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História Incógnito VKook - Taekook - Um som


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores amores!
Como prometido pelo Twitter, aqui está mais um capítulo :)
Espero que vocês gostem <3

Nos vemos nas notas finais,

Boa leitura!

Capítulo 17 - Um som


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Um som

Um som.

A respiração suave de Taehyung era a única coisa que Jeongguk conseguia ouvir.

Deitado sobre a cama de baixo no quarto excêntrico do incógnito, podia ouvi-lo ressoar calmamente, rendido de vez ao sono. O escuro impedia que seus olhos buscassem por ele, pelo vislumbre da pele dourada e dos cabelos castanhos. De olhos fechados, Jeongguk podia ver por detrás das pálpebras o semblante sereno de Taehyung enquanto dormia. Era uma visão realmente encantadora, e o mais novo se sentiu grato por estar escuro o suficiente para que não pudesse enxergar. Temia que, impulsivo como era, se levantasse do colchão e se atrevesse a observá-lo imerso em sonhos. Esperava que ele estivesse tendo bons sonhos.

Com o quarto num breu total era quase fácil colocar os pensamentos em ordem. No escuro, sem ninguém para notar suas reações involuntárias nem chances de fazer alguma besteira impulsiva. Não conseguia enxergar um palmo à frente do rosto, e a respiração baixa e suave de Taehyung numa melodia serena tocava a trilha sonora perversa de sua insônia.

Então, quis beijá-lo, ainda poucas horas atrás. Pareceu lógico começar o raciocínio por aí, a grande descoberta do dia – talvez ainda mais petrificante do que a revelação do nome do alma ruim. Quis mesmo beijar Taehyung, e o teria feito caso não tivesse sido impedido. Sendo assim, Jeongguk sentia atração por garotos? Não fazia sentido. Nunca havia se sentido atraído por outro garoto na vida, e ficou uns bons minutos repassando diversos colegas na mente, caçando pistas de algum outro vestígio de atração em relação a eles. Não encontrou nada.

Lembrava-se de garotas, várias. Delicadas, belas, inegavelmente femininas. Chegara até a beijar algumas delas, e tinha gostado. Com certeza, gostava de beijar garotas.

Mas aquilo que sentira mais cedo, aquela urgência insana, o desejo quase incontrolável de tocar os lábios de Taehyung com os seus, aquilo não tinha precedentes. Nenhuma garota o fizera sentir da mesma forma antes, atraído feito imã, contrariando todos os pensamentos lógicos. Aquilo era só com Taehyung. Era dele.

Bem como havia confirmado, o garoto incógnito era a fonte de todos os seus sintomas malucos. E não podia mais se enganar, culpando a vontade desesperada de protegê-lo, a admiração que sentia por ele, a forma fascinante como sua mente funcionava. Também eram verdades, essas coisas, mas não era só isso. E por mais que nunca tivesse se sentido atraído por outro garoto antes, concluiu que nunca havia se sentido tão atraído por uma pessoa quanto estava por Kim Taehyung.

Jeongguk levou um susto ao sentir um objeto caindo sobre a cabeça, interrompendo o raciocínio lógico que lhe revelava os cenários absurdos da mente, aqueles que tanto temia desvendar. Remexeu-se arisco sobre o colchão, agarrando com as mãos o objeto. Era algo pequeno, pouco maior do que a palma de sua mão, e de textura macia. Suspirou aliviado, já recuperado do susto.

É só o Ramén.

Aproximou a pelúcia do nariz e, como esperado, o cheiro doce e suave de baunilha invadiu suas narinas. O mesmo cheiro de Taehyung.

Abriu um sorriso largo. Ora, se Taehyung tinha deixado o pobre gatinho cair da cama, então não sentiria falta dele. Ramén não merecia ter que dormir sozinho, concluiu, e abraçou o bichano, meio desajeitadamente. Faziam anos desde a última vez que Jeongguk dormira com um ursinho de pelúcia, e Ramén também não ajudava. Era pequeno demais, parecia não se encaixar bem em posição nenhuma, dançando solto entre seus braços. Por fim, colocou-o no travesseiro ao lado do rosto, de forma que pudesse sentir o cheiro adocicado e tranquilizador.

Não podia ver seus olhos verdes por conta do escuro, mas tinha certeza que o gatinho estava o encarando. Como os olhos azuis de Liz Lutterback, os de Ramén também pareciam ver através de seu disfarce, e guardar segredos demais. Mas no caso do gatinho, não tinha problema. Ele não contaria a ninguém.

