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História Incógnito VKook - Taekook - Uma febre


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Hola leitores amores! Aqui estou eu, com capítulo bem quentinho de Incógnito, sendo postado direto da terra do Che, Fidel, Mojitos e charutos. Pois é, estou em Cuba.
Por isso ando sumida do twitter também (conseguir internet aqui é difícil e caro) MAS, não preciso de internet pra escrever, então estou escrevendo. hahaha
Tenho mais meia horinha de net, e precisava postar logo esse capítulo!
Não foi revisado, então me perdoem os errinhos.
Sem mais delongas,

Boa leitura!

Capítulo 19 - Uma febre


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Uma febre

Uma febre.

Não qualquer febre, mas uma dessas incapacitantes, que transforma o estado de consciência num sonho entorpecente.

Jeongguk só despertou ao sentir os dedos gelados de sua mãe sobre a testa pegajosa, ensopada de suor. Bateu os dentes antes mesmo de abrir os olhos. Que frio! Até os ossos tremiam. “Você está fervendo!” – ouviu. A voz de sua mãe soava longínqua, como se ela estivesse do outro lado de uma ligação com péssimo sinal.

- Foi aquela chuva de ontem. Garoto irresponsável! Eu mandei levar um guarda-chuva, mas parece que nunca me ouve!

Via o semblante de impaciência da mãe, mas o torpor era tão grande que não o deixou se concentrar em dar uma resposta coerente. Só conseguia pensar que estava morrendo de frio! Nunca tinha sentido tanto frio na vida. Engolir saliva era doloroso, e a garganta ardia. Tentou se mover, mas sentiu os membros moles feito gelatina e a tarefa foi bem mais complicada do que deveria. Com algum esforço, sentou-se na cama, desvendando uma poça de suor escondida embaixo do próprio corpo.

- Você precisa de um banho. – Sua mãe anunciou. – Anda, levanta daí.

Caminhou a passos trôpegos até o banheiro. A água morna escorreu sobre a pele como um alívio imediato para a sensação de frio, e Jeongguk se sentiu mais acordado. Pensou na aula, em Taehyung e nas classificatórias de luta do próximo sábado, mas os temas ficaram enevoados em sua mente enferma. Por fim, saiu do banho contra a própria vontade, sabendo que já estava ali por tempo demais. O frio voltou imediatamente, e Jeongguk amaldiçoou-se por estar doente. Não podia ficar doente, não agora. Tinha coisas importantes a resolver. Não podia faltar aula e deixar Taehyung vulnerável às implicâncias de Baek Geunsuk.

- Preciso ir pra escola. – Disse ao entrar no quarto. Sua mãe trocava a roupa de cama molhada por outra limpa, e lhe ofereceu um sorriso sarcástico ao se virar em sua direção.

- Devia ter pensado nisso antes de pegar aquela chuva ontem. Sinto muito informar, querido, mas você já perdeu a aula.

Desistente e conformado, Jeongguk bufou e retomou seu lugar na cama, feliz por ter de volta o conforto das camadas de cobertores. Sua mãe lhe puxou a gola da camisa e enfiou o termômetro debaixo do braço, não de um jeito carinhoso como espera-se das mães, mas com o inconfundível gênio de má vontade característico dela. Também, não parou de falar um segundo, outra particularidade de sua mãe. Tagarelou sobre como ele costumava ter febres quando bebê e como o pediatra devia detesta-la por ligar desesperada no meio da noite por causa de uma simples tosse.

- Shh, mãe você está me deixando com mais dor de cabeça. Não tem como me dar um remédio e pronto? Não posso faltar a aula de amanhã também.

- Garoto folgado… – Murmurou para si mesma. – Não vou te dar remédio nenhum se estiver de estômago vazio.

- Mas eu não estou com fome. – Reclamou, contrariado como uma criança.

- Eu não perguntei se estava com fome. Se quer o remédio, vai ter que comer. – Ela puxou os cobertores, tirando o termômetro e checando a marcação. – Quase 39 graus. Parabéns, Jeongguk, você ganhou um dia de folga.

Sabia que sua mãe estava preocupada, e transparecia em seu rosto apesar do humor arisco e das frases irônicas. Ela saiu do quarto meio contrariada, e Jeongguk foi deixado a sós com três camadas de cobertores e pálpebras pesadas. Seria difícil cair no sono com aquela maldita dor arranhando a garganta, mas tudo o que queria era dormir para que aquela sensação de invalidez passasse mais rápido. Sentia uma leve dor de cabeça, e a mente emaranhada só conseguiu passear por cenários nada agradáveis. Taehyung no colégio, sendo atazanado pelo alma ruim. Deixado de novo na enfermaria, sozinho, sem que ninguém fosse procurar por ele dessa vez. Jeongguk sentiu-se fraco e incapaz. Seria inútil se continuasse doente dessa forma. Joelhos enrijecidos, boca seca, os ombros tremendo. Tinha que dormir e suar aquela febre pra fora do corpo.

