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História Incógnito VKook - Taekook - Uma fuga


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores amores <3
Como sempre, estou com pressa porque preciso terminar um trabalho em 50 minutos (hehe), então fiz uma revisão bem leviana, espero não ter deixado muitos erros passarem despercebidos :)
Nos vemos nas notas finais,

Boa leitura!

Capítulo 14 - Uma fuga


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Uma fuga

Uma fuga.

E foi rápida, com Taehyung o puxando pela manga do paletó e saindo pela tangente. Tinha que tomar mais cuidado com seus impulsos.

No intervalo do dia anterior, não tinham falado mais sobre os tênis brancos, e Jeongguk contentou-se em apenas observar a reação enfática de Taehyung, sem coragem para fazer as muitas perguntas que rondavam sua mente.

Afinal, Liz podia saber de tudo, e o moreno não queria dar confirmações para as desconfianças dela. Talvez fosse só neurose da sua cabeça, e cada vez mais a teoria de que estava ficando maluco fazia sentido, mas mesmo assim. Não custava ser prevenido. Falaria com o garoto incógnito quando estivessem sozinhos, longe do olhar suspeitoso e azul.

Ao se arrumar para o colégio na terça-feira de manhã, Jeongguk colocou O Grande Gatsby na mochila verde militar. Esperava ficar indiferente quanto a devolver o livro, mas não foi o que aconteceu. Tinha criado certa afeição com o objeto, a capa gasta e bonita dos “olhos que tudo veem” e a vida intrigante do obcecado Jay Gatsby. Por outro lado, estava ansioso para voltar à biblioteca com Taehyung. Era o lugar que tinham ido ao se conhecerem pela primeira vez.

Ao se conhecerem pessoalmente, pelo menos.

Queria ter dado outra espiada no diário na noite anterior, mas não teve tempo. As provas estavam se aproximando, e Jeongguk precisaria se esforçar caso quisesse continuar na equipe de luta no ano seguinte. Ao mesmo tempo que era bom não ler mais com tanta frequência - um alívio bem vindo para a sensação de estar fazendo algo terrivelmente antiético - também queria muito saber se o garoto incógnito havia citado a si mesmo no diário mais vezes, e precisou segurar o ímpeto de folhear o caderno de couro ao invés de estudar.

Quando a última aula da terça-feira finalmente chegou, pareceu durar uma eternidade. Jeongguk ficou batendo os pés embaixo da carteira, ansioso para se encontrar de uma vez com o garoto incógnito. Tinha o visto durante o intervalo, é verdade, e não deixou de notar os costumeiros All Star gastos em seus pés. Passar o almoço na Virgem Maria já parecia de praxe, e o moreno não precisava mais arrumar desculpas tolas para ir até lá. Até Hyeyeon e Liz não ficavam mais surpresas quando ele aparecia, e agiam como se sua presença já fosse esperada junto com o trio. Que bom. Gostava de pensar que já tinha avançado um bocado na amizade com Taehyung, ao ponto de poder passar os intervalos com ele todos os dias.

Eram amigos, no fim das contas.

Mesmo que ainda sentisse frio na barriga apenas com o mero pensamento de que passariam a tarde toda juntos, só os dois.

Se pelo menos a maldita aula de biologia acabasse!

Encostou a testa na borda da carteira, desistindo de fingir que estava prestando atenção no discurso chato do professor, e encarou os próprios pés, os novos tênis brancos tão limpinhos que quase chegavam a reluzir sobre o piso de madeira escura. Tentou conter o sorriso de escapar-lhe dos lábios, mas ele veio furtivo e leve quando sua mente foi invadida pela expressão encantada de Taehyung no dia anterior, quando ele havia o visto com os calçados.

Ouviu o barulho irritante do sinal finalmente tocar, e sentiu-se grato. Recolheu seu material e enfiou de qualquer jeito na mochila, com pressa para sair logo dali, e as borboletas no estômago bateram as asinhas frenéticas dentro de si mais uma vez. Jeongguk não sabia direito o que elas significavam, mas era como se estivesse nu na frente de uma plateia toda vez que ia ficar sozinho com Taehyung.