Acariciou o pelo macio da pelúcia sobre o travesseiro. Pelo cheiro, quase dava para fingir que era o garoto incógnito ali, que eram os cabelos castanhos sob a ponta dos dedos.

- Você tem muita sorte de ser do Taehyung. – Sussurrou, bem baixinho, para que só o seu novo amigo ouvisse. Chegou ainda mais perto e se permitiu inspirar a fragrância de baunilha, suave como o som da respiração de Taehyung, que ainda ressoava ao fundo. – Obrigado.

Não sabia ao certo o motivo pelo qual havia agradecido, mas sentiu que deveria. Talvez Ramén tivesse caído de propósito, notando que Jeongguk precisava de companhia. Talvez o gatinho soubesse exatamente o que lhe passava pela mente confusa e turva, mas não estava ali para julgar os pensamentos irracionais e simplesmente manteve-se em silêncio ao seu lado, oferecendo conforto. Como Jeongguk havia feito com Taehyung há algumas horas atrás, sem saber o que dizer perante a confissão sincera dos olhos melancólicos.

Deixou de lado os assuntos desconfortáveis, ignorando-os por um momento. Não queria pensar nem nos lábios do garoto incógnito nem no alma ruim, concluindo que não iria cair no sono nunca se continuasse a investigar por aqueles assuntos complexos. Ao invés disso, deixou que a mente viajasse pela imensidão astronômica que havia vislumbrado mais cedo, as estrelas vibrantes e hipnóticas em suas constelações reluzentes e nuvens nebulosas.

Adormeceu pensando no universo castanho dos olhos de Taehyung.

 

~x~

 

- Jeongguk-ah.

A voz grossa vinda do além o interrompia até em sonhos. Jeongguk olhou para trás, sabendo que Taehyung estava chamando por si, mas não encontrou nada. Estava no ponto de ônibus, sozinho, e por algum motivo não sabia voltar para casa. As ruas pareciam diferentes. Tinham plantas espinhosas, feias, espalhadas por todos os lados. Teve medo, e simplesmente ficou parado no lugar.

- Jeongguk?

Abriu os olhos, dando de cara com o rosto simétrico de Taehyung, bem em cima de si. Ele estava na cama de cima, debruçado com a cabeça para fora, a franja castanha pendendo na direção do rosto de Jeongguk. Levou um baita susto, ainda meio anestesiado pelo sonho angustiante e levantou de súbito, dando uma testada na cabeça de cabelos castanhos.

- Ouch! – Taehyung se afastou, colocando uma mão sobre o local atingido. – Me lembre de nunca mais tentar te acordar!

Observou-o por um segundo, até se situar de que não estava mais dormindo, que era mesmo Taehyung a sua frente, e os medos do sonho foram se desvanecendo aos poucos. O mais velho estava com os lábios contorcidos num semblante expressivo de dor, enquanto massageava a área atingida pela testa de Jeongguk.

- Céus, você me deu um baita susto! – Exclamou, sentindo a dor incômoda na testa. – Desculpe. É que eu estava tendo um pesadelo, e você me assustou.

- Hm, um pesadelo? – Taehyung pareceu interessado. – Com o quê?

Encarou os olhos castanhos e curiosos de Taehyung, ainda meio inchados por ter acabado de acordar. Ele estava usando uma camisa de mangas compridas, com a gola rasgada, e dava pra ver um pedaço da pele dourada de sua clavícula. Ficou por uns segundos desconcertado, evitando pensar sobre o quanto o achava bonito. Ao invés disso, tentou se lembrar melhor do pesadelo, mas as imagens estavam turvas na sua mente. Lembrava-se do ponto de ônibus e das plantas espinhosas, apenas. Principalmente, se lembrava da sensação agoniante de não saber voltar para casa. Não viu porquê não contar para Taehyung.

- Não me lembro em detalhes. Estava num lugar conhecido, mas as ruas estavam diferentes e eu não sabia voltar para casa. – Resolveu ocultar o detalhe do ponto de ônibus, só por precaução. – Tinham plantas enormes e feias, escuras e cheias de espinhos, me cercando de todos os lados. Fiquei parado no lugar, desesperado por não saber para onde ir.

Taehyung arqueou as sobrancelhas e pareceu pensar por um segundo antes de enfim o responder.

- Talvez você precise escolher um caminho. – Sugeriu, as órbitas castanhas cintilando. – Tipo, na vida, sabe? Talvez esteja meio perdido, e precisa escolher um caminho e seguir em frente.

- Hm, pode ser. – Pensou em voz alta, a situação próxima demais da realidade pro próprio gosto. Depois, arqueou as sobrancelhas em surpresa. – Você sabe interpretar sonhos também?