Nem notou que caíra no sono ao acordar com a mãe entrando no quarto outra vez, uma tigela cheia de sopa numa mão e um copo d’água na outra.

- Come, trouxe teu remédio. – Ela disse. Não estava mais com aquela expressão impaciente de mais cedo, mas agora parecia bastante aflita. Jeongguk pensou que sua cara devia estar pior do que antes. – Se ficar de repouso e beber muita água vai melhorar logo.

A sopa tinha o gosto insosso da derrota, mas Jeongguk não reclamou. Pelo contrário, forçou tudo goela à baixo, sem pausa. Como recompensa, recebeu um comprimido e um copo d’água, que virou pra dentro de uma vez só.

Ainda estava zonzo. A sopa quente o fez voltar a suar em bicas, e não conseguiu formar nenhum pensamento coerente enquanto tinha espasmos de tremedeira sob os cobertores. A pele tornou a ficar pegajosa, mas Jeongguk ignorou o incômodo, resistente a tomar outro banho. Só de pensar em sair debaixo dos cobertores e já sentia arrepios.

Mergulhou em cochilos esporádicos e delírios febris. O caminho espinhoso, de novo, mas dessa vez o assombro superou a tentação e Jeongguk temeu estar sendo perseguido, tremendo até em sonhos. O peito se apertou, o coração pulsando acelerado e a voz doce de Taehyung sumira. Tudo o que ouvia era uma risada debochada às suas costas, vozes incompreensíveis se mesclando num tom zombeteiro. Correu desesperado, mas foi impedido pela mata escura se fechando à sua frente. O caminho se tornou denso, intransponível. As vozes atrás de si se aproximavam, se tornando mais nítidas. Jeongguk reconheceu algumas das frases, detestavelmente familiares.

“Vocês dois juntos de novo? Formam um casal bem esquisito, mas até que são bonitinhos”

“Deve conhecer o alien retardado também”

A voz de Songyi berrou ao fundo, alta e clara.

“Viados!”

Abriu os olhos arregalados e sentou-se na cama de súbito. Uma toalha molhada caiu de sua testa por cima dos cobertores e o corpo fervia, apesar de ainda estar morrendo de frio. Calafrios agudos o levaram a tremer os ombros, o coração ainda batendo acelerado por causa do pesadelo.

- Ei! Calma, tá tudo bem.

Franziu as sobrancelhas ao ouvir o som daquela voz. Não é possível. Não fazia o menor sentido que ele estivesse ali. Devia estar delirando.

Não pode ser ele.

Mas era. Virou-se para o lado e lá estava, sentado de pernas cruzadas sobre a cadeira giratória de sua escrivaninha, observando-o ao lado da cama. Tinha um livro sobre o colo, como se tivesse sido tirado diretamente da arquibancada do colégio e colocado ali naquele novo e ilógico cenário.

Jeongguk balançou a cabeça e piscou os olhos várias vezes, estreitando-os para enxergar melhor. Era mesmo Taehyung, vestido com o uniforme do colégio, os cabelos castanhos e rosto anguloso. Os olhos dele pareciam alarmados, muito atentos em si, as sobrancelhas erguidas.

Eu ainda devo estar sonhando. Só pode.

- Ahn… Sua mãe foi na farmácia, porque o remédio acabou. Ela pediu pra eu ficar com você um minuto.

Hãn?

- Isso não faz o menor sentido. – Disse, sem conseguir conter a língua. A febre confundia os sentidos, e Jeongguk não tinha sanidade nem pra se sentir culpado por falar asneiras. Afinal, não devia ser o Taehyung de verdade. Aquele era algum produto de sua imaginação doente e deslumbrada.

- Ah, desculpe. É que você não apareceu no colégio, nem visualizou minhas mensagens… – Taehyung encarou as próprias mãos, incerto. – Aí eu resolvi passar aqui rapidinho depois que a aula acabou pra ver se você tava bem, e sua mãe me pediu pra te olhar um minuto enquanto ela ia na farmácia porque não queria deixar você sozinho em casa, mas o remédio acabou e ela parecia muito preocupada, aí eu-

- Hyung? – Jeongguk o interrompeu, um sorriso pequeno brincando nos lábios pálidos. Não tinha mais dúvidas, era mesmo Taehyung. Sua mente enferma não seria capaz de inventar toda aquela tagarelice. Era mesmo o incógnito em carne e osso, observando-o dormir, preocupado com seu bem estar. Sentiu um aconchego reconfortante ao pensar nisso. – Obrigado por ter vindo.