Isso definitivamente não acontece quando eu vou sair com Jimin!

Distraiu-se, incomodado com a sensação inquietante que parecia começar na boca do estômago e se espalhar pela corrente sanguínea, arrepiando os pelos do antebraço. Geralmente era só ruim e incômodo, mas lembrou-se de algumas vezes em que havia achado os sintomas agradáveis. Como quando vira Taehyung esperando por ele na calçada, antes de irem ao Pixel Palace. Lembrou-se de como prendera a respiração assim que colocou os olhos nele, da expressão singela no rosto bonito, os olhos abertos demais, as sobrancelhas franzidas, a cabeça baixa. Sorriu sozinho ao recordar o sorriso leve que brotou nos lábios dele logo que se encontraram.

Ficou tão entregue a imagem graciosa que lhe veio à mente que, quando deu por si,  já estava subindo o último lance de escadas até o corredor do terceiro ano. Merda! Não devia estar ali. Lembrou-se de quando havia sugerido buscar Taehyung na sala, e como ele rapidamente mudou de assunto, marcando o encontro no ponto de ônibus. Mesmo assim, as pernas continuaram a seguir o caminho até a sala 302, como se não tivesse o menor controle do que estava fazendo. Taehyung não ia gostar, sabia disso, mas uma vozinha no fundo de sua cabeça continuava dizendo que só estava sendo neurótico mais uma vez, e aquilo não era nada demais. Eram amigos, certo? Jeongguk sempre ia encontrar Jimin na sala, e isso era normal entre amigos.

No fundo, sabia que o garoto incógnito não era como Jimin em diversos aspectos. Jimin não fazia com que se sentisse ansioso, não instigava as malditas borboletas, não provocava o instinto protetor de Jeongguk na mesma intensidade. Ainda assim, não conseguia parar de compará-los.

O corredor era um mar de alunos indo na direção oposta à sua, como se fosse um sinal para que não avançasse. Ignorou os obstáculos e continuou a se embrenhar entre eles, determinado a chegar na sala 302. Não era culpa sua, se convenceu. Tinha sido Liz quem contou qual era a turma de Taehyung, e se a culpa fosse de alguém, deveria ser dela.

Pra que ela foi me contar?

Não sabia quais eram as intenções de Liz ao deixar escapar aquela informação, mas logo pensou que deviam ser premeditadas. Talvez ela até soubesse que Jeongguk seria incapaz de conter o impulso de ir até lá.

Quando viu, já estava na porta da sala 302, e ficou parado feito tolo do lado de fora enquanto os estudantes saíam. Tentou se concentrar nos rostos desfilando diante de si, numa esperança infundada de que algum sinal divino pudesse revelar quem era o alma ruim. Todavia, estava ansioso demais para ver Taehyung, e irrefletidamente esticou o pescoço para espiar dentro da sala de aula, os olhos procurando sem permissão pelos cabelos castanhos de seu hyung.

Viu-o de esgueira, guardando o material com Liz ao seu lado. Os olhos astutos dela miraram os seus no mesmo segundo, fazendo com que Jeongguk afastasse rápido o rosto da porta, mesmo sabendo que não adiantaria de nada. Já tinha sido visto.

Agora não tinha mais jeito de fugir, nem que quisesse, e ficou estático no lugar, as pernas bambas de ansiedade. Olhou para os próprios pés, numa tentativa idiota de parecer casual, e enfiou as mãos trêmulas nos bolsos da calça de uniforme.

Céus, como era patético! Ouvia o coração ressoar alto nos ouvidos, os batimentos fora de ritmo se misturando aos burburinhos dos estudantes, e silenciosamente amaldiçoou a própria impulsividade. Sabia que não deveria estar ali, mas era inútil agora.

Absorto demais no próprio receio, só acordou ao sentir o toque frio de dedos ao redor do antebraço. Mal teve tempo de olhar para cima e entender o que estava acontecendo, e foi puxado de súbito, deixando-se ser arrastado por entre a confusão de adolescentes, até ser empurrado para dentro do banheiro masculino do segundo andar.

