ali, bem na sua frente, documentado. Taehyung sabia quem ele era, e não havia passado despercebido aos olhos amáveis de seu hyung.

E ainda tinha outro detalhe.

Ele me acha bonito.

Não só bonito, mas muito bonito.

“Acho que é o garoto mais bonito que eu já vi.”

Santo Abraxás, estava prestes a vomitar. Era tão bonito assim? Jeongguk não se achava feio nem nada, e sabia que chamava a atenção das garotas, mas se Taehyung…

No que estava pensando? Estava completamente louco mesmo, um descompensado. Só tinha essa explicação, devia estar mesmo insano porque um sorriso irritante não conseguia deixar os lábios, e já começava a sentir cãibras nas bochechas. A respiração também, não dava sinais de querer voltar ao normal. Inspirava e expirava o ar numa velocidade acelerada demais, o rosto quente e com certeza corado. Céus, que calor! Estava mesmo tão quente assim?

Abriu a janela. A brisa fria ofereceu-lhe certo alívio, mas Jeongguk ainda sentia o rosto arder em brasa. Não conseguia parar a mente delirante, atônito com a nova descoberta. Não sabia o que pensar, e nem tinha liberdade para pensar em coisa alguma, os pensamentos tortuosos repetindo trinta vezes a mesma frase, sem deixar lugar para qualquer raciocínio lógico.

Ele me acha bonito. Taehyung me acha bonito, mesmo.

Nunca havia sentido nada parecido antes. Loucura, insanidade, desvario, doidice. Seja lá o nome que for, era a única explicação. Tinha que estar fora de si, porque os sintomas estranhos não pareciam querer parar tão cedo.

E o sorriso idiota continuava estampado no rosto, as bochechas doendo.

Que merda é essa?

Água. Precisava de água, estava morrendo de sede. Largou o diário como estava, aberto em cima da cama, e desceu os degraus até a cozinha. A cabeça ainda parecia um nó cego, e Jeongguk sentiu como se sua própria mente estivesse tentando lhe pregar uma peça. Não é possível, lera errado. Taehyung não tinha escrito nada daquilo, só podia ser sonho. Levantou as mãos em frente ao rosto e encarou os próprios dedos, contando cuidadosamente cada um deles, feito um tonto. Dez.

Não era sonho.

Virou um copo d’água todo de uma vez. Que sede!

- Você está bem?

Quase babou todo o líquido ao ouvir a voz da mãe, levando um baita susto. De onde ela tinha surgido? Nem reparou que ela estava ali.

Não, respondeu mentalmente à pergunta. Estou maluco.

- Sim.

- Tem certeza? Sua cara está meio vermelha.

- Eu estou bem.

Ela pareceu aceitar a resposta, e Jeongguk se sentiu aliviado. Não precisava da mãe o aborrecendo no momento.

Outro copo d’água.

- Você devia trazer Taehyung aqui mais vezes. – Sua mãe comentou, e Jeongguk sentiu a água descer quadrada pela garganta – Ele é tão bonito!

Bonito.

Engasgou-se com o líquido e não conseguiu segurar a tosse.

“Um deles é muito bonito, uow.”

Pra que ela tinha que falar isso logo agora? Sua mãe era mesmo a rainha da inconveniência. Não podia ter escolhido uma frase pior num momento mais inoportuno.

Ainda estava desnorteado, a cabeça avoada dando voltas e mais voltas ao redor da mesma palavra. Bonito.

- Eu sou bonito. – Disse, sem conseguir segurar as palavras na garganta e mordeu a língua desobediente.

Mas que idiota!

- É, Jeongguk, você é bonito. – Ela revirou os olhos – Mas eu vejo sua cara bonita todos os dias, já estou acostumada. Está com ciúmes?

Ela riu, e Jeongguk sentiu como se o som de sua gargalhada resumisse toda sua desgraça e sofrimento.

Precisava sair logo dali antes que cometesse uma gafe ainda pior. Subiu para o quarto e encarou o caderno em cima da cama, quase que com medo de se aproximar e confirmar que havia sido tudo coisa da sua imaginação fértil. Mesmo assim, tomou-o nas mãos, confirmando que Taehyung havia mesmo escrito tudo aquilo.

