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História Incógnito VKook - Taekook - Uma resposta


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores amores!
Uow, que capítulo trabalhoso. Espero mesmo que tenha ficado bom, porque foram sangue, suor e lágrimas envolvidos nele. (ok, talvez não sangue, mas o resto é verdade).
Enfim, estou muito ansiosa pra postar logo!
Deve ter um montão de erros, então me avisem caso encontrem algum para que eu possa corrigir.
Sem mais delongas,

Boa leitura!

Capítulo 16 - Uma resposta


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Uma resposta

Uma resposta.

Ao abrir os olhos, mal pôde acreditar que havia realmente a enviado. Mas ali estava ela, com todas as letras.

“Então fui te procurar”

O coração rebelde empenhava-se garganta à cima, tentando sair pela boca, e Jeongguk precisou fazer certo esforço para mantê-lo dentro de si. Ao lado da fatídica mensagem, duas setas. Duas minúsculas setas, cujo significado sentenciava seu destino. A primeira, enviada. A segunda, visualizada.

Mas Taehyung não respondeu. Ele devia estar chateado pela mentira. Devia achá-lo um perseguidor, um esquisito. A parte lógica do cérebro, que já não vinha funcionando muito bem há algum tempo, gritava aos ouvidos que Taehyung provavelmente não ia querer vê-lo mais. E o som reverberou na cabeça, espalhou-se pela corrente sanguínea, causando dolorosas pontadas no estômago. Ficou um tempo assim, como uma estátua pálida de marfim com olhos esbugalhados, prostrado no banco do ônibus. Acordou ao notar que estava prestes a perder o ponto, e saltou do ônibus às pressas, pedindo desculpas ao motorista rabugento por ter dado sinal em cima da hora.

De pé na calçada e um pouco mais acordado, pensou que deveria digitar mais alguma coisa, uma justificativa qualquer, mas os dedos pareciam ter perdido suas forças e a cabeça enevoada não conseguiu bolar uma frase que fizesse sentido. De novo, a verdade surgiu-lhe perante os olhos, como a única escapatória. A verdade sobre o diário, que explicaria sua preocupação exacerbada com Taehyung. Até cogitar a possibilidade era difícil. O medo de perdê-lo era tão grande que chegava a doer nos ossos.

Por quê? Mas que droga! Por que afastar-se dele parecia o pior dos castigos? Mal conhecia o garoto, mas a presença fascinante de Taehyung parecia quase vital. Por que ele causava um efeito tão inebriante, uma curiosidade tão irresistível?

Por que nenhuma de suas perguntas estúpidas parecia ter resposta?

Mas a resposta estava ali, Jeongguk sabia. Uma resposta clara e simples, única e irrefutável. Tinha dado de cara com ela no outro dia, quando foi estudar na casa de Taehyung. E, covardemente, fugira dela. Naquele dia, não tinha fugido de Taehyung em si, do garoto incógnito e autor do diário. Fugiu daquela resposta indesejada, da verdade inconveniente que foi atirada contra o rosto feito um bofetão.

E, parado no ponto de ônibus onde conversou com Taehyung pela primeira vez, Jeongguk soube. Todas aquelas perguntas tinham uma única resposta.

O celular vibrou nas mãos trêmulas.

Taehyung hyung:

“Por que você mentiu?”

Encarou a frase, e quase teve vontade de rir ao notar a ironia da situação. Era a mesma resposta. Uma verdade impronunciável que Jeongguk não ousaria dizer em voz alta. Não tinha coragem.

“Não sei”, digitou, relendo a mensagem sem enviar. Era mentira. Jeongguk sabia. Adicionou uma única palavrinha, oito míseras letras, e a frase se tornou verdadeira.

“Não sei explicar”

Encarou a tela do celular e se sentiu tolo. A situação era tola, estar parado ali no ponto de ônibus, sozinho, esperando uma resposta enquanto encarava a mensagem já visualizada pelo mais velho. A frase também era tola. O estômago continuava a dar voltas de ansiedade, e Taehyung não respondia. Não podia ficar parado ali para sempre, pensou, sua mãe já devia estar imaginando onde se meteu.

Tinha dito para Taehyung mais cedo, que gostaria que ele ligasse para si caso alguma coisa acontecesse. A coisa toda estava implícita ali, o motivo de ter ido atrás dele na enfermaria. Foi sincero enquanto estavam juntos, cara a cara, então por que não podia ser agora?

Digitou outra mensagem rápida antes de guardar o celular no bolso, decidido a não ficar encarando o aparelho feito um perfeito idiota.

“Eu fiquei preocupado”

Durante o caminho, precisou segurar o impulso de alcançar o celular ao senti-lo vibrar dentro do bolso. Só checou suas mensagens ao chegar em casa. Na tela, duas frases. Notou que tinham exatos sete minutos de diferença entre uma e outra.

Taehyung hyung:

“Você é um bom amigo, Jeongguk”

“Que horas vem amanhã?”

~x~

Marcaram para o fim da tarde, por volta das seis horas. Era sábado, e Jeongguk costumava aproveitar a oportunidade para dormir até a hora do almoço, mas acordou atipicamente cedo e ficou revirando na cama, sem conseguir pegar no sono.

Cogitou não ir, arrumar alguma desculpa e desmarcar o encontro, que provavelmente só serviria para deixá-lo ainda mais louco do que já estava. Todos os instintos lhe gritavam que não fosse. Ignorar parecia a saída mais fácil e segura, mas a própria vontade estava contra si. Queria ir. Queria muito, e era péssimo em resistir aos impulsos irresponsáveis. Quando viu, já tinha respondido a mensagem, já tinha marcado sua ida. Precipitado, insensato e tolo.