Era Taehyung. Ele largou seu antebraço assim que entraram no banheiro, e recostou-se contra a pia, de costas para o espelho. O garoto manteve a cabeça baixa, encarando o chão, e Jeongguk não conseguiu ver seu rosto, mas sentiu o peso da culpa sobre os ombros e xingou as pernas desobedientes que fizeram com que subisse os degraus de madeira.

Taehyung obviamente não tinha gostado da visita inesperada. Pelo contrário, ele tinha fugido.

Agora, escondiam-se de algo que o moreno não podia ter certeza do que era, mas desconfiava.

Deveria pedir desculpas? Não sabia o que era apropriado dizer numa situação como aquela, e acabou sem conseguir dizer nada. Taehyung também não ajudava, e só continuava a encarar o chão, sem ao menos olhar para si. Ele devia estar chateado, no mínimo.

Quando finalmente criou coragem para abrir a boca, pretendendo vocalizar o pedido de desculpas tolo que estava preso na garganta, foi impedido pelo som da descarga. Taehyung instantaneamente se virou para a pia, abrindo a torneira e lavando as mãos sem motivo aparente.

Encarou o reflexo do rosto bonito no espelho, e notou que suas bochechas estavam coradas. Parecia completamente absorvido à tarefa de lavar as mãos, mesmo que Jeongguk soubesse que era uma desculpa, um álibi desnecessário.

Ficou tão desconcertado com a situação, que não notou de primeira quando outro rosto apareceu no espelho. Um reflexo de cabelos cor de sangue e pele clara.

Seo Bokjo. Com outro daqueles sorrisinhos cínicos e irritantes no rosto, o que fez Jeongguk automaticamente suprimir o nervosismo e fechar o semblante em desagrado. Notou de canto de olho que Taehyung havia enfim levantado os olhos e agora o encarava através do reflexo. Olhou para o garoto incógnito, as sobrancelhas franzidas e lábios crispados, e ele negou bem de leve com a cabeça, quase que imperceptivelmente, o olhar castanho cravado com afinco nos olhos negros de Jeongguk.

“Não”, era o que seu hyung estava tentando dizer. Mas não o quê?

Então fitou a si mesmo, o próprio rosto, e foi obrigado a encarar o semblante visivelmente irritado, os olhos apertados e as narinas dilatadas, que denunciavam seu incômodo. Detestou constatar que estava sendo transparente.

Era isso que o “não” significava? Não faça isso, Jeongguk. Não seja agressivo, não arrume problemas. Não o enfrente.

- Vocês dois juntos de novo? – Ouviu a voz arrastada de Bokjo, e virou o rosto para encarar as feições zombeteiras do garoto. Ele parecia mais confiante do que no dia da arquibancada. – Formam um casal bem esquisito... Mas até que são bonitinhos.

Quem ele pensa que é? – Pensou, e foi preenchido por desprezo. Jeongguk geralmente era temperamental além da conta, e não costumava levar desaforos para casa. Não pôde evitar lançar um olhar ameaçador para Seo Bokjo, e o garoto pareceu recuar, o sorriso de escárnio sumindo do rosto pálido. Desviou o olhar até o castanho, preocupado em como ele reagiria ao comentário de mal gosto.

Taehyung agiu como se ele nem estivesse lá, e alcançou o papel para secar as mãos. Como ele conseguia? Jeongguk estava com tanta raiva que se julgava capaz de atacar o moleque ruivo a qualquer momento, e precisou segurar todos os seus instintos para não fazer nada. Sentia o coração apertado no peito, aflito ao ver seu hyung aceitando aquele tratamento.

Seo Bokjo ainda ficou lá, alternando o olhar entre os outros dois por alguns momentos, e Jeongguk precisou morder a própria língua para não dizer nada. Ele soltou um risinho anasalado, meio sarcástico, e Jeongguk lhe lançou outro olhar severo antes que o ruivo enfim virasse as costas e fosse embora.