O incógnito soltou uma risada soprada, negando com a cabeça.

- Não. Mas tenho mania de interpretar as coisas. Posso estar completamente errado. – Ele riu, e Jeongguk desejou saber o que se passava naquela cabeça indecifrável. – Sinto muito por você ter tido pesadelos na primeira vez que dorme aqui em casa. Que azar, hã?

Jeongguk pensou que aquilo não tinha nada a ver com azar.

Observou o garoto incógnito se levantar da cama e ir mancando até a janela, abrindo as cortinas. Do lado de fora, alguns pedaços do céu azul escapavam entre nuvens rechonchudas.

- Percebi que você já conheceu o Ramén. – Taehyung comentou, e Jeongguk arregalou os olhos em surpresa, ainda atordoado por ter acabado de despertar. Olhou para o gatinho em cima do seu travesseiro e depois para o garoto de cabelos castanhos, que lhe oferecia um de seus estranhos sorrisos retangulares. – Vocês dois pareciam bem íntimos, aliás.

- Ah, o gatinho? – Fez-se de desentendido, afastando o edredom e pondo-se de pé. – Você deixou ele cair em mim de noite.

Taehyung murmurou um “hm” concordante, sorrindo de lábios cerrados, e Jeongguk aproximou-se dele, indo até a escrivaninha e espiando através da janela.

Do outro lado, uma casa azul. Parecia realmente próxima, apenas a alguns metros, e uma grande janela fechada de madeira escura dava bem de frente para a janela do quarto de Taehyung.

Devia ser o quarto do Hobi, Jeongguk pensou, lembrando-se da passagem do diário sobre o vizinho do incógnito. Seu estômago se revirou, desconfortável e inquieto.

Hobi, o garoto que Taehyung desconfiara gostar. Não sabia mais nada sobre ele, visto que tinha evitado ler mais do diário, e não fazia ideia se o garoto incógnito tinha feito alguma coisa a respeito das suas suspeitas quanto ao que sentia pelo amigo.

- Aquela janela está muito perto. – Comentou, sem conseguir segurar a língua. – Deve dar pra ver tudo o que a pessoa está fazendo lá.

Continuou olhando para o lado de fora, com medo de que ao encarar Taehyung ele pudesse notar os sintomas nada agradáveis que estava sentindo. Seu estômago estava embrulhado, o coração apertado. Uma palavra abusada passou pela cabeça, explicando aquelas sensações ruins, mas Jeongguk tentou afastá-la logo da mente. Não podia ser isso.

Não poderia estar com ciúmes, poderia?

- Dá pra ver tudo mesmo. – Taehyung comentou num tom casual. – Mas eu até gosto. É o quarto de um hyung meu, Jung Hoseok, e a gente até conversava pela janela. Só que ele entrou na faculdade no início do ano e quase não aparece mais aí. Às vezes vem nos feriados, mas tem um tempão que não o vejo.

Desvendara mais um dos pseudônimos do diário. Então, Jung Hoseok era o tal de Hobi, e ele não morava mais naquele quarto. Instantaneamente pensou que a passagem do diário sobre ele era desse ano, então Hobi já tinha ido embora quando foi escrita. Mesmo assim, Jeongguk não se sentiu completamente tranquilo.

Virou o rosto e encarou Taehyung. Notou que ele não parecia constrangido com o assunto, e o desconforto no estômago diminuiu. Pensou que, se o incógnito gostasse mesmo desse Hobi, suas bochechas estariam coradas e talvez ele ficasse desconcertado. Investigou o rosto dele, à procura de algum sinal que pudesse responder sua pergunta muda, mas apenas vislumbrou de novo o brilho estrelado no olhar, a pele dourada e macia, a pintinha graciosamente estampada na ponta do nariz. Os cabelos castanhos ainda estavam meio bagunçados depois da noite de sono, mas mesmo assim Jeongguk o achou tão bonito quanto todas as outras vezes.

O estômago embrulhado se desfez nas conhecidas borboletas, e um sorriso frouxo brotou-lhe nos lábios. Ainda bem que o Hobi foi pra faculdade, Jeongguk pensou, logo depois condenando-se pelo pensamento egoísta. Sabia que não devia se sentir assim, mas estava aliviado. Não queria ter que dividir Taehyung com mais ninguém.

Pare com isso, Jeongguk. Taehyung não é seu!

Mas bem que podia ser. – A mente insensata alfinetou.

 

~x~

- Suco de uva para minha Hani, café puro para TaeTae. E Jeongguk?