Como Taehyung conseguia fazer aquilo? Mesmo que não estivesse por perto, nem tivesse enviado mais mensagens, Jeongguk sabia que o garoto incógnito era o motivo pelo qual o frio na barriga parecia não querer ir embora. Ficaria assim para sempre?

Não é possível, uma hora vai parar.

E tentava respirar fundo, forçava-se a pensar em outras coisas.

O que será que minha mãe vai fazer para o almoço hoje?

Preciso estudar mais história, não faço ideia do que o professor está dando.

Mas, quando se distraía apenas um segundo:

Preciso escolher uma roupa.

Será que o tornozelo dele está doendo?

Pensou em enviar uma mensagem perguntando, mas o cérebro apitou logo o alarme de perigo.

Pare, Jeon Jeongguk. Jimin tem razão, você passou do ponto.

 

Era um dia frio. Pela primeira vez desde o último inverno, sua mãe ligou o aquecedor da sala. Depois do almoço e do banho, Jeongguk passou vinte minutos em frente às portas abertas do armário, decidindo o que deveria vestir. Pensou na camisa xadrez, lembrando de uma vez em que Taehyung comentara no diário como achava legal caras usando camisas xadrez por cima de blusas com estampas legais. Sentiu-se estúpido. Pegou uma camisa branca lisa – devia ter pelo menos um milhão delas – e uma jaqueta jeans.

Já eram três da tarde. Puxou uma mochila preta do fundo do armário, com preguiça de esvaziar a verde militar que usava na escola, e a equipou com as coisas que ia precisar. Escova de dentes, pijamas, carregador de celular, uma camisa limpa para voltar no dia seguinte.

Olhando para a mochila com seus pertences, ficou em silêncio por um momento.

Eu estou indo dormir na casa do Taehyung.

Surreal, é o que era. Há algumas semanas não fazia nem ideia de quem era o garoto de cabelos castanhos, e agora estava se preocupando com o que ele pensaria das suas roupas.

Esforçou-se para não tentar prever os acontecimentos. Não tinha razão para imaginar o que fariam, ou o que iam conversar, ou como deveria falar e agir. De qualquer forma, nunca dava certo. Sempre acabava falando um monte de bobagens que não estavam nos planos, e agindo de um jeito ilógico e impulsivo. Mas pensou que devia, pelo menos, pensar duas vezes antes de abrir a boca. Saber demais traz essa desvantagem: podia acabar expondo mais do que deveria, aquilo que antes estava protegido por sua ingênua ignorância.

Resolveu ir de bicicleta. A viagem de ônibus o lembraria do momento desconfortável do dia anterior e, além disso, Jeongguk pensou que o vento gelado no rosto lhe faria bem. Antes de sair de casa, avisou à mãe que só voltaria no dia seguinte, e informou onde estava indo meio à contragosto. Como previsto, ela abriu um sorriso do tamanho do mundo, comentou como Taehyung era boa companhia e completou com um “manda um abraço meu pra ele”. Jeongguk precisou virar o rosto para não revirar os olhos na cara dela. Qual era a chance disso acontecer? Nenhuma, nenhuma mesmo. Ainda assim, concordou educadamente antes de calçar os tênis brancos e sair de casa.

Pegou o caminho mais longo. Não que não quisesse chegar logo, muito pelo contrário. Estava ansioso para rever Taehyung, mas tinha saído de casa cedo demais e pensou que seria estranho se chegasse às seis horas em ponto. Aproveitou o tempo e rezou para que as coisas não ficassem estranhas entre os dois. No dia anterior, Taehyung não tinha insistido para que explicasse a mentira das dores musculares, e Jeongguk não fazia ideia de porque ele tinha deixado o assunto de lado tão fácil e naturalmente. Nem queria saber, e apenas se sentiu agradecido e aliviado. Não sabia explicar o próprio comportamento e no auge de sua preocupação, procurá-lo pareceu a única coisa coerente a se fazer. E teria feito de novo. Se pudesse voltar no tempo, passaria pela angústia quantas vezes fossem necessárias, já que no fim havia ajudado Taehyung. Talvez mudasse só a parte da mentira. Ou melhor: as ligações, e assim não seria pego na mentira.

Onze chamadas perdidas? – Pensou, fazendo uma careta.

Sentiu o rosto esquentar e sabia que devia estar vermelho. Droga, nem tinha chegado ainda e já estava assim! Agradeceu a ideia genial de ter ido de bicicleta. Talvez o vento gelado acalmasse as bochechas rubras e, caso não, o exercício físico era uma boa desculpa.

Depois de algumas voltas desnecessárias e pensamentos desconvidados, Jeongguk vislumbrou a casa amarela crescendo para cima de si, tão autêntica e intimidadora quanto o garoto de olhos cintilantes que nela reside.

O portão branco que dava acesso ao jardim estava destrancado, notou, mas preferiu tocar a campainha e esperar na calçada. Sentia o corpo todo quente, o coração num ritmo acelerado, e pensou que os sintomas deviam ser culpa dos vinte minutos de pedalada até lá.

A quem eu estou tentando enganar?

Viu a porta sendo aberta através do jardim, e uma cabeça de cabelos castanhos deu uma espiada do lado de fora. Ele abriu um sorriso espontâneo e retangular, os olhos ficando bem pequenos, antes de terminar de abrir a porta e mancar até o portão.

Uau.