Respirou aliviado por estar mais uma vez a sós com o garoto incógnito, mas a tensão entre eles não se dissipou. Seu estômago ainda revirava de um jeito desconfortável, o arrependimento de ter ido até o segundo andar do colégio se misturando com a preocupação excessiva que sentia em relação a Taehyung. O sentimento de impotência vinha como a cereja do bolo, e o aperto no peito o fazia lembrar do quanto foi inútil.

Não conseguiu protegê-lo como planejado.

- Jeongguk, não tem porque encrencar com ele. – Taehyung o encarou com olhos pedintes, e o moreno sentiu-se derreter por dentro. – Sério, não vale a pena.

Encarou a expressão acuada do garoto incógnito, pensando em algo reconfortante para dizer, mas não conseguiu formular nada bom o suficiente. O que queria dizer, não podia.

O que queria fazer, não devia.

- Se você não quiser ir hoje, nem precisa. – Ouviu a voz rouca ressoar quase inaudível, e aquilo fez com que acordasse de seus devaneios tolos. – Pode me dar o livro, eu devolvo lá.

Não! Jeongguk odiou a própria curiosidade. Como previsto, o garoto incógnito estava se afastando de si. Podiam já estar dentro do ônibus, a caminho da biblioteca, se pelo menos não tivesse agido feito um animal irracional e ido até a sala de Taehyung.

Teve tanto medo de ser evitado que sentiu como se até os ossos tremessem. Depois de tudo o que havia feito para se aproximar dele, quando finalmente sentiu que já estavam próximos, como diabos permitiu que isso acontecesse?

- Não vai poder mais estudar comigo?

O castanho levantou os olhos amendoados e os fixou em seu rosto por alguns segundos. Um arrepio forte percorreu sua espinha, e Jeongguk teve a impressão de estar sendo analisado pelo mais velho.

- Ahn, eu posso... Você ainda quer que eu te ajude?

Ele não parecia surpreso, mas curioso. Jeongguk não entendeu o motivo da pergunta, já que para si era natural que ainda quisesse estudar com Taehyung. Afinal, por que não ia querer?

Afirmou com a cabeça, tentando manter o semblante inexpressivo. Estava dando seu máximo para agir de forma casual, ainda envergonhado por ter se mostrado tão transparente apenas alguns minutos atrás, mas era difícil com o coração batendo desvairado no peito.

- Quero.

Um sorriso brilhante e retangular se abriu de forma instantânea no rosto do garoto incógnito, e Jeongguk sentiu a tensão se amolecer. Tentou traduzir o que os olhos castanhos transmitiam, mas eram tão expressivos, tão além da conta, que não pôde ter certeza.

Alívio, talvez.

Se pegou rindo abobado ao constatar que Taehyung não estava chateado com ele e, como mágica, o aperto em seu peito sumiu.

- Vamos sair daqui. – Jeongguk murmurou entre uma risada suave.

- Por favor.

~x~

Ventava do lado de fora, e Jeongguk olhou para seu hyung, a fim de checar se ele estava passando frio. Apesar da implicância de Seo Bokjo ter sido bem mais direta dessa vez, Taehyung não parecia incomodado como no outro dia.

Pelo contrário, estava solto feito uma pena ao vento, falando pelos cotovelos, e Jeongguk teve a impressão de que até um pouco além do habitual.

Estranhou o comportamento. Será que estava tentando disfarçar o próprio desconforto, falando demais para desviar a atenção da piada de mal gosto? Talvez estivesse mesmo bem acostumado a passar por situações desse tipo, e rapidamente se recuperou do momento constrangedor.

Jeongguk não sabia, mas era difícil se concentrar em avaliar o assunto enquanto Taehyung sorria abertamente para si, tratando de um milhão de temas aleatórios ao mesmo tempo, e o mais novo apenas se sentiu grato por ele não ter se afastado depois daquilo.

Já estavam dentro do ônibus, mais uma vez sentados lado a lado, e o castanho resolvera lhe expor o interessante universo das abelhas – que aparentemente tinham profissões definidas e escolhiam o gênero dos próprios bebês. “Isso pode cair na prova, preste atenção” – Dizia entre uma curiosidade e outra, “a sociedade das abelhas é muito importante”, explicou, e Jeongguk se sentiu menos mal por não ter prestado a menor atenção no que o professor estava falando mais cedo.