A mãe de Taehyung colocou os alimentos do café da manhã sobre a mesa de granito acinzentado da cozinha. Ela estava vestida em um blazer roxo e calças pretas justas. Parecia prestes a sair, toda arrumada, e Jeongguk notou uma leve maquiagem no rosto jovem e bonito.

- Ahn, leite.

- Achocolatado? – A Sra. Kim perguntou com um sorriso solícito e Jeongguk negou com um aceno de cabeça.

- Puro mesmo.

Kim Hani contorceu a boca, num semblante de profundo desagrado.

- Quem bebe leite puro? – A menina o encarou, erguendo uma das sobrancelhas. Analisou-o com um olhar desconfiado, o mesmo que Jeongguk havia visto na noite anterior. – Pensei que você não fosse um esquisito. – Completou num tom zombeteiro.

Jeongguk fixou olhos semicerrados em Hani, como numa advertência de que ela estava falando demais, citando a conversa que haviam tido. Colocou na cabeça que estava só lidando com uma garotinha, e que não podia ser tão mal assim. Mas Hani era arisca, e pelo visto gostava de implicar com as pessoas. Por sorte, Jeongguk sabia como lidar com ela. Lidava com Songyi todos os dias, e as duas não pareciam assim tão diferentes.

- Leite é proteína. O treinador de luta pede pra gente tomar, pra fortalecer os músculos. – Jeongguk explicou, e os olhos de Hani cresceram em sua direção, brilhando com interesse. – Você devia beber um pouco, está muito magrinha.

A menina bufou ofendida, e tanto Taehyung quanto a Sra. Kim soltaram risadinhas abafadas.

- Hani só toma suco de uva. – O garoto incógnito comentou, encarando a irmã mais nova com um sorriso debochado. – Todos os dias, suco de uva. Em todas as refeições.

Hani revirou os olhos enfaticamente, e Jeongguk pensou que ela parecia mesmo uma versão em miniatura de Songyi. Mas, no caso de sua amiga, o vício era em suco de amoras.

A Sra. Kim saiu para trabalhar logo depois, e Taehyung lhe explicou que ela era corretora de imóveis e por isso estava sempre atarefada aos fins de semana. Ele falava de forma animada e orgulhosa, sempre com um sorriso retangular nos lábios rubros, e Jeongguk desejou que ele sorrisse menos. Era muito difícil disfarçar o frio na barriga enquanto o garoto incógnito sorria entusiasmado em sua direção, e pensou que ele estava lhe presenteando com mais sorrisos do que o habitual. Também, parecia bem confortável ao conversar consigo, e aquele Taehyung reservado e quieto, o garoto misterioso, sumira por completo. Restou só o autor do diário, tão único e enérgico quanto no papel.

- Eu vou sair, viu? – Hani anunciou, depois de terminar de tomar seu suco. – A mãe de Chaeyoung vem me buscar. Vamos numa convenção.

Os dois garotos responderam em uníssono.

- Convenção? – Perguntou Taehyung, com as sobrancelhas franzidas.

- De animes? – Disse Jeongguk, um sorriso largo se expandindo no rosto, e Hani confirmou com a cabeça. – Onde vai ser?

Jeongguk amava convenções de anime, e costumava frequentá-las assiduamente quando era mais novo, mas já não ia a uma há alguns anos. Também, não tinha quem lhe fizesse companhia. Costumava ir com Jimin, mas o amigo perdera o interesse nesse tipo de evento.

Lembrou-se do manifesto infantista, uma das primeiras passagens do diário do incógnito que havia lido. Foi um dos motivos pelos quais Jeongguk havia ficado tão fascinado por aquela personalidade, e recordava que Taehyung havia citado algo sobre se vestir com fantasias.

“Eu também queria usar tênis de patins, ir à aula e sair pela rua vestindo fantasias divertidas como se fosse a coisa mais normal do mundo.”

- Vamos, hyung? – Sugeriu, sem conseguir conter o entusiasmo, e ficou satisfeito ao ver Taehyung correspondê-lo com um sorriso largo, os olhos castanhos brilhando de excitação. – Você pode ir de Light, e eu vou de L. Vai ser divertido, sempre vai um monte de gente com fantasias e-

- Nem pensem nisso! – Kim Hani interrompeu, um olhar determinado faiscando no rosto infantil. – Jeongguk-ssi, acho melhor você tirar essa ideia da cabeça. – Completou entredentes.

O sorriso de Jeongguk murchou. Notou que Hani havia dito a frase em tom de ameaça, e entendeu logo o aviso: ela contaria seu segredo caso fossem.