Jeongguk nunca tinha o visto vestindo algo que não fosse o uniforme grafite do colégio ou seus próprios pijamas. Ele parecia muito confortável com uma calça preta de tecido, bem larga nas pernas e curta nos tornozelos, e uma camisa listrada de mangas compridas. Devia ser uma roupa de ficar em casa, mas nele não parecia. Estava bonito. Parecia ainda mais alto do que de costume, o corpo esguio, a postura ereta – apesar de mal encostar o pé esquerdo no chão.

- Aqui fora está um gelo! – Reclamou, tremendo os ombros. – Você veio de bicicleta! Que legal, tem um tempão que não dou umas voltas num troço desses. Olha, pode deixar a bicicleta aqui fora, se ela não se importar com o frio. Aish, esse frio vai atrapalhar meus planos de hoje. Anda, entra, o aquecedor está ligado lá dentro.

Ele falou tudo de uma vez só, sem dar muito tempo para Jeongguk pensar em cada um dos assuntos. Incerto sobre como agir, mas aliviado por Taehyung parecer animado e confortável apesar dos acontecimentos do dia anterior, deixou a bicicleta sobre a grama, o seguiu através da porta e tirou os tênis brancos.

Estava pensando sobre o que Taehyung queria dizer com “esse frio vai atrapalhar meus planos de hoje”, mas foi interrompido quando uma mulher esguia surgiu a sua frente, de olhos bondosos e porte distante.

A mãe super protetora e preocupada de Taehyung.

Nossa, como era bonita. Bonita mesmo. Não para um padrão de mães, mas para o padrão das mulheres, do tipo que os amigos fariam muitas piadas desconcertantes. Tinha os cabelos escuros num corte simples acima dos ombros, a boca pequena e contida, e olhos penetrantes no mesmo tom de castanho hipnótico que os do filho. Parecia muito jovem, e Jeongguk pensou que não poderia chamá-la de “tia”.

Ela abriu um sorriso aconchegante em sua direção e sua postura demonstrava o quanto era sofisticada, uma mulher culta e bela, educada e inegavelmente marcante. Como Taehyung, ela tinha aquela aura fascinante ao redor de si. Jeongguk viu logo de onde o garoto incógnito herdara seus traços suaves e simétricos.

- O famoso Jeon Jeongguk. – Disse numa voz baixa e macia. – Eu sou Haesook, a mãe do Tae.

Famoso? Jeongguk engoliu em seco e se curvou de forma exagerada.

- Obrigado por me receber, Sra. Kim.

- Que bom que resolveu vir, seja bem-vindo. Queria te agradecer por ter trazido Tae em casa. Ele é distraído demais, não consegue passar uma semana inteira sem mancar.

Notou Taehyung se remexer inquieto ao seu lado, e pensou que talvez ele também estivesse preocupado que sua mãe o deixasse constrangido, exatamente como ficara ao levar o garoto incógnito em sua casa. O pensamento o deixou um pouco mais confortável e Jeongguk reprimiu um sorriso pequeno.

- Não foi nada, Sra. Kim. – Disse, tímido, mas mal teve tempo de terminar a frase antes de ser interrompido pela voz grossa de Taehyung.

- Anda, vamos subir. – Ele saiu mancando em direção às escadas de madeira escura. – Boa noite, mãe.

- Boa noite. – Jeongguk se curvou uma última vez antes de seguir o garoto incógnito pelos degraus. Abriu um sorriso largo ao alcançá-lo, e as palavras saíram num sussurro impensado por entre os lábios. – Famoso, é?

Taehyung não respondeu, ainda de costas para si, mas Jeongguk teve certeza de que ele devia ter revirado os olhos castanhos.

 

~x~

- Pode largar suas coisas aí em qualquer lugar. – Taehyung disse, assim que entraram no quarto, e Jeongguk tomou seu tempo para dar uma boa olhada ao seu redor.

Nunca havia visto um quarto como o de Taehyung antes. Em sua essência, assemelhava-se ao quarto de qualquer adolescente. Uma cama de solteiro, um armário de quatro portas, uma escrivaninha de madeira. Mas, tirando esses elementos clássicos, nada tinha de comum. Primeiro, não havia televisão ou computador, o que era estranho. Um quadro torto com a impressão de uma pintura estava dependurado sobre a cabeceira da cama e Jeongguk reconheceu a imagem, apesar de não saber de onde. Não tinha costume de visitar museus –  a não ser em esporádicos passeios escolares – e pensou que devia ter visto o quadro nas páginas de alguma de suas apostilas, provavelmente artes ou literatura.

Na ilustração, um homem beijava delicadamente a bochecha de uma mulher, e os dois pareciam estar envoltos em um cobertor estampado, em tons vibrantes de amarelo e laranja.

O edredom sobre a cama, de um azul acinzentado, concordava e discordava simultaneamente com o quadro. Tinha uma estampa incomum, onde um monte de libélulas cor de mostarda voavam pelo fundo liso que o lembrava um céu nublado. Um gatinho de pelúcia preto descansava sobre o travesseiro. O Ramén, Jeongguk reconheceu.

Entretanto, o que realmente chamava a atenção, destacando aquele quarto entre todos os outros, eram as paredes. O fato é que Jeongguk mal podia vê-las. Com exceção do entorno da larga janela sobre a escrivaninha, onde paredes brancas e lisas se estendiam, o restante do quarto era quase completamente recoberto por estantes de madeira clara, empilhadas de livros.

- Eu sou uma alma antiga – Ouviu a voz grossa ressoar, e só então notou que estava, literalmente, de queixo caído.