Quando Taehyung explicava, não parecia nada chato. Pensou que conseguiria aumentar suas notas o suficiente para não precisar deixar a equipe de luta, caso ele concordasse em lhe dar aulas mais vezes.

O assunto das abelhas se esgotou assim que puseram os pés para fora do ônibus, e caminharam lado a lado em silêncio, Taehyung com aquela mania inquietante de olhar para o chão enquanto andava.

- Então... Você quem escolheu esses tênis?

Nem lembrava mais dos tênis brancos, distraído demais com a possibilidade de que seu hyung desse com a cara em alguma árvore. Arqueou as sobrancelhas, feliz por ele tocar naquele assunto, mas sem saber como responder à pergunta.

Você escolheu por mim.

- Ah, não. Minha vó me deu de presente. – Mentiu.

Jeongguk não gostava muito de mentir, e evitava o hábito sempre que possível. No entanto, teve medo de admitir à Taehyung que coincidentemente tinha escolhido o mesmo modelo – o que também seria uma mentira – e preferiu colocar a culpa na própria avó. Afinal, não era tão falso assim. Sua avó havia lhe dado o dinheiro de presente, sem o qual não poderia ter comprado os tênis.

Indiretamente, havia mesmo sido um presente dela, se convenceu.

- Jura? Sua vó tem bom gosto para sapatos. São muito bonitos.

Era hora. Taehyung inconscientemente dera a deixa para que fizesse a pergunta que desde o dia anterior estivera presa na garganta.

- Liz disse que você tem um igual. Por que não usa os seus?

A expressão em seu rosto mudou de imediato, e Taehyung pareceu apreensivo.

- Ahn... Estou guardando para a faculdade. – Admitiu com um sorriso triste – Tenho medo de estragar. Eles são muito legais mesmo, e sempre que aparece alguém com tênis brancos na sala, o pessoal pisa no pé pra sujar. Aí, acho melhor deixar em casa.

Jeongguk afirmou com a cabeça, fingindo aceitar a desculpa de primeira. Não gostou de ver o semblante de Taehyung murchar, e não queria estragar o clima leve e descontraído entre eles. Ficava feliz com a oportunidade de ver o autor do diário, aquele que não tentava disfarçar a própria esquisitice, que Jeongguk julgava encantadora. Não era sua intenção trazer o Taehyung distante e reservado, e pensou que – por mais que estivesse curioso – não devia insistir no tema.

- Estou com dó de devolver o livro. – Comentou, numa tentativa de desviar o assunto – É bem louco mesmo, mas eu gostei.

Taehyung levantou os olhos até si e parou de caminhar por meio segundo, o canto dos lábios levemente repuxados num sorriso frouxo e as sobrancelhas arqueadas.

Jeongguk sentiu cócegas no estômago.

- Sério? Ah, é um livro ótimo mesmo, um dos melhores que eu li no ano passado. Fiquei com medo de que você não gostasse.

- Por quê?

Só notou que havia feito a pergunta em voz alta ao ouvir as próprias palavras e mordeu a língua outra vez. Se aquilo continuasse se repetindo com tanta frequência ia acabar arrancando a língua com os dentes.

- Sei lá. – Disse casualmente, mas Jeongguk notou suas bochechas tomarem um tom rosado – Achei que você pudesse me achar doido.

O mais novo negou com a cabeça, deixando escapar um sorriso tímido.

- Jay Gatsby é doido.

- Tem razão. – Ele riu soprado – Mas você não devia ficar com dó de devolver o livro. Pense que outras pessoas vão poder ler sobre o maluco do Jay Gatsby, e não vai mais ter tanta pena assim.

Observou o autor do diário por alguns segundos em silêncio, e pensou sobre o que ele havia acabado de dizer. Era verdade, claro. Outras pessoas deviam poder ter acesso à leitura, de forma gratuita, e sentiu-se tolo por ter criado tanto apego ao objeto.

Cada dia aprendia algo novo com Taehyung.