Por que diabos foi dizer aquilo à garota? Tinha mesmo que arrumar um jeito de segurar essa língua apressada e imprudente, que só parecia não funcionar com Taehyung.

Bem feito, Jeon Jeongguk. Agora está sendo chantageado por uma menina de treze anos.

Conformado, foi obrigado a desistir logo da ideia. Hani saiu da cozinha, dizendo que ia se arrumar, mas antes lançou um olhar duro e sugestivo à Jeongguk que o fez tremer os ossos.

Na tentativa de contornar o estrago e disfarçar seu nervosismo, começou a comentar sobre as convenções, assegurando Taehyung de que poderiam ir em alguma outra. Falou sem parar, o que não era muito comum, mas foi estimulado pelas reações enérgicas do garoto incógnito, que continuava a oferecer uma infinidade de sorrisos diferentes e olhares cativantes.

- Foi numa dessas convenções que comprei aquele broche do Death Note que perdi, lembra? – Disse, e Taehyung franziu as sobrancelhas espessas. – Um que fui procurar perto da Virgem, já faz um tempo.

Ele desviou os olhos dos de Jeongguk, parecendo pesquisar na mente por aquele acontecimento específico.

- Hm, lembro. – Confirmou, e ficou alguns segundos em silêncio. Parecia pensar sobre algo para, logo depois, mudar completamente de assunto.  – Acho que minha irmã... gostou de você? – Disse, em tom de descrença.

Jeongguk já estava acostumado com essa mania do garoto incógnito, de saltar de um assunto para o outro sem fazer nenhuma conexão lógica. Achava até isso fascinante nele, como se sua cabeça fantasiosa estivesse por mil lugares ao mesmo tempo. Não se importou com a mudança repentina e apenas riu daquele novo assunto aleatório.

- Você fala como se gostar de mim fosse uma coisa impossível.

- E é! – Ele ergueu as sobrancelhas. – Digo, não por causa de você. Mas por ela. Minha irmã não gosta de ninguém de primeira. Acho que nunca vi isso acontecer antes, sério.

Sentiu-se lisonjeado. Então, apesar do temperamento difícil de Kim Hani, conseguiu conquistar a irmãzinha do incógnito e sua confissão imprudente não havia sido em vão. Jeongguk sorriu convencido antes de puxar o copo para sua última e longa golada de leite.

- Proteínas, né? – Taehyung comentou com uma risada frouxa.

Assim que terminou o conteúdo do copo, Jeongguk deixou um “ah” de satisfação lhe escapar da garganta. Realmente amava leite puro. Não tinha a ver com proteínas nem nada disso, e o moreno apenas quis implicar com Hani um pouquinho, por ela ser tão abusada. Mas pensou que deveria contar a verdade a Taehyung, mesmo que fosse pequena e insignificante. Por mais que não fosse mais do que uma bobagem sobre leite, Jeongguk pensou que já estava escondendo coisas demais do garoto incógnito, e devia tentar ao máximo ser verdadeiro com ele. Pelo menos até onde fosse possível.

Já tinha mentiras demais para carregar.

- Na verdade, eu só gosto de leite puro mesmo. – Confidenciou. Para sua surpresa e estranhamento, viu Taehyung gargalhar alto em resposta. – É tão engraçado assim que eu menti pra sua irmã?

- Não é isso. – Ele respondeu, ainda entre risos, e esticou uma das mãos na direção de Jeongguk, fazendo com que o coração desse um pulo assustado até a garganta. Taehyung pareceu nem notar, e tocou seus lábios pequenos com o dedão. – É que você está com um bigodinho engraçado.

Engoliu em seco. Ficou encarando o garoto incógnito estático, os olhos arregalados, um calafrio passando pela espinha, o corpo paralisado. Taehyung, com um sorriso amável e discreto, contornou seus lábios superiores com o dedão antes de limpar a mão num guardanapo.

Jeongguk perdeu as palavras.

Céus, como ele fazia isso? Não tinha como continuar a conviver com Taehyung se fosse simplesmente ficar mudo toda vez que ele se aproximasse um pouco mais de si. Não queria nem pensar na cara de idiota que devia fazer na frente dele sempre que acontecia.

Desviou rápido os olhos negros das constelações castanhas e timidamente passou a língua sobre caminho que o garoto de pele acobreada tinha trilhado com o dedo, procurando retirar quaisquer vestígios de leite. Sentia as bochechas arderem de vergonha, as borboletas dentro de si deixando seus casulos, voando ansiosas até a garganta.