- Hyung…

Jeongguk não soube o que dizer. Realmente, Taehyung devia ser uma alma antiga. O jeito manso de falar, o fascínio pelas coisas simples, a forma ímpar com que via o mundo e seu gosto por coisas que, aos olhos dos outros, eram esquisitas. Devia mesmo ser uma alma antiga.

- Não fique com essa cara de assustado. Me dá a impressão de que vai sair correndo na primeira chance que te der. – Taehyung riu frouxo, e Jeongguk não soube discernir se ele estava brincando ou sendo sincero. – Eu vou lá embaixo rapidinho, e já volto.

- Tudo bem. – Concordou, deixando a mochila em cima da cama. – Eu não vou sair correndo.

Ele riu soprado antes de deixar o quarto, e Jeongguk ficou sozinho no meio daquele monte de livros.

Sentou-se na cama e pegou o gatinho de pelúcia em mãos. Era mesmo o Rámen, com os pelos pretos e olhos verdes, exatamente como descrito no diário.

Será que Taehyung tem um novo diário?

Olhou em volta, curioso. Talvez ele sentisse a necessidade de escrever, e já tivesse substituído o caderno perdido. Um novo caderno recheado de confissões podia estar ali, naquele mesmo comôdo, e o impulso de procurar por ele era tentador. Imagine só, um caderno em que Taehyung descrevesse a primeira vez que conversaram, no ponto de ônibus, ou suas visitas à biblioteca e o Pixel Palace. Sentia o peito tremer tamanha a curiosidade, e ficou encarando o rosto de Rámen, os olhos verdes que pareciam ler sua mente e julgar os pensamentos inapropriados.

Não podia lidar com outro diário. Mesmo que tal objeto realmente existisse, Jeongguk não podia lidar com mais um peso na consciência, e agora que já conhecia o garoto incógnito a coisa parecia ainda mais antiética. Era errado, sabia, mas não podia mudar o que já foi feito. Não tinha como devolver o diário agora sem que a culpa recaísse sobre si, e a possibilidade de que Taehyung nunca mais quisesse olhar na sua cara era a coisa mais assustadora com que Jeongguk já havia tido de lidar.

Ainda mais depois das respostas a que havia chegado sobre ele.

- E você é?

Jeongguk virou-se para trás com um sobressalto, devolvendo o gatinho ao seu lugar original. Sentia as mãos tremerem por causa do susto e encarou a garotinha bonita de cabelos castanhos e expressão severa que havia interrompido seus devaneios. A irmã de Taehyung, Kim Hani.

- Jeon Jeongguk.

Ela olhou-o dos pés à cabeça de forma nada discreta, os bracinhos cruzados em frente ao corpo. Hani parecia o extremo oposto da mãe recatada de Taehyung, mas era igualmente bonita.

- Por que está aqui? – Perguntou com os olhos negros semicerrados.

- Hm, seu irmão me chamou. – Disse, desconfortável. Kim Hani podia ser pequena, mas parecia ameaçadora. – Somos amigos.

- Você não me parece um esquisito. – Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

Quase deixou escapar uma risada, mas ficou com receio de irritar a garota.

- Não sou um esquisito. Eu acho.

- Então, por isso mesmo. Meu irmão só anda com gente esquisita. Aposto que você tem algum motivo secreto.

Ela acertou na mosca. Por mais que seus motivos fossem bons motivos, Jeongguk sentiu o sangue congelar dentro das veias. Hani parecia uma garota atenta e inteligente, e ficou com medo de que ela percebesse caso tivesse alguma reação estranha. Pensou que ele não devia ser uma pessoa muito difícil de se ler, tendo em mente que Liz Lutterback parecia já ter descoberto a coisa toda.

Respirou fundo. Estava surtando. Era só uma garotinha, não era? Não podia ser assim tão ameaçadora.

- Fui descoberto. Será que eu devo te contar? – Sorriu de canto e fingiu cogitar o assunto. – Você sabe guardar um segredo?

Hani afirmou com a cabeça, ávida, e um sorriso ansioso brotou nos lábios infantis cobertos de gloss cor de rosa. Era só uma criança. Jeongguk gostou de ver o brilho curioso e brincalhão nos olhos dela. Dava vontade de contar a verdade, só para ver a reação dela.

- Sou a melhor em guardar segredos. Desembucha.

Kim Hani deu dois passos em sua direção, se aproximando a fim de escutar o tal segredo. Jeongguk, com o estômago formigando, pensou que não seria tão mal assim contar para ela.

- Vou cuidar para que ele não se machuque de novo. – Sussurrou.

Ela ergueu ambas as sobrancelhas e sua boca se contorceu numa expressão muda de surpresa.

- É sério?

Jeongguk sorriu e confirmou com a cabeça, a adrenalina correndo rápida no sangue. Levou um dos dedos até os lábios, em sinal de segredo.

- Hani! – Taehyung entrou mancando no quarto, dois pacotes de salgadinhos numa mão e um refrigerante de dois litros na outra. – O que você está fazendo aqui, hein?

A garota fechou a cara no mesmo segundo, a expressão séria e malcriada voltando ao rosto jovem. Jeongguk tremeu por ser tão irresponsável, e sentiu que iria vomitar as próprias tripas bem ali. E se ela dissesse alguma coisa ao irmão? Seria seu fim.

- Aigoo, nada! Já estou de saída, seu chato.

Ela foi embora batendo os pés e não deu nem mais uma olhadela para Jeongguk. Foi como se nem estivesse ali.

