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História Incógnito VKook - Taekook - Uma certeza


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores amores!
Aqui estou eu, como prometido, para mais um capítulo dessa fanfic que poderia muito bem se chamar "Vergolha alheia de Jeon Jeongguk".
Enfim, espero que vocês gostem. <3
Nos vemos nas notas finais,

Boa leitura!

Capítulo 15 - Uma certeza


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Uma certeza

Uma certeza.

Seria impossível quebrar sua promessa à Taehyung, uma vez que ela servia mais a si mesmo do que ao garoto bonito de cabelos castanhos e olhos brilhantes.

Ao sair às pressas da casa do garoto incógnito, Jeongguk sentiu o coração palpitar aflito na garganta até que chegasse em casa, e seus pensamentos lógicos ficaram turvos ao se lembrar do cheiro dele, ainda tão vívido nas narinas, como se estivesse sentado bem ao seu lado dentro do ônibus outra vez.

Jogou-se sobre o colchão da cama e se concentrou em respirar devagar, organizar o raciocínio e tentar, de alguma forma, categorizar as sensações inebriantes e inexplicáveis que aquele garoto provocava pelo seu corpo. Ficou assim por mais de hora, e tais sintomas levaram Jeongguk através da rota extraordinária de viajar por si mesmo, pela primeira vez. Kim Taehyung havia servido de gatilho à um milhão de perguntas sem resposta.

Cogitou que talvez aquelas sensações estranhas e desconhecidas fossem sinais de algo que estivera ignorando. Lembrou-se do poema do pássaro azul descrito no diário, e como havia chorado naquele dia. Talvez fosse assim que Jeongguk se sentisse, enclausurado na jaula que inconscientemente criou.

Mas era hora de sair? Fizera a prisão para si mesmo, ao próprio gosto, e ela era confortável. As borboletas que tanto queriam escapar pela boca podiam ser sintomas de uma desejada e misteriosa liberdade, mas o que tinha do lado de fora? Era mais fácil cerrar os lábios e prendê-las nas entranhas, mesmo que incomodem.

Jeongguk se acostumaria, eventualmente. Tinha que se acostumar.

Uma voz no fundo da cabeça continuava a sussurrar no ouvido, dizendo que deveria simplesmente ignorar o troço todo. “A ignorância é uma benção”, era o que sua mãe dizia, mas a maldição de saber pareceu-lhe tentadora pela primeira vez.

Estivera acostumado com sua vida repleta de certezas confortáveis, e agora sentia o incômodo de cada uma de suas verdades desmoronando, feito castelo de areia, sem oferecer nenhuma resistência à onda de água salgada que era Kim Taehyung.

Porém, uma única certeza restava, inabalável.

“Eu vou cuidar de você”

~x~

No dia seguinte, quarta-feira, o céu se abriu limpo e azul sobre os cabelos escuros de Jeongguk, como se quisesse tranquilizá-lo de alguma forma. Não tinha mais conversado com Taehyung, nem mandado mensagens, e estava determinado a ir até ele sob a desculpa de esclarecer qualquer desentendimento que sua fuga do dia anterior pudesse ter causado. A verdade, no entanto, era outra. Queria mesmo testar os efeitos que ele lhe causava, pôr à prova as suposições surreais a que havia chegado no dia anterior.

Com muitas dúvidas e poucos pudores, Jeongguk subiu as escadas de madeira até a sala 302, decidido, apesar de saber que talvez ele não gostasse da visita. Precisava tirar algo à limpo, e isto pareceu mais importante e urgente do que qualquer outra coisa.

Da porta já pôde vê-lo, sozinho na sala de aula, tão singelo e encantador como todas as outras vezes, sentado na carteira com seu uniforme grafite e os olhos grudados num livro.

As borboletas apareceram, insistentes. Não era ilusão ou coincidência. Era Taehyung.

- Hyung. – Engoliu em seco quando os olhos dele se desprenderam do livro e focaram em si, curiosos e incertos. – Desculpe por ter saído daquele jeito ontem.

Taehyung o observou em silêncio por alguns segundos, as sobrancelhas espessas arqueadas.