- Ah… – Ele hesitou por um momento. – Você foi até a enfermaria naquele dia que eu torci o pé, então…

Taehyung deu de ombros, como se não fosse nada demais. Jeongguk lembrou-se da preocupação insana que havia tomado conta de si no dia em que ele não apareceu na arquibancada, satisfeito por tê-lo bem ali ao seu lado agora e não enfiado na enfermaria. Além de agradável, ter Taehyung consigo também era um alívio. Mesmo doente, tinha ficado cismado que algo pudesse ter acontecido com ele sem que estivesse lá para impedir.

- Como foi a aula? Aqueles idiotas não te incomodaram?

O controle sobre a língua parecia ter se incendiado por causa da febre. Não lhe sobrou nenhum.

- O quê? – Ele arqueou as sobrancelhas. – Ahn, não… Jeongguk, você devia deitar. Você sabe, a febre esquenta o corpo e aí você gasta mais energia mesmo sem fazer nada, porque seu hipotálamo fica maluco enviando sinais de que tem algo errado. Aí tudo começa a funcionar mais rápido, então você precisa de repouso ou pode ficar ainda mais doente.

Taehyung estava mudando de assunto, outra vez. Falava sem parar quando queria desviar de algum tema incômodo, coisa com a qual Jeongguk já estava ficando acostumado. Mas, no momento, não estava nem um pouco interessado em seu hipotálamo.

- Eu tô me sentindo melhor. – Mentiu, a cabeça pesada demais para o pescoço. – Tem certeza que não mexeram com você na escola?

Taehyung negou com a cabeça.

- Você está tremendo, e pálido. – Disse, ignorando a última pergunta. – Anda, deita. Sua mãe já deve estar chegando com o remédio.

Ele pegou a toalha caída em cima do edredom e a mergulhou num balde d’água, que só então Jeongguk notou em cima do criado mudo. A cabeça ainda estava desnorteada, e pesava quilos a mais que o habitual. Conformado, deitou-se outra vez, os olhos fixos em Taehyung. Ainda parecia inacreditável que ele estivesse realmente ali, torcendo a toalha molhada com seu suor, sentado na cadeira ao lado de sua cama. Jeongguk tremeu ao sentir a toalha gelada sobre a testa, rangendo os dentes, e seu hyung lhe ofereceu um sorriso compreensivo.

- Surreal. – Pensou, os olhos vidrados na figura de Taehyung, que soltou uma risada soprada e frouxa. Graças àquela reação, Jeongguk ficou na dúvida se realmente tinha só pensado aquilo, ou dito a palavra em voz alta. Ah, mas quem se importa?

- Dorme. Você vai se sentir melhor logo.

Jeongguk sentia o corpo cansado, as pálpebras pesadas, mas não queria dormir. Tinha medo de acordar e Taehyung não estar mais ali. De ter sido tudo um sonho, uma alucinação febril.

- Você vai ficar?

Não hesitou na pergunta. Taehyung arqueou as sobrancelhas por um segundo, surpreso, mas seu semblante suavizou logo depois. Ele sorriu de lábios cerrados e Jeongguk sentiu com satisfação quando os dedos longos tocaram-lhe a cabeça, se enfiando pelos fios de cabelo molhados de suor num afago gentil.

- Eu vou ficar.

Jeongguk sorriu frouxo antes de enfim fechar os olhos.

 

~x~

Acordou com alguém lhe balançando o ombro. Abriu os olhos esperando ver a figura de cabelos castanhos e pele acobreada de seu hyung, mas ao invés disso sua mãe o encarou de volta, sentada ao seu lado na cama de casal, com olhos preocupados. Pesquisou ao redor, mas ele não estava lá. Merda, não podia ter sido delírio. Fora real demais e o couro cabeludo ainda formigava com o toque de Taehyung.

Sua mãe fez que se sentasse. Seus pés pareciam ter congelado. Ainda sentia a cabeça pesada e atordoada, automaticamente obedecendo quando ela o obrigou a abrir a boca e enfiou uma colher com líquido amargo, que Jeongguk engoliu forçosamente. Ela lhe ofereceu um copo d’água e ficou falando sobre como o remédio em gotas faria efeito mais rápido, segundo indicado pelo farmacêutico. Então, tinha realmente saído para a farmácia? Taehyung estivera mesmo ali? Sua mente parecia ter dado um nó.

Não teve muito tempo para questionar o assunto, porque logo em seguida a porta se abriu, revelando um Taehyung com calças de moletom e camisa branca, peças que Jeongguk reconheceu como suas. Irrefletidamente, abriu um sorriso ao vê-lo.

- Acho que ele gosta mais de você do que de mim. – Sua mãe ironizou ao se levantar da cama, caminhando até Taehyung. – Se precisar, não fique com vergonha de me chamar, viu? E obrigada pela ajuda hoje.