- Minha irmã. – Taehyung revirou os olhos. –  Espero que não tenha sido muito rude. Ela tem um temperamento péssimo.

Um temperamento péssimo? Oh, merda, Hani iria denunciá-lo sem nem pensar duas vezes.

- Quantos anos ela tem? – Ouviu a própria voz soar falha, e rezou para que Taehyung não tivesse percebido. Estava com a garganta seca, como se tivesse engolido um saco de farinha.

- Treze. Está numa fase estranha. – Ele deu de ombros – A gente costumava ser grudado quando éramos mais novos. Ela era bem moleca.

- Hm... Vocês dois não se dão bem?

- Náh, a gente mal conversa.

Graças à Abraxas, pensou, mais seguro de que a menina iria guardar o segredo. Mesmo ciente da própria atitude insensata, Jeongguk viu um lado positivo.

Era bom dizer a verdade em voz alta.

 

~x~

Jeongguk segurou os pesados cobertores de lã, como havia instruído o mais velho, e seguiu seus passos mancos para fora do quarto excêntrico. Não perguntou para onde iam nem o que fariam, já que o rosto de Taehyung denunciava seu entusiasmo. A expressão dele não conseguia conter a vontade de surpreendê-lo, e Jeongguk não quis estragar seu sorriso leve.

Taehyung puxou uma porta de correr escondida no fim do corredor, deixando espaço para que a brisa fria da noite os atingisse. Já estava completamente escuro. A dupla pulou para o lado de fora, e o garoto incógnito fechou a porta atrás de si.

Era um típico terraço, muito comum nas casas das áreas residenciais coreanas. Tinha varais com roupas cuidadosamente estendidas e um tablado de madeira, onde se encontravam almofadas de cetim colorido. Estava congelante do lado de fora, e Jeongguk entendeu porque estava carregando aqueles cobertores de lã grossa.

- Se lembra quando eu te falei sobre o meu microscópio? – Disse, os olhos castanhos brilhando de antecipação, e Jeongguk confirmou com a cabeça enquanto deixava os cobertores sobre o tablado. – Depois que eu descobri que o troço era muito sem graça, coloquei na cabeça que queria uma outra coisa. Uma coisa bem melhor.

Então Jeongguk viu, logo atrás do garoto bonito de cabelos castanhos, um tripé prateado com um pequeno cilindro preto em cima. Demorou alguns segundos para se tocar do que era o objeto, distraído demais com o olhar ansioso sobre si, medindo suas reações, exatamente como no dia em que haviam ido à biblioteca municipal pela primeira vez.

- Um telescópio? – Finalmente disse, abismado em como Taehyung ainda era capaz de surpreendê-lo, mesmo depois de pensar que nenhuma outra esquisitice fosse conseguir tal artimanha. Que outro garoto de dezoito anos possuía um telescópio?

Ou melhor, que outro garoto de dezoito anos possuía aquele fascínio genuíno pelo mundo a sua volta, aquela curiosidade distinta, os olhos atentos e sonhadores em mil tons de castanho e chocolate?

Só Kim Taehyung, a mente atordoada respondeu, e qualquer outra palavra ficou presa na garganta enquanto Jeongguk deixou-se perder nos olhos dele, nas próprias estrelas contidas ali.

- Se as coisas grandes vistas de longe são bonitas, e as coisas pequenas vistas muito, muito de perto são sem graça, um meio termo entre os dois seria ainda mais interessante. Pensei que as estrelas já eram fascinantes desse jeito, bem lá longe no meio do espaço, mas se pudesse ver pelo menos um pouquinho mais de perto… – Ele calou por um segundo, o sorriso largo murchando no rosto. – Ah, estou falando demais de novo, não estou? Desculpe. É que esse assunto me deixou mesmo com o troço na cabeça, e eu só consegui o telescópio a algumas semanas.

Devia estar com a familiar cara de tacho que Kim Taehyung tão frequentemente conseguia lhe arrancar. Jeongguk abriu um sorriso, mas sentiu que o mesmo transpareceu de um jeito bobo e tolo. As borboletas se debateram loucamente na boca do estômago, fazendo com que mordesse os lábios, sem graça, tentando contê-las dentro de si. Estava denunciando os próprios sintomas. Tinha que agir casualmente.

- Você não cansa mesmo de se desculpar… – Comentou, agradecido por sua voz não ter soado completamente falha e estúpida. – Eu nunca olhei por um telescópio antes. Ele funciona mesmo? – Perguntou, e Taehyung respondeu com um aceno de cabeça positivo. – Posso dar uma olhada?

Viu a expressão de Taehyung se iluminar no mesmo instante, e ele quase saltitou até a porta por onde haviam entrado, alcançando o interruptor elétrico e apagando as luminárias presas nas paredes do terraço.

Ficaram imersos num breu. Jeongguk não conseguia enxergar muito além da fumaça espessa que saía pela boca, a respiração quente e pesada. Tremeu os ombros, podia sentir os pelos arrepiados de frio por baixo da jaqueta jeans. A lua crescente, já quase na metade, iluminou a imagem turva de Taehyung caminhando até si e Jeongguk soube que não podia culpar a temperatura pelo calafrio intenso que lhe percorreu a espinha.

- Você está com sorte. Amanhã vai fazer sol.

- Hãn? E o que isso tem a ver?

- Olha pra cima, Jeongguk. Não tem uma única nuvem no céu.

Tombou o pescoço para trás, confirmando que ele tinha razão. Agora, com as luzes apagadas, os pontinhos brilhantes espalhados feito confetes acima da cabeça pareciam ainda mais chamativos, e tinham muitos deles. Observou Taehyung enquanto ele mexia no telescópio, mudando-o de posição e espiando pelo lado estreito do cilindro.