- Tudo bem. – Confirmou com a cabeça. – Você disse que tinha acontecido alguma coisa. Espero que não tenha sido nada grave.

Jeongguk não fazia ideia do quão grave poderia ser, não tinha proporções ou parâmetros para medir, mas sentiu-se aliviado por Taehyung não perguntar o motivo de ter saído do nada.

- Eu já resolvi. – Mentiu.

Não tinha resolvido lhufas, e provavelmente estava ainda mais encrencado do que antes.

O garoto incógnito concordou com um gesto silencioso e não disse mais nada. Era aquele outro Taehyung de antes, quieto e pensativo. Jeongguk desejou saber o que estava se passando na cabeça dele, mas não tinha nem um palpite.

- Eu vou descer. – Despediu-se, imaginando que os outros alunos já deviam estar chegando, e a situação ficaria ainda mais estranha. Também, não precisava ficar mais. Já tinha confirmado suas suspeitas. – Até logo, hyung.

- Boa aula. – O garoto sorriu de lábios cerrados.

Permitiu-se tocar os cabelos castanhos num afago amigável, antes de se afastar e sair da sala de aula. Sentiu o estômago afundar dentro de si ao mero toque dos fios macios.

Era mesmo Taehyung.

~x~

O dia seguinte foi igual, mas igualmente diferente. O cimento que invadia o pátio do colégio até as escadas era o mesmo, o silêncio inquietante da sala de aula, o cheiro engordurado de fast food no refeitório. Tudo igual. Taehyung, também, continuava o mesmo. Era Jeongguk, ele próprio quem havia mudado, apenas.

Passou o almoço na Virgem Maria, como já vinha fazendo, e esforçou-se para tratar Taehyung normalmente e ignorar os frios na barriga, disfarçar de forma que ele não notasse as borboletas que lhe faziam cócegas por dentro toda vez que o garoto incógnito se aproximava de si.

Passou a notar coisas que antes passavam despercebidas. Notou que apreciava a companhia dele quando estava lá, e sentia sua falta quando não estava.

Sexta-feira, ao sair da aula e chegar à quadra aberta para o treino de luta, Jeongguk instintivamente pesquisou na arquibancada à procura da costumeira figura de cabelos castanhos lendo um livro, mas não o encontrou.

Sentiu-se desapontado. Taehyung estivera ali, com um livro em mãos sob o sol, durante todos os outros treinos desde que o notara pela primeira vez. Jimin mesmo lhe disse que ele costumava estar por ali às sextas, quando ainda passava despercebido aos próprios olhos. Então, por que não hoje?

Praticou os exercícios com a habilidade de sempre, mas sua mente voava longe e não demorou para que seu incômodo se transformasse em preocupação. Será que aconteceu alguma coisa? O encontrara mais cedo, durante o almoço, e Taehyung havia tagarelado por diversos assuntos, como de costume. Jeongguk tinha certeza que o garoto incógnito não havia citado nenhum compromisso para aquela tarde.

Sob a desculpa de ir ao banheiro, escapuliu para o vestiário durante o treino e pegou o celular. Ligou para Taehyung, mas ele não atendeu. Enviou uma mensagem, mas ele não visualizou.

Por favor, apareça.

Encarou a tela do aparelho por longos minutos, aflito. Talvez ele só estivesse cansado, e resolveu ir para casa. Era possível, e provável, mas a sensação de que o garoto incógnito ainda estava pelo colégio continuou pinicando o próprio coração. Quis correr atrás dele. Pior do que as borboletas no estômago, o sentimento angustiante de que algo ruim pudesse ter acontecido com Taehyung comprimia o peito. Precisava achá-lo.

Jeongguk decidiu não voltar ao treino. Colocou a mochila verde militar nas costas e caminhou apressado até o treinador, avisando que não estava se sentindo bem, o que era verdade. O mau pressentimento e o gosto amargo na boca lhe davam vontade de vomitar, quase. Já estava saindo do campo quando foi interceptado por Jimin, que correu em sua direção, chamando seu nome.

Não tenho tempo, pensou, sentindo-se culpado por estar tentando fugir do melhor amigo, e ainda pior quando o loiro o alcançou.