Notou um detalhe que havia passado despercebido. Tinha uma página faltando naquela parte, apenas os vestígios de um papel que fora arrancado.

“Eu nunca quis tanto saber desenhar em toda a minha vida! Vou tentar.”

Poderia ser o desenho? Fazia sentido. O autor do diário escreveu que tentou desenhá-lo, mas não gostou do resultado. Talvez tivesse arrancado a página.

Céus, Taehyung havia feito um desenho de si? Queria muito que a folha ainda estivesse ali para que pudesse vê-lo, e quem sabe ter uma breve ideia de como se parecia aos olhos dele. Como Taehyung o via?

“O garoto mais bonito que já viu na vida”, a mente ansiosa respondeu rápido, e Jeongguk sentiu outro daqueles calafrios violentos que faziam-no contorcer o pescoço.

Por que não conseguia parar de sorrir?

~x~

Calçado com seus novos tênis brancos, Jeongguk saiu mais cedo de casa na manhã de segunda-feira. Não estava muito paciente e queria chegar logo ao colégio, pensando que talvez pudesse encontrar Taehyung acidentalmente pelos corredores.

Claro, porque Jeongguk estaria acidentalmente passeando pelo corredor do segundo andar, onde o terceiro ano tem aula. Acidentalmente precisava falar alguma coisa muito importante com o amigo Jimin, assunto o qual nem tinha inventado ainda, mas que não podia ser deixado para depois.

Infelizmente, seu plano dera errado. Chegou cedo demais ao colégio, mais cedo que Jimin, e ficou com vergonha de ficar esperando na porta de uma sala que não era a sua, como se fosse um namoradinho ansioso para desejar bom dia ao paquera.

Credo, não! Definitivamente não podia ficar parado feito tonto ali até que Jimin chegasse. Até cogitou dar uma olhada nas outras salas à procura de Taehyung, já que ainda não tinha descoberto qual era sua classe, mas pensou que isso seria muito ridículo. Conformado, desceu os degraus até o primeiro andar enquanto encarava os tênis novos.

- Jeongguk?

Olhou para frente ao ouvir o próprio nome, sem reconhecer a voz de imediato.

Era Liz. Deu de cara com a garota de pernas finas e unhas roídas, os cabelos castanhos e volumosos. Seus olhos eram tão grandes e azuis que chegavam a ser assustadores.

- Hm, oi.

- O que você estava fazendo lá em cima?

Jeongguk engoliu em seco. Ela foi áspera e direta, como da última vez que haviam conversado. Não conseguia entendê-la direito, e não tinha certeza se ela gostava muito de si, apesar de ela ter dito que era bom para Taehyung tê-lo como amigo.

Ainda assim, ela parecia um mistério.

- Fui falar com meu amigo, Jimin… Mas ele ainda não chegou.

Ela estreitou os olhos em sua direção, como se pudesse ver através de sua mentira.

- Você por acaso não encontrou Taehyung no caminho? – Liz sorriu de lado – Ele me disse que já chegou.

Oh céus, estava sendo tão óbvio? Ela com certeza parecia saber exatamente o que havia ido fazer no andar do terceiro ano, e aqueles olhos translúcidos pareciam ter o poder de ler mentes.

- Não encontrei. – Disse simplesmente, grato por seu tom de voz ter saído casual apesar do coração batendo rápido de nervoso no peito.

- Hm… – Ela afirmou com a cabeça, o sorriso de lado ainda nos lábios. Seus olhos azuis pararam por uns segundos para encarar os tênis brancos, antes que ela os levantasse de volta ao seu rosto – É a 302.

- Hãn?

Levou um segundo para entender o que ela tinha dito, aflito demais com a possibilidade de estar sendo tão facilmente lido pela mais velha. Ela tinha passado segundos longos demais encarando o tênis, e Jeongguk teve medo de ser descoberto.

- A nossa sala. É a 302.