- Essa é a beleza da biblioteca pública. – Comentou, e o castanho inclinou-se um pouco para o lado, empurrando propositalmente o ombro contra o seu, como num gesto de concordância mudo.

- É sim. Você está vendo, Jeongguk.

“Você não está vendo. Está olhando, mas não consegue ver.”

Sentiu um arrepio correr-lhe a espinha ao se lembrar daquele primeiro dia em que conversara com o garoto incógnito.

O quanto mais você vai me fazer ver, Kim Taehyung?

~x~

A senhora de óclinhos meia-lua e rosto simpático sorriu quando entraram na biblioteca juntos, pela segunda vez. Taehyung a cumprimentou como uma velha amiga, e os dois comentaram sobre algum livro enquanto Jeongguk assinava um caderninho de devolução. Entregou O Grande Gatsby, mas não se sentiu mal. Era vez de outro.

Ficaram parados na recepção, e Jeongguk não soube o que fazer, nem para onde ir. Devia ter uma sala de estudos em algum lugar, mas não tinham ido até lá da última vez, e não fazia ideia de onde ficava. Esperava que Taehyung lhe indicasse o caminho, mas ele continuou estático.

- Você quer estudar aqui? – Disse, quase num sussurro – Podemos ir pra minha casa.

Arregalou os olhos com o convite inesperado, e piscou várias vezes enquanto encarava a expressão indecifrável de Taehyung. Os olhos castanhos estavam opacos, e ele os desviou de si em menos de um segundo.

- Sua casa?

Taehyung deu de ombros.

- Hm, é... Mas a gente pode só ficar aqui também, se você preferir.

Devia ter soado sem educação, mas a realidade é que estava embasbacado. Ele havia mesmo acabado de convidá-lo para ir até a sua casa e estudar lá? Jeongguk fora pego de surpresa.

- Não é isso. – Apressou-se em responder – É que, ahn...

A mãe dele estaria lá? Não se sentia psicologicamente pronto para conhecer a mãe de Taehyung, e pensou que talvez precisasse de um aviso prévio para se preparar. Sua cara devia denunciar os medos internos, e deve ter parecido transparente de novo, pois foi como se o castanho pudesse ler sua mente.

- Não tem ninguém lá, Jeongguk. – Ele riu, e o moreno sentiu suas bochechas arderem – Você tem vergonha?

Devia estar vermelho, concluiu, e ficou com mais vergonha ainda. Por mais que tivesse aquela vontade absurda de sempre protegê-lo, era o próprio Jeongguk quem se sentia vulnerável ao seu lado na maior parte do tempo. O efeito de Taehyung sobre si era tão inebriante, que mal conseguia disfarçar os sintomas, e apenas concordou um com aceno leve de cabeça, sabendo que era inútil tentar contradizer as bochechas coradas.

- Tudo bem. É fofo. – Taehyung disse, e Jeongguk desejou ter uma sacola de papel para esconder a cabeça – Minha mãe fica no trabalho o dia inteiro, e minha irmã está na escola à tarde. – Ele crispou os lábios e se calou por um segundo, parecendo pensar seriamente sobre algo – E eu acho que deve ter bolo.

Bolo? Jeongguk pensou que era um jeito engraçado de se convencer alguém, e não conseguiu conter um sorriso largo.

- Eu gosto de bolo.

~x~

O bairro de Taehyung era realmente tranquilo. Não era como o seu, cheio de prédios e carros barulhentos, pessoas atrasadas andando a passos apressados para todos os lados. Alguns idosos caminhavam pelas ruas silenciosas e, apesar do frio, os tons quentes das folhas de outono faziam com que se sentisse mais aquecido.

Aproximaram-se do familiar portão branco da casa amarela de Taehyung, depois de terem andado lado a lado por uns dez minutos, um ou outro assunto ameno surgindo casualmente durante o trajeto. Era confortável, andar com Taehyung, apesar da mania dele de sempre olhar para o chão deixar Jeongguk apreensivo. Todavia, preferiu não comentar sobre o assunto dessa vez, pensando que ia parecer um chato.