Jeongguk observou a cena como se estivesse num universo paralelo. Taehyung afirmou com a cabeça se curvando levemente, e sua mãe desejou “boa noite” antes de sair do quarto, fechando a porta.

Boa noite? – Pensou, franzindo as sobrancelhas. Tinha dormido um dia inteiro?

- Que horas são?

- Hm, quase dez. – Disse, parado de pé ao lado da cama. – Como se sente?

- Inútil e com frio. Minha garganta dói e acho que meus pés congelaram.

Taehyung soltou uma risada rouca e adorável.

- Eu realmente duvido que seus pés tenham congelado. Há algumas horas você estava com quase quarenta graus. – Ele pausou, parecendo pensativo. – Mas se estiver te incomodando, eu posso pegar uma meia.

Antes que pudesse responder, Taehyung deu a volta na cama de casal até o outro lado, abrindo uma das portas do armário. Jeongguk arregalou os olhos e se sentou de súbito na cama, repentinamente se sentindo com todas as forças recuperadas.

Meias? Taehyung não podia lhe pegar meias! O diário estava dentro da porcaria da gaveta de meias!

Esticou o corpo até a borda da cama, alcançando o pulso fino dele. Impensadamente, puxou-o de forma brusca e Taehyung se desequilibrou, caindo sobre o colchão.

- Eu não preciso de meias. – Disse, pegando as cobertas e jogando-as desajeitadamente por cima do garoto. – Vamos dormir.

Taehyung olhou-o como se fosse louco. Ele parecia meio assustado, os olhos arregalados e sobrancelhas franzidas, como se tentasse desvendar alguma coisa no rosto de Jeongguk.

- Tudo bem, eu vou só apagar a luz então.

Observou-o se levantar e caminhar até o interruptor, certificando-se de que passava longe da gaveta de meias. O quarto imergiu em breu, e Jeongguk já não podia enxergar nada. Sentiu as cobertas se movimentarem ao seu lado e esticou uma das mãos, encontrando o braço de Taehyung, a pele extremamente gelada contra sua mão quente.

- Sei que não te disse isso ontem, mas você canta muito bem.

- Ahn? Hm... obrigado? – Ele riu sem graça, e sua voz saiu como um sussurro rouco. – Você fica meio surtado quando está com febre.

- Eu acho que já passou.

Não se sentia em seu estado mais lúcido, porém tinha certeza que estava muito melhor que antes.

Uma das mãos grandes de Taehyung cobriu-lhe a testa, e Jeongguk sentiu como se tivesse enfiado a cabeça no congelador.

- Jeongguk, você ainda está ardendo de febre.

- É você que está um gelo.

Fechou os olhos – por instinto, ou talvez para tomar coragem – e puxou o corpo magro de Taehyung para perto, o apertando contra si. Sentiu um arrepio na nuca e seus ombros tremeram com o choque térmico de sua pele febril contra a gelada dele. Era como abraçar um iceberg.

Taehyung se remexeu entre seus braços, tentando se desvencilhar em vão.

- Jeongguk…

Engoliu em seco. Sabia que acabaria por se arrepender do ato impulsivo no dia seguinte, mas não se importou. A pele fria dele queimava contra a sua febril, mas era inesperadamente o oposto de desconfortável. Na verdade, gostou da proximidade, da troca íntima de temperatura ao aninhar o corpo dele junto ao seu, como quem cuida e afaga.

Não queria soltá-lo ainda.

- Por favor, hyung. – Sussurrou debilmente. – Só por hoje, eu prometo.

Taehyung bufou alto e se aquietou no lugar.

- Não acredito que até doente você é mais forte que eu. – Resmungou. Jeongguk sentiu cócegas agradáveis quando a respiração dele soprou contra seu pescoço e sorriu de olhos fechados.

- É por isso que eu vou cuidar de você.

Não sabia se estava pensando ou se realmente havia dito aquilo em voz alta, a febre aguda confundindo seus sentidos. Há tempos queria dizer isso à ele, confessar sua promessa silenciosa, mas as palavras sempre acabavam emboladas na garganta.

Não tinha certeza se era algo bom ou ruim: perdera completamente todos os filtros.

O quarto permaneceu em silêncio pelo que pareceram longos minutos em sua mente entorpecida. No escuro, era impossível ver a expressão no rosto de Taehyung, e Jeongguk não chegou a ter certeza se havia mesmo dito aquilo. Sentiu, entretanto, a cabeça dele se acomodar em seu ombro, descansando o peso sobre si. Por fim, o corpo magro relaxou em seu abraço.

- Só por hoje...

As três palavras foram ditas num volume muito baixo, quase inaudíveis. Foram a última coisa que Jeongguk escutou antes de se render de vez ao sono.

 

 

~x~

-  Jeongguk? Ei, acorda.