Então passou ao seu lado e subiu os degraus, sem ao menos se importar em se despedir.

Sentiu as pernas congeladas e ficou parado no mesmo lugar por um momento, perplexo. Elizabeth Lutterback dava medo às vezes. Não quando estavam na Virgem Maria, junto com os outros, e ela parecia apenas prestar atenção nas conversas e eventualmente rir, calada. Desse jeito até que parecia inofensiva. Mas quando estavam só os dois, Jeongguk se sentia acuado feito presa, capturado pelos olhos pedintes dela.

Lembrou-se do livro que havia acabado de ler, O Grande Gatsby. A capa havia lhe chamado atenção desde a primeira vez que a vira, na biblioteca municipal, e ainda achava a ilustração bem bonita. Eram os olhos azuis.

Como o próprio Taehyung dissera naquele dia:

“Os olhos que tudo veem.”

Um arrepio percorreu sua espinha ao se lembrar daquele dia e enfim conseguiu sair do lugar e entrar na própria sala. Sentou-se na carteira de costume e teve alguns momentos de sossego antes que Cheon Songyi entrasse na sala e tentasse iniciar uma conversa comum sobre assuntos aleatórios. Ela primeiro começou reclamando mau humorada sobre como Jeongguk andava sumido e distante do trio, assunto do qual o moreno fez questão de desviar de todo jeito, fazendo-se de desentendido ao responder as perguntas da amiga.

Vendo que não teria resultado, ela eventualmente desistiu de insistir. Mudou drasticamente de tema, tagarelando sobre as futilidades de costume, que não eram nada interessantes, mas bem mais fáceis de aturar do que o inquérito sobre seus sumiços.

Songyi não parava de falar da droga do baile e de uma tal festa, mas Jeongguk não estava com saco para escutar.

- Os irmãos Baek estão bancando tudo, ouvi dizer.

- E eles são ricos de que? – Perguntou, mais numa tentativa de ser educado e agradar a amiga do que por interesse próprio.

- São herdeiros de um conglomerado! – Exclamou num tom enérgico – Acho que começaram vendendo seguros ou algo assim…

Jeongguk confirmou tediosamente com a cabeça, nem um pouco concentrado no assunto. Estava bem mais preocupado com a hora do intervalo, quando finalmente Taehyung o veria com os tênis. Tinha resolvido deixar de lado a descoberta de que o garoto incógnito o achava bonito, mas não estava tendo muito sucesso nessa parte. Eventualmente, no meio das aulas, era pego de surpresa pelas frases soltas que teimavam em lhe atormentar os pensamentos.

“Eu estou certo de que poderia observar esse garoto correr de um lado para o outro feito uma barata tonta pro resto da minha vida.”

Sacodiu a cabeça, numa tentativa de afastar a caligrafia de Taehyung da mente, mas falhou como miserável. Conformado, aturou os esporádicos arrepios de ansiedade até que a hora do intervalo chegasse.

Mais de uma vez se pegou sorrindo sozinho no meio da sala de aula. Devia estar parecendo um idiota para os outros alunos, mas a mente não parava de tentar prever as possíveis reações do garoto incógnito quando o visse com os tênis. E como Jeongguk de comportaria? Tinha medo de automaticamente corar, assim que colocasse os olhos nele. Rezou para que não ficasse desconfortável demais, ou para que pelo menos conseguisse disfarçar bem os sintomas esquisitos.

Talvez eu deva contar mentalmente até três antes de falar também, cogitou, lembrando-se de todas as vezes que sua língua tinha lhe desobedecido.

Quando o sinal do intervalo finalmente tocou, Jeongguk levou alguns segundos para se dar conta do mundo real. Olhou para a porta, esperando que Songyi estivesse lá a sua espera como todos os dias, e já pensando na desculpa que daria para não almoçar no refeitório. Mas ela já tinha ido.

Jeongguk sabia que não estava sendo um amigo exemplar nos últimos dias, mas não conseguia se sentir culpado. Na verdade, sentiu alívio ao notar que a ruiva não estava encostada contra o batente da porta, já que assim não precisaria dar desculpas esfarrapadas. Melhor desse jeito.