- Cara, você tá bem?

O olhar dele era preocupado, e Jeongguk sentiu-se não só um péssimo amigo, mas uma péssima pessoa. Por mais que quisesse explicar a Jimin e tranquilizá-lo, só conseguia pensar em sair dali correndo e procurar Taehyung.

Devia mentir e dizer que ia voltar para casa? Sabia o que o amigo pensava de sua relação com o garoto incógnito, e ele podia começar de novo com aquela história de ir longe demais, para a qual Jeongguk não tinha tempo. Por outro lado, Jimin era seu melhor amigo, e enquanto observava os olhos pequenos e aflitos do garoto a sua frente soube que não poderia mentir. Ele sabia que havia algo errado. Conhecia Jeongguk há tempo demais para não saber.

- Estou preocupado com uma coisa...

- Por isso que está branco feito papel? Parece até que viu um fantasma, o que aconteceu?

Engoliu em seco, o peito doendo apertado.

- Taehyung sumiu. – Disse, e viu Jimin revirar os olhos. – É sério, hyung. Ele não está aqui, não responde minhas mensagens, e eu-

- Eu sabia que tinha alguma coisa a ver com Kim Taehyung. – Bufou o mais velho. – Agora parece que tudo tem.

Jeongguk encarou-o com as sobrancelhas franzidas. Ele parecia mudar de atitude toda vez que o assunto alcançava o garoto incógnito, e Jeongguk tinha que concordar: a coisa andava acontecendo com alguma frequência.

Mesmo assim, continuava sem entender o porquê daquela mudança esquisita. Ele achava Taehyung legal, não achava? Ele até disse que ficou mais tranquilo ao descobrir que Jeongguk estava agindo estranho – por causa do negócio do coelho, e tal – graças à Taehyung. A única coisa que fazia um mínimo de sentido era que Jimin havia dito não querer saber sobre nada relacionado ao garoto incógnito, mas de alguma forma a conversa casual sempre acabava parando nele.

Dessa vez, fora Jimin quem tinha perguntado, e Jeongguk sentiu-se ofendido por seu melhor amigo não levar o desaparecimento de Taehyung à sério.

- Hyung, mas ele não está aqui hoje. E ele sempre está. Você mesmo disse.

- Ele não podia ter alguma outra coisa pra fazer? Olha, Guk, talvez você esteja exagerando.

Jimin ficou encarando-o, uma expressão impaciente no rosto, e Jeongguk perdeu as palavras. Não tinha como se justificar, mas precisava ir atrás de Taehyung. Mordeu os lábios e encarou os próprios pés, os tênis brancos limpinhos.

- Tudo bem. – Jimin disse, no que não passou de um suspiro. – Você está certo. Ele devia estar aqui, sempre está. – A expressão em seu rosto suavizou, e Jeongguk se sentiu aliviado. – Eu preciso voltar para o treino, mas você devia procurar por ele. Se Taehyung aparecer por aqui eu te aviso. Vou ficar de olho.

- Obrigado, hyung.

- Eu ainda acho que você não devia se sentir responsável por ele desse jeito. – Avisou, antes que o moreno se afastasse – Mas que seja, só vai.

E Jeongguk foi, ignorando o comentário de Jimin e entrando no colégio. O sentimento ruim se intensificou ao constatar que ele não estava na biblioteca, nem nos laboratórios, nem na estátua da Virgem Maria. Suas mensagens ainda não tinham sido visualizadas e o celular chamava mil vezes, sem resposta. Desde antes, um lugar havia passado dezenas de vezes pela mente preocupada, mas Jeongguk torceu para estar errado. Estar certo só confirmaria o fato de que tinha, mais uma vez, falhado na missão de proteger Taehyung e deixado de cumprir sua promessa inútil.

A enfermaria. Só de pensar que poderia encontrá-lo lá fazia o estômago se contorcer. E se alguém tivesse feito alguma maldade e machucado Taehyung?

A moça da recepção arregalou os olhos em sua direção quando Jeongguk entrou pelas portas duplas com a respiração descompassada, sem fôlego por ter subido as escadas correndo até ali.