Ouviu a voz rouca de Taehyung, naquele timbre áspero de quando acabava de acordar. Jeongguk gostava de como a voz dele soava de manhã, mas não estava feliz por ter sido desperto. Queria dormir mais um pouco, só alguns minutinhos. Estava tão confortável e quentinho…

- Jeongguk-ah. – A voz chamou outra vez, perto demais do seu ouvido, impedindo que voltasse a dormir.

Antes de abrir os olhos, respirou fundo e encheu os pulmões de baunilha. Tudo cheirava a baunilha. Era acolhedor. Doce.

- Hm? – Murmurou, resistente a acordar de fato. Ainda num estado entorpecido, no intermediário entre o sono e o mundo real, notou que estava com a cabeça sobre o peito de Taehyung, um dos braços contornando a cintura fina dele. Dava pra ouvir o coração dele batendo lá dentro, alto.

Quando tinham trocado de posições? Jeongguk não lembrava de terem se movido durante a noite. Na verdade, não se lembrava de nada. Tinha dormido feito uma pedra, um sono sem sonhos, imperturbável, apesar do resfriado.

- Já amanheceu. – Taehyung sussurrou. – E se sua mãe entrar aqui?

- Ela não vai. – Resmungou, negando-se a abrir os olhos.

Continuaram agarrados um ao outro – dessa vez, sem desculpas. Nenhum dos dois ousou se mover, e Jeongguk não tinha certeza se o som retumbando dentro da cabeça era o seu próprio coração ou o de Taehyung.

- Você tá melhor?

- Uhum.

Taehyung abaixou o queixo e, sem aviso, encostou os lábios na testa pegajosa. Jeongguk finalmente abriu os olhos, arregalando-os com o susto. Seu coração disparou dentro do peito, saltando até a garganta inflamada, mas não pôde se mover. Ficou estático e aturdido, os lábios de Taehyung colados em sua testa, e demorou um instante para que ele se afastasse.

Mas que diabos…?

Seu estômago dava voltas, como se estivesse numa queda livre. Controlou-se para respirar devagar, mas o ar faltou-lhe os pulmões, e a atmosfera pareceu dura e desconfortável. Eram, por fim, dois garotos, aconchegados um no outro sem motivo nenhum.

E é bom.

- Não tá nada. – Ele disse casualmente, como se não estivesse com a boca na testa de Jeongguk há apenas uns segundos. – Ainda tá um pouco quente.

- Ah, ahn… – Gaguejou feito bobo, ainda atordoado pelo momento embaraçoso e imaginou que estivesse com as bochechas coradas. Ele praticamente me beijou, pensou, tentando formular alguma coisa coerente pra dizer, ao invés de ficar feito idiota murmurando ruídos indecifráveis. – Você também está quente.

Mas que frase imbecil.

- Ora, mas é claro, você… – Taehyung pausou no meio da frase, hesitando por um momento. – Aish, você foi um belo dum cobertor térmico. Conseguiu me fazer ficar com calor, e olha que eu sou friorento.

Dessa vez, foi Taehyung quem pareceu ficar constrangido e Jeongguk levantou de leve a cabeça, esticando o pescoço para observá-lo melhor. Ele tinha o olhar perdido no vazio, os lábios comprimidos e as bochechas rubras. Era mesmo bonito, até com a expressão contrariada e os cabelos bagunçados.

Jeongguk achou a reação dele divertida, o que provocou uma risada alta e arrastada.

- Calor, é? – Disse, incapaz de conter o comentário inoportuno, e arrependeu-se logo em seguida. Taehyung lançou-lhe um olhar assassino e rosnou, empurrando-o para longe, fazendo com que rolasse até a outra borda da cama a gargalhadas.

Pelo menos a brincadeira tinha servido para amenizar o clima incômodo, e a tensão no ar se dissipou. Mesmo assim, Jeongguk ainda preferia estar abraçado a ele, e amaldiçoou a própria língua.

- Tô vendo que já pode se cuidar sozinho. Até já incorporou o piadista.

- Desculpe, hyung. Estou brincando. Minha garganta ainda tá ardendo pra caramba, acho que não vou a aula hoje também. Aliás, você podia ficar e me fazer companhia.

Taehyung arqueou as sobrancelhas, se sentando de pernas cruzadas sobre o colchão.

- Como se já não bastasse me fazer dormir fora de casa num dia de semana, ainda me pede pra matar aula. Você está se saindo uma péssima influência, Jeongguk.

Uma péssima influência. Jeongguk olhou para ele, o rosto que o assombrava até em sonhos, a criatura mais fascinante que já conhecera. Depois que percebeu a natureza verdadeira de seus sentimentos pelo garoto incógnito, não pôde mais olhá-lo de nenhum outro jeito. Gostava dele, muito. E o queria.