Taehyung, ignorante dos sintomas que causava em Jeongguk apenas ao mais simples toque ou mais sincero sorriso, levantou-se da mesa de granito da cozinha e começou a recolher a louça do café, mancando até a pia. O mais novo ficou observando, ainda estático e sem palavras, mas ao mesmo tempo repleto de instigante curiosidade.

Será que o beijo de Taehyung seria tão doce quanto leite?

~x~

Por sorte, o incidente do bigode de leite foi o último desconcertante daquele domingo. Era estranho conversar com Taehyung com a intimidade de amigos próximos, e ele havia lhe tratado na maior naturalidade do mundo, apesar de ainda provocar-lhe sentimentos conflituosos. Por um lado, era confortável, e Jeongguk apreciava sua companhia, como se fosse a de qualquer outro amigo. Sentia que podia lhe falar qualquer bobagem estúpida que atravessasse a mente, e Taehyung não iria julgá-lo ou fazer pouco de suas próprias esquisitices. Confiava nele.

E do outro lado, as insistentes borboletas. A habilidade de Taehyung em fazer com que se tornasse completamente alheio ao que estava acontecendo a sua volta, mesmo sem perceber. Jeongguk tinha finalmente descoberto o nome do alma ruim, mas com o garoto incógnito tão próximo de si, tão verdadeiro e excêntrico, parecia impossível pensar em qualquer coisa que não fosse ele, a forma como os olhos castanhos cintilavam em estrelas celestes e a maldita pintinha no lábio inferior se movendo em câmera lenta. Só foi mesmo conseguir pensar em Baek Geunsuk e sentir raiva do garoto implicante ao pegar sua bicicleta no jardim da casa amarela e ir embora, de touca na cabeça e jaqueta jeans nos ombros, enquanto o vento gelado lhe batia agradavelmente contra as bochechas quentes.

Agora que sabia quem era o alma ruim, seria mais fácil proteger o garoto incógnito de suas brincadeiras maldosas. A mera lembrança turva daquele rosto de sobrancelhas escuras e olhos pequenos já era suficiente para que os instintos coléricos de Jeongguk flamejassem.

Daria um jeito naquele bastardo, para que nunca mais se atrevesse a se meter com Taehyung, de uma vez por todas. Mas precisava de um plano.

Ao chegar em casa, Jeongguk subiu direto para o quarto, como de costume ignorando as perguntas curiosas de sua mãe. Abriu a mochila em cima da cama e retirou seu casaco de moletom vermelho e camisa, as peças de roupa que havia emprestado a Taehyung da outra vez, quando ele passara a noite em sua casa. Nem tinha lembrado que ele estava com suas roupas, mas o garoto incógnito fizera questão de devolver e as entregou a Jeongguk, dobradas, logo antes que saísse.

Agora as peças já estavam meio amassadas, por terem viajado apertadas na mochila. Esticou o moletom vermelho em frente aos olhos e irrefletidamente aproximou o tecido do rosto.

Tinha o mesmo cheiro do Ramén. O cheiro doce de Taehyung.

Jogou-se na cama, um sorriso bobo e insistente nos lábios, a mente vazia satisfeita com aquela lembrança inesperada que trouxera consigo. Afundou o moletom contra o rosto, notando que o cheiro era mais claro perto da etiqueta, no pequeno pedaço do tecido que havia ficado em contato com a nuca quente do garoto incógnito. Pensou que não podia inspirar demais, ou iria gastar todo o cheiro de uma só vez.

Então, voltou a si. No que diabos estava pensando? Sentiu-se mesmo um idiota, um palerma. Mesmo agora, tendo consciência do que era aquilo que tanto lhe atraía feito imã até Taehyung, até seu cheiro doce e a textura de sua pele, a coisa ainda não parecia lógica. Como podia se sentir como se tivesse sido enfeitiçado?

Irritou-se. Não era justo isso, não ter controle nenhum sobre o próprio corpo, os sintomas imbecis que faziam com que se sentisse pequeno. Era apenas uma vítima tola e inútil. Não tinha pedido por nada daquilo! Queria proteger Taehyung, sim, mas nunca passou pela sua cabeça que isso pudesse acontecer, e agora se encontrava num estado de extrema imbecilidade. Havia se afastado dos amigos próximos, se desconcentrado dos estudos e da equipe de luta. Não parecia nada certo. Eram coisas importantes para si, aquelas, e configuravam toda a sua vida antes que o diário maluco aparecesse, embolando tudo!