- Estava só arrumando o foco. – Explicou, puxando Jeongguk para mais perto com um beliscão na jaqueta jeans. – Anda, vá em frente. Dê uma olhada.

Obedientemente, recurvou o corpo e fechou um dos olhos, espiando pela lente.

E o universo fascinante se desvendou perante seus olhos, parecendo tão grandioso e magnífico que Jeongguk achou quase impossível acreditar que toda a infinidade pudesse caber dentro daquela pequenina esfera.

Não soube exatamente por quantos minutos sua mente absorta e em transe se afastou da realidade mundana, sendo consumida por brilhos de estrelas e nuvens vaporosas. Só voltou ao próprio planeta ao sentir um peso quente e aconchegante sobre os ombros, aquecendo os ossos congelados, os fios soltos de lã fazendo cócegas no pescoço.

Taehyung o havia coberto.

O coração aquecido bateu acelerado no peito, mas Jeongguk se sentiu calmo. Anormalmente calmo, até. Relaxado e confortável.

Talvez fossem as estrelas.

Deixou que um sorriso bobo lhe escapasse os lábios, sua única resposta ao gesto afável do garoto incógnito, e continuou a investigar o cosmos.

- Vê as três estrelas brilhantes, quase que em linha reta? – Ouviu a voz grossa murmurar para si, e pesquisou o céu a procura das estrelas das quais ele falava.

- Oh... Aham.

- É o cinturão de Órion. Essas estrelas fazem parte da constelação de Órion, um guerreiro mitológico grego. É uma história muito interessante, mas um pouco longa e acho que você iria ficar meio entediado...

- Conta. Eu gosto de te ouvir falar.

Anormalmente calmo. Confortável até demais. Mas não se importou.

Continuou a observar a imensidão sideral, mas notou que Taehyung ficou em silêncio por alguns momentos antes de enfim começar a discursar sobre o tal Órion, apaixonado pela deusa Ártemis, a própria lua. Jeongguk aprendeu que a nuvem ao redor da constelação era a única nebulosa capaz de ser vista a olho nu. Notou que sempre aprendia coisas com o garoto incógnito, e o admirava.

Taehyung era cativante.

Quando finalmente conseguiu tirar os olhos da galáxia hipnótica, Jeongguk encontrou o garoto incógnito com o outro cobertor de lã sobre os ombros e um sorriso frouxo de lábios cerrados no rosto. Sentaram-se de pernas cruzadas sobre o deck, abrindo os salgadinhos e refrigerante que Taehyung havia levado enquanto conversavam sobre uma variedade de temas astronômicos.

- Onde você arranjou isso? – Jeongguk perguntou, referindo-se ao telescópio – Pensei que essas coisas fossem super caras.

- Ah, foi na universidade municipal aqui perto. Ele é velho, tem uns modelos bem mais modernos, e a universidade já não usava mais esse. – Deu de ombros. – Mas então… Você gostou mesmo?

- Muito! – Exclamou enfaticamente. – Faz a gente pensar sobre como o universo é infinito e nós somos apenas umas criaturinhas pequenas e insignificantes. Faz nossos problemas parecerem bem menores.

- Engraçado. – Ele pareceu pensar sobre o assunto por um segundo – Não pensei que você pudesse gostar desse tipo de coisa, mas senti vontade de te mostrar mesmo assim.

De novo, Taehyung estava dando pistas de suas pré-concepções sobre Jeongguk.

No dia anterior o garoto incógnito havia fugido de sua pergunta, e o mais novo não conseguiu reprimi-la na garganta.

- Você parece ter pensado que eu seria um monte de coisas. Ontem você falou que não tinha tanta certeza sobre mim. Que esperava outra coisa. – Encheu os pulmões de ar, tomando coragem. – O que quis dizer com isso?

- Ahn? – Ele ergueu as sobrancelhas, como quem foi pego de surpresa, e sua boca pendeu entreaberta, muda. Jeongguk observou as bochechas tomarem um leve tom ruborizado, mas pensou que podia ser só por causa do frio. – Ah, eu… Eu pensei que-

- Tudo bem se não quiser falar. – Interrompeu, preocupado de que Taehyung pudesse ficar desconfortável. – É só que eu fiquei curioso.

Mas ele não se calou.

- Naquele dia do Pixel Palace, no ponto de ônibus… – Ele desviou o olhar, encarando as próprias mãos, e respirou fundo antes de completar a frase. – Eu pensei que você não fosse.

Que não fosse? Jeongguk se lembrava claramente desse dia, do olhar ansioso e perdido de Taehyung, pesquisando ao redor no ponto de ônibus.

“Você também veio”, ele havia dito.

Como assim, que não fosse? Se Jeongguk não fosse, Taehyung ficaria o esperando. Sozinho.

Sentiu um arrepio percorrer a espinha. Encarou o olhar sério e entristecido do garoto incógnito, um olhar que não o agradava e nem combinava com suas feições, e entendeu o que ele quis dizer.

- Você achou… – Gaguejou, mas não teve coragem de terminar a frase em voz alta.

Taehyung pensara que Jeongguk o deixaria esperando de propósito. Que aquela era mais uma brincadeira de mal gosto. Que tinha feito o convite apenas para machucá-lo depois.

Sentiu-se mal do estômago.

- Eu nunca faria isso. – Frisou, descrente que ele pudesse ter pensado algo tão horrível de si.