- Sabe me informar se um garoto chamado Kim Taehyung passou aqui hoje?

Jeongguk mal conseguia falar, ofegante, o ar saindo ruidosamente pela boca.

- Ahn? – Ela pensou um segundo, sendo pega de surpresa, mas logo depois arqueou as sobrancelhas como quem se lembra de algo. – Ah! Um de cabelos castanhos, certo? Muito bonito.

- Ele mesmo. – Jeongguk confirmou enfaticamente com a cabeça, ignorando o pensamento indesejável de que todo mundo parecia usar aquela palavra com frequência demais ao se referirem a Taehyung.

- Chegou aqui logo depois da aula, com o tornozelo torcido. Tem o tornozelo fraco, esse menino. A enfermeira da manhã deu um anti-inflamatório bem forte pra ele, e quando eu cheguei já estava dormindo, mas ela comentou isso comigo, que vira e mexe ele vem aqui reclamando do tornozelo. Deve estar apagado até agora, o pobrezinho.

- Eu preciso ver ele.

Jeongguk sabia que devia estar agindo de forma ávida demais, e a enfermeira estava lançando uns olhares meio desconfiados. Mas no fim das contas ela apenas confirmou tediosamente com a cabeça e não fez perguntas.

- Segunda porta à direita.

Assim que entrou no pequeno quarto viu, no último dos cinco leitos separados por cortinas brancas e emborrachadas, um pé de pele caramelo descansando sobre o apoio de três travesseiros fofos.

Taehyung.

Se aproximou da cama a passos largos, e suspirou aliviado ao perceber que ele dormia tranquilamente, o rosto e corpo imaculados. De todos os cenários terríveis que haviam se passado pela cabeça, o pior fora que algum dos garotos que implicavam com Taehyung pudesse ter batido nele, e só o pensamento era suficiente para fazer Jeongguk fechar os punhos de raiva.

Felizmente, com exceção do tornozelo um pouco inchado, ele parecia intacto.

Parou de pé ao seu lado e observou o rosto sereno do garoto incógnito. Ao mesmo tempo que a preocupação ia se esvaindo, Jeongguk era mais uma vez preenchido pelas familiares borboletas no estômago. Analisou a expressão mansa, os olhos cerrados, a pele dourada. Ele era tão bonito que chegava a provocar cócegas na nuca.

- Hyung? Acorda.

Taehyung abriu os olhos preguiçosos e um sorriso frouxo brotou em seus lábios.

- Jeongguk-ah.

Ouvir aquilo fez com que um sorriso bobo crescesse instantaneamente nos lábios, e suas bochechas se esquentaram. Era a primeira vez que ele havia o chamado assim, e Jeongguk tinha gostado. Muito.

- Eu vou te levar pra casa.

- Hm… – Murmurou sonolento, afirmando com a cabeça e fechando os olhos mais uma vez. – Tá bom.

Tão adorável. Precisou segurar a vontade de apertar-lhe as bochechas.

- Mas você tem que levantar! Já são quase cinco horas.

- Cinco horas? – Ele arregalou os olhos, sentando-se de súbito e levando uma das mãos à cabeça. O corpo dele pareceu amolecer, e Jeongguk instintivamente segurou o ombro magro, com medo de que ele caísse para trás. – Aish… Estou meio zonzo.

- Você levantou rápido demais.

- Desculpe. – Taehyung levantou a cabeça e o encarou nos olhos escuros, parecendo ter enfim acordado. – Como me encontrou aqui?

Merda. Não podia dizer que tinha simplesmente entrado sem querer na enfermaria, muito menos que procurara feito louco pelo colégio.

- Dores musculares. – Disse, desviando o rosto do olhar curioso de Taehyung – Acabei de sair do treino.

Abaixou-se e pegou os All Stars pretos no chão, procurando qualquer coisa para fazer que não fosse olhar para ele, temendo ser pego na mentira. Taehyung calçou os tênis velhos e se levantou com um pouco de dificuldade, no que Jeongguk ofereceu-lhe o ombro como apoio.