Levantou-se da cama num sobressalto, abrindo o armário e empurrando o moletom vermelho para o fundo, tomado por impaciência. Ali, bem ao alcance da mão, estava a gaveta de meias e, embaixo das meias, o caderno preto que havia começado esse tornado impiedoso dentro de si.

Não tinha mais justificativas para ler. Já sabia quem era o alma ruim, já se tornara amigo do garoto incógnito. Todas as suas desculpas esfarrapadas caíram por terra, e Jeongguk percebeu que elas nunca haviam passado disso, meras desculpas esfarrapadas que havia inventado para sanar a própria curiosidade, para disfarçar sua atração proibida, para atenuar o peso enorme na consciência.

Abriu a gaveta e tomou o diário em mãos. Não tinha nenhum bom motivo para ler, nenhuma dica que precisasse buscar a fim de descobrir algum outro mistério rondando o incógnito, nada para se brincar de detetive. Não tinha desculpas.

Mesmo assim, sentou-se em sua cama com o objeto sobre o colo. Fazia tempos que não lia nada, sabendo que aquilo era errado. Parecia ainda mais errado agora que era amigo de Taehyung, agora que ele confiava em si.

Agora que sabia quais eram seus sentimentos sobre ele.

Dane-se.

Encarou de novo a caligrafia caprichosa e um arrepio horripilante atravessou sua espinha, como num sinal do que estava prestes a vir. Tão logo abriu o caderno na parte em que havia parado e Jeongguk notou que quando não se está procurando por nada em específico, é que se encontra tudo aquilo que nem sabia estar buscando.

Querido Diário,

Sabe quem eu vi hoje perambulando pela escola? Claro que não, né. Mas foi uma pergunta retórica.

O Biscoito! Aquele menino que eu vi correndo de um lado para o outro feito barata tonta no dia que me dispensaram da aula de literatura. Pois é, ele mesmo. Resolvi chamar de biscoito, já que não sei o nome de verdade dele.

E olha, você não me venha caçoar das minhas escolhas de nome, ok? Eu simplesmente gosto de dar nome de comida às coisas, acho fofinho. Tipo Ramén. E agora, Biscoito. Admite que é fofinho.

Não sei por que estou comentando dele com você. Mas me deu vontade, sei lá. Eu o vi no refeitório hoje, sentado numa mesa, rodeado de amigos. Parece ser um cara bem legal, se eu for julgar pelo número de amigos que ele tem... mas também, não faz sentido julgar se uma pessoa é ou não legal pelo número de amigos dela, veja bem, numa experiência empírica: O alma ruim tem muitos amigos, e é um babaca. A Ray não tem muitos amigos, e é muito legal.

Vai entender. Não sei por que isso acontece, mas assim que é. Nem todo mundo que é legal tem montes de amigos, mas o Biscoito têm. E mesmo assim, eu ainda acho que ele deve ser um cara legal.

Aposto que você adoraria me perguntar por que eu acho isso, não é Diário? Tudo bem, eu explico. Talvez você ache idiota, mas ele tem um sorriso sincero demais. Tipo, demais mesmo, daqueles que ultrapassam o limite da boca e transparecem no rosto inteiro, nos olhos, tudo. Sabe? Tem gente que sorri assim, com o rosto todo! São pessoas raras. Você deve estar pensando que eu só falo abobrinhas ou que estou ficando ainda mais maluco. Mas é sério, esse garoto Biscoito deve ser uma pessoa boa mesmo.

Então, foi por isso que eu resolvi comentar dele. Não são muitas pessoas que conseguem sorrir desse jeito, com a cara toda, e dá gosto de ver! Deve ser bom ser amigo dele e poder ficar vendo isso várias e várias vezes. Juro, só de lembrar já me dá uma baita vontade de rir!

Assim que terminou a passagem, toda a sua impaciência e irritação de desvaneceu num sorriso triste e olhos marejados. Nada da confusão insana que estava sentindo era culpa de Taehyung. Não podia culpar a mais ninguém pelos próprios sentimentos que não fosse a si mesmo, por ter se deixado encantar tão genuinamente pelo garoto bonito de cabelos castanhos, como nunca havia se encantado por nenhuma outra criatura antes.

E ali estava ele, inteiramente aberto e ignorante da maldade que estava fazendo ao ler suas confissões. Ali estava Taehyung, já não mais incógnito, demonstrando em palavras de seu modo puro e sincero que ele também havia se deixado encantar por si, nem que fosse só um pouco. Que também tinha o desejo de se tornar seu amigo, assim como Jeongguk sentiu em relação a ele ao conhecê-lo pela primeira vez no ponto de ônibus, e até mesmo antes disso.