O garoto incógnito já estava acostumado a manter sempre um pé atrás, a esperar o pior das pessoas. Como poderia? Ele era tão genuíno, tão único. Não parecia justo.

- Eu sei disso agora.

Observou o sorriso frouxo brotar em seus lábios, triste, e ele manteve a cabeça baixa, a franja castanha escondendo os olhos. Pensou que, já que haviam tocado naquele assunto delicado, não podia perder a oportunidade de perguntar. O estômago revirava em antecipação e todos os seus instintos naturais imploravam para que deixasse o tema incômodo pra lá, que fizesse um comentário engraçado, que devolvesse a Taehyung o sorriso verdadeiro, o brilho cintilante nos olhos castanhos. Mas não podia perder a chance de perguntar. Sabe-se lá quando teria uma nova chance, ou coragem suficiente dentro de si.

- Foi por isso que você não quis que eu te buscasse na sua sala?

Taehyung juntou as mãos sobre o colo, puxando as cutículas. Não era bom sinal.

- Em partes. – Confessou, e pausou um segundo, distraído com os próprios dedos longos. – Também porque tem um garoto na minha sala, ahn… que não gosta muito de mim. Acho que não queria que você o visse implicando comigo. Não que ele faça isso toda hora, mas eu não queria correr o risco.

Lá estava ele, o autor do diário, desabrochando na sua frente. Ainda mantinha o olhar oculto pela franja castanha, as mãos grudadas machucando uma à outra. Jeongguk tinha imaginado, diversas vezes, o momento em que Taehyung lhe contaria sobre o alma ruim. Em sua cabeça, via a si mesmo morrendo de raiva, os punhos cerrados, os dentes rangendo. Mas não foi isso o que sentiu quando ele finalmente citou a raiz de todos os seus problemas no colégio. Pelo contrário, Jeongguk sentiu o coração encolher-se até ficar do tamanho de uma minúscula e insignificante ervilha. Não podia ver o rosto de Taehyung por trás dos fios castanhos, mas foi incapaz de responder com raiva àquela demonstração sincera de tristeza.

Não soube como agir, visto que não estava acostumado a conversar sobre esse tipo de assunto doloroso. Quis abraçá-lo, mas reprimiu o impulso inconsequente. Não podia, pelo menos, não ainda. Mas detestava ver Taehyung machucando as próprias mãos. Aquilo o deixava realmente agoniado.

- Chega. – Tocou-lhe uma das mãos frias e entrelaçou seus dedos aos dele, o impedindo de continuar a puxar as cutículas.

- Hãn?

Ele enfim levantou a cabeça, cravando em si os olhos flamejantes e úmidos, prendendo Jeongguk naquela magia hipnótica, castanha, infinita. Era como a própria galáxia, com suas órbitas particulares. Os olhos dele lampejavam tons de dúvida, receio, medo e melancolia. Os doces olhos amendoados de Kim Taehyung, tão difíceis de decifrar, e ao mesmo tempo tão transparentes.

As palavras lhe fugiram todas, como se nunca as tivesse aprendido. Mais uma vez, quis dizer a Taehyung que cuidaria dele, mas parecia impossível verbalizar a frase. Não enquanto os olhos dele continuassem grudados em si, numa tempestade de cores outonais, ou enquanto ainda sentia a pele fria tão vívida contra a palma de sua mão, anestesiando o corpo todo.

Conformou-se em ficar em silêncio. Não tinha outra escolha, na verdade. Sustentou o olhar enigmático de Taehyung e conversaram sem palavras até que ele piscasse algumas vezes, dando a Jeongguk a feliz oportunidade de desviar o olhar. Irrefletidamente, mirou os lábios entreabertos levemente arroxeados pelo frio, e as borboletas dentro de si entraram em um surto eufórico, inquietante, assim que seus olhos focaram a discreta pintinha que coloria o lábio inferior. Aquele ínfimo pedacinho de pele, tão pequeno e aparentemente inofensivo, vibrou por todo o corpo como um convite tentador.

Queria beijá-lo. A realização o acertou direto no peito e Jeongguk pensou que o pobre coração entraria em combustão espontânea. Sentiu os olhos arderem, incapazes de piscar, e a mão gelada dele pareceu pegar fogo contra a sua. A resposta que tanto havia buscado penetrou pelos pulmões e reverberou pelo corpo, inegável. Amaldiçoou o próprio torpor que o havia imobilizado, logo quando todas as partículas do seu ser imploravam para que avançasse, que cortasse de uma vez a ínfima e infinita distância, que provasse de imediato o sabor inexplorado dos lábios de Taehyung.

Viu a língua dele se mover, como se estivesse em câmera lenta, mas não ouviu um único som.

- É o nome do garoto que não gosta de mim.

Os murmúrios incompreensíveis se juntaram em palavras, e estas, em frase. O nome? Ele tinha dito o maldito e infame nome que tanto atormentava sua mente, e Jeongguk nem ao menos ouviu, distraído demais em fantasias absurdas. Acordou. Recobrou os sentidos e o controle. Sentiu a brisa gelada contra a nuca, os dedos finos de Taehyung ainda confortavelmente embolados nos seus. Notou que prendia o lábio inferior entre os dentes e libertou-o de imediato, rezando para que sua vontade irresponsável tivesse passado despercebida.

- Quem? – Sua voz saiu falha pela garganta seca.

Taehyung arqueou as sobrancelhas numa expressão surpresa.

- Você não o conhece?