Você que é uma péssima influência, Taehyung. Bagunçou minha vida inteira. Não me deixa pensar em mais nada.

- Não aguento mais ficar deitado. – Disse, se levantando da cama, cansado de remoer aquele assunto. Não tinha mais o que pensar. Todas as conclusões eram claras. – Anda, vamos tomar café. Eu estou morrendo de fome.

 

~x~

Taehyung não matou aula, e Jeongguk não sugeriu que ficasse uma segunda vez. Talvez fosse melhor assim, ficar longe dele um pouco. O garoto incógnito tinha um efeito estranho sobre si, e às vezes sentia medo de perder o controle por completo e acabar fazendo uma bobagem irreversível. Já tinha abusado demais naquela noite. Podia muito bem culpar sua doença e os delírios febris, mas sabia que Taehyung podia até ser distraído, porém estava longe de ser burro. Não duvidava nada que ele já estivesse desconfiado de suas intenções.

Como Liz. E Jimin.

Não andava sendo muito discreto.

Foi só depois que Taehyung saiu para a aula que Jeongguk lembrou-se de pegar o celular e checar suas mensagens. Uma enxurrada de notificações. Seus amigos deviam estar ainda mais chateados.

Seis mensagens de Songyi. Onze de Jimin.

Treze de Taehyung.

Resolveu começar pelo que imaginava ser menos problemático.

Cheon Songyi:

(ontem)

(8:50) Por que não veio a aula?

(9:03) Não vai me responder não, mal educado?

(14:14) Sério, Jeongguk... Estou ficando preocupada

(14:15) Você não visualiza nada desde ontem

(18:52) Jimin me disse que você tá doente

(18:52) Melhoras!

Depois que descobrira o motivo do sumiço, não tinha mandado mais nada. Inconscientemente sorriu para o celular. Isso era muito a cara de Songyi, se negar a esmolar atenção alheia. Às vezes ela podia passar do ponto e ser orgulhosa demais, mas Jeongguk conhecia a amiga suficientemente bem para saber que era só fachada.

Songyi se preocupava consigo, muito.

Apressou-se a respondê-la, avisando que estava melhor e que faltaria outra vez. Pediu para que ela mandasse o conteúdo da matéria depois, e conseguiu visualizar a expressão que sabia que a garota ruiva faria ao ler o pedido. Ia contorcer a boca e revirar os olhos.

Uma a menos. Não tinha sido tão mal assim, e Jeongguk sentiu-se aliviado. Agora, precisava ler as mensagens do melhor amigo, e tinha certeza de que ele não seria tão piedoso.

Respirou fundo antes de abrir a conversa.

Park Jimin:

(ontem)

(11:31) Songyi disse que você não veio

(11:31) Se ela não me contasse eu nem ia ficar sabendo, né…

(11:32) Você nem se dá ao trabalho de aparecer mais

(13:42) Guk, você tá bem?

(16:56) Aconteceu alguma coisa?

(16:56) Se isso também tiver a ver com o Taehyung……..

(18:14) Tá, liguei pra sua mãe e ela me disse que você tá doente

(18:16) Foi mal por ser babaca

(18:16) Mas é que nos últimos tempos, né…

(19:58) Quando melhorar dá um sinal de vida, ok?

(hoje)

(07:21) E aí?

Sentiu o estômago revirar. Ele precisava mesmo ter mencionado Taehyung? Conseguia entender que Jimin estava chateado com o afastamento dos dois, mas não compreendia essa implicância específica com Taehyung. O que tinha de tão errado?

Buscou por alguma explicação e lembrou-se da primeira vez que falou sobre o garoto incógnito com Jimin, no vestiário após um treino de luta. Naquele dia, o amigo não parecera nada incomodado. Disse que Taehyung era legal. Já havia falado com ele antes, apesar de nunca ter contado a história toda.

Decidiu que precisava disso, da história completa. Data, forma e local onde Taehyung e Jimin haviam se conhecido. Pensou que talvez pudesse perguntar ao incógnito, mas logo descartou a ideia. Não queria parecer curioso demais sobre o assunto na frente dele e, além disso, Taehyung nunca tinha lhe dito que conhecia Jimin. Ia parecer um esquisito se perguntasse.

Então, precisava falar com seu melhor amigo. Resolveu simplesmente encarar o problema de frente e parar de evitar aquele tema sempre que esbarrava nele. Tinha se metido naquela confusão sozinho, e agora precisava dar um jeito de sair.

Respondeu às mensagens.

E aí?

Foi mal por ontem

Dormi o dia inteiro

Tô melhor já, mas não vou pro colégio hoje

Depois queria falar com você

 

Pronto. Agora só lhe faltava um remetente. Taehyung.

Imaginou que, depois que ele havia ido à sua casa e dormido lá, nada mais poderia afetá-lo.