O coração bateu disparado no peito quando envolveu a cintura estreita com uma mão, a outra carregando a mochila dele, e saíram da enfermaria com Taehyung pulando num pé só. Agradeceu mentalmente pela enfermeira não ter feito nenhum comentário constrangedor denunciando sua mentira.

- Ainda bem que você me achou. Minha mãe ia me matar se chegasse do trabalho e não me encontrasse em casa.

- Com razão – Comentou, pensando que se a própria preocupação já fora apavorante, a da mãe protetora dele seria mil vezes pior. –  Está doendo?

- Hm, assim não. Só dói quando apoio peso.

Chegaram às escadas e Jeongguk encarou os degraus de madeira em dúvida sobre como agir. Seria muito estranho se o carregasse nas costas? Parecia a coisa lógica a se fazer, e convenceu-se de que qualquer um faria o mesmo.

Afinal, Taehyung mal podia encostar o pé no chão.

Parou, colocou a mochila dele no chão e tirou a sua própria dos ombros.

- O que você está fazendo?

- Adivinhe. – Disse, tentando manter o tom casual e despojado. Pegou as duas mochilas e entregou-as à Taehyung. – Nem tente.

O castanho abriu a boca, como se fosse dizer algo, mas ela se fechou em alguns segundos e ele desajeitadamente colocou as duas mochilas nas costas, uma sobre a outra, apoiando-se no corrimão grosso de madeira das escadas. Jeongguk se abaixou, apenas o suficiente para que os braços ficassem na mesma altura dos joelhos de Taehyung, e o corpo inteiro tremeu ao sentir os dedos longos dele segurarem com força a pele entre o ombro e o pescoço.

Era quase como uma massagem, o aperto do toque de Taehyung, e Jeongguk crispou os lábios com força ao se levantar e descer lentamente os lances de escada, numa tentativa boba de prender as borboletas dentro do corpo.

- Você quem vai acabar na enfermaria por ficar me carregando assim. Não estava com dores musculares?

Jeongguk sentiu o estômago revirar à mera menção da mentira.

- Já disse que você me ofende desse jeito. – Forjou um tom aborrecido. – Tanto treino de ssireum pra não aguentar uma pena como você.

- Aigoo, assim você quem me ofende. Veja lá como fala com seu hyung!

Ao passarem pelo pátio, uma ou outra criança os fitava de cima à baixo e lançava olhares tortos. Jeongguk concluiu, pela quantidade de micro seres humanos correndo de um lado ao outro, que devia ser a hora do intervalo dos mais novos, que estudavam à tarde. Pensou que Taehyung pudesse ficar incomodado com os olhos curiosos e infantis em sua direção, mas a única coisa que ele disse foi “Passa rápido, Jeongguk, se minha irmã me pega aqui a essa hora eu estou frito”, no que o mais novo respondeu de prontidão, apertando o passo, e o garoto incógnito abaixou a cabeça até que os fios de cabelo castanho tocassem o pescoço de Jeongguk, como se o gesto fosse camuflá-lo caso sua irmã mais nova aparecesse.

- Você sabe que ela ia te reconhecer mesmo assim, né? – Riu, já quase alcançando os portões da escola. – A não ser que ela seja distraída como você, pode ser genético.

- Você está todo piadista hoje. – Reclamou. – E minha irmã é muito esperta, vive ligada no duzentos e vinte. Por sorte, ela almoça no refeitório, com os amiguinhos super legais dela.

Jeongguk pensou que aquela devia ser uma crítica ao que, no mundo de Taehyung, significava “almoçar no refeitório”, como se a coisa trouxesse algum status social embutido. Nunca tinha pensado sobre o assunto, mas apenas assentiu calado, e colocou seu hyung sentado no ponto de ônibus. Ele estava bem falante agora, nada como da última vez em que o havia carregado nas costas – depois de ter torcido o pé no Pixel Palace – e continuou a discursar sobre como o maldito tornozelo era inútil, pelo que Jeongguk se sentiu grato.