Depois de três vezes em que havia deixado Taehyung na porta de casa, Jeongguk finalmente cruzou o portão branco e atravessou o quintal. As borboletas se debateram em seu estômago antes de entrar pela porta da frente, e Jeongguk deu uma boa olhada ao redor.

O piso era de uma madeira tão escura que quase chegava a ser preta, e um tapete cinza de formas geométricas ficava no centro da sala de estar. O sofá de três lugares era clássico, num tom de azul meio esverdeado. Nas paredes, algumas fotografias em preto e branco. Não eram fotos de família – como as que haviam em sua casa – mas dessas que pode se ver em exposições de arte. Concluiu que a mãe de Taehyung devia ser simples e sofisticada.

No canto da sala havia uma mesa redonda com tampo de vidro, na qual Taehyung colocou a mochila, tirando logo os livros e cadernos. Jeongguk apressou-se a imitá-lo, sem saber ao certo como agir. Era estranho pensar que estava na casa do autor do diário, e tentou afastar a ideia, já que fazia o frio na barriga piorar. Taehyung ofereceu provavelmente todas as coisas que estavam na geladeira, e se desculpou mil vezes por ser um “péssimo anfitrião”, expondo de novo aquela mania de se desculpar sem necessidade. Jeongguk sentiu-se aliviado quando finalmente começaram a estudar, certo de que o momento constrangedor havia chegado ao fim.  

Estava errado.

Não demorou muito para Jeongguk chegar à conclusão de que ter aulas com Taehyung talvez não fosse tão efetivo quanto pensava. Mais cedo, quando o garoto incógnito havia explicado a sociedade das abelhas dentro do ambiente seguro do ônibus, achara o assunto fascinante e tinha prestado total atenção.

Só que estar num ônibus cheio de gente com Taehyung era bem diferente de estar sozinho em casa com Taehyung.

O fato é que toda vez que ele se aproximava para ler algo em seu caderno ou conferir um exercício, Jeongguk não conseguia se concentrar no que ele estava falando. Tudo bem, adorava ouvir seu hyung tagarelar, e geralmente ficava atento a cada palavra, mas o cheiro dele era tão... Doce. Fazia com que ficasse distraído.

E às vezes o cabelo macio dele esbarrava na sua bochecha, e fazia cócegas. Às vezes, a respiração dele batia na sua orelha, a voz rouca ressoava grave demais, arrastada demais.

A gente devia ter ficado na biblioteca.

Não ia conseguir absorver nada desse jeito. Tinha quase certeza de que o celular não parava de vibrar dentro do bolso, mas poderia muito bem ser só o próprio corpo inquieto, já que Jeongguk sentia-se tremendo por inteiro, de dentro para fora. Céus, aquilo era estranho. Taehyung acidentalmente esbarrou os dedos gelados em sua nuca ao se levantar, e Jeongguk sentiu um calafrio tão forte que precisou contrair os lábios para evitar uma careta.

- Eu já volto. – Disse, antes de se afastar e subir os degraus até o andar de cima, pelo que Jeongguk se sentiu agradecido.

Soltou o ar que nem tinha notado prender nos pulmões e tirou o celular do bolso, a fim de se distrair com qualquer coisa e, quem sabe, acalmar aquele monte de sintomas de insanidade.

Não tinha sido só sua imaginação, concluiu aliviado, e seu celular estivera mesmo vibrando.

Era Jimin.

Vem pro Pixel Palace

Tá todo mundo aqui

Estamos fazendo campeonato de Need for Speed

Anda, vem logo

Se não meu time vai perder

Jeongguk pensou em todos os seus amigos na lan house, se divertindo sem ele, e não conseguiu conter uma careta ao notar que a ideia de um campeonato de Need for Speed soava bem menos emocionante do que uma tarde de estudos com Kim Taehyung.

Não dá hoje

Estou estudando

Jimin visualizou as mensagens no mesmo segundo, e Jeongguk pensou que a tarde de jogos não devia estar tão divertida assim, se ele não saía do celular.

Aham, tá sim

Conta outra

Aposto que está lendo quadrinhos

Revirou os olhos. Resolveu aproveitar a ausência de Taehyung e tirar uma selfie com o amontoado de livros, na esperança de que Jimin acreditasse que estava estudando.