Mas, como sempre, o garoto incógnito encontrava um jeito de surpreender.

Taehyung hyung:

(ontem)

(11:58) Ei, você não vem almoçar com a gente hoje?

(12:34) Tudo bem, não perdeu muita coisa

(12:39) Hyeyeon ficou me enchendo o saco pra ir no baile do terceiro ano...

(12:39) Ela cismou que eu tenho que ir com ela

(12:39) Tipo, eu sei que é minha formatura, mas nem sei dançar!! O que vou fazer num baile?

(12:40) Vou ser o pior acompanhante

(13:15) Poxa, você não vê suas mensagens desde ontem

(13:22) Aliás, ontem na hora que eu entrei no ônibus caiu um baita temporal! Sorte que minha mãe tinha colocado uma sombrinha na minha mochila

(13:28) Você pegou chuva?

(14:02) Eu senti sua falta.

(14:04) Você fez falta hoje no intervalo

(14:04) Hyeyeon quase me tirou do sério com essa história de baile, juro

(14:04) Se você estivesse lá podia falar de animes com ela e me tirar do alvo

Sorriu ao terminar a leitura, sendo preenchido por uma sensação familiar de euforia. Como quando terminava de ler uma passagem do diário, uma das boas. Até por mensagens, a personalidade de Taehyung parecia transbordar das palavras, atravessar a tela, acerta-lo no peito.

Ficou contente por ter feito falta no intervalo. Por Taehyung se lembrar de si, mesmo que não tivesse tanto tempo assim que almoçava com o trio na estátua da Virgem. Leu as mensagens de novo e de novo, exatamente como costumava fazer com as passagens no diário.

Então, notou um detalhe. Algo que passaria despercebido se não tivesse lido a mesma mensagem uma dezena de vezes.

Um ponto. Um mísero, mínimo, minúsculo ponto final.

Não era normal isso, colocar ponto final em mensagens. Jeongguk voltou às conversas com Songyi e Jimin, checando cada uma das frases. Reticências, exclamações, interrogações. Nada de ponto.

A única mensagem com ponto final.

“Eu senti sua falta.”

 

~x~

Passou o resto da manhã anestesiado. Deitou-se na cama depois do almoço mas não pôde dormir, apesar da temperatura do corpo continuar um pouco alta, e do remédio teoricamente causar sonolência. O tal ponto final não saía de sua cabeça. Talvez significasse algo além, mais do que só uma pontuação gramatical boba.

Jeongguk não sabia se tinha sido proposital, mas imaginou que não. Conhecendo Taehyung, ele devia ter feito sem nem perceber. Mas estava ali, e era tão real quanto a pintinha que coloria aquele pedacinho de seu rosado lábio inferior. Discreto, mas real. Um ponto.

Depois de notar o ponto, Jeongguk deu importância a outro detalhe que lhe parecera irrelevante à primeira vista.

O tempo.

(14:02) Eu senti sua falta.

(14:04) Você fez falta hoje no intervalo

Dois minutos. Abriu o cronômetro do celular e iniciou a contagem. Pensou, divagou e refletiu, aprofundando-se em assuntos que nem queria chegar, só pra fazer o teste. É tempo demais. Dá pra pensar um bocado em 120 segundos. O que diabos teria passado pela cabeça fascinante do incógnito? Tratando-se dele, podia ser qualquer coisa.

Dois minutos. Um ponto.

- Ah, Taehyung… – Reclamou, num muxoxo. – Aposto que não era nada! Você deve ter se distraído com seus manifestos e picolés de manga!

Bufou. Aquilo estava lhe saindo uma bela tortura. Taehyung o punha tão doido que já estava chegando ao ponto de falar sozinho. Até a esse maldito ponto!

Levou um susto ao ouvir três batidas na porta e, por instinto, enfiou o celular para debaixo das cobertas. Sabia quem estava do outro lado – sua mãe. Ela podia ser bem enxerida, mas tinha o bom costume de bater na porta. E sempre batia três vezes.

Um ponto. Dois minutos. Três batidas.

Nunca detestou tanto os números.

- Pode entrar!

Sua mãe enfiou a cabeça pra dentro, um sorriso enorme e infantil estampado no rosto.

- E aí, tá melhor? Você tem visita.

Jeongguk franziu as sobrancelhas. Já deviam ter passado das duas, a hora em que saíam do colégio. Seu estômago deu voltas. Não podia ser, não de novo.

Observou ansioso a porta se abrindo, e avistou a cabeleira loura e sedosa de Jimin.

Soltou o ar que nem havia percebido manter preso nos pulmões, num suspiro aliviado e – como tristemente pôde concluir – decepcionado.