Era mais fácil ignorar as palpitações dentro do peito enquanto Taehyung tagarelava daquele jeito, distraindo-o das estranhas sensações e formigamentos que nunca havia sentido antes. Também, deixava Jeongguk mais confortável. Era bem simples conversar naturalmente com ele quando estava desse jeito, e dava certa confiança de que podia tocar em assuntos que evitaria em outras ocasiões, quando ele estava calado ou haviam pessoas por perto.

Ver Taehyung ligado no “modo autor do diário” não apenas deixava Jeongguk eufórico por terem se tornado bons amigos, mas também fazia com que perdesse os filtros e acabasse por agir e falar da forma como bem entendesse.

E sempre nos momentos mais inoportunos.

 

- Não vai me contar como torceu esse pé?

Já estavam dentro do ônibus, e quando notou, as palavras já haviam lhe escapulido da garganta. O semblante animado do garoto incógnito murchou em questão de segundos, a boca pendendo-se entreaberta, e Jeongguk desejou poder voltar no tempo e retirar a frase.

- Ahn… Eu tropecei. – Disse num sopro de voz, que deixava evidente o incômodo sobre o assunto. Jeongguk observou-o com as sobrancelhas franzidas e olhos tristes, e Taehyung rapidamente contorceu as feições num sorriso torto. – Sabe como eu sou distraído, estava saindo da aula e acabei me espatifando no chão, feito fruta podre. – Soltou uma risada breve, dessas que não chegam aos olhos, e o mais novo teve certeza de que ele estava fazendo graça para desviar do assunto.

- Você devia ter me ligado. Quando algo assim acontecer, gostaria que fizesse isso.

- Hãn?

Não tinha pensado duas vezes antes de soltar a frase, mas não se arrependeu. Por mais que pudesse sentir as bochechas queimando de vergonha, não queria ter de passar nunca mais por aquele desespero insano de preocupação.

- Não é justo que fique sozinho. Se Hyeyeon ou Liz não estiverem com você, por favor me chame.

Observou com interesse quando Taehyung juntou as mãos sobre o colo, puxando as próprias cutículas, e pensou que já o conhecia o suficiente para saber que o gesto era sinal de seu nervosismo. Ele murmurou um longo “hm”, concordando com a cabeça, e levantou o rosto em sua direção, encarando-o de forma tão intensa que fez o mais novo sentir como se estivesse sendo engolido.

- O mesmo vale pra você, Jeon Jeongguk.

 

Desceram mais uma vez no bairro de Taehyung, e Jeongguk colocou-o nas costas de novo, segurando com firmeza por trás dos joelhos magros. O peso de Taehyung era confortável, apesar de sentir as veias saltando no antebraço. Mesmo assim, não se incomodava em carregá-lo. Não era pesado.

- Você já deve ter gasto uma pequena fortuna em passagens de ônibus por minha causa. – O castanho reclamou num tom emburrado, arrancando uma risada soprada de Jeongguk – Não ria! É verdade.

- Não me importo de te trazer em casa.

Taehyung bufou insatisfeito antes de deixar-se apoiar o queixo preguiçoso no ombro esquerdo de Jeongguk, e a proximidade intensificou os sintomas esquisitos.

O estômago deu voltas já familiares e foi forçado a comprimir os lábios, tentando impedir o escape de um sorrisinho intrometido. A respiração suave contra a pele nua do pescoço provocava cócegas, mas Jeongguk não podia rir. Não queria que ele se afastasse.

Fechou os olhos por um segundo, só um mísero segundo, e se permitiu sentir o peso confortável sobre os ombros, a respiração morna contra a pele, os cabelos macios roçando de leve em sua nuca, tudo envolto em um cheiro acolhedor e suave de baunilha. E se deixou entorpecer com o formigamento e os calafrios, o coração acelerado, as borboletas no estômago.

Não era de todo mal, de fato.

- Mas você não tem que me trazer toda vez. – Ouviu a voz grave ressoar bem perto do ouvido, fazendo com que Jeongguk acordasse do torpor, os pelos da nuca se eriçando.

Mas que merda eu estou fazendo? Se controle, por favor.

Fale alguma coisa. Anda, fale.

Algo que não seja total e completamente ridículo, pra variar.