Mas era um péssimo amigo. Sentiu-se a pior das criaturas, e lágrimas de culpa escorreram sem convite pelas maçãs do rosto. Tentava, de verdade, fazer as coisas direito, ajudar as pessoas. Tinha a melhor das intenções. Mas nada parecia dar certo, nada parecia surtir efeito nenhum. Taehyung continuava uma vítima do alma ruim, mancando por aí, e Jimin e Songyi nem tinham dado sinal de vida o fim de semana inteiro, provavelmente cansados de procurar pelo amigo ruim que apenas os decepcionava, de novo e de novo.

“esse garoto Biscoito deve ser uma pessoa boa mesmo”

Não era, Jeongguk pensou, e por fim acabaria decepcionando Taehyung também.

Mas ia contra tudo o que acreditava desistir agora. Não ia fugir, não como havia feito covardemente no dia em que fora estudar na casa de seu hyung, e percebera que o que sentia era bem mais complexo do que imaginava.

Eu vou consertar tudo. Eu vou dar um jeito de colocar tudo de volta no lugar.

Qual fora o ponto exato em que havia errado, em que havia deixado as coisas chegarem a esse ponto? Não podia voltar atrás agora. Taehyung confiava em si, julgava que era uma boa pessoa, e não podia decepcionar as expectativas dele. Devolver o diário só traria mais tristeza àquele que Jeongguk jurara proteger.

Tinha tentado fugir do impulso que crescia dentro de si, que antes era tão incógnito quanto o garoto que o provocava. Como se já não lhe bastasse o árduo peso na consciência por estar escondendo o diário perdido, agora teria que lidar com mais esse novo segredo. A forma como o coração se aquecia com um mero sorriso retangular, como os pelos se arrepiam com o mais inocente toque. As desculpas eram todas esfarrapadas, não só as que permitiam que continuasse a ler o conteúdo do caderno de couro. Também, as desculpas que tinha inventado para justificar os mil sintomas que brotavam dentro de si eram falsas. Todos os seus sintomas tinham sim motivo e raíz.

A raíz era Kim Taehyung. E o motivo era que gostava dele.

Céus, gostava mesmo dele.

E guardar esse novo segredo seria ainda mais difícil que o primeiro. Porque, dessa vez, Jeongguk não podia simplesmente esconder o que estava sentindo dentro da gaveta, embaixo de uma pilha de meias.

Respirou fundo, tentando acalmar o coração que batia apertado e desnorteado dentro de si. Todo o ressentimento se fora, como se nunca tivesse existido. Taehyung não era culpado por Jeongguk estar agindo feito bobo, cheirando o moletom emprestado à procura daquele perfume doce que tanto lhe transtornava os sentidos. Estava agindo daquele jeito porque gostava dele, porque queria senti-lo pelo menos um pouquinho mais perto.

Estava mesmo idiota por Kim Taehyung, concluiu, e riu sozinho da própria tolice.

Jeongguk releu a passagem com um sorriso bobo e verdadeiro nos lábios, mesmo que ainda não conseguisse conter as lágrimas.

Sempre quis saber qual apelido inusitado Taehyung escolheria para si.

Biscoito. 

 


Notas Finais


E aí gente, tudo bem? Espero que tenham gostado dessa louca viagem pelo psicológico do menino Jeon Jeongguk, que está perdidinho.
Já aviso que no próximo capítulo vai ter Lua, Ray, Songyi, personagens que vocês nem se lembram mais da exitência... vai ser bem loco.
Esse capítulo foi mais Jeongguk descobrindo coisas sobre si mesmo, e pensando, e passando por um milhão de estados de humor. Vocês descobrirão que esse capítulo é essencial, e tem um motivo. O próximo capítulo não poderia existir sem as conclusões desse aqui, então… é.
Espero que tenham gostado! Imagino que alguns estivessem com saudades das passagens do diário do Taehyung, então espero que tenham gostado disso também :)

Não se esqueçam de comentar, por favor! Eu sei que ando bem atrasada com as respostas, mas saibam que leio cada um dos comentários com muito carinho e eles me incentivam demais a continuar escrevendo cada vez melhor.
Então, se puderem gastar uns minutinhos do seu tempo nisso, serei eternamente grata!

Enfim, obrigada a todos os que comentaram, favoritaram ou apenas leram. Aos leitores fantasmas, um brinde. (eu sei que vocês estão aí, obrigada!) <33

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Nos vemos em breve, mas até lá, falem comigo!

Beijocas amoras,
~BtsNoona


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