- Ei, hyung! – Cumprimentou, tentando parecer mais animado, e sentou-se com as costas apoiadas na cabeceira. Jimin abriu um sorriso e entrou no quarto, como se estivesse em casa. Pulou em cima da cama de casal e se sentou ao lado de Jeongguk, na mesma posição. – O que está fazendo aqui?

- Vim visitar o doente. – Ele sorriu. – Mas até que você não parece muito doente. Não mais do que o normal.

- Já me sinto bem melhor. Mas minha garganta ainda está um desastre.

Era bom conversar com Jimin. Era confortável, fácil. Não tinha nada a ver com conversar com Taehyung, com o coração acelerado ou as borboletas se alvoroçando na boca do estômago. Falar com Jimin era simples.

Talvez, pudesse contar a ele.

Essa sensação de estar à vontade fazia Jeongguk ter que morder a própria língua de ânsia. Que mal tinha? Devia contar logo. Não tinha conversado com ninguém sobre os próprios sentimentos, e talvez falar em voz alta ajudasse a clarear as ideias.

Resolveu jogar verde e testar sua reação.

- Fiquei até mais tarde anteontem no colégio estudando com Taehyung. E na volta peguei a maior chuva.

O sorriso de Jimin se fechou no mesmo instante, mas seu semblante não era bravo. Parecia pensativo, meio em dúvida, os olhos baixos na direção dos lençóis e lábios comprimidos.

- Você sabe que temos classificatórias no sábado, né?

Jeongguk engoliu em seco e afirmou com a cabeça.

- Sei. – Assegurou ao amigo, assertivo. – Eu vou estar bem até lá, sério. São só as classificatórias, hyung. E eu já estou quase novo.

- Aham, tá. Teve que matar dois dias de aula, Guk. Daqui a pouco são nossas finais. E a luta é sua melhor chance de entrar na universidade, o treinador Lee está contando com você. Parece que tudo agora é menos importante pra você! Que é secundário comparado com Taehyung.

- Hyung, não é nada disso! – Interrompeu, ávido, as sobrancelhas franzidas demonstrando seu sentimento de incompreensão. Jimin estava entendendo tudo errado. O garoto incógnito havia se tornado importante, sim, mas Jeongguk não tinha se esquecido de todo o resto.

É só que as coisas estavam mudadas.

- Eu não vim aqui pra brigar com você. – Jimin disse, duro. – Vim pra ver como que você tava. Mas saber que você ficou doente por causa desse garoto...

- Não foi culpa dele! – Levantou a voz, arrependendo-se logo em seguida. A expressão de Jimin murchou e um suspiro desistente deixou seus lábios. Ele estava decepcionado.

- Você tá muito diferente, Guk.

Sim, hyung. Estou.

- Eu me sinto diferente. – Respirou fundo, em busca de coragem. – Hyung, eu…

Hesitou por um momento, as palavras se agarrando às paredes da garganta, recusando-se a sair – contra a sua vontade.

Queria contar a ele. Jimin era seu melhor amigo, e Jeongguk ainda não havia compartilhado as coisas estranhas que andava sentindo com ninguém. Não parecia certo falar com qualquer outra pessoa que não fosse Jimin. Também, não teria coragem o suficiente.

- Eu não quero ouvir.

Mas ele também não dava uma chance!

Jeongguk continuou encarando o amigo feito tolo enquanto ele se levantava da cama. Queria que Jimin lhe estendesse a mão. Que ele se oferecesse a ouvir. Que não o julgasse. Que fizesse o que melhores amigos fazem, merda!

Se manteve mudo, meio incrédulo. Jimin ia mesmo embora. O amigo se virou um segundo antes de sair.

- Quando você voltar ao normal… – Suspirou pesadamente. – Eu vou estar no mesmo lugar. Se você ainda quiser voltar.

A porta bateu. Jeongguk foi deixado, outra vez, sozinho no quarto.

Quando eu voltar ao normal.

Mas o que é “normal”?


Notas Finais


E AÍ, O QUE ACHARAM??? Não tenho muito tempo, mas POR FAVOR não esqueçam de comentar!
Sempre que consigo internet venho no spirit e tiro prints de todos os comentários pra ler mesmo sem internet, então saibam que eu estou de olho e que os comentários de vocês SÃO A MINHA VIDA <3
Muito obrigada por todo o carinho, todos os favoritos, todos os leitores e o amor tão lindo e puro que Incógnito está recebendo <3 Sério, vocês me deixam nas nuvens, e muito feliz. Por isso estou sempre tentando fazer o meu melhor!

Enfim, tenho que ir. Espero que esse capítulo tenha adoçado sua sexta-feira!
twitter @ btsnoona_
curiouscat / btsnoona
instagram @ larissalair

Muito obrigada a todos, e nos vemos em breve (eu espero)
Beijocas amoras,

~BtsNoona


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