- Pelo menos hoje você veio falando o caminho inteiro. Prefiro assim. No outro dia que te carreguei até em casa você ficou calado o tempo todo, e eu pensei que pudesse ter feito algo de errado.

Ouviu a própria voz e julgou-se ridículo, outra vez.

Oh, merda. Eu desisto.

- Não foi isso. É que, ahn... acho que ainda não tinha tanta certeza sobre você.

Não tinha certeza? Jeongguk não compreendeu o que quis dizer com aquilo, afinal, ele quem era difícil de decifrar. Mas sentiu-se curioso, muito. Por algum motivo, era de seu extremo interesse saber o que Taehyung pensava sobre si. Além de “ele é bem legal” – dito durante sonhos – e “o garoto mais bonito que eu já vi”, Jeongguk não sabia mais de muita coisa.

- Como assim? – Ousou perguntar, com medo de que outra oportunidade como aquela não fosse surgir tão cedo.

- Não sei. Acho que esperava outra coisa.

Esperava alguma coisa? Então Taehyung tinha alguma expectativa ao seu respeito, mesmo antes que o conhecesse?

Jeongguk sentiu um calafrio pela espinha.

Faltavam poucos passos até a conhecida casa amarela, e Jeongguk detestou a curta distância. Aquele assunto interessava-o mais do que gostaria de admitir, e não queria que ficasse pela metade.

- Que outra coisa?

Sua única resposta foi o silêncio. A respiração de Taehyung continuou a afagar-lhe o pescoço até que chegassem ao portão da casa, e Jeongguk precisou morder a própria língua para não insistir numa resposta. Colocou-o no chão meio à contragosto, e tremeu ao sentir a brisa gelada colidir nas costas quentes, anteriormente protegidas pelo corpo longilíneo dele.

- Você devia dormir aqui amanhã. – Taehyung disse, do nada, mudando drasticamente de assunto. Ele tinha essa mania, de mudar de assunto sem aviso prévio. Fazia isso o tempo todo.

Mesmo assim, a frase havia pego Jeongguk de surpresa. E ele disse. Não perguntou, disse.

Sentiu o corpo tremer mais uma vez, mas duvidou que fosse culpa do frio.

- Dormir?

- Se você quiser. – Ele deu de ombros, o olhar perdido no cenário do fim de tarde à sua volta. – Queria te mostrar uma coisa.

Era difícil pensar direito quando Taehyung estava por perto, e ainda mais difícil quando ele apoiava uma das mãos em seu ombro, buscando equilíbrio. Numa questão de segundos, milhões de cenários surgiram num raciocínio nebuloso, e todos eles pareciam desfavoráveis. Conhecer a mãe e irmã de Taehyung. Ficar sozinho com ele.

Vê-lo logo antes de dormir e assim que acordasse.

- Claro.

Não conseguiu reprimir uma careta ao ouvir a própria voz.

Milhões de palavras, Jeon Jeongguk, e você sempre consegue escolher a pior delas.

Taehyung abriu um animado sorriso retangular, que foi ao mesmo tempo uma resposta e uma despedida.

- Te vejo amanhã, então.

O garoto incógnito pulou num pé só através do quintal e entrou em sua casa amarela.

~x~

Vagou a passos lentos em direção ao ponto de ônibus, um sorriso insistente estampado no rosto, a ponto de fazer suas bochechas doerem. Não só as bochechas, mas as costas e os braços também doíam, e pensou que teria que tomar um analgésico se quisesse conseguir dormir à noite.

Ainda assim, valera à pena. Jeongguk sentiu como se tivesse chegado um pouquinho mais perto de seu propósito, de cuidar do garoto de pensamentos cativantes, de cumprir sua promessa.

Chegou a conclusão de que aquela promessa já havia ultrapassado o status de desejo, e se tornara uma necessidade. Por mais que não entendesse os sintomas físicos que a proximidade de Taehyung provocava pelo corpo, Jeongguk sabia que não poderia, nem se quisesse, se afastar dele. Teria que conviver com os calafrios e as borboletas, em segredo, pelo menos até ter certeza de que não seria mais necessário. Ou, até que outro tomasse seu lugar.