Quis sair correndo até a Virgem Maria, e obrigou-se a caminhar devagar. Nem tinha encontrado Taehyung ainda, mas o coração já dava sinais de que não ficaria tranquilo, palpitando ansioso no peito. Sentia-se bobo e meio louco, como que anestesiado. Cansou de procurar por motivos que explicassem aquele turbilhão de sensações e pensamentos inusitados, e resolveu apenas se conformar com eles. Não eram de todo ruim, na verdade, e Jeongguk até gostava de se sentir aquecido por dentro, da vontade involuntária de sorrir.

Tinha que admitir que gostava de como Taehyung o fazia sentir, mesmo que não conseguisse explicar.

Com as mãos nos bolsos, aproximou-se da já conhecida estátua. Estava frio, bem mais frio que no fim de semana, e o céu cinzento profetizava que não tardaria a chover.

Ao longe, avistou as três figuras e logo identificou Taehyung encolhido, abraçando os próprios joelhos. Han Hyeyeon, sentada ao seu lado, usava uma touca preta e gesticulava para todas as direções. Sua voz fina e enfática podia ser ouvida a metros de distância, e os outros dois pareciam prestar atenção nela. Taehyung tinha um sorriso frouxo nos lábios, enquanto Liz apenas observava em silêncio.

Elizabeth Lutterback levantou a cabeça, notando de antemão a presença de Jeongguk. Ela deu um sorrisinho de lado ao vê-lo se aproximar, e o mais novo tremeu ao pensar que ela poderia ter contado sobre a conversa de mais cedo à Taehyung. Não tinham falado nada demais, mas ficou óbvio que aquela desculpa de procurar por Jimin não tinha colado. E se ela dissesse para Taehyung que ele tinha ido lá procurá-lo?

Oh não. Isso só serviu para piorar seu nervosismo. Não bastasse a última passagem do diário e os tênis brancos nos pés, ainda tinha aquela cena ridícula de mais cedo. Mesmo com os nervos à flor da pele, respirou fundo e avançou até o trio.

- Fiquei sabendo que vai ter todo tipo de bebidas alcoólicas! A gente devia ir nesse troço, pelo menos pra ver como é… – Ouviu a voz de Hyeyeon, que continuava a falar sem parar, alheia a sua presença.

O assunto pareceu familiar, e Jeongguk pensou que ela devia estar falando da mesma festa que Songyi, um tal de pré-baile do terceiro ano bancado pelos pais dos gêmeos Baek. Não se deteve muito nisso, entretanto, bem mais concentrado em encarar Taehyung, sem querer perder o momento que ele notaria os tênis e a expressão cativante que surgiria em seu rosto.

- Jeongguk! – Hyeyeon finalmente notou sua chegada, abrindo-lhe um sorriso satisfeito – Gostou mesmo de almoçar com a gente, han? Senta aí. Estou contando da tal festa que vai ter, já ouviu falar disso? Acho que o colégio inteiro não fala de outra coisa.

Ela falava mesmo demais, e Jeongguk foi obrigado a desviar o olhar do garoto incógnito, meio à contragosto. Pôde ver, entretanto, um sorriso frouxo de lábios cerrados em sua direção, antes que se sentasse de pernas cruzadas sobre o cimento ao seu lado. Ele não pareceu ter notado o tênis. Talvez nem fosse perceber, pensou, e por algum motivo sentiu-se decepcionado.

- Hm, Songyi me disse alguma coisa sobre isso, hoje de manhã.

- Ah, ela é da sua sala, não é? – Hyeyeon perguntou – A namorada de Park Jimin.

É mesmo, Hyeyeon era da sala de Jimin. Jeongguk nem se lembrava mais disso, mas achou estranho ouvir que seu amigo e Songyi passavam a impressão de serem namorados. Deixou escapar uma risada soprada. Parecia absurdo.

- Songyi e Jimin são só amigos. – Explicou, espiando Taehyung pelo canto do olho. Ele parecia olhar para tudo quanto é lado menos para si, e aquilo já estava o deixando angustiado.