[ imagem ]

Merda

Estou surpreso, Guk. De verdade

E orgulhoso também

A gente marca outro dia

Pra eu derrotar vocês

Guardou o celular de volta no bolso, mas ele voltou a vibrar menos de um segundo depois. Tentou ignorar o chamado e resolveu dar uma lida no caderno, a fim de aproveitar para estudar pelo menos um pouco antes de Taehyung voltar e confundir sua mente outra vez.

Só que o maldito celular continuou a vibrar. Uma, duas, três vezes.

Bufou antes de abrir novamente o chat com Jimin.

Espera um segundo...

Essa não é a sua casa

Não é sua mesa

Guk, onde você está?

Merda. Jeongguk não tinha pensado nisso, e xingou-se por ser tão burro. É claro que Jimin notaria o cenário diferente. Que droga! Ficou olhando para a tela, sem nem ideia do que responder.

Não podia dizer onde estava. Principalmente não para Jimin, já que o loiro pensava que sua relação com Taehyung excedia o limite da amizade.

Mas as mensagens continuaram chegando.

Para de me ignorar

Você arranjou um tutor?

Me fala agora ou eu vou ligar pra sua mãe e perguntar

JEON JEONGGUK

Calma cara

Mais ou menos isso

???

Ah, não

NÃO ACREDITO

VOCÊ TÁ NA CASA DO KIM TAEHYUNG

NÃO TÁ?

...

Reticências?

Sério, Guk?

Era mais fácil ter digitado “sim” logo de uma vez

- Aconteceu alguma coisa?

Ouviu a voz grave de Taehyung e bloqueou o celular rápido, escondendo o objeto no colo. Era o que faltava! Já não bastasse os calafrios e a tremedeira, ainda teria que lidar com as suspeitas de Park Jimin, e não fazia ideia do que o amigo ia falar sobre aquilo.

Lembrou-se do dia no vestiário e no que o loiro disse sobre Taehyung: “Você está indo longe demais nessa coisa, Jeongguk.”

Longe demais? Talvez ele estivesse certo.

Encarou o rosto do garoto incógnito, e notou os olhos castanhos fixos em si. As sobrancelhas espessas e levemente arqueadas emolduravam olhos que guardavam um misto de preocupação e dúvida. Jeongguk deixou-se abstrair do mundo mais uma vez, absorvido por aquela aura hipnótica que parecia transbordar dele, do tom quente de sua pele, dos ombros largos, do queixo afiado. E se lembrou que ele, aquela criatura tão inexplicavelmente simétrica e encantadora o achava bonito. Choques elétricos se espalharam feito cometas, e Jeongguk sentiu-se mais eufórico do que jamais se sentira na vida. Teve que colocar todo o seu esforço em desviar os olhos, na esperança de que aquelas sensações fossem embora, mas a imagem de Taehyung continuou gravada em sua mente, e concluiu que nunca achara nada tão bonito antes.

- Aconteceu, sim – Finalmente respondeu, os olhos focados em qualquer coisa que não fosse ele – Tenho que voltar para casa. Desculpe, hyung.

Sim, Jeongguk estava indo longe demais.

Mas longe demais no quê?

 


Notas Finais


Então, o que acharam?
Espero que tenham gostado do capítulo!
Muito obrigada a todos que vem acompanhando Incógnito, aos leitores fantasmas, aos muitos comentários (que eu espero ter tempo de responder hoje mais tarde) e ao pessoal que está bolando teorias malucas lá no curious cat (tem umas bem loucas, mas eu adoro ver que vocês estão prestando atenção na fic e nos personagens). Enfim, muito obrigada mesmo.

Tomara que esse capítulo tenha ajudado vocês a entenderem melhor o Taehyung (mesmo sem ter nenhuma passagem do diário). Deixem seu comentário POR FAVORZINHO, que eu fico muito feliz e escrevo mais rápido. <3

Quem quiser falar comigo:
twitter @ btsnoona_
curiouscat / btsnoona
instagram @ larissalair

Amo vocês, amoras,
~BtsNoona


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