Não lhe agradava pensar nisso, constatou com uma careta.

Mas quem sabe, talvez pudesse deixar sua marca no garoto incógnito. Algo que fizesse com que Taehyung não se esquecesse de si facilmente, e quem sabe sua lembrança não traria sentimentos quentes e aconchegantes no futuro.

Como a marca que Kim Taehyung já havia gravado em si, mesmo em tão pouco tempo.

Ainda estava dentro do ônibus, à caminho de casa, quando seu celular vibrou no bolso. Sentiu o coração se esquentar ao ver o nome de Taehyung, e sorriu para a tela do aparelho.

Mas o sorriso bobo durou pouco, e seu estômago se revirou ao ler a mensagem.

Taehyung hyung:

“Jeongguk…”

“Por que tem 11 chamadas perdidas suas no meu celular?”

Prendeu a respiração. Merda, como diabos explicaria aquilo? O coração batia rápido enquanto tentava bolar alguma resposta coerente, qualquer desculpa que pudesse tirá-lo daquela situação incômoda e ridícula. Tinha se esquecido totalmente das várias chamadas que havia feito enquanto procurava por Taehyung, e sua desculpa estúpida de dores musculares acabara de ser descoberta.

O que eu faço?

Sentiu-se burro enquanto encarava o celular entre as mãos trêmulas. Nem sabia se conseguiria digitar alguma coisa, e cogitou simplesmente ignorar as mensagens, chegar na casa do garoto incógnito no dia seguinte com alguma desculpa bem bolada na ponta da língua.

Taehyung hyung:

“Você sabe que dá pra ver que você já visualizou”

Merda. Então, Taehyung estava ali, do outro lado daquela maldita tela, encarando o celular a espera de uma resposta coerente. O fato é que Jeongguk não tinha nenhuma.

A não ser, a verdade.

Jurou que o coração fosse literalmente saltar pela boca enquanto deslizava os dedos trêmulos sobre o aparelho, e foi necessária uma força sobre-humana para que simplesmente fechasse os olhos e apertasse o botão “enviar”.

 

“Eu fiquei preocupado por você não estar na arquibancada”

“Então fui te procurar”

 


Notas Finais


OK, ENTÃO. Esse capítulo foi um sacrifício incrível de se escrever. Queria deixar bem claro isso que escrevi, reescrevi e editei ele um milhão de vezes até chegar em algo que eu gostasse. Enfim, ficou desse jeito. Espero mesmo que tenham gostado dele assim.
Pode parecer que não, mas é um puta capítulo importante do cacete, apesar de não acontecer muita coisa. É um divisor de águas da fanfic, e por isso tem menos ação e mais reação. Meu medo era ter ficado chato. Não tem alma ruim, não tem passagem do diário, e não tem beijo nem nada. Mas assim, tem outras coisas. Coisas que precisavam ser ditas.

Para quem queria entender melhor o Taehyung, este capítulo foi um banquete. Para os curiosos em descobrir a identidade do alma ruim, nem tanto.

Então, por favor deixem comentários, porque eu estou realmente ansiosa para ver as reações e opiniões de vocês à esse capítulo. <3 E eu preciso também. Vocês não fazem ideia de como eu fico feliz, melhora meu dia, meu humor e minha vida.

Obrigada a todos os que favoritaram, aos leitores fantasmas e principalmente aos comentários. Olha, eu não ando tendo muito tempo entre duas longs e uma faculdade de jornalismo bem no meio de uma crise política no país - o que tem me dado muito, muito trabalho extra e eu não aguento mais ver matéria de política na minha frente, sério. Então, é por isso que não estou dando conta de responder a todos os comentários como sempre faço. Mas eu pretendo. Saibam que eu leio todos com muito carinho e não se incomodem se eu responder com algumas semanas de atraso (por favor).

Desculpem pela nota longa. Se quiserem falar comigo, já sabem mas eu repito.
twitter @ btsnoona_
curiouscat / btsnoona
instagram @ larissalair

Eu espero ver vocês muito em breve com um capítulo bem lindo e cheiroso.
Beijocas amoras,

~BtsNoona


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