Por que não podia perceber logo? Sentia o estômago dar voltas de ansiedade. O fato de saber agora que Taehyung o achava bonito só contribuía para que os sintomas físicos se intensificassem, e Jeongguk secretamente desejou que ele olhasse para si.

- Jura? – A garota continuou, indiferente ao nervosismo do mais novo – Engraçado, achei que namoravam. Eles passam o tempo todo juntos, e eu sempre vejo essa garota na porta da nossa sala.

Não estava prestando muita atenção em Hyeyeon, bem mais preocupado em flagrar a reação de Taehyung ao ver o tênis. Notou o olhar distraído do mais velho finalmente recair na sua direção, e virou a cabeça para encará-lo, sem se preocupar em ser discreto. Foi agraciado com uma expressão instantânea de surpresa, que motivou as já conhecidas borboletas a saírem voando dentro de si, e um sorriso bobo escapou de seus lábios.

Taehyung arregalou os olhos e ergueu as sobrancelhas, abrindo a boca num sorriso espontâneo e retangular. O olhar dele alternou várias vezes entre os pés e o rosto de Jeongguk, de um jeito descrente e adorável, e ele largou os joelhos de seu abraço, sentando-se de pernas cruzadas.

- Uá, Jeongguk! – Exclamou, completamente absorvido pelos tênis, se remexendo de um lado para o outro na tentativa de dar uma boa olhada. – Posso ver?

Como negaria algo a Taehyung? Pensou que nunca seria capaz, e apenas confirmou com a cabeça e descruzou as pernas, esticando-as sobre o cimento para dar uma boa visão à Taehyung, que continuava a examinar os sapatos com o olhar brilhante de fascínio. Sentiu os dedos frios do castanho ao redor do seu tornozelo, e um arrepio lhe percorreu a espinha. Ele levantou seu pé sem cerimônias, interessado em checar até a sola dos tênis, e Jeongguk riu de sua curiosidade exagerada.

- Idêntico! – Concluiu, soltando seu tornozelo e cuidadosamente o devolvendo ao chão.

- Idêntico à que?

Sabia exatamente do que Taehyung estava falando, mas fez-se de desentendido. O coração batia acelerado, ansioso pelo comentário de seu hyung, mas ele mal abriu a boca e foi interrompido por uma voz grave e feminina.

- Tae tem os mesmos tênis.

Liz. Ela disse a frase de forma tediosa, e as palavras saíram arrastadas. Jeongguk deu uma olhada nela e sentiu-se inquieto ao ver o sorrisinho malicioso que brincava em seus lábios. Era um desses sorrisos que guardam segredos, e a conclusão não lhe agradou nem um pouco.

Ela sabe, pensou, e tremeu de medo só de pensar na possibilidade.

Tudo parecia se encaixar de forma dolorosamente perfeita. Os avisos sobre o alma ruim, ter contado sobre qual era a sala dos dois, a longa encarada que havia dado nos tênis logo naquela manhã. Tinha como ela saber sobre o diário?

Só podia ser isso, era a única explicação.

Desviou o olhar para Taehyung e observou enquanto ele afirmava com a cabeça, os olhos castanhos faíscando com interesse. Por mais que estivesse nervoso sobre o que Liz poderia ou não saber, a mera visão dele sorrindo de forma genuína fez com que se sentisse melhor, mesmo que temporariamente. Deixou-se se perder em Taehyung, no som agradável de  sua risada, na forma como ele olhava para si e para os tênis, como que encantado. Era aquela aura tão característica dele, mais uma vez, e por um segundo o mais novo se esqueceu da ameaça de olhos azuis que se sentava bem ao lado.

Jeongguk pensou que aquele sorriso sincero havia acabado de fazer seu dia.


Notas Finais


E aí, o que acharam?
Estou literalmente na sala de aula, então não vou poder me alongar aqui embaixo. <3 espero que tenham gostado desse capítulo!

Por favor, NÃO SE ESQUEÇAM DE COMENTAR! é muito importante para mim, juro.

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amo vocês, obrigada!


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