Ainda atordoado pelo momento perigoso de alguns segundos atrás, sentia o corpo trêmulo, a respiração pesada. Ainda batia dentro de si um coração apertado, cheio de medo e dúvida, incerto sobre o que teria feito se Taehyung tivesse ficado calado. Confuso e perdido sobre o sentimento devastador que lhe preencheu, e convicto de que, se a oportunidade tivesse se prolongado apenas alguns segundos a mais, Jeongguk teria sido movido pela própria impulsividade, caindo direto sobre os lábios tentadores de seu hyung.

Mas precisava deixar o momento de lado, visto que não era hora de lidar com aquilo. O turbilhão de sensações inexplicáveis teriam que ficar para depois, e Jeongguk tinha algo muito mais importante em que se concentrar. O nome do verme que importunava Taehyung havia lhe passado batido. O nome do garoto de alma ruim escapara-lhe por entre os dedos.

- Talvez não pelo nome. – Tentou disfarçar – Mas se você descrever como ele é…

- É aquele irmão gêmeo chato que implica com todo mundo. Ele tem alguma cisma especial comigo.

Jeongguk sentiu o sangue congelar dentro das veias. Sabia exatamente quem era, de quem Taehyung estava falando. Era um daqueles gêmeos Baek, os podres de ricos, apesar de não se lembrar do primeiro nome. Songyi havia falado sobre eles, sobre como seus pais iam bancar o pré-baile de formatura. Jimin tinha comentado que um deles provavelmente venceria a coroa de rei do terceiro ano. E sabia qual dos gêmeos era, o brutamontes. O outro Baek era reservado e inteligente, um nerd. Jeongguk sentiu o sangue ferver ao conseguir até mesmo ver o rosto do alma ruim em sua mente desnorteada, dividindo o mesmo espaço que si no vestiário do colégio. Ele era do time de futebol.

- Baek Geunsuk! – Exclamou, finalmente se lembrando, e foi como se gritasse “eureca” após uma descoberta fenomenal.

- É, Jeongguk. Foi isso eu disse, não foi? – Taehyung franziu as sobrancelhas. – Baek Geunsuk.

O alma ruim, finalmente. A raiva daquele garoto odioso o fez tremer os dentes, e Jeongguk notou que estava apertando a mão de Taehyung dentro da sua. Parou um segundo para observar a expressão tímida do garoto incógnito, os olhos perdidos encarando o vazio, mordendo os lábios que há apenas alguns minutos Jeongguk sentira vontade de provar. Ele não precisava da sua raiva agora. Jeongguk não fazia ideia de como agir, mas sabia que ter um acesso de ira não ia ajudar em nada a situação. Pensou que devia ser compreensivo. Parecia a hora perfeita para confidenciar o que havia dito a irmã de Taehyung mais cedo, que não deixaria que o machucassem. Por que parecera tão fácil e natural antes, e agora as palavras ficaram presas no peito de novo? Enjauladas junto com o pássaro azul, e sabe-se lá mais o quê Jeongguk tanto guardava lá dentro. Nunca tinha tentado descobrir, mas agora a gaiola parecia pequena demais para muita coisa.

Afrouxou o aperto contra a mão de Taehyung e deitou-se no tablado, colocando o outro braço sob a cabeça. Viu quando o garoto incógnito arqueou as sobrancelhas castanhas, parecendo não entender muito bem o que ele estava fazendo, mas mesmo assim imitou o gesto e se deitou ao seu lado. O próprio Jeongguk não entendia muito bem o que estava fazendo, mas o coração irrequieto ressoando alto em seus ouvidos não o deixava pensar sobre o assunto.

Ficaram deitados lado a lado, os olhos perdidos no brilho granulado das estrelas na noite escura. Jeongguk deslizou o dedão sobre a pele da mão de Taehyung, numa carícia suave.

- Minha mãe te mandou um abraço.


Notas Finais


OI, TUDO BOM? Juntem-se comigo aqui.
Esse capítulo foi o maior que eu já escrevi na minha existência como fic writer. Meu Zeus, eu tratei ele feito uma colcha de retalhos ou um quebra cabeças, e fui juntando as peças. Confesso que algumas ficaram de fora, mas elas aparecerão numa outra oportunidade.
O capítulo está imenso, gordo, cheio de acontecimentos e eu espero mesmo que vocês tenham gostado. Foi uma trabalheira danada, então eu agradeço de coração todos os comentários que vocês quiserem ou puderem me dar, caso tenham tempo. Junho é um mês do inferno na faculdade, e eu tenho um milhão de coisas para fazer, mas podem ficar despreocupados que não vou desistir de vocês. Mais três semaninhas e eu entro de férias, amém.
Desculpa o desabafo, mas é que eu realmente estive sofrendo um bocado pra escrever esse capítulo.

AH, e o alma ruim, hein? Pois é, olha só. O Taehyung contou. Não consigo pensar em uma forma melhor para o Jeongguk descobrir, pra ser bem sincera, do que da própria boca do nosso garoto incógnito (ou não mais tão incógnito assim). Bem, sinto decepcionar alguns, mas não era o Jimin. Graças a Zeus não era, eu não faria isso com meu mochi.

Enfim, espero que tenham gostado. Espero muitos comentários.

Quem quiser falar comigo, como sempre, fica aqui o meu lembrete:
twitter @ btsnoona_
curiouscat / btsnoona
instagram @ larissalair

Espero que possamos nos ver muito em breve! Obrigada a todo mundo que comentou, favoritou ou simplesmente gastou seu tempo lendo minhas palavras. Me sinto muito lisonjeada, e tenho um carinho enorme por vocês. <3

Beijocas amoras,
~BtsNoona


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